O vento soprou suavemente, bagunçando os cabelos ruivos de Larissa Wolverie enquanto ela observava o horizonte da janela de seu pequeno apartamento. Seus olhos verdes, vivos como esmeraldas, carregavam o peso de muitos segredos e dores. Ainda jovem, aos 22 anos, Larissa já havia experimentado o tipo de sofrimento que muitos só enfrentam em uma vida inteira.
Ela era o tipo de mulher que chamava atenção onde quer que passasse – não apenas pela beleza incomum, mas pela força silenciosa que exalava de seus gestos, de seu olhar firme e da forma como enfrentava o mundo. Mas por trás da postura determinada havia uma história marcada por perdas, dúvidas e uma promessa de recomeço. Cinco anos antes, sua vida desmoronou de forma brutal. Ela tinha apenas 17 anos quando encontrou o corpo de seu pai. Um tiro na cabeça. Sangue no chão. Silêncio. Até hoje ela não sabia ao certo o que havia acontecido. Teria sido suicídio? Ou alguém o matou? A polícia encerrou o caso com rapidez, sem respostas. Apenas hipóteses. E nenhuma delas fazia sentido. — Ele jamais faria isso com a gente…, ela murmurava sozinha à noite, tentando encontrar alguma lógica no caos. O pai de Larissa havia sido um homem honrado, ao menos durante boa parte de sua vida. Inteligente, educado, e um verdadeiro herói para ela na infância. Foi ele quem ensinou Larissa a pescar, a usar ferramentas, a não depender de ninguém, a levantar mesmo quando o mundo a jogasse no chão. Porém, após o nascimento de Gustavo, seu irmão mais novo, algo dentro dele mudou. Tornou-se ausente, irritadiço… e logo mergulhou no vício do álcool e das drogas. O homem que um dia foi seu pilar, se transformou em uma sombra, até que a tragédia final o levou. Com sua morte, veio o colapso financeiro. Dívidas surgiram de todos os lados, e tudo que era sólido se desfez. A casa grande onde haviam sido felizes foi perdida, e restou-lhes um velho apartamento decadente, legado silencioso do pai. Larissa, então com 17 anos e recém-formada no ensino médio, assumiu a responsabilidade de cuidar da família. Sua mãe, já doente na época, começava a apresentar os primeiros sinais de um câncer agressivo. Gustavo, ainda uma criança, olhava para ela como uma irmã e mãe ao mesmo tempo. — Vai dar tudo certo, irmãozinho. Dizia ela, forçando um sorriso enquanto o abraçava. — Prometo que vou cuidar de você e da mamãe. Mas não era fácil. Trabalhava em turnos dobrados em cafeterias, fazia faxinas e vendia doces na escola do irmão. Havia noites em que dormia apenas duas horas. E mesmo assim, não desistia. Até que, em um dia cinzento e frio, quando Larissa estava prestes a jogar tudo para o alto, apareceu William. Um homem alto, bem-vestido, de sorriso calmo e olhos escuros que pareciam saber demais. Ele apareceu na porta do hospital onde sua mãe fazia tratamento, como se soubesse exatamente onde encontrá-la. — Larissa Wolverie? Perguntou ele, com voz firme, porém gentil. — Sou eu. Respondeu ela, confusa. — Nos conhecemos? — Não pessoalmente, mas eu conheci muito bem seu pai. Fomos grandes amigos. Me chamo William. E... talvez eu possa te ajudar. Larissa, acostumada a desconfianças e promessas vazias, quase o ignorou. Mas havia algo naquele homem... algo familiar e reconfortante. Ele parecia sincero. E sabia coisas que só alguém realmente próximo de seu pai poderia saber. — Ele falava muito de você, Larissa. Dizia que você era a melhor parte dele. E eu... sei que sua situação está difícil. Por isso vim até aqui. William ofereceu a ela uma proposta que parecia saída de um sonho: um emprego em uma empresa sólida, com salário generoso, benefícios médicos para a mãe, uma bolsa de estudos para a universidade dos sonhos, e segurança para o irmão. Tudo... sem pedir nada em troca. — Por que está fazendo isso por mim? Perguntou ela, ainda desconfiada. William apenas sorriu. — Considere isso um presente de um velho amigo. Seu pai me ajudou em tempos sombrios. Agora é minha vez de ajudar sua família. Nos meses seguintes, Larissa viu sua vida mudar. Em apenas dois anos, havia subido de cargo três vezes dentro da empresa misteriosa – um conglomerado grande, mas discreto. Era tudo tão rápido que às vezes ela se perguntava se merecia aquilo. Mas o olhar orgulhoso de William sempre a acalmava. Ele estava em todos os momentos importantes: nas consultas da mãe, nas reuniões da escola de Gustavo, nos aniversários... Tornou-se parte da família. Para Larissa, ele era mais que um benfeitor. Era quase como um pai. Mas mesmo com a vida organizada, a sombra da doença continuava a rondar sua casa. Em uma tarde quente de primavera, após mais uma sessão de quimioterapia, o médico de sua mãe a chamou em particular. O consultório estava silencioso, e o som do relógio na parede parecia martelar o aviso que ela não queria ouvir. — Larissa... sua mãe está entrando em estágio terminal. É hora de pensar em qualidade de vida. Faça o que puder por ela. Viva o que puderem juntas. As palavras a atingiram como um soco. Ela saiu do consultório atordoada, mas com uma decisão firme no peito. Sabia que sua mãe sempre sonhou em ver o mar novamente. E ela faria isso acontecer. — No próximo feriado, mãe. Eu vou te levar para o litoral. Prometo. A mãe sorriu, fraca, mas com os olhos cheios de brilho. — Vou esperar por isso, minha filha. O que Larissa não sabia... era que o destino estava prestes a cruzar o seu caminho com algo muito maior. Uma história ancestral, um passado escondido, e segredos que nem mesmo William havia contado. A viagem ao litoral seria o primeiro passo rumo a um mundo que mudaria tudo. E Larissa Wolverie, sem saber, estava prestes a descobrir quem ela realmente era.Jacob Lauder sempre foi um homem reservado, mas com um coração intenso e uma alma que buscava o amor com a mesma paixão que dedicava à vida. Aos 22 anos, encontrou o que julgava ser seu final feliz: Aline Santoro. Uma mulher doce, forte, enigmática. Os dois se apaixonaram rapidamente, e logo estavam vivendo uma vida de sonhos — uma casa acolhedora, tardes de risadas, viagens espontâneas e madrugadas cheias de promessas sussurradas entre lençóis.Durante cinco anos, Jacob acreditou que tinha tudo. Cada gesto, cada palavra trocada com Aline, parecia confirmar que ele havia feito a escolha certa. Ela era o seu lar, seu porto seguro, sua melhor amiga.Mas nenhuma felicidade permanece intocável quando há segredos enterrados.Aline carregava um silêncio antigo dentro de si, algo que jamais teve coragem de contar. E esse segredo não era pequeno. Era do tipo que podia desmoronar castelos, romper laços de sangue, e queimar tudo o que antes parecia eterno.Ela era filha adotiva de Madeleine San
O sol tingia o céu de laranja e dourado enquanto se escondia no horizonte. A brisa salgada soprava com mais força, trazendo um friozinho que contrastava com o calor do dia. Larissa sentia a areia fina grudando em seus pés enquanto recolhia os pertences espalhados. As toalhas úmidas, os chinelos cobertos de areia, a bolsa de palha que a mãe insistia em carregar – tudo precisava ser organizado antes de voltarem para o hotel. Gustavo, seu irmão caçula, corria pela praia, os pés afundando na areia quente antes de mergulharem na espuma gelada das ondas. Ele gargalhava, aproveitando cada segundo como se o mar fosse um presente raro. E, de certa forma, era. Era a primeira vez que Gustavo via o mar. Larissa suspirou, ajustando a bolsa no ombro. O vento bagunçava seus cabelos enquanto observava a mãe caminhar lentamente até o carro. Giovana parecia cansada, como se a própria existência lhe pesasse nos ombros. — Gustavo, vamos indo! — Larissa chamou, tentando soar firme. O garoto parou por
Ao chegarem, Larissa se apressou para o banheiro, precisando desesperadamente da água quente para aliviar a tensão em seus músculos. Enquanto a água escorria por seu corpo, fechou os olhos e tentou apagar as imagens que insistiam em assombrá-la. Mas não importava o quanto tentasse, aquele olhar — aquele olhar intenso e desconhecido — continuava cravado em sua mente. Depois de um longo banho, finalmente desligou o chuveiro e se enrolou na toalha, sentindo um leve calafrio ao sair do banheiro. Antes que pudesse dar mais do que dois passos, ouviu a voz doce e curiosa da mãe ecoando pelo quarto. — Larissa, querida, ainda vamos sair? A jovem respirou fundo antes de abrir a porta, recompondo-se rapidamente. Já vestida, forçou um sorriso para a mãe, que a observava com expectativa. — Claro, mamãe — respondeu, tentando parecer animada. — Eu prometi ao Gustavo frutos-do-mar, não posso voltar atrás agora. O rosto da mãe se iluminou com um sorriso genuíno, carregado de uma felicidade rara q
A manhã estava clara e ensolarada, com uma brisa fresca soprando do mar. O movimento na pequena cidade litorânea era tranquilo, turistas começavam a sair para suas atividades matinais, e os moradores locais seguiam sua rotina habitual. Larissa, sua mãe e Gustavo já estavam no carro, prontos para ir embora depois de um fim de semana inesquecível. Mas antes de pegarem a estrada, pararam em um pequeno mercado na esquina da avenida principal. — Vou comprar algumas garrafas de água. Não demoro. — disse Larissa, destravando o cinto e saindo do carro. O sininho da porta tilintou assim que ela entrou. O ar fresco do ar-condicionado contrastava com o calor do lado de fora, e o cheiro de café recém-passado se misturava ao aroma dos produtos expostos. Ela caminhou entre as prateleiras distraída, pegou algumas garrafas de água e seguiu para o caixa. Foi então que parou abruptamente. Ali, à sua frente na fila, estava ele. O homem misterioso que salvara Gustavo. Por um instante, Larissa hesi
O sol começava a se esconder atrás dos prédios altos da cidade quando Larissa estacionou o carro diante do velho edifício de concreto cinzento que chamavam de lar. Era pequeno, com pintura descascando e uma portaria quase sempre vazia, mas ainda assim era o refúgio que ela havia reconstruído com esforço e coragem.Assim que o carro parou, Gustavo soltou o cinto num pulo e saiu correndo, como se estivesse participando de uma maratona.— Ei, rapazinho! — a voz firme e carinhosa de Larissa ecoou logo atrás dele. — Volta aqui e pega as sacolas. Você não vai me deixar carregar tudo sozinha, vai?Gustavo fez uma careta, bufou, mas voltou, pegou sua própria mala e correu outra vez, dessa vez em direção ao elevador.Larissa sorriu, balançando a cabeça diante da energia incansável do irmão. Em seguida, abriu a porta traseira e, com todo cuidado, ajudou a mãe a sair do carro. Giovana estava mais frágil do que nunca, a pele fina como papel, os olhos serenos, porém cansados. Mesmo assim, ainda in
A manhã passou com uma tranquilidade incomum. Larissa mergulhou em tarefas rotineiras, revisando arquivos, ajustando prazos, e trocando e-mails com o grupo de design. Seus dedos deslizavam rápidos pelo teclado, mas sua mente estava em outro lugar — no misterioso convite de William. A reunião da empresa estava marcada para as 16h, e ela tentava manter o foco, mesmo com o relógio se arrastando, como se cada minuto carregasse uma tensão silenciosa.Quando o ponteiro tocou o 11H, Larissa se levantou da mesa com precisão cirúrgica. Organizava seus materiais com a elegância natural que a acompanhava mesmo nos gestos mais simples. Penteou com os dedos uma mecha de cabelo solta, respirou fundo e seguiu pelos corredores da empresa, ignorando o burburinho sobre a chegada do novo chefe.Caminhou até o café habitual, o “Lugar de Sempre”, como William gostava de chamar. Era um cantinho discreto e elegante, onde já haviam se encontrado tantas outras vezes. Como de costume, ela chegou antes, sentand
Larissa ainda sentia o coração aos pulos quando entrou no carro. Suas mãos tremiam levemente no volante, mas o sorriso em seu rosto era impossível de conter. Uma alegria diferente vibrava em seu peito, um tipo de felicidade que fazia tempo que ela não sentia. O peso da vida, das perdas, das responsabilidades... por um momento, tudo parecia ter desaparecido. Era como se o universo tivesse, enfim, lhe devolvido algo.A chave da antiga casa. A promessa cumprida. O carinho silencioso de William. Tudo pulsava dentro dela com a mesma intensidade de um sonho que se torna real. Dirigia distraída pelas ruas movimentadas, os pensamentos voando para lembranças da infância: o jardim florido, as paredes com desenhos feitos por ela e seu pai, a cozinha onde sua mãe assava bolos nos finais de semana...Estava tão imersa em suas lembranças que não viu o semáforo mudar.O som do impacto foi seco e imediato.O carro deu um tranco para frente, o cinto de segurança a segurou com força contra o banco.
Jacob inclinou levemente a cabeça, seus olhos deslizando lentamente pelo rosto de Larissa, como se estivesse memorizando cada traço com uma precisão quase poética. O olhar dele parou por um instante em sua boca, depois subiu de volta até os olhos dela, e então um pequeno sorriso se formou em seus lábios — não um sorriso comum, mas aquele tipo que surge quando alguém sabe exatamente o que está fazendo.— Mas seu carro vai precisar de um reparo, — ele disse, com a voz baixa, grave, carregada de uma calma que parecia proposital. — Se algum guarda te parar dirigindo com as luzes assim, quebradas… você pode acabar sendo multada.Ele falava com uma tranquilidade perigosa, como se cada palavra fosse uma isca lançada em direção a ela. E Larissa... não conseguiu se concentrar no que ele dizia. Suas palavras soavam distantes, abafadas pelo som abafado de seu próprio coração acelerado.Porque, na verdade, tudo o que ela sentia era a mão dele.Aquela mão quente ainda repousava sobre seu ombro — u