Com o vestido moldando suas curvas, Penélope impressionou-se por Roberto ter encomendado a roupa sem consulta-la e mesmo assim a peça encaixar como uma luva em seu corpo.Desconfiava que Carla o havia ajudado. Mesmo sendo uma senhora discreta e de poucas palavras, a governanta tinha controle absoluto em cada passo dado na mansão, assim como sabia as medidas de todos, entre outras coisas que guardava para si.Maquiou-se com simplicidade e deixou o cabelo solto por seus ombros. Optou por não ostentar joias e nem adereços, todos que possuía pareciam inapropriados.Sendo sincera consigo mesma, admitia que nas condições em que se casava, quase forçada a fazê-lo, preferia passar por aquele dia sem o glamour e romantismo de uma noiva real.Seu “noivo”, no entanto, não pensava do mesmo jeito. Quando Ana retornou da ligação, trouxe consigo um presente de Diego, um ostentoso buquê cascata de rosas vermelhas.Mesmo sabendo que o fazia para impressionar os convidados, as rosas de pétalas aveludad
Sentindo a ardência dominar o lado esquerdo de seu rosto, Penélope levou a mão ao local, os olhos arregalados observando o caos dominar o ambiente.Transtornada, Marcela tentava alcançá-la novamente, sendo contida por Diego. Ele segurava a mãe pela cintura, mantendo-a afastada, suportando os tapas que ela desferia em seus braços e rosto.Roberto gritava ordens, algumas direcionadas a ela, pois identificava seu nome em meio aos berros, mas em choque não fazia a conexão necessária para entendê-las.Os convidados comentavam, zombavam, riam, apontavam. E o foco no palco daquela tragédia era ela. A mentirosa, a traidora, a Jezebel. Apontada, estigmatizada, com a letra escarlate[1] bordada em seu corpo e alma.A tensão acumulada em anos estourou, a abateu com mais força e ardência que o tapa de Marcela. Sem se importar com mais nada, andou trêmula para longe da confusão. Devagar, um passo atrás do outro, curto, longo, rápido, mais rápido, correndo escada acima.~*~Vendo Penélope correr par
Com um turbilhão de emoções e pensamentos dominando-a, Penélope se questionou o mesmo: Qual seria sua resposta?Havia nela a resposta racional apresentando argumentos para afastá-lo, mostrava cada momento que ele a magoou, que não se importou com seus sentimentos, apontando-a na chuva, abandonada, solitária e chutada sem dó por ele.E havia a emocional. Quando seus olhos encontravam os dele sentia-se envolvida, de volta a primeira vez que o viu, aos passeios de mãos dadas, aos abraços e beijos, as promessas de um amor puro e eterno.Não havia lógica em reviver o passado, o lado racional a censurava com dureza. Mas em oito anos jamais o esqueceu, nem mesmo ao lado de Lucas seu coração sentia-se como naquele momento, ansiando jogar-se nos braços masculinos, esquecer o antes, viver o presente e sonhar com um futuro em que sempre estariam juntos.Ela o amava, nunca deixou de amar. E era nesse ponto que o perigo residia, que sempre residiu. O relacionamento deles não deu certo por causa de
Envergonhada, Penélope colocou a primeira roupa que suas mãos trêmulas alcançaram no guarda-roupa, um vestido florido de uso diário. Uma peça simples e fácil de colocar para se apresentar diante de Roberto Freitas, após vexativamente cair em tentação nos braços do filho dele.Se arrependimento matasse, estaria esturricada no chão. Um erro, dos grandes, foi isso que cometeu, dizia a si mesma mentalmente ao caçar na gaveta uma calcinha e coloca-la às pressas. Tinha um acordo seguro, sem envolvimento emocional ou físico, e ela destruiu por se deixar levar pelo momento, por palavras bonitas, por um sentimento que só lhe trouxe sofrimento.Correu até a penteadeira, pegou a escova e ajeitou seu cabelo. A última coisa que necessitava era provas de sua queda.Com uma respiração longa, bateu as mãos na saia do vestido e virou-se, pronta para enfrentar o mundo.Sua confiança desceu ralo abaixo ao colocar os olhos em Diego.Ele a observava com um sorriso de canto, cabelo desavergonhadamente desa
Na sacada de seu quarto, Roberto observava melancólico a movimentação no pátio da frente. Do mesmo jeito intempestivo que Marcela o abandonou, retornava.Prudente, não duvidou nem por um segundo da ameaça dela. Por isso, sem se importar com os comentários que viriam, mandou Penélope, Diego e Samuel para longe sem que a festa de casamento houvesse acabado, ou os noivos tivessem aparecido nela.Só não imaginava que a esposa retornaria com malas e móveis para a mansão. Obviamente ela estava empenhada em impor sua presença. Qual seria a extensão dessa determinação somente os próximos dias diriam.Tinha a esperança de que, sem os alvos de seu ódio por perto, Marcela repensasse e partisse definitivamente, sem olhar para trás ou pensar nas pessoas que deixava como fez anos antes.Usou o controle da cadeira de rodas para retornar para dentro do quarto, seguindo até a mesinha em que uma jarra de suco de beterraba, maçã e cenoura o aguardava. Preferia algo mais forte, mas sua alimentação era re
Grávida?Penélope cobriu a boca com a mão, a mente ainda lenta do sono processando a estranha pergunta, realinhando os fatos, fazendo contas, percebendo que em algum lugar, espaço, tempo, tinha entrado em um ciclo louco de repetição de erros.Seus olhos encheram-se de lágrimas, seu coração se apertou e precisou sentar ou temia que as pernas não sustentassem seu corpo por muito tempo.Balançou a cabeça negando, a mão descendo até a garganta dolorida, massageando o local, o tempo todo sem parar de rejeitar a ideia.— Existe uma possibilidade grande. Não usamos nenhuma proteção ontem — Diego insistiu incomodado com a reação dela. — Se estiver esperando um filho meu, não permitirei que seja criado por outro homem. — Ele fez uma pausa e a olhou fixamente, embora ela não percebesse por estar de cabeça baixa. — Um filho não deve crescer longe do pai, sem saber quem ele é, não concorda?Era sua isca, a chance dela confessar que ele e Samuel eram pai e filho.— Vamos torcer para que eu não est
Penélope se encantou com o hall magnífico e a bela mobília antiga que decorava o ambiente conforme seguia Diego. A elegância do quarto era uma amostra do que viu fora dele.Diferente da mansão, que era opulenta e um tanto sombria com seus móveis, na maioria escuros, e pesadas cortinas; a decoração da casa de praia era suave, em tons de branco, creme e tons de azul, cortinas leves que deixavam a claridade do sol iluminar o lado de dentro.— Nunca esteve aqui? — Diego perguntou ao reparar o modo que ela observava tudo, soltando ocasionais expressões de encantamento.— Não. Nunca sai de Cezário... Bem, com exceção de quando ia à capital e o tempo que morei em Rudá — ela se corrigiu, distraída com as peças delicadas no trajeto até a sala de jantar.Com a menção da cidade vizinha de Cezário, Diego questionou curioso:— Têm parentes em Rudá?Penélope assentiu imediatamente tensa.— A família da minha mãe é de Rudá, mas não somos próximos.Notando a mudança no humor de Penélope, e lembrando
Com o auxílio do caseiro, Diego atendeu ao pedido de Samuel, alugando um iate exclusivo para eles passearem pelas ilhas.Crescendo na rotina casa/escola imposta por Roberto, o menino maravilhou-se com o mar, impressionado com a extensão de água, a vida marinha e toda beleza vegetal das ilhas. Sentando ao lado do dono do iate, ao longo do passeio ouvia atento as histórias dos lugares em que passavam.Penélope também apreciava as belezas da Barra do Sahy [1]. O dia ensolarado, o mar calmo e a brisa fresca, tornavam o passeio ainda mais agradável.Diego, por sua vez, desde que saíram da casa, estava pendurado no celular. Pela tensão e expressões dele, Penélope tinha certeza que a longa conversa o desagradava. Apostava que era a mãe dele, criticando o casamento e o mandando divorciar-se de imediato. Apiedou-se de Diego, não devia ser fácil ser filho de Roberto e Marcela.Quando enfim encerrou a ligação, Diego aproximou-se dela e, ficando de costas para o mar, escorou-se e fitou o céu azul