Quando abriu os olhos, Elena sentiu o impacto do frio em sua pele. O chão duro sob seu corpo era úmido, e um cheiro nauseante tomava o ar, fazendo seu estômago revirar. Ela piscou algumas vezes, tentando se ajustar à escuridão opressora que a cercava.
Seu primeiro instinto foi se levantar, mas o movimento repentino trouxe uma onda de tontura. Ainda assim, forçou-se a ficar de pé, os joelhos trêmulos. O coração acelerou ao perceber o que a rodeava: três paredes sólidas e uma cela de barras de ferro à frente. Uma prisão. O pânico a impulsionou para frente. Ela correu até as grades e agarrou o ferro frio com as mãos suadas. Do outro lado, um corredor estreito e mal iluminado se estendia diante dela. À esquerda e à direita, havia mais celas. Vazias. Todas vazias. — Socorrooo! — Elena gritou, sua voz ecoando pelo espaço sombrio. O silêncio que veio em resposta a fez se sentir patética. Claro que ninguém viria. Claro que quem a jogou ali não deixaria ajuda por perto. Ela tentou de novo, agora mais desesperada: — Tem alguém aí?! Nada. O silêncio era esmagador. Não havia carros, não havia passos. Nenhuma vibração, nenhum ruído distante. Era como se estivesse no meio do nada, enterrada em algum canto esquecido do mundo. Engolindo em seco, Elena recuou e se deixou deslizar até o chão, encostando-se na grade. Seus olhos ficaram fixos no corredor vazio. Se alguém passasse por ali, ela veria primeiro. E então... Horas devem ter se passado, ou talvez apenas minutos que pareceram eternos. Mas, enfim, algo quebrou a monotonia aterrorizante: passos. Pesados, arrastados. Elena prendeu a respiração quando a porta no fim do corredor se abriu com um rangido. Dois homens entraram, carregando — não, arrastando — um terceiro pelo chão. Ele parecia inconsciente, o rosto escondido sob sombras. Ela sentiu o estômago revirar ao ouvir o som do corpo batendo contra o chão quando o jogaram dentro da cela em frente à sua. O estalo do cadeado ecoou no ambiente. A adrenalina tomou conta. — Ei, vocês dois! Eu quero sair daqui! Não posso ficar presa aqui, eu tenho que... — Cala a boca. — A voz cortante veio do menor dos dois, um sujeito narigudo com olhar impaciente. — Ou a gente te faz dormir de novo. O outro, mais alto e musculoso, riu baixo, como se gostasse da ideia. Elena sentiu o sangue gelar. Os dois começaram a se afastar, caminhando em direção à porta de saída. Seu coração martelava contra as costelas. Não podia simplesmente deixá-los irem embora. Antes que sumissem pelo corredor, ela arriscou uma última tentativa. — Esperem, eu preciso ir ao banheiro! O homem mais baixo parou por um breve momento, como se estivesse considerando, mas no segundo seguinte soltou um resmungo e continuou, trancando a porta atrás de si sem olhar para trás. Elena cerrou os punhos, sentindo a frustração queimar dentro dela. — Saco. — rosnou, desferindo um soco na grade da cela. A dor pulsante na mão veio quase instantaneamente, latejando até o antebraço. Ela soltou um suspiro pesado, massageando os dedos doloridos. Foi então que ouviu um gemido baixo vindo da cela à frente. O homem desacordado começou a se mover. Primeiro um leve estremecer dos dedos, depois um longo suspiro ao recuperar a consciência. Quando ele finalmente ergueu a cabeça, os olhos ainda sonolentos e confusos, Elena sentiu o choque percorrer sua espinha. Ela o conhecia. — Você?! — Sua voz saiu carregada de raiva enquanto apontava para ele. O rapaz de toca ergueu o olhar para ela, piscando algumas vezes antes de enfim reconhecê-la. — Ah, é você... — murmurou, massageando a têmpora como se a cabeça latejasse. A revolta cresceu dentro dela. — É por sua culpa que estou aqui! O homem bufou, a expressão passando rapidamente da surpresa para o tédio. — Minha culpa? — Ele arqueou uma sobrancelha. — Eu só te forneci o produto. Não fazia ideia de que você fosse burra o suficiente para vender de qualquer jeito e chamar atenção. — Burra?! — Elena se inclinou para frente, agarrando as grades. — Eu fui discreta! Os seus clientes é que eram desesperados! Ele soltou uma risada sarcástica, apoiando-se na parede da cela como se a conversa fosse uma grande perda de tempo. — Meus clientes são os vendedores. Você era uma vendedora, e vendedoras precisam ser cautelosas. Mas quer saber? A culpa foi minha mesmo. — Ele soltou um suspiro teatral, cruzando os braços. — Como eu fui idiota de confiar esse trabalho a uma mulher. Ainda mais sendo loira. Elena arregalou os olhos, a fúria crescendo dentro dela como um incêndio prestes a sair de controle. — Você é um babaca! — vociferou Elena, seu rosto pegando fogo de raiva. — Quando sairmos daqui, eu vou acabar com a sua raça, seu merdinha! O homem apenas riu, um sorriso presunçoso se formando sob a sombra da toca. Irritada, Elena se virou de costas, cruzando os braços com força contra o peito. O sangue ainda fervia em suas veias. Como ele ousava falar daquele jeito? Como ela tinha sido burra de se meter nessa situação? Mas agora não adiantava lamentar. Ela precisava pensar. Não podia ficar ali esperando o pior. Lá fora, alguém a esperava — e ela não podia, de jeito nenhum, desamparar essa pessoa. A porta no final do corredor rangeu, se abrindo novamente. Elena parou de andar de um lado para o outro e prendeu a respiração. Dessa vez, apenas o homem baixinho entrou. Ele segurava algo na mão esquerda, enquanto a direita firmava uma arma pronta para disparar ao menor sinal de problema. — Encosta na parede, gatinha. — ordenou ele, apontando a arma direto para ela. Claro que Elena obedeceu sem hesitar. Quem em sã consciência faria o contrário? Com o corpo colado à parede oposta às grades, ela viu o homem destrancar a cela e jogar um objeto metálico no chão. O barulho ecoou no silêncio do cativeiro. O estômago de Elena revirou ao reconhecer o objeto: um penico velho e imundo. — Eu não vou usar isso. É insalubre. — Ela deu um passo à frente, indignada, mas congelou no instante em que a arma foi apontada para sua cabeça. Seus músculos ficaram tensos. Ela ergueu as mãos em rendição. — Você não está em posição de exigir nada. — O tom do homem era frio, indiferente. Sem dizer mais nada, ele girou nos calcanhares e desapareceu pela porta, trancando-a atrás de si. Aquela porta. A partir de agora, na mente de Elena, ela teria um nome. A porta maldita. Elena encarou o penico velho no chão, sentindo o estômago embrulhar. Do outro lado das grades, o homem começou a rir, o som carregado de escárnio. — Achou que estava aqui de férias? Ela ergueu o olhar, seus olhos queimando de raiva. — Claro que não — retrucou, cruzando os braços. — Mas esperava um pouco mais de humanidade. O riso do homem morreu, dando lugar a um tom de incredulidade. — Humanidade? — Ele soltou um suspiro debochado. — Você sabe onde estamos? Sabe quem comanda isso aqui? Elena não respondeu. A verdade é que não sabia, mas se recusava a dar esse gostinho para ele. Em vez disso, virou-se de costas, ignorando-o. Mas ele continuou: — Seu silêncio já é a resposta. Estamos nas celas do Dom Mascarado. Elena franziu a testa, sentindo um arrepio percorrer sua espinha. — De quem? O homem riu de novo, dessa vez com um toque de surpresa. — O Dom Mascarado. O cara mais frio e sem humanidade que já ouvi falar. É sério que você nunca escutou nada sobre ele? Porque, né... você tocava na boate dele. O sangue de Elena gelou. — Não... nunca ouvi nada sobre ele. — disse ainda de braços cruzados e um olhar que emanava medo e curiosidade. — Pois então, fique sabendo de uma coisa. — Ele se aproximou das grades, a voz baixa, quase divertida. — Quem entra nessas celas, só sai daqui pra morrer pelas mãos dele. O silêncio se instalou entre eles. Elena sentiu os pulmões queimarem com a respiração acelerada, mas não deu a ele o gosto de ver seu medo. Do outro lado, o rapaz deu de ombros, indiferente, e simplesmente se deitou no chão duro, como se estivesse acostumado com aquilo. Não havia colchões. Nem cobertas. Aquele lugar não existia para ser confortável. Era a prisão da morte. Por mais que a loira tentasse manter-se calada, em sua mente as palavras do homem ecoavam como uma reprise de um filme ruim, daqueles que você não consegue desligar, mas também não quer assistir até o fim. Cada frase, cada frase cruel, causava um arrepio profundo em sua espinha, e o medo, esse medo insuportável, não se limitava a ela. O destino de quem a esperava lá fora começava a se entrelaçar com o próprio pesadelo que ela estava vivendo. E será que aquele homem estava falando a verdade? Existia mesmo esse tal Dom Mascarado? E quem era ele?D ante estava à beira da exaustão, sua mente afiada como a lâmina do machado que empunhava, mas o seu interior continuava em frangalhos, dilacerado pela raiva e pelo descontrole que ele mesmo havia permitido. Ele olhava para o machado, uma extensão de sua própria raiva, e podia quase sentir o peso de seus próprios fracassos se refletindo no metal escuro. O protocolo já estava em andamento, as mulheres do Egito seriam transportadas em breve, divididas em três partes, uma operação arriscada que ele não podia deixar falhar. Mas a cabeça dele estava longe disso, perdida em um emaranhado de frustração e um desejo urgente de vingança contra a incompetência de seus subordinados. Eles haviam traído sua confiança, e agora ele precisava retomar o controle, mostrar quem comandava ali. Ele se levantou, ainda com o machado em mãos, e foi até a mesa onde deixara sua máscara. Aquele objeto, que o distanciava de sua humanidade, era o último passo antes de se transformar no que ele precisava ser: um
Enquanto isso, Demétrio quase precisou pegar Elena nos braços. A loira, ainda tomada pelo choque, tinha as pernas bambas, tremendo incontrolavelmente, enquanto as lágrimas corriam livremente por seu rosto. Com a vida difícil que levou desde a infância, ela já havia sido testemunha de muitas atrocidades, mas nada se comparava àquele ato repulsivo diante de seus olhos. Ao ser trancada novamente na cela, ela se arrastou até a parede, onde se encolheu, balançando o corpo para frente e para trás, num movimento quase automático. Era como se tentasse se acalmar, como se aquele balançar frenético fosse uma tentativa de afastar a realidade daquele lugar. Agora, mais do que nunca, temia o tal Dom Mascarado, assim como todos aqueles que ouviam seu nome em sussurros. E não era para menos. Dante não tinha piedade. Ele era implacável, um monstro que se escondia atrás de uma máscara. Mas ela sabia, de alguma forma, que todos nessa vida tinham um ponto fraco. Algo guardado nas profundezas do coração
Dante estava sentado em sua cadeira, a postura imponente e firme, uma demonstração clara de seu poder. A máscara, como sempre, escondia seu rosto, mas seus olhos brilhavam com uma intensidade ameaçadora. Ele não precisava dizer uma palavra para que qualquer um soubesse o que ele representava. O silêncio pesado no ambiente era quebrado abruptamente pela porta, que se abriu de forma brusca, revelando Firmino. O homem entrou, ganhando imediatamente a atenção de seu Dom. Firmino não pôde deixar de notar a arma sobre a mesa. Ele sabia que aquilo não era apenas um objeto qualquer — era um aviso silencioso, uma mensagem do quanto Dante estava furioso. Os dois se conheciam desde pequenos, e Firmino já havia sido ameaçado diversas vezes por Dante, mas essa era a segunda vez que via a arma do amigo sobre a mesa. A primeira foi no dia da grande tragédia. — O que estava pensando quando trouxe aquela mulher para a cela? — Dante se levantou de repente, seu corpo rígido com raiva, e encarou Firmin
Já em casa, Dante aguardava impaciente em seu escritório, os passos ressoando no chão de madeira enquanto caminhava de um lado para o outro. O copo de whisky em sua mão parecia se tornar um reflexo do que ele sentia — amargo e turbulento. Sabia que Firmino estava a caminho, trazendo consigo a tal loira herdeira dos Vasquez. Sabia também que isso poderia desencadear uma guerra, mas, ao mesmo tempo, compreendia que não havia escolha. Ele precisava se certificar de algumas coisas antes de dar o próximo passo. Manter Elena Vasquez prisioneira em sua casa, onde poucos ousavam entrar, parecia a melhor estratégia. Afinal, quem iria suspeitar de algo vindo de alguém como ele? O Dom, que há anos se isolara do mundo após o acidente trágico, não tinha contato com mais ninguém. Esse mistério, na verdade, era seu maior aliado. Além disso, ele tinha algo muito mais ambicioso em mente. O grande acordo com Alejandro Vasquez. Algo que perseguia há anos. Desde que seu avô estava à frente dos negócios
Elena sentiu uma dor leve em sua cabeça, a sensação de uma ressaca invisível. Antes mesmo que pudesse abrir os olhos, um aroma delicioso invadiu suas narinas, despertando seus sentidos. Era algo reconfortante, algo que sua memória, abalada pela confusão, reconhecia como conforto. — Elena, acorde! — A voz feminina a fez sobressaltar. Ela se sentou rapidamente na cama macia, sentindo o mundo girar um pouco antes de conseguir se estabilizar. Ao olhar para o lado, seus olhos se fixaram em uma senhora que parecia ter seus sessenta e poucos anos. Seus cabelos grisalhos estavam presos em um coque simples, e as linhas em seu rosto contavam histórias de um tempo vivido. Ela segurava uma bandeja nas mãos, e no prato, Elena reconheceu algo que parecia ser um belo prato de macarronada, com molho suculento e cheiroso. A boca de Elena se encheu de saliva, e sua mente, ainda nebulosa, não conseguiu impedir que seus olhos se fixassem no prato. A fome era um monstro, mais voraz que qualquer coisa qu
Assim que saiu do quarto de Elena, Dante se permitiu um banho rápido, mas necessário, antes de se vestir para o jantar. Como de costume, ele se acomodou na sacada de seu quarto, os olhos fixos nas ondas do mar à sua frente, que, para ele, tinham um charme ainda mais intrigante à noite. A cada minuto, um soldado passava pela areia, sua presença discreta, mas vigilante, garantindo a segurança da casa. Todos sabiam que, naquele horário, o Dom estaria ali, e a atenção nos arredores era ainda mais intensa. Se Dante olhasse mais para as laterais da praia, conseguiria avistar outros de seus homens, sempre prontos para defendê-lo de qualquer ameaça. Com a barriga roncando, ele consultou o relógio e notou, pela primeira vez em anos, que Mag se atrasara. Embora isso fosse uma anomalia, não causou qualquer inquietação em Dante. Ele sabia que sua demora estava relacionada a Elena. E, de algum modo, isso só aumentava sua curiosidade em relação à prisioneira. Seus pensamentos voltaram à loira, mai
O estrondo dos tiros rasgou o ar, misturando-se aos gritos apavorados que ecoavam pela boate. O desespero tomou conta do ambiente, pessoas corriam em todas as direções, esbarrando umas nas outras, derrubando mesas e copos no chão. Luzes piscavam freneticamente, criando sombras fantasmagóricas que tornavam a cena ainda mais caótica. No palco, Elena estava encolhida no chão, escondida atrás da mesa de DJ que, até poucos segundos atrás, vibrava ao som da sua música eletrônica. Seu coração martelava contra o peito, um tambor incessante de puro pavor. O ar cheirava a pólvora e suor. Com as mãos trêmulas, ela tentava inutilmente esconder a cabeça, como se pudesse se tornar invisível. Então, de repente, um silêncio sepulcral tomou conta do ambiente. Elena prendeu a respiração. O medo a consumia por completo, seus músculos estavam rígidos, incapazes de reagir. O que aconteceria agora? O silêncio foi quebrado por passos firmes e cadenciados, ressoando no piso como se pertencessem a um p