7. ISSO É SÉRIO?

A manhã passou com uma tranquilidade incomum. Larissa mergulhou em tarefas rotineiras, revisando arquivos, ajustando prazos, e trocando e-mails com o grupo de design. Seus dedos deslizavam rápidos pelo teclado, mas sua mente estava em outro lugar — no misterioso convite de William. A reunião da empresa estava marcada para as 16h, e ela tentava manter o foco, mesmo com o relógio se arrastando, como se cada minuto carregasse uma tensão silenciosa.

Quando o ponteiro tocou o 11H, Larissa se levantou da mesa com precisão cirúrgica. Organizava seus materiais com a elegância natural que a acompanhava mesmo nos gestos mais simples. Penteou com os dedos uma mecha de cabelo solta, respirou fundo e seguiu pelos corredores da empresa, ignorando o burburinho sobre a chegada do novo chefe.

Caminhou até o café habitual, o “Lugar de Sempre”, como William gostava de chamar. Era um cantinho discreto e elegante, onde já haviam se encontrado tantas outras vezes. Como de costume, ela chegou antes, sentando-se em uma mesa ao fundo. Observou pela janela a correria das pessoas na calçada, enquanto seu coração acelerava num compasso que ela mesma não conseguia explicar.

Minutos depois, William entrou.

Seu terno escuro estava perfeitamente alinhado, e a expressão no rosto carregava uma seriedade rara. Ao vê-lo, Larissa sentiu um leve aperto no peito — havia algo diferente naquele olhar.

Ele se aproximou da mesa com passos calmos.

— Já almoçou? — perguntou, sem rodeios.

— Ainda não. — respondeu ela, erguendo os olhos e tentando decifrar aquele semblante fechado.

Sem dizer mais nada, William se levantou e estendeu a mão, num gesto gentil, porém firme.

— Então vamos sair daqui e comer algo decente.

Larissa hesitou por um segundo, confusa, mas acabou se levantando. Caminharam lado a lado pela calçada movimentada, entre buzinas e vozes apressadas, mas não trocaram uma única palavra. O silêncio entre eles não era desconfortável — era denso. Carregava algo que ainda não havia sido dito.

Entraram em um restaurante elegante, escondido entre lojas de grife. Um ambiente refinado, com iluminação suave, taças finas e um aroma delicioso de ervas e vinho. Sentaram-se à mesa e, por alguns minutos, falaram apenas sobre o cardápio e os pratos escolhidos.

Depois da refeição, quando o garçom recolheu os pratos e trouxe duas taças de suco, William finalmente soltou o que vinha guardando.

Seu olhar suavizou. O ar pesado se dissipou, como se uma tempestade prestes a cair houvesse recuado por um instante. Com calma, ele retirou uma pequena chave de metal prateado de dentro do bolso do paletó. Estava presa a um chaveiro antigo, simples, mas familiar.

Ele estendeu a mão e entregou a chave para Larissa.

— A casa é sua. Agora para sempre.

Larissa piscou algumas vezes, como se as palavras tivessem chegado em outro idioma. Seu olhar caiu sobre a chave, depois voltou para o rosto de William.

— Como assim... minha? — murmurou, com um nó se formando na garganta.

William sorriu, com a ternura de quem acaba de cumprir uma promessa muito antiga.

— A casa que um dia foi sua. Aquela que vocês perderam para pagar as dívidas do seu pai... eu a recuperei. Está quitada, Larissa. Sem hipotecas, sem dívidas, sem truques. É sua por direito. Eu prometi ao seu pai que cuidaria de você. Essa era uma das promessas mais importantes.

O mundo pareceu girar devagar.

Aquela casa. A casa da infância. O lar onde as risadas de seus pais ainda ecoavam em sua memória. Onde ela aprendeu a andar de bicicleta no quintal, onde assistia desenhos com o pai nas manhãs de sábado. Aquela casa havia sido a última coisa que seu pai pôde oferecer antes que a vida desmoronasse.

As lágrimas rolaram sem permissão. Quentes, silenciosas, aliviadas.

— Senhor William... — sussurrou ela, com a voz embargada. — Eu já disse isso antes... mas preciso repetir: o senhor é o meu anjo da guarda. Porque é isso que você é.

William segurou a emoção com elegância, apenas assentindo com um sorriso satisfeito.

— Quer ir até lá agora? Posso te levar.

Larissa respirou fundo. O coração, embora emocionado, ainda sabia que havia responsabilidades que não podiam ser deixadas de lado.

— Eu adoraria... mas hoje não posso. Tenho uma reunião às quatro, e ainda preciso terminar uma parte importante do projeto. Mas... assim que possível, eu irei. Preciso me preparar.

William assentiu, compreensivo.

— Claro. Quando estiver pronta.

Quando Larissa saiu do restaurante, a chave ainda em sua mão, fechada com força como se fosse feita de vidro e pudesse desaparecer, sentiu que o passado, de alguma forma, havia sussurrado para ela naquele almoço. Uma porta havia se reaberto.

E o que mais ela ainda não sabia sobre William? O que mais estava guardado, à espera do momento certo?

Com passos rápidos, ela voltou para o carro que ainda estava estacionado ao lado do Café. Mas seu coração já estava em outro lugar — na casa que agora era sua novamente.

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