Diego entrou no quarto de hospital com passos pesados, a expressão carregada de aborrecimento, sua preocupação com o estado de Roberto em segundo plano. Estava tomado pela raiva das revelações recentes, pela sensação de traição que vinha corroendo sua mente, ampliadas por encontrar Lucas na antessala, aguardando Penélope com um sorriso zombeteiro. — Não sinta pena dele. Ele destruiu nossa família, nos separou e nos impediu de criar Samuel como pais dele. Permanecendo imóvel ao lado de Roberto, Penélope olhou para Diego com cansaço. — Sei que precisamos discutir isso, mas aqui não é o lugar certo — falou tentando manter a voz baixa e tranquila. — Seu pai precisa de cuidados, sem estresse. Amenizando a fúria percorrendo-o, Diego observou Roberto, deitado no leito de hospital, sedado e desacordado. Uma mistura de sentimentos o atravessou: a raiva, a mágoa, mas também uma ponta de compaixão. Por piores que tenham sido suas atitudes ao longo dos anos, ainda era seu pai e estava enfrenta
As palavras caíram como uma bomba entre eles, ecoando corrosiva pelo quarto. Diego ficou em silêncio por um momento, processando cada uma delas, a expressão mudando de surpresa para incredulidade e, finalmente, para uma de profunda dor.— Por favor, Penélope, pare de mentir. — Com olhos cansados e coração pesado, a encarava com irritação fervente, a voz carregada de desespero. — Seja qual for o acordo que fez com Roberto, abandone. Não vale a pena mentir para beneficiá-lo. Essa fidelidade a ele só vai causar a destruição do nosso relacionamento, como causou o fim da minha família no passado.Ele falava com intensidade, os dedos apertados sobre as coxas. Necessitava fazer Penélope compreender que estava em jogo mais do que apenas a paternidade de Samuel, o futuro deles como casal dependia de sua sinceridade.Penélope, por sua vez, permanecia firme em sua posição, os olhos tristes, mas determinados. Um dilema a corroendo por dentro.— Samuel não é nosso filho... — repetiu trêmula. — É im
A revelação pesou sobre eles como uma âncora, preenchendo o quarto. Diego permaneceu sentado na beira da cama, atordoado pela confissão que Penélope havia acabado de proferir. — Não pode ter filhos — Diego repetiu as palavras lentamente, como se estivesse tentando assimilar a notícia. Movendo as mãos pelos braços, ela assentiu. — Tive uma gravidez ectópica[1]... Estava se desenvolvendo incorretamente, então... — titubeou, sentindo-se incapaz de dizer mais que isso. Mesmo após anos do ocorrido era difícil falar a respeito. — Fiquei dias no hospital, e o médico disse que são quase nulas as minhas chances de engravidar. — E meu pai não sabe disso? — ele questionou, a dúvida e confusão evidente em seu tom. Penélope voltou-se para a janela, incapaz de encarar Diego. Confessava um segredo particular que tinha sido cuidadosamente escondido por anos, porém estava preparada para revelar essa verdade, crua e inegável, desde aquela manhã. O problema, sua irritação com Diego, se dava por ele,
Ao retornar do hospital, Lucas chamou Marcela até o escritório do piso superior da mansão Freitas, que utilizava como ateliê, contando o que aconteceu após o pedido de carona feito por Penélope.— O que? Como não consegue convencê-la a se separar dele? — Marcela virou-se irritada para Lucas, com a expressão contorcida de incredulidade e raiva. — Pelo menos descobriu algo sobre o menino? É filho dela?— Perguntei. Ela não confirmou, nem negou, só disse que casou pelo bem do menino.Deixando escapar um suspiro carregado de frustração, Marcela lamentou sua determinação em evitar o – até que se provasse o contrário - filho de seu ex-marido enquanto estivesse na mansão. O fazia para manter a mente sã, mas agora se arrependia. Torceu as mãos uma na outra, relembrando as características de Samuel. Era inegável que o menino possuía os traços marcantes dos homens Freitas, até a postura confiante. Mas o que realmente a intrigava e não saia de sua mente, atormentando-a dia e noite, eram os olhos
Balançando-se com os pés, as mãos apertadas nas alças de sua mochila, Samuel esperava impaciente na saída da escola pela chegada de Penélope e Diego. Seria a primeira vez que seria buscado por eles após o casamento que os tornou seus pais, queria que todos vissem.Enquanto olhava ao redor, Lipe, um colega de classe que, infelizmente, não era conhecido por ser uma criança gentil, se aproximou.— Ei, Samuel, tá esperando sua irmã oferecida vir te buscar hoje? — provocou sorridente.Baixando a cabeça e pressionando as palmas nas alças da mochila, Samuel sacudiu a cabeça em negativa.— Tô esperando os meus papais.Rindo, Lipe não perdeu tempo em provocar ainda mais.— Ah, claro, seus pais. Todos sabem que você é órfão. — Gargalhando, Lipe atraiu a atenção de outros coleguinhas,
Nos dia seguinte, Penélope e Diego continuaram com o objetivo de evitar ao máximo longos períodos perto de Marcela e Lucas. Penélope fazia questão de tomar a mesma atitude em relação a Samuel. Não queria o menino sendo perturbado pelos delírios agressivos da matriarca Freitas.Embora não tivesse o mesmo receio, Diego não se intrometia nas decisões dela. Tinha questões mais urgentes a lidar.Seguindo Penélope até a fábrica, após levarem Samuel para a escola, Diego pensava em como conversar com seu pai sem piorar o estado dele.Sempre contando com a ajuda de Enrique, por telefone combinou de encontra-lo em sua sala.— Enrique, você está aí? — chamou, enquanto adentrava o espaço.A sala era um pouco menor que a que ocupava com Penélope. Grandes janelas proporcionavam uma vista panorâ
A tarde estava tranquila na Doçura de Cezário, cafeteria de propriedade da família de Jéssica. As três amigas, Jéssica, Ana e Penélope, ocupavam uma das mesas ao canto, desfrutando de seus lanches e bebidas favoritas. O local estava movimentado, com outras pessoas conversando e rindo ao redor, um ambiente acolhedor que tirava da mente das três os problemas diários.Apesar da atmosfera descontraída, Jéssica permanecia inquieta por dentro. Sentia culpada por sua participação na busca por informações da estadia de Penélope em Rudá, que culminou em mais falatórios e comentários depreciativos em direção à amiga. Estava preocupada com o impacto que isso causaria na amizade entre elas.Enquanto as amigas conversavam animadamente, mantinha-se em silêncio, absorta em seus pensamentos. Era óbvio que Diego não
Saindo do quarto de Samuel depois de dar boa noite ao menino, Diego envolveu a cintura de Penélope com um braço seguindo para o quarto de casal. O silêncio a envolvia desde que retornou da mansão após a conversa com Jéssica Castro.Tendo a consciência pesada pelos últimos acontecimentos, após fechar a porta do quarto, envolveu Penélope em um abraço, acariciando suavemente o rosto dela com o polegar.— A conversa com Penélope foi difícil? — questionou preocupado.Encontrando conforto contra o peito de Diego, Penélope sentia o corpo pesado, exausto. Era como se um vendaval tivesse sacudido as bases de sua vida, de novo.— Sim, bem difícil — admitiu sincera. — No início, me senti magoada por Jess ter seguido Enrique nessa tola investigação sobre mim.Apertando a cintura dela suavemente, Diego assenti