No dia seguinte, Dante ordenou a Mag que não levasse o café da manhã para Elena. Disse, com sua voz grave e sem espaço para discussão, que ela não estava ali de férias. Mag, como sempre, não o questionou. Jamais o questionava. Sabia muito bem qual era o seu lugar dentro daquela casa e que sua posição não lhe permitia desafiar as decisões do Dom. Mas Mag não era boba. Sabia que, se havia alguém que podia enfrentar Dante sem sair com um buraco de bala no meio da testa, esse alguém era Firmino. E foi por isso que, assim que Firmino apareceu na entrada da casa do Dom, Mag o interceptou com um discreto aceno de cabeça, chamando-o para a cozinha. — O que foi agora, Mag? — Firmino perguntou, cruzando os braços. Ele já conhecia aquele olhar da governanta. Sempre significava que ela tinha uma tarefa — ou um problema — para ele resolver. — É sobre a mulher que está aqui, essa tal de Elena. Quem diabos é ela, afinal? E por que não está trancada numa cela como os outros? Firmino suspirou, es
O som da chave girando na porta fez Elena se sentar abruptamente, um arrepio percorrendo sua espinha. Ela sabia que aquela porta, sempre que se abria, trazia algo que a fazia se sentir ainda mais aprisionada. Não demorou até que a porta se escancarasse, revelando o homem alto e barbudo que a havia levado da boate para aquela cela imunda. Aquele homem imponente, sempre com um ar de quem tinha o controle da situação, como se tudo ao redor girasse conforme sua vontade. — Bom dia, coisa linda. As palavras caíram como um peso no ar. Elena se levantou lentamente, o coração disparando no peito. Sempre que seu caminho cruzava com esse brutamontes, ela acabava desacordada, e a memória daquele acontecimento a fez frisar os olhos, ciente de que não podia deixar que a situação se repetisse. Ela não diria nada, preferiu ficar em silêncio, observando-o com o olhar firme, mas não sem antes se preparar mentalmente para o que estava por vir. A expressão de Elena estava longe de ser amigável. Ela o e
O Dom percorreu o olhar pelo quarto, avaliando o espaço ao seu redor, enquanto ponderava se deveria ou não ir até Elena. Ela estava trancada no banheiro, e o silêncio que vinha de lá apenas alimentava sua inquietação. O nervosismo percorria suas veias como fogo líquido, misturado à raiva que ainda pulsava dentro dele pelo que havia testemunhado instantes atrás.A lembrança da noite anterior veio à tona — ele a ajudara, e, mesmo assim, Elena reagira com ofensa, como se sua presença fosse um fardo. A memória pesou em sua decisão. Cerrando o maxilar, Dante deu meia-volta, seus passos firmes ecoando no chão de madeira. Ao sair do quarto, girou a chave na fechadura, trancando a porta pelo lado de fora, e desceu as escadas sem olhar para trás.No térreo, Mag já o aguardava, segurando seu inseparável sobretudo negro. Dante se aproximou em silêncio, vestindo-o com a naturalidade de quem incorpora uma segunda pele. Assim como sua máscara, aquele casaco não era apenas uma peça de roupa — era um
O Dom percorreu o olhar pelo quarto, os olhos sombrios analisando cada detalhe ao seu redor. O silêncio era espesso, quase sufocante. Do outro lado da porta trancada, Elena estava no banheiro. Ele sabia disso. Podia senti-la. O nervosismo pulsava em suas veias, um turbilhão de emoções conflitantes o consumindo. A raiva ainda latejava em seu peito, tão vívida quanto a cena que testemunhara poucos instantes atrás.A lembrança da noite anterior relampejou em sua mente. Ele a ajudara, estendera a mão sem hesitação… e, em troca, recebera apenas desdém. O orgulho ferido o corroía, mas ele não permitiria que isso o desviasse de suas decisões.Com um último olhar para a porta fechada, ele se moveu. Seus passos eram firmes, quase mecânicos. Ao sair do quarto, girou a chave na fechadura, trancando-a novamente pelo lado de fora, selando Elena naquele espaço como um segredo bem guardado.Quando desceu as escadas, Mag já o aguardava no rodapé, postura ereta e expressão impassível. Em suas mãos, re
Enquanto Elena se martirizava sozinha no quarto, sentindo o peso esmagador da culpa, Mag já movia suas peças no tabuleiro.Ela não era do tipo que aceitava histórias sem provas.Entrou em contato com Firmino, informando-o sobre a revelação de Elena.Do outro lado da linha, Firmino franziu a testa. Aquilo não fazia sentido. No dossiê detalhado que possuía sobre Elena, não havia qualquer menção a uma irmã, muito menos a uma garotinha de seis anos.A informação inesperada o incomodou profundamente. Como isso havia passado despercebido? A dúvida se instalou como uma sombra, e Firmino não era um homem que gostava de incertezas.Ele imediatamente contatou os investigadores da Família, ordenando que refizessem as buscas. Mas a impaciência queimava dentro dele. Esperar não era uma opção. Ele precisava de respostas. E precisava delas agora.Prestando-se a um impulso que sabia poder ser inútil, Firmino alterou sua rota.Estava prestes a sair para cobrar dívidas quando mudou de direção, abandona
Firmino ergueu-se como um raio, os músculos retesados pela adrenalina, e disparou em sequência com uma precisão quase instintiva.O terceiro homem mal teve tempo de reagir. Cambaleou ao ser atingido no ombro e no peito, soltando a arma com um ruído metálico antes de tombar de costas, os olhos ainda arregalados de surpresa e dor. Os dois remanescentes hesitaram por uma fração de segundo — e isso foi tudo o que Firmino precisou.Avançou como uma sombra, deslizando por trás de uma pilastra de mármore lascada, o frio da pedra colando em sua pele suada. Surgiu ao lado deles com a letalidade de um predador, disparando dois tiros secos. Dois corpos tombaram quase ao mesmo tempo, sem um som além do baque surdo contra o chão manchado de sangue e poeira.Então, o silêncio caiu de forma abrupta. Um silêncio denso, sufocante, que contrastava com o eco recente dos tiros que ainda reverberava pelos corredores largos e escuros do prédio. Do teto, pedaços de gesso pendiam como teias prestes a se desfa
Enquanto a guerra se arrastava pelo prédio das industrias Moretti, deixando um rastro de caos e incerteza, em um canto esquecido do mapa urbano, os homens do temido Dom Mascarado continuavam sua caçada silenciosa. O alvo agora era a enigmática irmã de Elena — uma figura envolta em rumores e segredos, cuja existência ainda parecia incerta até mesmo para os mais bem-informados.Martino caminhava com passos cautelosos ao lado de um dos soldados de confiança. Diante deles, erguia-se um velho galpão industrial, vencido pelo tempo e pelo abandono. As paredes, corroídas pela umidade e pelo descaso, exibiam rachaduras profundas, como cicatrizes antigas. O telhado rangia com o peso dos anos, ameaçando desabar a qualquer instante. A visão do lugar arrancou de Martino uma careta de desprezo.— Nenhuma alma em sã consciência se esconderia aqui — murmurou, mais para si mesmo do que para o companheiro ao lado. — Ainda mais com uma criança.Apesar da descrença, a informação era clara: Elena teria fe
O som da televisão ecoava alto pela cozinha silenciosa, preenchendo o espaço com uma tensão invisível. Mag estava encostada na bancada de mármore fria, os braços cruzados, os olhos fixos na tela iluminada. Do lado de fora, o céu começava a escurecer lentamente, lançando sombras compridas pelas janelas, enquanto uma brisa morna agitava as cortinas esvoaçantes.Na TV, a imagem trêmula de uma repórter surgia em frente a uma boate, envolta por uma faixa de isolamento policial ainda pendurada na entrada. O letreiro piscava de maneira intermitente, como se estivesse prestes a apagar definitivamente.— “A jovem desaparecida trabalhava como DJ em uma boate da zona sul da cidade. Um dos donos do local é o herdeiro da influente família Moretti. Segundo informações preliminares, a denúncia do desaparecimento foi feita por um barman que trabalha no mesmo estabelecimento. As autoridades acreditam que Elena tenha sido raptada logo após o ataque violento que aconteceu na boate há alguns dias. Caso a