8. É VOCÊ !?

Larissa ainda sentia o coração aos pulos quando entrou no carro. Suas mãos tremiam levemente no volante, mas o sorriso em seu rosto era impossível de conter. Uma alegria diferente vibrava em seu peito, um tipo de felicidade que fazia tempo que ela não sentia. O peso da vida, das perdas, das responsabilidades... por um momento, tudo parecia ter desaparecido. Era como se o universo tivesse, enfim, lhe devolvido algo.

A chave da antiga casa. 

A promessa cumprida. 

O carinho silencioso de William. 

Tudo pulsava dentro dela com a mesma intensidade de um sonho que se torna real. Dirigia distraída pelas ruas movimentadas, os pensamentos voando para lembranças da infância: o jardim florido, as paredes com desenhos feitos por ela e seu pai, a cozinha onde sua mãe assava bolos nos finais de semana...

Estava tão imersa em suas lembranças que não viu o semáforo mudar.

O som do impacto foi seco e imediato.

O carro deu um tranco para frente, o cinto de segurança a segurou com força contra o banco. A batida não foi grave, apenas um leve toque, mas o suficiente para o estômago despencar e o sangue sumir do rosto de Larissa.

— Meu Deus... — murmurou, os olhos arregalados fitando o carro luxuoso à sua frente. 

A lataria impecável agora exibia uma leve marca na traseira, quase imperceptível, mas real. O mundo ao redor pareceu congelar, o som dos carros e das buzinas desapareceu, como se uma bolha de tensão tivesse se formado ao redor dela. 

— Isso vai me custar caro... — sussurrou para si, as mãos apertando o volante com força. 

Foi quando a porta do outro carro se abriu.

A forma com que a porta se escancarou denunciava a irritação. Larissa sentiu um arrepio subir por sua nuca. Prendeu a respiração, o coração disparado, cada batida ecoando como um tambor dentro do peito.

— E agora...? — pensou, quase sem conseguir se mover.

O homem que saiu do carro caminhava com passos firmes, determinados. Era alto, os ombros largos preenchendo perfeitamente o terno escuro e elegante. A expressão em seu rosto era de pura indignação — maxilar travado, os olhos faiscando sob o sol da tarde. Ele deu a volta pelo carro, conferiu o arranhão com um olhar crítico e depois caminhou em direção ao carro de Larissa com uma presença tão intensa que o ar pareceu pesar.

— Mas que droga! — disparou ele, a voz grave e profunda como um trovão abafado. — Você por acaso não sabe olhar para o sinal antes de acelerar?!

Larissa sentiu o rosto arder, uma onda de nervosismo percorreu seu corpo como eletricidade. Mas o que realmente a atingiu não foi o tom de voz, nem a fúria nos olhos do homem.

Foi aquela voz.

Aquela voz que, de alguma forma, despertou algo adormecido nela. Um som que lhe era exatamente familiar e que ecoava em sua mente com uma força inexplicável.

Engoliu em seco. Respirou fundo. Abriu os olhos, enfrentando o momento com coragem.

E então o viu.

Jacob.

O mundo girou devagar ao redor dela. O homem parado ao lado do carro, agora a observando em silêncio, era mais do que uma figura zangada. Era intensidade pura, envolta em mistério. Os olhos dele encontraram os dela e, por um instante, houve silêncio absoluto.

Jacob também congelou. O olhar furioso deu lugar a uma expressão surpresa, ainda carregada de tensão, mas com algo mais... algo que nem ele soube explicar. Era como se aquela batida tivesse sido orquestrada pelo próprio destino — e nem um dos dois soubesse o que estava prestes a começar.

Jacob ainda estava parado ali. Imóvel. Como uma estátua esculpida em carne e osso, mas cujos olhos ardiam com um fogo estranho, difícil de decifrar. Era como se o tempo ao redor tivesse simplesmente... parado. O som dos carros, das buzinas, das pessoas — tudo parecia distante, como se estivesse acontecendo em outro mundo.

Seus olhos, intensos como uma tempestade prestes a desabar, analisavam cada traço do rosto de Larissa. Era uma observação silenciosa, profunda, que a fez sentir-se vulnerável de um jeito novo. Não havia julgamento naquele olhar, mas também não havia paz. Havia... intensidade. E algo mais. Algo inexplicável.

Então, de repente, a raiva em sua expressão vacilou. Como se algo dentro dele tivesse se rendido por um instante.

Ele não sorriu. Mas a raiva deu lugar a um tom mais contido, mais humano. E quando falou, sua voz veio mais baixa, mais profunda. Quase como se estivesse compartilhando um segredo com ela e com mais ninguém.

— Senhorita Larissa... você está bem?

A maneira como ele disse seu nome... suave, arrastado... como se o saboreasse. Aquilo mexeu com ela. Não era comum alguém dizer seu nome daquele jeito — como se já a conhecesse há muito tempo, como se houvesse história entre eles, mesmo que nunca tivessem tido nada antes.

Larissa piscou algumas vezes, tentando se recompor. Seus sentidos estavam confusos. Era como se algo além da razão se manifestasse ali, naquele encontro inesperado. Ela nunca fora do tipo que se perdia na presença de um homem, mas havia algo em Jacob que desarmava todas as suas defesas. Um magnetismo inexplicável. Um chamado silencioso que ela não conseguia ignorar.

Mesmo com as pernas levemente trêmulas, respirou fundo, destravou o cinto e saiu do carro com o máximo de dignidade que conseguiu reunir.

— Eu sinto muito, senhor Jacob. Eu... — começou a dizer, mas as palavras morreram em sua garganta no instante em que ele se aproximou e, de forma inesperada, pousou a mão sobre seu ombro.

O toque foi firme, mas gentil. E quente.

Larissa sentiu um calor imediato se espalhar pelo corpo. Um arrepio percorreu sua espinha, seguido por um tremor quase imperceptível. Era um gesto simples — um toque — no entanto, algo dentro dela despertou. Como se aquela mão já tivesse estado ali antes. Como se aquele contato já estivesse escrito em algum lugar que ela não sabia nomear.

Jacob, por sua vez, pareceu perceber a reação dela. Seu olhar não vacilou. Mas havia algo novo em seus olhos agora. Um brilho contido. Quase... curioso.

— Fique tranquila. — disse ele, com um leve tom de divertimento misturado à gentileza. — Foi só um arranhão.

Larissa não conseguiu responder de imediato. O ar parecia mais denso, o tempo ainda escorrendo devagar ao redor deles. As palavras dele ressoavam como um eco suave dentro de si.

— Um arranhão... — repetiu mentalmente, embora soubesse que não era só sobre o carro.

Ela se obrigou a desviar o olhar, buscando alguma âncora que a trouxesse de volta à realidade. Mas foi inútil. Havia algo naquele homem... algo no modo como ele a olhava... que a fazia esquecer do mundo.

Jacob deu um passo para trás, os olhos ainda fixos nos dela, e disse:

— Você dirige sempre assim... distraída? Ou é o destino que anda conspirando para que a gente se esbarre desse jeito?

Larissa levantou as sobrancelhas, surpresa com a súbita mudança de tom.

— Está me acusando de ter feito isso de propósito? — tentou brincar, sem muito sucesso. Ainda estava abalada.

— Não. — respondeu ele, com um meio sorriso. O primeiro desde que tudo começou. — Estou dizendo que talvez... só talvez... a gente estivesse mesmo destinado a se encontrar.

Ela sentiu o coração errar um compasso. Destino? Por que aquela palavra, dita por ele, soava tão real?

Larissa desviou o olhar novamente, tentando não se perder naquele enigma chamado Jacob Lauder. Mas, no fundo, uma certeza se formava dentro dela: aquele não era um encontro qualquer. 

E aquela batida... não fora um acidente. Fora um ponto de partida.

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