Subitamente, os olhos de tonalidade esverdeada encontraram os dela, fixando-se por um instante prolongado, enquanto ele permanecia na mesma posição, mãos encaixadas nos bolsos da calça e corpo girado na sua direção. Aqueles segundos, que pareceram se estender em um limiar entre o tempo, estabeleceram uma conexão silenciosa antes que ele finalmente rompesse o silêncio.— Boa noite, Sr. D'Artagnan — ela cumprimentou, a sua voz soando um tanto trêmula, apesar da tentativa de ser firme.— Boa noite, Penélope — a resposta dele veio, carregando uma gravidade quase metálica. A voz era um reflexo da aura estranha que sempre parecia envolvê-lo. — O que você está fazendo acordada a essa hora?A pergunta dele ecoou no corredor silencioso, fazendo com que ela abaixasse os olhos, a coloração avelã do seu olhar fixando-se nos próprios pés enquanto a suas mãos inquietas se esfregavam. A culpa de ser pega vagando pela mansão durante a madrugada a invadiu, trazendo uma sensação de desconforto.— Sr. D
PÉNELOPE VERONESI— Penélope! — o Sr. Parker gritou e bateu com a régua contra a mesa, me fazendo rapidamente olhar para si.O seu rosto não aparentava bom humor, e não o culpo, não tenho estado realmente atenta a sua aula.Uma sombra de descontentamento pairava sobre o rosto do professor. E quem poderia culpá-lo? A verdade é que não tenho prestado a devida atenção às suas aulas, e isso é algo que posso admitir sem reservas. No entanto, como poderia ser diferente? A minha mente teimosa insiste em reviver os eventos daquela madrugada, minando constantemente qualquer tentativa de foco.Os lábios do meu tutor roçando na minha pele e os seus dedos pressionando a minha cintura..., o episódio foi o mais indecente e errado que eu já vivenciei em toda a minha vida, e mesmo assim, ainda assim o meu corpo clama por... Não!As minhas bochechas devem ter adquirido uma coloração rubra, a sensação incômoda aquecendo a minha pele era quase tangível, como se as minhas emoções internas tivessem vazado
PENÉLOPE VERONESIO relógio marca oito da noite, sinalizando um horário para eu descer as escadas para jantar com o Sr. D'Artagnan. À medida que a noite se instala, lançando os seus suaves tons escuros por toda a propriedade, sinto uma mistura de expectativa e apreensão sobre a nossa iminente conversa no jantar.Repito a cena da aula do Sr. Parker na minha mente, a minha distração que atraiu a sua repreensão. Talvez seja isso que o Sr. D'Artagnan queira discutir. Não posso deixar de me perguntar se devo preparar-me para a palestra iminente, talvez até mesmo pedir desculpas pela minha desatenção. Parece apenas prudente estar pronto para quaisquer perguntas sobre o meu comportamento distraído."Vou simplesmente pedir desculpas", tranquilizo-me, uma centelha determinada acendendo-se dentro de mim. "E se ele questionar para onde os meus pensamentos vagaram, darei a mesma explicação que dei a Annie."Preciso esforçar-me para parecer convincente.O meu olhar se volta para o espelho ornament
— Sr. Ezra, meu senhor... não posso dizer que estou surpreso por estar aqui, mas devo-lhe um profundo pedido de desculpa por cogitar que eu poderia ter um pouco mais de tempo, porque eu sabia que mais cedo ou mais tarde o senhor me acharia — Coniffer disse suavemente ao passo que virava a poltrona de couro para poder o observar.O seu olhar estava melancólico e o sorriso forçado que delineava o rosto do homem só o deixava mais sem vida.— Mas também não vou pedir misericórdia, senhor — continuou a falar enquanto servia uísque em um copo para depois girar o líquido como se isso fosse retardar o tempo. — Sei bem dos meus pecados.— Onde está a garota? — Ezra perguntou sem rodeios, apontava a arma na mira da cabeça do homem à sua frente.— Penélope, ela chama-se Penélope, esse nome, na mitologia grega, foi símbolo da mulher fiel e virtuosa, que tecia de dia e à noite e desmanchava o que havia feito para não ser obrigada a trair o marido, foi Cibele que a deu — o olhar perdido estava na b
Pétalas dançavam no ar do lado de fora, delicadamente caindo sobre o chão de concreto. Eram folhagens secas, agitadas pelo vento suave que logo as varria para longe, como se o mundo as rejeitasse.No interior de uma sala sombria, um homem enigmático desfrutava desse espetáculo repetitivo. Ele segurava um cigarro entre os dedos, deixando o fumo se desfazer no espaço gelado proporcionado pelo ar condicionado. Cada tragada era como uma pequena pausa na sua mente atormentada.Os pensamentos da noite anterior o haviam aprisionado, como se uma corda invisível o mantivesse preso em lembranças dolorosas. Os olhos semicerrados revelavam uma mente distante, perdida em um labirinto de arrependimentos e memórias. Ele ansiava por paz, mas a noite ainda o assombrava.De repente, a tranquila solidão foi rompida pela invasão súbita de duas figuras familiares. O seu pai, um homem austero e imponente, entrou na sala com uma expressão severa, seguido pelo meio-irmão de Ezra, um jovem com olhos curiosos
PENÉLOPE VERONESIOuvi barulhos suaves do canto de algum pardal-francês, o que me fez abrir os olhos lentamente para me acostumar com a vaga luz que invadia o quarto gélido. Era como se o próprio dia estivesse despertando, ainda relutante em dissipar a escuridão da noite.A parede de vidro, parcialmente escondida por um grande conjunto de cortinas altas e azul-escuras, era adornada com gotas espessas de água e algumas folhas secas. Era curioso, pois não chovia lá fora, e o céu estava apenas parcialmente nublado.— Porque me tirou da I.T.I?— Porque aquele instituto era apenas uma fachada para esconder você de mim.As palavras de ontem ecoaram na minha mente enquanto eu me levantava. A pergunta que havia feito a Ezra, a resposta dele. Tudo parecia ainda mais frio e complexo sob a luz do dia. Como alguém com um abraço tão reconfortante poderia pronunciar palavras tão duras?Não podia negar que a situação de ontem havia sido desconcertante e humilhante. Foi a primeira vez que me permiti
Deus costuma usar a solidãoPara nos ensinar sobre a convivência.Às vezes, usa a raiva para que possamosCompreender o infinito valor da paz.Outras vezes usa o tédio, quando quernos mostrar a importância da aventura e do abandono.Deus costuma usar o silêncio para nos ensinarsobre a responsabilidade do que dizemos.Às vezes usa o cansaço, para que possamosCompreender o valor do despertar.Outras vezes usa a doença, quando querNos mostrar a importância da saúde.Deus costuma usar o fogo,para nos ensinar a andar sobre a água.Às vezes, usa a terra, para que possamosCompreender o valor do ar.Outras vezes usa a morte, quando querNos mostrar a importância da vida.— Paulo Coelho, Trecho do livro "Manual do Guerreiro da Luz".Coniffer apreciava demais o simbolismo, e para ele uma das coisas mais simbólicas que ele sempre acreditou veemente é que toda criança deveria ter o direito de brincar, pois para si isso significava liberdade, e nada, absolutamente nada, poderia equivaler o p
PÉNELOPE VERONESI Abri a porta lentamente. Observei atentamente todo o espaço, as cortinas, de uma brancura quase etérea, parecem permitir que os raios da aurora resplandecente adentrem o recinto sem obstáculos. O chão de madeira se estende imaculado, refletindo com clareza cada raio de luz que dança sobre ele. A cama, primorosamente arrumada, ostenta lençóis em suaves tonalidades de caqui e bege. A temperatura estava fria, o que acentuava ao cheiro de lavanda que pairava por todo o quarto, e era como se nunca tivesse ocorrido um assassinato entre essas quatro paredes. Adentrei mais e toquei com as pontas dos dedos a penteadeira, para então perceber o meu rádio descansando em cima dele. Sim, eu gostava dele, era uma boa lembrança de que o mundo lá fora ainda se movimentada. Com cuidado, girei o botão até sintonizar na estação preferida. O rádio, com sua voz melódica, começou a transmitir os últimos acordes de uma orquestra, logo interrompidos por anúncios das iminentes festividade