O Dom percorreu o olhar pelo quarto, os olhos sombrios analisando cada detalhe ao seu redor. O silêncio era espesso, quase sufocante. Do outro lado da porta trancada, Elena estava no banheiro. Ele sabia disso. Podia senti-la. O nervosismo pulsava em suas veias, um turbilhão de emoções conflitantes o consumindo. A raiva ainda latejava em seu peito, tão vívida quanto a cena que testemunhara poucos instantes atrás.A lembrança da noite anterior relampejou em sua mente. Ele a ajudara, estendera a mão sem hesitação… e, em troca, recebera apenas desdém. O orgulho ferido o corroía, mas ele não permitiria que isso o desviasse de suas decisões.Com um último olhar para a porta fechada, ele se moveu. Seus passos eram firmes, quase mecânicos. Ao sair do quarto, girou a chave na fechadura, trancando-a novamente pelo lado de fora, selando Elena naquele espaço como um segredo bem guardado.Quando desceu as escadas, Mag já o aguardava no rodapé, postura ereta e expressão impassível. Em suas mãos, re
Enquanto Elena se martirizava sozinha no quarto, sentindo o peso esmagador da culpa, Mag já movia suas peças no tabuleiro.Ela não era do tipo que aceitava histórias sem provas.Entrou em contato com Firmino, informando-o sobre a revelação de Elena.Do outro lado da linha, Firmino franziu a testa. Aquilo não fazia sentido. No dossiê detalhado que possuía sobre Elena, não havia qualquer menção a uma irmã, muito menos a uma garotinha de seis anos.A informação inesperada o incomodou profundamente. Como isso havia passado despercebido? A dúvida se instalou como uma sombra, e Firmino não era um homem que gostava de incertezas.Ele imediatamente contatou os investigadores da Família, ordenando que refizessem as buscas. Mas a impaciência queimava dentro dele. Esperar não era uma opção. Ele precisava de respostas. E precisava delas agora.Prestando-se a um impulso que sabia poder ser inútil, Firmino alterou sua rota.Estava prestes a sair para cobrar dívidas quando mudou de direção, abandona
Firmino ergueu-se como um raio, os músculos retesados pela adrenalina, e disparou em sequência com uma precisão quase instintiva.O terceiro homem mal teve tempo de reagir. Cambaleou ao ser atingido no ombro e no peito, soltando a arma com um ruído metálico antes de tombar de costas, os olhos ainda arregalados de surpresa e dor. Os dois remanescentes hesitaram por uma fração de segundo — e isso foi tudo o que Firmino precisou.Avançou como uma sombra, deslizando por trás de uma pilastra de mármore lascada, o frio da pedra colando em sua pele suada. Surgiu ao lado deles com a letalidade de um predador, disparando dois tiros secos. Dois corpos tombaram quase ao mesmo tempo, sem um som além do baque surdo contra o chão manchado de sangue e poeira.Então, o silêncio caiu de forma abrupta. Um silêncio denso, sufocante, que contrastava com o eco recente dos tiros que ainda reverberava pelos corredores largos e escuros do prédio. Do teto, pedaços de gesso pendiam como teias prestes a se desfa
Enquanto a guerra se arrastava pelo prédio das industrias Moretti, deixando um rastro de caos e incerteza, em um canto esquecido do mapa urbano, os homens do temido Dom Mascarado continuavam sua caçada silenciosa. O alvo agora era a enigmática irmã de Elena — uma figura envolta em rumores e segredos, cuja existência ainda parecia incerta até mesmo para os mais bem-informados.Martino caminhava com passos cautelosos ao lado de um dos soldados de confiança. Diante deles, erguia-se um velho galpão industrial, vencido pelo tempo e pelo abandono. As paredes, corroídas pela umidade e pelo descaso, exibiam rachaduras profundas, como cicatrizes antigas. O telhado rangia com o peso dos anos, ameaçando desabar a qualquer instante. A visão do lugar arrancou de Martino uma careta de desprezo.— Nenhuma alma em sã consciência se esconderia aqui — murmurou, mais para si mesmo do que para o companheiro ao lado. — Ainda mais com uma criança.Apesar da descrença, a informação era clara: Elena teria fe
O som da televisão ecoava alto pela cozinha silenciosa, preenchendo o espaço com uma tensão invisível. Mag estava encostada na bancada de mármore fria, os braços cruzados, os olhos fixos na tela iluminada. Do lado de fora, o céu começava a escurecer lentamente, lançando sombras compridas pelas janelas, enquanto uma brisa morna agitava as cortinas esvoaçantes.Na TV, a imagem trêmula de uma repórter surgia em frente a uma boate, envolta por uma faixa de isolamento policial ainda pendurada na entrada. O letreiro piscava de maneira intermitente, como se estivesse prestes a apagar definitivamente.— “A jovem desaparecida trabalhava como DJ em uma boate da zona sul da cidade. Um dos donos do local é o herdeiro da influente família Moretti. Segundo informações preliminares, a denúncia do desaparecimento foi feita por um barman que trabalha no mesmo estabelecimento. As autoridades acreditam que Elena tenha sido raptada logo após o ataque violento que aconteceu na boate há alguns dias. Caso a
Enquanto Mag cuidava de Ariana no andar de baixo, Dante estava no quarto, se despindo lentamente para um banho merecido após um dia infernal — um dia que havia começado tranquilo e terminado com o ataque impiedoso de Alejandro.A camisa caiu ao chão sem cerimônia, revelando os músculos tensos e marcados. Ele mal teve tempo de suspirar quando um som agudo e inconfundível cortou o silêncio da mansão.Vidro se estilhaçando.Dante congelou. O olhar afiado percorreu o quarto num instante, e o coração acelerou num compasso feroz. A mão foi direto à máscara negra repousando sobre a mesa redonda. Em um movimento automático, ele a vestiu, como se precisasse ocultar mais do que apenas seu rosto.O velho temor voltou a assombrá-lo. Alejandro. Estaria ele ousando invadir sua casa?Outro estrondo. Mais vidro quebrado.Dessa vez, ele não hesitou. Pegou a arma e avançou com passos silenciosos até a janela. A cortina já estava puxada, mas ele encontrou uma fresta por onde espiar.Lá fora, o jardim de
Com a própria camisa Dante pressionou o tecido contra o corte das costas de Elena, que arfou alto, os ombros se arqueando. A dor queimava, e ela mordeu o lábio até sentir o gosto metálico do próprio sangue. Mesmo assim, não chorou.Ele se aproximou mais, ajoelhado sobre ela, a respiração pesada denunciando algo mais do que pressa ou nervosismo. Seus dedos eram firmes, mas a forma como seguravam o pano era quase reverente, como se o toque pudesse curá-la ao invés de machucá-la.— Está sangrando muito. — murmurou, mais para si mesmo.Elena virou o rosto, tentando vê-lo, mas tudo que enxergava era a silhueta, a máscara que cobria seu rosto. Aquilo a incomodava desde o primeiro instante.— Por que você usa isso? — sussurrou, a voz fraca, mas firme. — A máscara. O que você esconde?Dante não respondeu de imediato. Os olhos se levantaram, encontrando os dela por uma fração de segundo. Havia uma faísca ali. Algo cru. Denso. Algo que se contorcia entre verdade e desejo.— Não me pergunte mais
Elena já havia perdido a noção do tempo desde que os passos dele se apagaram no corredor. O silêncio que se seguiu foi como um manto espesso, sufocante, quebrado apenas pelas batidas descompassadas do próprio coração. A dor nas costas pulsava em ondas densas, quase ritmadas, mas era o vazio dentro de si que mais a perturbava — um vácuo escuro, ecoando uma única frase que não conseguia afastar: “Eu me importo. Mais do que deveria.”As palavras reverberavam dentro dela como uma maldição sussurrada num templo abandonado. Cada repetição fazia seu peito apertar, como se não houvesse mais ar para respirar. E do outro lado da porta, o mundo parecia suspenso — imóvel, como uma fotografia em tons de cinza. Até que o estalo seco da fechadura a arrancou desse transe.Ela se sentou de súbito na beirada do colchão, o corpo tenso, os olhos arregalados. O coração, antes lento, agora martelava no peito com a força de um tambor tribal. A luz fraca que escorria pelas frestas das cortinas tremulava, pro