Firmino ergueu-se como um raio, os músculos retesados pela adrenalina, e disparou em sequência com uma precisão quase instintiva.O terceiro homem mal teve tempo de reagir. Cambaleou ao ser atingido no ombro e no peito, soltando a arma com um ruído metálico antes de tombar de costas, os olhos ainda arregalados de surpresa e dor. Os dois remanescentes hesitaram por uma fração de segundo — e isso foi tudo o que Firmino precisou.Avançou como uma sombra, deslizando por trás de uma pilastra de mármore lascada, o frio da pedra colando em sua pele suada. Surgiu ao lado deles com a letalidade de um predador, disparando dois tiros secos. Dois corpos tombaram quase ao mesmo tempo, sem um som além do baque surdo contra o chão manchado de sangue e poeira.Então, o silêncio caiu de forma abrupta. Um silêncio denso, sufocante, que contrastava com o eco recente dos tiros que ainda reverberava pelos corredores largos e escuros do prédio. Do teto, pedaços de gesso pendiam como teias prestes a se desfa
Enquanto a guerra se arrastava pelo prédio das industrias Moretti, deixando um rastro de caos e incerteza, em um canto esquecido do mapa urbano, os homens do temido Dom Mascarado continuavam sua caçada silenciosa. O alvo agora era a enigmática irmã de Elena — uma figura envolta em rumores e segredos, cuja existência ainda parecia incerta até mesmo para os mais bem-informados.Martino caminhava com passos cautelosos ao lado de um dos soldados de confiança. Diante deles, erguia-se um velho galpão industrial, vencido pelo tempo e pelo abandono. As paredes, corroídas pela umidade e pelo descaso, exibiam rachaduras profundas, como cicatrizes antigas. O telhado rangia com o peso dos anos, ameaçando desabar a qualquer instante. A visão do lugar arrancou de Martino uma careta de desprezo.— Nenhuma alma em sã consciência se esconderia aqui — murmurou, mais para si mesmo do que para o companheiro ao lado. — Ainda mais com uma criança.Apesar da descrença, a informação era clara: Elena teria fe
O som da televisão ecoava alto pela cozinha silenciosa, preenchendo o espaço com uma tensão invisível. Mag estava encostada na bancada de mármore fria, os braços cruzados, os olhos fixos na tela iluminada. Do lado de fora, o céu começava a escurecer lentamente, lançando sombras compridas pelas janelas, enquanto uma brisa morna agitava as cortinas esvoaçantes.Na TV, a imagem trêmula de uma repórter surgia em frente a uma boate, envolta por uma faixa de isolamento policial ainda pendurada na entrada. O letreiro piscava de maneira intermitente, como se estivesse prestes a apagar definitivamente.— “A jovem desaparecida trabalhava como DJ em uma boate da zona sul da cidade. Um dos donos do local é o herdeiro da influente família Moretti. Segundo informações preliminares, a denúncia do desaparecimento foi feita por um barman que trabalha no mesmo estabelecimento. As autoridades acreditam que Elena tenha sido raptada logo após o ataque violento que aconteceu na boate há alguns dias. Caso a
Enquanto Mag cuidava de Ariana no andar de baixo, Dante estava no quarto, se despindo lentamente para um banho merecido após um dia infernal — um dia que havia começado tranquilo e terminado com o ataque impiedoso de Alejandro.A camisa caiu ao chão sem cerimônia, revelando os músculos tensos e marcados. Ele mal teve tempo de suspirar quando um som agudo e inconfundível cortou o silêncio da mansão.Vidro se estilhaçando.Dante congelou. O olhar afiado percorreu o quarto num instante, e o coração acelerou num compasso feroz. A mão foi direto à máscara negra repousando sobre a mesa redonda. Em um movimento automático, ele a vestiu, como se precisasse ocultar mais do que apenas seu rosto.O velho temor voltou a assombrá-lo. Alejandro. Estaria ele ousando invadir sua casa?Outro estrondo. Mais vidro quebrado.Dessa vez, ele não hesitou. Pegou a arma e avançou com passos silenciosos até a janela. A cortina já estava puxada, mas ele encontrou uma fresta por onde espiar.Lá fora, o jardim de
Com a própria camisa Dante pressionou o tecido contra o corte das costas de Elena, que arfou alto, os ombros se arqueando. A dor queimava, e ela mordeu o lábio até sentir o gosto metálico do próprio sangue. Mesmo assim, não chorou.Ele se aproximou mais, ajoelhado sobre ela, a respiração pesada denunciando algo mais do que pressa ou nervosismo. Seus dedos eram firmes, mas a forma como seguravam o pano era quase reverente, como se o toque pudesse curá-la ao invés de machucá-la.— Está sangrando muito. — murmurou, mais para si mesmo.Elena virou o rosto, tentando vê-lo, mas tudo que enxergava era a silhueta, a máscara que cobria seu rosto. Aquilo a incomodava desde o primeiro instante.— Por que você usa isso? — sussurrou, a voz fraca, mas firme. — A máscara. O que você esconde?Dante não respondeu de imediato. Os olhos se levantaram, encontrando os dela por uma fração de segundo. Havia uma faísca ali. Algo cru. Denso. Algo que se contorcia entre verdade e desejo.— Não me pergunte mais
Elena já havia perdido a noção do tempo desde que os passos dele se apagaram no corredor. O silêncio que se seguiu foi como um manto espesso, sufocante, quebrado apenas pelas batidas descompassadas do próprio coração. A dor nas costas pulsava em ondas densas, quase ritmadas, mas era o vazio dentro de si que mais a perturbava — um vácuo escuro, ecoando uma única frase que não conseguia afastar: “Eu me importo. Mais do que deveria.”As palavras reverberavam dentro dela como uma maldição sussurrada num templo abandonado. Cada repetição fazia seu peito apertar, como se não houvesse mais ar para respirar. E do outro lado da porta, o mundo parecia suspenso — imóvel, como uma fotografia em tons de cinza. Até que o estalo seco da fechadura a arrancou desse transe.Ela se sentou de súbito na beirada do colchão, o corpo tenso, os olhos arregalados. O coração, antes lento, agora martelava no peito com a força de um tambor tribal. A luz fraca que escorria pelas frestas das cortinas tremulava, pro
Elena cruzou os braços, tentando sufocar a ansiedade, e voltou o olhar para o jardim abaixo. Mesmo envolto em sombras, o canteiro de peônias exibia um brilho quase mágico sob a luz pálida da lua. Os tons suaves das flores contrastavam com a frieza daquela prisão luxuosa, quase zombando dela.Foi então que um som inesperado cortou o silêncio.A porta se abriu às suas costas com um estalo suave.Ela não se virou. Sabia quem era. O homem da máscara negra, o enigma que a mantinha ali, deveria ter vindo reclamar por ela ter mexido em suas roupas. Elena não estava com humor para outro de seus silêncios carregados ou ordens secas.Mas a voz que preencheu o ambiente foi outra.E aquilo... a desmontou por dentro.— Elena...?O nome escapou num sussurro incrédulo, cheio de emoção e medo.O coração dela disparou.Um arrepio percorreu sua pele e, antes mesmo de se virar, seus lábios se curvaram em um sorriso de puro alívio — um gesto raro, esquecido nas últimas horas. Ela conhecia aquela voz. Con
Quando Dante retornou ao quarto, o ambiente parecia envolto por uma penumbra suave, com as cortinas entreabertas permitindo que a luz pálida da lua escorresse pelo carpete como um véu prateado. O som distante do vento sussurrava através das frestas da janela, como se o próprio mundo prendesse a respiração.Elena estava ali, confortavelmente instalada em sua poltrona favorita, com as pernas encolhidas sob o tecido macio, parecendo dona do lugar. Seus olhos — de um azul penetrante — o observavam com uma curiosidade quase felina, como se cada gesto dele fosse parte de um mistério que ela se divertia em decifrar.Era óbvio que uma tempestade de perguntas dançava em sua mente, mas antes que qualquer palavra escapasse de seus lábios, Dante cortou o silêncio com uma ordem seca:— Levante-se!Ela arqueou as sobrancelhas, como se aquilo fosse a coisa mais absurda do mundo, e esboçou um meio sorriso irônico — aquele que sempre deixava Dante dividido entre o desejo de sorrir de volta ou jogá-la