No final da tarde, longe do sol e mar, da mágica do ar impregnado de risadas e perfume da brisa marinha, Penélope, Diego e Samuel retornaram à imponente mansão Freitas. A felicidade parecia ter encontrado um lar nos corações dos três, irradiando por eles como um manto cálido. Esquecida de seus receios, pela janela do carro Penélope olhou para a mansão, sentindo que ela parecia receber seus residentes com uma aura diferente, como se os próprios pilares de pedra e os corredores imensos sorrissem para eles. Olhou para os homens dentro do carro, Diego no volante e Samuel no banco de passageiro, sorrindo, sentindo que tinham uma nova vida, uma nova chance para corrigir os erros do passado. Depois de estacionar, Diego segurou a mão dela e se inclinou para beijar o topo de sua cabeça com carinho, transmitindo uma conexão profunda e um sentimento que palavras não precisavam expressar. Enquanto eles se dirigiam ao interior da casa, as portas duplas se abriram e Marcela Freitas apareceu, vest
Ajudando Marcela a sentar na primeira cadeira que visualizou na biblioteca, percebendo a palidez que havia tomado o rosto dela e o tremor no corpo frágil, questionou preocupado:— Mãe, está tudo bem?Marcela piscou rapidamente, tentando recompor-se. O desafio de manter a máscara de compostura era visível.— Só uma tontura... — disse deslizando os dedos pelo suor frio em seu pescoço.Diego puxou uma cadeira para perto dela.— Tem se cuidado e tomado seus remédios? — questionou ao segurar as mãos de Marcela entre as suas, sentindo-as frias.— Remédio nenhum resolve o meu caso — ela respondeu endereçando a Diego um olhar afiado. — Tanto desgosto não me faz bem... Ainda mais quando meu filho foge com uma qualquer.A resposta fez Diego soltar as mãos de Marcela.— Mãe, não sei por quanto tempo pretende ficar na mansão, mas enquanto estiver aqui, por favor, pare com essa hostilidade estúpida — pediu, mantendo um tom respeitoso, mas firme. — Sei quais são seus motivos para não aceitá-la na f
O jantar na mansão Freitas sempre foi um evento formal e carregado de sobriedade, comum naquela família tradicional. Ao longo dos anos o silêncio na elegante mesa só foi interrompido pelo entusiasmo de Samuel. Porém, naquele dia, até o menino preferiu se concentrar na refeição e não nos olhares ressabiados dos adultos. A tensão era tão intensa que o som dos talheres sobre os pratos parecia estrondoso. Roberto avisou que estava indisposto e não desceu. Penélope considerou que o fazia também por não querer discutir, pois estava claro que era isso que Marcela desejava ao dar um lugar para Lucas a mesa. Em conversa com Carla, descobriu que Marcela também tinha transformado o escritório de Roberto em uma sala para Lucas trabalhar. E o Freitas aceitou por não ver utilidade em bater de frente com a ex-esposa. Fragilizado como estava Penélope entendia sua hesitação em ir contra aos desmandos da mulher. Se por um lado Roberto se conformou, por outro, Diego parecia prestes a jogar um prato
Enfim escapando do bizarro jantar, seguindo para preparar Samuel para dormir, Penélope e Diego trocavam olhares furtivos, tensos pelo que encontraram no retorno a mansão. Entre os dois, Samuel estava exausto. Seu dia havia sido repleto de aventuras: brincadeiras na praia de manhã, a emoção de passar longas horas na estrada na volta para casa e, para coroar tudo, o jantar com sua avó Marcela e aquele homem que ele não gostava nem um pouco: Lucas. Estava ansioso para chegar ao quarto e finalmente relaxar. Segurando a mão de Diego e Penélope, subiu as escadas da mansão, os passos lentos e pesados devido ao cansaço. A cada degrau que subia recordava a conversa que teve com seu avô antes do jantar. Vovô Roberto pediu que tivesse calma com a vovó Marcela, explicando se tratar de uma pessoa séria e de poucas palavras. Mandou que fizesse o mesmo a respeito de Lucas, para não deixar Diego e Penélope irritados. Analisando os adultos, reparou que ambos tinham abandonado os sorrisos calorosos
Tendo usado uma máscara de tranquilidade em frente a Samuel, para não preocupar o garoto, Diego a abandonou assim que entrou no quarto de casal. Sua irritação com o comportamento de sua mãe, a insistência dela em atrapalhar seu casamento o corroía. Retornando do banho, Penélope o encontrou andando de um lado para o outro, resmungando a cada passada e sustentando um semblante colérico. — Sabe que é essa a intenção da sua mãe: Desestruturar cada um de nós — disse ao passar por ele rumo à cama. — Não te incomodaria ter uma das minhas ex debaixo do mesmo teto? — ele questionou aborrecido com o pouco caso dela. — E com intenções ocultas. — Fiona é sua ex-noiva e trabalha do seu lado. — Afastando o cobertor, recordou: — Várias vezes tiveram de ficar sozinhos na sala dela e não liguei. — É diferente e você sabe disso. — Não sei de nada — murmurou entrando embaixo da coberta. Queria não ter perdido seu quarto. Ter privacidade e evitar uma DR[1] sem sentido seria acalentador. Olhando pa
O café da manhã na mansão Freitas iniciou pior que o jantar no dia anterior. Novamente, poupando-se de discussões com a ex-esposa, Roberto solicitou a refeição matinal em seu quarto. Seguindo seu exemplo, Diego e Penélope levaram Samuel para a cafeteria Doçura de Cezário, justificando para o menino que queriam contar as aventuras na praia para Jéssica, enquanto provavam os deliciosos doces feitos por ela. Inquieta e incomodada com a situação, Marcela estava sentada à mesa da sala de jantar, seus olhos fixos em sua xícara de café, os pensamentos fervilhando em sua mente. A ausência de seu filho, sua clara fuga para evitá-la, a afetava mais do que gostaria de admitir. Nos últimos anos teve um relacionamento próximo com Diego, e a ideia de que ele pudesse se afastar dela, de perder o único vínculo familiar que lhe restava, a perturbava profundamente. E a culpa era de Penélope Teixeira. Assim como a mãe fez com Roberto, aquela pequena cobra se enroscava e envenenava seu filho. Ergueu a
— Preciso que me ajude. Não era a primeira vez que fazia esse pedido ao amigo, mas a inquietação dominava Diego acima do normal. As últimas semanas haviam sido marcadas por diversas reviravoltas em sua vida, indo de um sentimento ao seu oposto em segundos, principalmente quando se tratava de Penélope. Com um largo sorriso e uma estranha sensação de vingança, Enrique observou o amigo andar em impacientes círculos a sua frente. Era normal ele agir daquele jeito, não o controlado Diego. Divertia-se com a insegurança e preocupação do amigo sobre o segredo que envolvia Penélope, amplificada com o receio em torno da presença de Marcela e Lucas na mansão Freitas. Mas, diferente de outras vezes, não soltou comentários zombeteiros, apenas ouviu atentamente o amigo relatar seus problemas, incluindo o pouco que extraiu sobre o passado de Penélope e a conexão da família dela com a cidade vizinha. Diante do pedido para que ele fosse até Rudá atrás de informações, questionou condescendente: — P
Penélope estava concentrada no trabalho, revisando os relatórios financeiros da fábrica de porcelana, quando um som de passos rápidos a fez erguer a cabeça. O coração martelou em seu peito ao ver Marcela Freitas, a mãe de Diego, entrar no escritório com uma expressão furiosa.Apesar da idade e extrema magreza, que dava a mulher a aparência de fragilidade, Marcela Freitas era uma figura imponente de profundos olhos frios como adagas de gelo. Sem qualquer cumprimento, Marcela fechou a porta do escritório com um estrondo, fazendo Penélope saltar na cadeira.— Senhora Freitas, em que posso ajudá-la? — Penélope perguntou, tentando manter a calma apesar da aura hostil que preenchia o ambiente.Marcela não respondeu imediatamente. Ela deu alguns passos em direção à mesa de Penélope, os olhos fixos na nora com um misto de desdém e raiva. Finalmente, ela falou, sua voz cortante como um punhal:— Agora não poderá fugir.Penélope inspirou fundo preparando-se para o confronto e fez menção de falar