— Sr. Ezra, meu senhor... não posso dizer que estou surpreso por estar aqui, mas devo-lhe um profundo pedido de desculpa por cogitar que eu poderia ter um pouco mais de tempo, porque eu sabia que mais cedo ou mais tarde o senhor me acharia — Coniffer disse suavemente ao passo que virava a poltrona de couro para poder o observar.O seu olhar estava melancólico e o sorriso forçado que delineava o rosto do homem só o deixava mais sem vida.— Mas também não vou pedir misericórdia, senhor — continuou a falar enquanto servia uísque em um copo para depois girar o líquido como se isso fosse retardar o tempo. — Sei bem dos meus pecados.— Onde está a garota? — Ezra perguntou sem rodeios, apontava a arma na mira da cabeça do homem à sua frente.— Penélope, ela chama-se Penélope, esse nome, na mitologia grega, foi símbolo da mulher fiel e virtuosa, que tecia de dia e à noite e desmanchava o que havia feito para não ser obrigada a trair o marido, foi Cibele que a deu — o olhar perdido estava na b
Pétalas dançavam no ar do lado de fora, delicadamente caindo sobre o chão de concreto. Eram folhagens secas, agitadas pelo vento suave que logo as varria para longe, como se o mundo as rejeitasse.No interior de uma sala sombria, um homem enigmático desfrutava desse espetáculo repetitivo. Ele segurava um cigarro entre os dedos, deixando o fumo se desfazer no espaço gelado proporcionado pelo ar condicionado. Cada tragada era como uma pequena pausa na sua mente atormentada.Os pensamentos da noite anterior o haviam aprisionado, como se uma corda invisível o mantivesse preso em lembranças dolorosas. Os olhos semicerrados revelavam uma mente distante, perdida em um labirinto de arrependimentos e memórias. Ele ansiava por paz, mas a noite ainda o assombrava.De repente, a tranquila solidão foi rompida pela invasão súbita de duas figuras familiares. O seu pai, um homem austero e imponente, entrou na sala com uma expressão severa, seguido pelo meio-irmão de Ezra, um jovem com olhos curiosos
PENÉLOPE VERONESIOuvi barulhos suaves do canto de algum pardal-francês, o que me fez abrir os olhos lentamente para me acostumar com a vaga luz que invadia o quarto gélido. Era como se o próprio dia estivesse despertando, ainda relutante em dissipar a escuridão da noite.A parede de vidro, parcialmente escondida por um grande conjunto de cortinas altas e azul-escuras, era adornada com gotas espessas de água e algumas folhas secas. Era curioso, pois não chovia lá fora, e o céu estava apenas parcialmente nublado.— Porque me tirou da I.T.I?— Porque aquele instituto era apenas uma fachada para esconder você de mim.As palavras de ontem ecoaram na minha mente enquanto eu me levantava. A pergunta que havia feito a Ezra, a resposta dele. Tudo parecia ainda mais frio e complexo sob a luz do dia. Como alguém com um abraço tão reconfortante poderia pronunciar palavras tão duras?Não podia negar que a situação de ontem havia sido desconcertante e humilhante. Foi a primeira vez que me permiti
Deus costuma usar a solidãoPara nos ensinar sobre a convivência.Às vezes, usa a raiva para que possamosCompreender o infinito valor da paz.Outras vezes usa o tédio, quando quernos mostrar a importância da aventura e do abandono.Deus costuma usar o silêncio para nos ensinarsobre a responsabilidade do que dizemos.Às vezes usa o cansaço, para que possamosCompreender o valor do despertar.Outras vezes usa a doença, quando querNos mostrar a importância da saúde.Deus costuma usar o fogo,para nos ensinar a andar sobre a água.Às vezes, usa a terra, para que possamosCompreender o valor do ar.Outras vezes usa a morte, quando querNos mostrar a importância da vida.— Paulo Coelho, Trecho do livro "Manual do Guerreiro da Luz".Coniffer apreciava demais o simbolismo, e para ele uma das coisas mais simbólicas que ele sempre acreditou veemente é que toda criança deveria ter o direito de brincar, pois para si isso significava liberdade, e nada, absolutamente nada, poderia equivaler o p
PÉNELOPE VERONESI Abri a porta lentamente. Observei atentamente todo o espaço, as cortinas, de uma brancura quase etérea, parecem permitir que os raios da aurora resplandecente adentrem o recinto sem obstáculos. O chão de madeira se estende imaculado, refletindo com clareza cada raio de luz que dança sobre ele. A cama, primorosamente arrumada, ostenta lençóis em suaves tonalidades de caqui e bege. A temperatura estava fria, o que acentuava ao cheiro de lavanda que pairava por todo o quarto, e era como se nunca tivesse ocorrido um assassinato entre essas quatro paredes. Adentrei mais e toquei com as pontas dos dedos a penteadeira, para então perceber o meu rádio descansando em cima dele. Sim, eu gostava dele, era uma boa lembrança de que o mundo lá fora ainda se movimentada. Com cuidado, girei o botão até sintonizar na estação preferida. O rádio, com sua voz melódica, começou a transmitir os últimos acordes de uma orquestra, logo interrompidos por anúncios das iminentes festividade
PÉNELOPE VERONESIPor muito tempo achei que a ausência é falta.E lastimava, ignorante, a falta.Hoje não a lastimo.Não há falta na ausência.A ausência é um estar em mim.E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,que rio e danço e invento exclamações alegres,Porque a ausência, essa ausência assimilada, ninguém rouba mais de mim.Com um marcador azul, tracei linhas sob as palavras escolhidas. Em seguida, comecei a transcrever a poesia no caderno em branco que descobri entre os pertences de Ezra, localizado em seu escritório.Deitada sobre um pano de piquenique, sinto a textura da grama úmida contra as minhas costas. O calor do sol paira implacavelmente sobre a minha cabeça, envolvendo-me no seu abraço ardente. É um daqueles dias em que o clima e a natureza parecem contraditórios, uma dança entre o calor abafado e o frescor das gotas de orvalho na relva.À medida que me estendo, a relva molhada cede sob o meu peso, deixando uma sensação agradável de frescor na minha
O veículo negro à prova de balas deslizou suavemente pela entrada que conduzia até a solitária mansão, um lugar que ele não via há meses. Esta propriedade havia sido erguida como um refúgio para o primogênito da família D'Artagnan quando ele estava na capital, onde reinava como o soberano do submundo grego.O seu desembarque na Grécia tinha sido notavelmente discreto e silencioso, embora não pudesse afirmar que isso era necessariamente uma boa notícia. Recentemente, ele havia desencadeado uma guerra contra Salvatore em Nagasaki, na qual a única recompensa que almejava era a elusiva Penélope.FLASHBACK ON:— Permita-me, por gentileza, levá-lo à residência — Ezra interrompeu o som da música, a sua voz cortando o ar de forma suave e polida. — Desejo-lhe sucesso nesta temporada de caça, Salvatore — ele vira a sua cabeça, lançando um sorriso carregado de insinuação na direção do homem. — Pois, certamente, irá precisar.— Você vai lamentar profundamente essa escolha. — Salvatore proferiu a
Me fale como o paraíso sumiuE tudo agora é frio e sombrioAo abrir meus olhos, tudo se foiOh, me diga por que tudo ao meu redor está desmoronandoE eu estou preso nos escombrosMas estou gostando do frioEle é acolhedor e gentil, ameaçador, mortal e sutil.— A.L Silva━━━━━ • • ❈ • • ━━━━━Japão, Nagasaki, 06h: 17mA neve caía incansavelmente, transformando o mundo em um vasto campo de gelo. As nuvens, espessas e opressivas, bloqueavam qualquer vestígio da luz solar, mergulhando Nagasaki em um cenário gélido e sombrio.No topo de uma montanha, envolto pela neblina densa, uma melodia doce e poderosa emanava de uma mansão de vidro. Em meio a essa paisagem inóspita, um homem estava sentado diante de um majestoso piano de cauda branco.Os seus cabelos negros, tão escuros como o material vantablack, destacavam-se vividamente contra o branco puro da neve. Vestido com um terno branco, coberto por um elegante sobretudo, com olhos cintilantes em tom de verde que permaneciam fixos na dança hi