A manhã estava clara e ensolarada, com uma brisa fresca soprando do mar. O movimento na pequena cidade litorânea era tranquilo, turistas começavam a sair para suas atividades matinais, e os moradores locais seguiam sua rotina habitual.
Larissa, sua mãe e Gustavo já estavam no carro, prontos para ir embora depois de um fim de semana inesquecível. Mas antes de pegarem a estrada, pararam em um pequeno mercado na esquina da avenida principal.
— Vou comprar algumas garrafas de água. Não demoro. — disse Larissa, destravando o cinto e saindo do carro.
O sininho da porta tilintou assim que ela entrou. O ar fresco do ar-condicionado contrastava com o calor do lado de fora, e o cheiro de café recém-passado se misturava ao aroma dos produtos expostos. Ela caminhou entre as prateleiras distraída, pegou algumas garrafas de água e seguiu para o caixa.
Foi então que parou abruptamente.
Ali, à sua frente na fila, estava ele.
O homem misterioso que salvara Gustavo.
Por um instante, Larissa hesitou. Ele parecia concentrado, esperando sua vez de pagar, vestia uma camisa escura simples e jeans, mas ainda assim carregava aquela presença imponente e enigmática que a intrigara na noite anterior.
Sem perceber, seus olhos se fixaram nele.
Como se sentisse seu olhar, ele virou a cabeça levemente, encontrando os olhos dela.
E então, sem pensar, as palavras saíram antes que pudesse se conter.
— Oi… Você lembra de mim? — Sua voz saiu mais hesitante do que esperava. — Você salvou meu irmão ontem. Nem nos apresentamos.
Ele a observou por um breve momento antes de esboçar um leve sorriso.
— Sim. — Sua voz era firme, mas, ao mesmo tempo, suave. — E como está o Gustavo?
Larissa piscou, surpresa.
— Você lembrou do nome dele…
Ele não respondeu, apenas arqueou levemente uma sobrancelha, como se aquilo fosse óbvio.
Ela sorriu de lado, sentindo uma pontada de gratidão misturada com uma curiosidade crescente.
— Ele está bem. E mais uma vez… obrigada.
O homem assentiu, e então estendeu a mão para ela.
— Jacob.
Larissa olhou para a mão dele por um segundo antes de apertá-la, sentindo o calor de sua pele contra a sua.
— Prazer, Larissa.
Os dois permaneceram ali por um instante, mas antes que ela pudesse perguntar algo mais, Jacob recolheu a mão, pegou sua sacola e simplesmente se virou, caminhando em direção à saída.
Larissa permaneceu parada, observando-o se afastar.
Ele era um enigma. Um estranho que aparecera em suas vidas de forma inesperada e, de alguma maneira, deixava um rastro de mistério onde quer que passasse.
Enquanto ele desaparecia entre os carros estacionados, Larissa sentiu uma inquietação crescer dentro de si. Algo lhe dizia que aquele não seria o último encontro entre eles.
Larissa voltou para o carro em um estado de mente inquieto. Cada passo que dava em direção ao veículo parecia mais pesado do que o anterior, como se estivesse carregando algo além das garrafas de água que havia comprado. Sua mente não conseguia se desligar daquele breve encontro com Jacob. A voz dele — suave, mas firme — ecoava em sua cabeça como uma melodia repetitiva, desafiadora e, ao mesmo tempo, reconfortante.
Ela se sentou no banco do carro, ainda absorta nos pensamentos que não cessavam de se multiplicar. Gustavo estava no banco de trás, entretido com algo em seu telefone, enquanto sua mãe estava quieta, olhando pela janela. Nenhuma deles parecia perceber o turbilhão dentro dela.
"Jacob..." Ela repetiu o nome mentalmente, como se tentasse se acostumar com a ideia de que ele agora fazia parte de sua realidade. Um homem que havia aparecido de repente, sem aviso, e cuja presença parecia agora impossível de ignorar.
Ela fechou os olhos por um momento, lembrando-se do sorriso discreto e do olhar profundo de Jacob. Não eram os olhos típicos de alguém comum, pensou. Eles estavam carregados de algo mais — talvez uma dor não dita, uma experiência de vida que ele mantinha guardada. Algo, no fundo daqueles olhos, lhe dizia que ele não era apenas um herói da noite anterior. Ele tinha uma história, algo que ele não compartilharia facilmente.
Ela ligou o carro, o som do motor rosnou suavemente, enquanto seguia seu caminho.
"Ele me deu a mão, se apresentou com um nome simples, mas tudo sobre ele parecia complexo." Larissa pensou, quase como se estivesse tentando desvendar um mistério. "Por que ele salvou meu irmão? Por que estava ali, naquele exato momento?"
Sua mente se lançava de um pensamento para outro, perguntas se acumulando sem respostas. Ela não sabia o que exatamente a atraía nele, mas sabia que algo estava acontecendo, algo além da gratidão pela sua ação. Ele havia tocado algo dentro dela, algo que ela não conseguia identificar ou explicar. E essa sensação, embora desconfortável, também era fascinante.
A viagem de volta para casa se desenrolou sem grandes eventos. O mundo lá fora passava como uma pintura borrada, mas Larissa estava distante. Enquanto o carro cruzava os caminhos familiares, seu coração estava preso a um homem que ela mal conhecia, mas que, sem querer, parecia ter se enraizado em sua vida de uma maneira inexplicável.
Jacob... Ela não sabia por que, mas sentia que o destino tinha algo a mais reservado para ela.
O sol começava a se esconder atrás dos prédios altos da cidade quando Larissa estacionou o carro diante do velho edifício de concreto cinzento que chamavam de lar. Era pequeno, com pintura descascando e uma portaria quase sempre vazia, mas ainda assim era o refúgio que ela havia reconstruído com esforço e coragem.Assim que o carro parou, Gustavo soltou o cinto num pulo e saiu correndo, como se estivesse participando de uma maratona.— Ei, rapazinho! — a voz firme e carinhosa de Larissa ecoou logo atrás dele. — Volta aqui e pega as sacolas. Você não vai me deixar carregar tudo sozinha, vai?Gustavo fez uma careta, bufou, mas voltou, pegou sua própria mala e correu outra vez, dessa vez em direção ao elevador.Larissa sorriu, balançando a cabeça diante da energia incansável do irmão. Em seguida, abriu a porta traseira e, com todo cuidado, ajudou a mãe a sair do carro. Giovana estava mais frágil do que nunca, a pele fina como papel, os olhos serenos, porém cansados. Mesmo assim, ainda in
A manhã passou com uma tranquilidade incomum. Larissa mergulhou em tarefas rotineiras, revisando arquivos, ajustando prazos, e trocando e-mails com o grupo de design. Seus dedos deslizavam rápidos pelo teclado, mas sua mente estava em outro lugar — no misterioso convite de William. A reunião da empresa estava marcada para as 16h, e ela tentava manter o foco, mesmo com o relógio se arrastando, como se cada minuto carregasse uma tensão silenciosa.Quando o ponteiro tocou o 11H, Larissa se levantou da mesa com precisão cirúrgica. Organizava seus materiais com a elegância natural que a acompanhava mesmo nos gestos mais simples. Penteou com os dedos uma mecha de cabelo solta, respirou fundo e seguiu pelos corredores da empresa, ignorando o burburinho sobre a chegada do novo chefe.Caminhou até o café habitual, o “Lugar de Sempre”, como William gostava de chamar. Era um cantinho discreto e elegante, onde já haviam se encontrado tantas outras vezes. Como de costume, ela chegou antes, sentand
Larissa ainda sentia o coração aos pulos quando entrou no carro. Suas mãos tremiam levemente no volante, mas o sorriso em seu rosto era impossível de conter. Uma alegria diferente vibrava em seu peito, um tipo de felicidade que fazia tempo que ela não sentia. O peso da vida, das perdas, das responsabilidades... por um momento, tudo parecia ter desaparecido. Era como se o universo tivesse, enfim, lhe devolvido algo.A chave da antiga casa. A promessa cumprida. O carinho silencioso de William. Tudo pulsava dentro dela com a mesma intensidade de um sonho que se torna real. Dirigia distraída pelas ruas movimentadas, os pensamentos voando para lembranças da infância: o jardim florido, as paredes com desenhos feitos por ela e seu pai, a cozinha onde sua mãe assava bolos nos finais de semana...Estava tão imersa em suas lembranças que não viu o semáforo mudar.O som do impacto foi seco e imediato.O carro deu um tranco para frente, o cinto de segurança a segurou com força contra o banco.
Jacob inclinou levemente a cabeça, seus olhos deslizando lentamente pelo rosto de Larissa, como se estivesse memorizando cada traço com uma precisão quase poética. O olhar dele parou por um instante em sua boca, depois subiu de volta até os olhos dela, e então um pequeno sorriso se formou em seus lábios — não um sorriso comum, mas aquele tipo que surge quando alguém sabe exatamente o que está fazendo.— Mas seu carro vai precisar de um reparo, — ele disse, com a voz baixa, grave, carregada de uma calma que parecia proposital. — Se algum guarda te parar dirigindo com as luzes assim, quebradas… você pode acabar sendo multada.Ele falava com uma tranquilidade perigosa, como se cada palavra fosse uma isca lançada em direção a ela. E Larissa... não conseguiu se concentrar no que ele dizia. Suas palavras soavam distantes, abafadas pelo som abafado de seu próprio coração acelerado.Porque, na verdade, tudo o que ela sentia era a mão dele.Aquela mão quente ainda repousava sobre seu ombro — u
Larissa retornou ao trabalho com o coração aos pulos e uma sensação curiosa revirando dentro de si — borboletas no estômago, ansiosas, agitadas, como se cada batida do coração fosse um aviso: algo está mudando. Ela tentou focar no que restava do expediente, mas os pensamentos se negavam a cooperar. A imagem de Jacob — seu olhar, sua voz, o toque quente e seguro em seu ombro — voltava à sua mente como um eco doce e perturbador. Ela mal acreditava no que tinha acontecido. Um jantar? Hoje à noite? Como assim?A reunião das 16h, para a qual ela tanto havia se preparado, acabou não sendo sobre o novo chefe, como todos imaginavam. Em vez disso, foi algo ainda mais surpreendente: a Imperium Beauty estava firmando uma nova parceria com uma renomada agência de propaganda, especializada em campanhas de impacto com modelos selecionadas a dedo para representar grandes marcas. A ideia era ousada: trazer novos rostos para dar vida aos produtos da Imperium, tornando-os ainda mais desejados no merc
Antes de sair, Larissa se inclinou e depositou um beijo leve na testa da mãe. Foi um gesto suave, cotidiano, mas que carregava um carinho imenso. Ela sempre foi assim: inteira nas pequenas coisas. Um toque, um olhar, um sorriso.— Não volta tarde, meu bem — disse a mãe, ajeitando uma mecha do cabelo da filha como fazia quando ela era criança.— Prometo, mamãe — respondeu com um meio sorriso, mas seu olhar estava distante, já projetado em outro lugar... em outro alguém.Ao atravessar a porta, Larissa sentiu o ar da noite tocar sua pele, e foi como se o mundo lá fora a chamasse para algo novo, algo que ela ainda não entendia completamente. Caminhou com passos leves, quase dançantes, como se o corpo soubesse algo que a mente ainda não havia traduzido.Havia uma sensação vibrando dentro de si. Ela não sabia se era ansiedade, desejo ou apenas aquele impulso quase inconsciente de finalmente ser vista — não como a filha dedicada, nem como a irmã preocupada, tampouco como a mulher que segura
Ao entrarem no restaurante, Jacob transformou cada gesto em um ritual de elegância e atenção. Caminhava ao lado de Larissa com uma postura impecável, seus olhos atentos a cada movimento dela, como se quisesse guardar cada instante na memória. Assim que chegaram à mesa, ele puxou delicadamente a cadeira para que ela se sentasse e, com um sorriso discreto, lhe ofereceu o cardápio, seus dedos roçando levemente os dela no processo — um toque quase imperceptível, mas que fez o coração de Larissa bater um pouco mais rápido.Ela agradeceu com um sorriso tímido, e enquanto folheava o cardápio, tentando se concentrar entre entradas e pratos principais, sentia o olhar dele pousado sobre si. Jacob a observava com uma doçura contida, como quem admira algo raro, especial. Seus lábios desenhavam um leve sorriso no canto da boca — um sorriso que não era proposital, era instintivo, nascido da satisfação genuína de estar ali com ela.Logo o garçom se aproximou, os pedidos foram feitos, e quando ficara
Depois que Jacob pagou a conta, eles saíram do restaurante. A brisa noturna soprou suave contra o rosto de Larissa, fazendo seus cabelos cacheados dançarem no ar. Jacob, num gesto automático e protetor, abriu a porta do carro para ela e depois contornou o veículo para assumir o volante.No silêncio inicial do trajeto, tocava uma música suave, envolvente. Um jazz instrumental que preenchia o ar com uma atmosfera íntima. Larissa olhava pela janela, mas sentia o olhar dele se voltar para ela vez ou outra. Ela também o observava pelo canto dos olhos — as mãos firmes no volante, a mandíbula forte e relaxada, o cheiro discreto de um perfume amadeirado que misturava charme e mistério.Foi então que Jacob, sem tirar os olhos da estrada, perguntou:— Está tudo bem aí? Ficou quieta de repente...Larissa sorriu, virando-se lentamente para ele.— Estou bem... só estou tentando entender como tudo mudou tão rápido... E agora estou aqui, com você, me sentindo… viva.Jacob olhou para ela, dessa vez s