A manhã passou com uma tranquilidade incomum. Larissa mergulhou em tarefas rotineiras, revisando arquivos, ajustando prazos, e trocando e-mails com o grupo de design. Seus dedos deslizavam rápidos pelo teclado, mas sua mente estava em outro lugar — no misterioso convite de William. A reunião da empresa estava marcada para as 16h, e ela tentava manter o foco, mesmo com o relógio se arrastando, como se cada minuto carregasse uma tensão silenciosa.
Quando o ponteiro tocou o 11H, Larissa se levantou da mesa com precisão cirúrgica. Organizava seus materiais com a elegância natural que a acompanhava mesmo nos gestos mais simples. Penteou com os dedos uma mecha de cabelo solta, respirou fundo e seguiu pelos corredores da empresa, ignorando o burburinho sobre a chegada do novo chefe.
Caminhou até o café habitual, o “Lugar de Sempre”, como William gostava de chamar. Era um cantinho discreto e elegante, onde já haviam se encontrado tantas outras vezes. Como de costume, ela chegou antes, sentando-se em uma mesa ao fundo. Observou pela janela a correria das pessoas na calçada, enquanto seu coração acelerava num compasso que ela mesma não conseguia explicar.
Minutos depois, William entrou.
Seu terno escuro estava perfeitamente alinhado, e a expressão no rosto carregava uma seriedade rara. Ao vê-lo, Larissa sentiu um leve aperto no peito — havia algo diferente naquele olhar.
Ele se aproximou da mesa com passos calmos.
— Já almoçou? — perguntou, sem rodeios.
— Ainda não. — respondeu ela, erguendo os olhos e tentando decifrar aquele semblante fechado.
Sem dizer mais nada, William se levantou e estendeu a mão, num gesto gentil, porém firme.
— Então vamos sair daqui e comer algo decente.
Larissa hesitou por um segundo, confusa, mas acabou se levantando. Caminharam lado a lado pela calçada movimentada, entre buzinas e vozes apressadas, mas não trocaram uma única palavra. O silêncio entre eles não era desconfortável — era denso. Carregava algo que ainda não havia sido dito.
Entraram em um restaurante elegante, escondido entre lojas de grife. Um ambiente refinado, com iluminação suave, taças finas e um aroma delicioso de ervas e vinho. Sentaram-se à mesa e, por alguns minutos, falaram apenas sobre o cardápio e os pratos escolhidos.
Depois da refeição, quando o garçom recolheu os pratos e trouxe duas taças de suco, William finalmente soltou o que vinha guardando.
Seu olhar suavizou. O ar pesado se dissipou, como se uma tempestade prestes a cair houvesse recuado por um instante. Com calma, ele retirou uma pequena chave de metal prateado de dentro do bolso do paletó. Estava presa a um chaveiro antigo, simples, mas familiar.
Ele estendeu a mão e entregou a chave para Larissa.
— A casa é sua. Agora para sempre.
Larissa piscou algumas vezes, como se as palavras tivessem chegado em outro idioma. Seu olhar caiu sobre a chave, depois voltou para o rosto de William.
— Como assim... minha? — murmurou, com um nó se formando na garganta.
William sorriu, com a ternura de quem acaba de cumprir uma promessa muito antiga.
— A casa que um dia foi sua. Aquela que vocês perderam para pagar as dívidas do seu pai... eu a recuperei. Está quitada, Larissa. Sem hipotecas, sem dívidas, sem truques. É sua por direito. Eu prometi ao seu pai que cuidaria de você. Essa era uma das promessas mais importantes.
O mundo pareceu girar devagar.
Aquela casa. A casa da infância. O lar onde as risadas de seus pais ainda ecoavam em sua memória. Onde ela aprendeu a andar de bicicleta no quintal, onde assistia desenhos com o pai nas manhãs de sábado. Aquela casa havia sido a última coisa que seu pai pôde oferecer antes que a vida desmoronasse.
As lágrimas rolaram sem permissão. Quentes, silenciosas, aliviadas.
— Senhor William... — sussurrou ela, com a voz embargada. — Eu já disse isso antes... mas preciso repetir: o senhor é o meu anjo da guarda. Porque é isso que você é.
William segurou a emoção com elegância, apenas assentindo com um sorriso satisfeito.
— Quer ir até lá agora? Posso te levar.
Larissa respirou fundo. O coração, embora emocionado, ainda sabia que havia responsabilidades que não podiam ser deixadas de lado.
— Eu adoraria... mas hoje não posso. Tenho uma reunião às quatro, e ainda preciso terminar uma parte importante do projeto. Mas... assim que possível, eu irei. Preciso me preparar.
William assentiu, compreensivo.
— Claro. Quando estiver pronta.
Quando Larissa saiu do restaurante, a chave ainda em sua mão, fechada com força como se fosse feita de vidro e pudesse desaparecer, sentiu que o passado, de alguma forma, havia sussurrado para ela naquele almoço. Uma porta havia se reaberto.
E o que mais ela ainda não sabia sobre William? O que mais estava guardado, à espera do momento certo?
Com passos rápidos, ela voltou para o carro que ainda estava estacionado ao lado do Café. Mas seu coração já estava em outro lugar — na casa que agora era sua novamente.
Larissa ainda sentia o coração aos pulos quando entrou no carro. Suas mãos tremiam levemente no volante, mas o sorriso em seu rosto era impossível de conter. Uma alegria diferente vibrava em seu peito, um tipo de felicidade que fazia tempo que ela não sentia. O peso da vida, das perdas, das responsabilidades... por um momento, tudo parecia ter desaparecido. Era como se o universo tivesse, enfim, lhe devolvido algo.A chave da antiga casa. A promessa cumprida. O carinho silencioso de William. Tudo pulsava dentro dela com a mesma intensidade de um sonho que se torna real. Dirigia distraída pelas ruas movimentadas, os pensamentos voando para lembranças da infância: o jardim florido, as paredes com desenhos feitos por ela e seu pai, a cozinha onde sua mãe assava bolos nos finais de semana...Estava tão imersa em suas lembranças que não viu o semáforo mudar.O som do impacto foi seco e imediato.O carro deu um tranco para frente, o cinto de segurança a segurou com força contra o banco.
Jacob inclinou levemente a cabeça, seus olhos deslizando lentamente pelo rosto de Larissa, como se estivesse memorizando cada traço com uma precisão quase poética. O olhar dele parou por um instante em sua boca, depois subiu de volta até os olhos dela, e então um pequeno sorriso se formou em seus lábios — não um sorriso comum, mas aquele tipo que surge quando alguém sabe exatamente o que está fazendo.— Mas seu carro vai precisar de um reparo, — ele disse, com a voz baixa, grave, carregada de uma calma que parecia proposital. — Se algum guarda te parar dirigindo com as luzes assim, quebradas… você pode acabar sendo multada.Ele falava com uma tranquilidade perigosa, como se cada palavra fosse uma isca lançada em direção a ela. E Larissa... não conseguiu se concentrar no que ele dizia. Suas palavras soavam distantes, abafadas pelo som abafado de seu próprio coração acelerado.Porque, na verdade, tudo o que ela sentia era a mão dele.Aquela mão quente ainda repousava sobre seu ombro — u
Larissa retornou ao trabalho com o coração aos pulos e uma sensação curiosa revirando dentro de si — borboletas no estômago, ansiosas, agitadas, como se cada batida do coração fosse um aviso: algo está mudando. Ela tentou focar no que restava do expediente, mas os pensamentos se negavam a cooperar. A imagem de Jacob — seu olhar, sua voz, o toque quente e seguro em seu ombro — voltava à sua mente como um eco doce e perturbador. Ela mal acreditava no que tinha acontecido. Um jantar? Hoje à noite? Como assim?A reunião das 16h, para a qual ela tanto havia se preparado, acabou não sendo sobre o novo chefe, como todos imaginavam. Em vez disso, foi algo ainda mais surpreendente: a Imperium Beauty estava firmando uma nova parceria com uma renomada agência de propaganda, especializada em campanhas de impacto com modelos selecionadas a dedo para representar grandes marcas. A ideia era ousada: trazer novos rostos para dar vida aos produtos da Imperium, tornando-os ainda mais desejados no merc
Antes de sair, Larissa se inclinou e depositou um beijo leve na testa da mãe. Foi um gesto suave, cotidiano, mas que carregava um carinho imenso. Ela sempre foi assim: inteira nas pequenas coisas. Um toque, um olhar, um sorriso.— Não volta tarde, meu bem — disse a mãe, ajeitando uma mecha do cabelo da filha como fazia quando ela era criança.— Prometo, mamãe — respondeu com um meio sorriso, mas seu olhar estava distante, já projetado em outro lugar... em outro alguém.Ao atravessar a porta, Larissa sentiu o ar da noite tocar sua pele, e foi como se o mundo lá fora a chamasse para algo novo, algo que ela ainda não entendia completamente. Caminhou com passos leves, quase dançantes, como se o corpo soubesse algo que a mente ainda não havia traduzido.Havia uma sensação vibrando dentro de si. Ela não sabia se era ansiedade, desejo ou apenas aquele impulso quase inconsciente de finalmente ser vista — não como a filha dedicada, nem como a irmã preocupada, tampouco como a mulher que segura
Ao entrarem no restaurante, Jacob transformou cada gesto em um ritual de elegância e atenção. Caminhava ao lado de Larissa com uma postura impecável, seus olhos atentos a cada movimento dela, como se quisesse guardar cada instante na memória. Assim que chegaram à mesa, ele puxou delicadamente a cadeira para que ela se sentasse e, com um sorriso discreto, lhe ofereceu o cardápio, seus dedos roçando levemente os dela no processo — um toque quase imperceptível, mas que fez o coração de Larissa bater um pouco mais rápido.Ela agradeceu com um sorriso tímido, e enquanto folheava o cardápio, tentando se concentrar entre entradas e pratos principais, sentia o olhar dele pousado sobre si. Jacob a observava com uma doçura contida, como quem admira algo raro, especial. Seus lábios desenhavam um leve sorriso no canto da boca — um sorriso que não era proposital, era instintivo, nascido da satisfação genuína de estar ali com ela.Logo o garçom se aproximou, os pedidos foram feitos, e quando ficara
Depois que Jacob pagou a conta, eles saíram do restaurante. A brisa noturna soprou suave contra o rosto de Larissa, fazendo seus cabelos cacheados dançarem no ar. Jacob, num gesto automático e protetor, abriu a porta do carro para ela e depois contornou o veículo para assumir o volante.No silêncio inicial do trajeto, tocava uma música suave, envolvente. Um jazz instrumental que preenchia o ar com uma atmosfera íntima. Larissa olhava pela janela, mas sentia o olhar dele se voltar para ela vez ou outra. Ela também o observava pelo canto dos olhos — as mãos firmes no volante, a mandíbula forte e relaxada, o cheiro discreto de um perfume amadeirado que misturava charme e mistério.Foi então que Jacob, sem tirar os olhos da estrada, perguntou:— Está tudo bem aí? Ficou quieta de repente...Larissa sorriu, virando-se lentamente para ele.— Estou bem... só estou tentando entender como tudo mudou tão rápido... E agora estou aqui, com você, me sentindo… viva.Jacob olhou para ela, dessa vez s
Enquanto Jacob conduzia o carro pelas ruas silenciosas da cidade, a imagem de Larissa ainda dançava em sua mente — o balanço gracioso do vestido, o sorriso tímido, o calor do toque... Ele sentia o volante sob as mãos e os pensamentos acelerados, como se cada curva o aproximasse não só de casa, mas de algo novo e eletrizante. Foi então que seu celular vibrou contra o painel. O brilho da tela mostrou o nome de sua mãe: Barbara Lauder. Seu coração deu um leve pulo: já passava da meia‑noite, e ela jamais ligava tão tarde. Um pressentimento frio o atingiu. No terceiro toque, ele atendeu, a voz guardando um traço de preocupação. — Oi, mãe! — disse, tentando soar casual. — Aconteceu alguma coisa? Do outro lado da linha, Barbara soava incomum: firme, quase impaciente. — Oi, querido. — Ela fez uma pausa antes de continuar, como quem ensaia cada palavra. — Precisamos conversar. Você poderia almoçar comigo amanhã? Há assuntos importantes… Jacob apertou os dedos contra o volante, preocupado
O céu já tingia-se de tons púrpura quando Jacob estacionou o carro em frente ao restaurante reservado para executivos. Aquele jantar não fazia parte de seus planos pessoais — tratava‑se de uma etapa crucial na consolidação da parceria com os Cokx e outros diretores da Imperium Beauty. Mesmo relutante, ele sabia que precisava estar ali. Ao entrar, foi recebido por olhares formais: Martins Cokx, seu pai; Isabela, a filha obstinada; David Moretti e Nolan Matos, diretores‑executivos da agência de propaganda. Jacob apertou a mão de cada um, oferecendo um sorriso contido, e se acomodou à mesa oval, da qual partiam taças de cristal e sousplats prateados. Logo, a conversa tomou o curso esperado: apresentações de números de vendas, debates sobre a seleção de modelos para a próxima campanha e especulações sobre o retorno de investimento. Martins ofereceu um gole de vinho tinto a Jacob, que agradeceu sem perder muito o foco. Internamente, porém, a mente de Jacob divagava em outra direção — par