PÉNELOPE VERONESI Abri a porta lentamente. Observei atentamente todo o espaço, as cortinas, de uma brancura quase etérea, parecem permitir que os raios da aurora resplandecente adentrem o recinto sem obstáculos. O chão de madeira se estende imaculado, refletindo com clareza cada raio de luz que dança sobre ele. A cama, primorosamente arrumada, ostenta lençóis em suaves tonalidades de caqui e bege. A temperatura estava fria, o que acentuava ao cheiro de lavanda que pairava por todo o quarto, e era como se nunca tivesse ocorrido um assassinato entre essas quatro paredes. Adentrei mais e toquei com as pontas dos dedos a penteadeira, para então perceber o meu rádio descansando em cima dele. Sim, eu gostava dele, era uma boa lembrança de que o mundo lá fora ainda se movimentada. Com cuidado, girei o botão até sintonizar na estação preferida. O rádio, com sua voz melódica, começou a transmitir os últimos acordes de uma orquestra, logo interrompidos por anúncios das iminentes festividade
PÉNELOPE VERONESIPor muito tempo achei que a ausência é falta.E lastimava, ignorante, a falta.Hoje não a lastimo.Não há falta na ausência.A ausência é um estar em mim.E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,que rio e danço e invento exclamações alegres,Porque a ausência, essa ausência assimilada, ninguém rouba mais de mim.Com um marcador azul, tracei linhas sob as palavras escolhidas. Em seguida, comecei a transcrever a poesia no caderno em branco que descobri entre os pertences de Ezra, localizado em seu escritório.Deitada sobre um pano de piquenique, sinto a textura da grama úmida contra as minhas costas. O calor do sol paira implacavelmente sobre a minha cabeça, envolvendo-me no seu abraço ardente. É um daqueles dias em que o clima e a natureza parecem contraditórios, uma dança entre o calor abafado e o frescor das gotas de orvalho na relva.À medida que me estendo, a relva molhada cede sob o meu peso, deixando uma sensação agradável de frescor na minha
O veículo negro à prova de balas deslizou suavemente pela entrada que conduzia até a solitária mansão, um lugar que ele não via há meses. Esta propriedade havia sido erguida como um refúgio para o primogênito da família D'Artagnan quando ele estava na capital, onde reinava como o soberano do submundo grego.O seu desembarque na Grécia tinha sido notavelmente discreto e silencioso, embora não pudesse afirmar que isso era necessariamente uma boa notícia. Recentemente, ele havia desencadeado uma guerra contra Salvatore em Nagasaki, na qual a única recompensa que almejava era a elusiva Penélope.FLASHBACK ON:— Permita-me, por gentileza, levá-lo à residência — Ezra interrompeu o som da música, a sua voz cortando o ar de forma suave e polida. — Desejo-lhe sucesso nesta temporada de caça, Salvatore — ele vira a sua cabeça, lançando um sorriso carregado de insinuação na direção do homem. — Pois, certamente, irá precisar.— Você vai lamentar profundamente essa escolha. — Salvatore proferiu a
Me fale como o paraíso sumiuE tudo agora é frio e sombrioAo abrir meus olhos, tudo se foiOh, me diga por que tudo ao meu redor está desmoronandoE eu estou preso nos escombrosMas estou gostando do frioEle é acolhedor e gentil, ameaçador, mortal e sutil.— A.L Silva━━━━━ • • ❈ • • ━━━━━Japão, Nagasaki, 06h: 17mA neve caía incansavelmente, transformando o mundo em um vasto campo de gelo. As nuvens, espessas e opressivas, bloqueavam qualquer vestígio da luz solar, mergulhando Nagasaki em um cenário gélido e sombrio.No topo de uma montanha, envolto pela neblina densa, uma melodia doce e poderosa emanava de uma mansão de vidro. Em meio a essa paisagem inóspita, um homem estava sentado diante de um majestoso piano de cauda branco.Os seus cabelos negros, tão escuros como o material vantablack, destacavam-se vividamente contra o branco puro da neve. Vestido com um terno branco, coberto por um elegante sobretudo, com olhos cintilantes em tom de verde que permaneciam fixos na dança hi
PENÉLOPE VERONESI— Você não achou que ia escapar, certo? — Marcus ameaçou, segurando uma bola de neve compacta nas suas mãos.— Oh, por favor, Marcus... — eu gritei, mal conseguindo conter o riso enquanto dava alguns passos para trás em direção à porta principal.Marcus havia acordado cedo naquela manhã para me informar que uma intensa nevasca havia atingido Atenas, algo tão raro e com tamanha quantidade de neve que eu não via há mais de uma década.Não era uma simples neve; ao descer para me encontrar com o neto da governanta, pude ver uma espessa camada de quase 15 centímetros cobrindo tudo. E, claro, não resistimos a brincadeiras travessas no meio da pequena floresta de neve, que consistiram principalmente em guerras de bolas de neve.E graças aos bons deuses, e mesmo que não parecesse certo ter ficado feliz com isso, o Sr. Parker havia pegado um forte resfriado, obrigando-o a ficar em casa e não dar aula a ela, e como não era o dia de treinos com o Sr. Hans, Penélope decidiu entã
Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas— Sun Tzu.━━━━━ • • ❈ • • ━━━━━PENÉLOPE VERONESIJapão, localização indefinida (eventos anteriores)Faltavam apenas dois meses para a chegada do inverno, e nesse período pré-gelado, Nagasaki desabrochava em uma beleza avassaladora, ou pelo menos, estava mais próxima disso do que nunca.Ezra estava absorto, recluso nos seus próprios pensamentos, recluso na sua vasta mansão solitária, que se erguia no coração das majestosas montanhas. Ele saboreava calmamente o charuto cubano, encontrando prazer no silêncio que envolvia o seu retiro.Esse comportamento introspetivo não era surpreendente para aqueles que conheciam Ezra. Sempre fora hábil em ocultar as suas emoções, revelando pouco do seu mundo interior. No entanto, algo c
Tudo o que é desordem, revolta e caos me interessa; e particularmente as atividades que parecem não ter nenhum sentido. Talvez sejam o caminho para a liberdade. A rebelião externa é o único modo de realizar a libertação interior.— Jim Morrison, The Book of Rock Quotes", Michael Heatley, Omnibus Press, 2010.━━━━━ • • ❈ • • ━━━━━PENÉLOPE VERONESIFLASHBACK ON: — Você sentiu saudades de mim, Penélope? — ele sussurrou com uma voz morna em meu ouvido.Eu conseguia captar o seu cheiro amadeirado, e por alguma razão desconhecida, eu queria muito o envolver em um abraço, contar que senti a sua falta, o questionar o porquê dele ter partido e nunca ter sequer feito uma ligação para falar comigo.Mas, por que faria isso? Por que de repente essa inconstância de sentimentos e emoções que eu havia prometido para mim mesma guardar em uma caixa e jamais voltar a lhe libertar?Eu não devia nada além da minha vida, e a única coisa que eu precisava realmente demonstrar era apenas gratidão, mas então
PENÉLOPE VERONESI Terminei de fazer uma trança firme em meu cabelo cacheado, assegurando-me de que os fios não se soltariam enquanto eu me movimentava. O termômetro marcava uma inóspita temperatura de 10º Celsius, e, apesar de estar vestida com um macacão de treino preto de mangas compridas e gola alta, forrado por dentro para me manter aquecida, um colete de couro para proteção e botas pesadas que os meus pés enfrentavam com meias espessas, ainda não era o suficiente para conter o frio que parecia penetrar nos meus ossos. Adentrei a sala de treinamento subterrânea, desejando secretamente que o ambiente fosse mais quente. Infelizmente, a minha esperança logo desmoronou, já que a temperatura ali parecia ser justamente o oposto do que eu esperava. — Boa tarde, Hans. — Saudei-o com um "eshaku," um cumprimento peculiar que ele me ensinara, enquanto me aproximava dele. Hans estava de pé, com os braços cruzados e um sorriso nos lábios. — Estás atrasada, Penélope. — Ele comentou, avançan