O relatório

Dante estava sentado em sua cadeira, a postura imponente e firme, uma demonstração clara de seu poder. A máscara, como sempre, escondia seu rosto, mas seus olhos brilhavam com uma intensidade ameaçadora. Ele não precisava dizer uma palavra para que qualquer um soubesse o que ele representava. O silêncio pesado no ambiente era quebrado abruptamente pela porta, que se abriu de forma brusca, revelando Firmino. O homem entrou, ganhando imediatamente a atenção de seu Dom.

Firmino não pôde deixar de notar a arma sobre a mesa. Ele sabia que aquilo não era apenas um objeto qualquer — era um aviso silencioso, uma mensagem do quanto Dante estava furioso. Os dois se conheciam desde pequenos, e Firmino já havia sido ameaçado diversas vezes por Dante, mas essa era a segunda vez que via a arma do amigo sobre a mesa.

A primeira foi no dia da grande tragédia.

— O que estava pensando quando trouxe aquela mulher para a cela? — Dante se levantou de repente, seu corpo rígido com raiva, e encarou Firmino, sua máscara ocultando qualquer vestígio de emoção em seu rosto.

— Primeiro guarda a arma. — Firmino disse com um tom tranquilo, mas por dentro, o medo o assolava, apertando seu peito. Ele sabia que Dante não tolerava desobediência, mas não poderia recuar agora.

Firmino puxou uma cadeira e se sentou, puxando algo do bolso e jogando sobre a mesa de madeira maciça. A tensão entre eles parecia aumentar a cada segundo.

— Como você mesmo diz, Dom, uma imagem vale mais do que mil palavras.

Irritado com o comportamento desafiador de seu braço direito, Dante pegou a foto sobre a mesa. Quando seus olhos caíram sobre a imagem, ele ficou espantado. Nunca, em toda a história da linhagem de sua família, uma mulher havia chegado tão longe.

— Está me dizendo que essa magrela estava vendendo drogas na minha boate? — Dante perguntou, seu tom carregado de desprezo.

— Não, eu estou te mostrando. — Firmino respondeu com um suspiro profundo, antes de continuar. — Ela se chama Elena e, pelas informações que consegui, ela estava vendendo drogas para o pessoal da Leone.

— Isso qualquer um sabe. — Dante retrucou com um tom de arrogância. — Deveria fazer melhor o seu trabalho.

Firmino bufou e se levantou, seu passo firme enquanto caminhava até o pequeno bar. Serviu dois copos de whisky, sua mão ligeiramente trêmula, mas tentando manter a compostura. Ele voltou até a mesa, encontrando Dante agora guardando a arma nas costas com uma agilidade que só ele possuía.

— O relatório está em seu e-mail, mas como eu sei que você não vai ler... — Firmino comentou, voltando-se para Dante com um sorriso irônico. — Elena Vasques, vinte anos, DJ da Boate Sabotage...

— Espera, Elena Vasquez? Ela tem ligação com a...

— Máfia mexicana? Sim, porém ela não sabe exatamente quem é. — Firmino completou, o tom grave em sua voz aumentando a tensão no ambiente.

Dante franziu a testa, irritado com a interrupção, mas seu interesse foi instantâneo.

— Explique.

Firmino estendeu o copo de whisky a Dante, que pegou com um gesto impaciente, tomando um grande gole. Firmino sabia que aquele era um momento crucial. As palavras a seguir poderiam mudar o jogo completamente.

— Elena é filha e herdeira do Alejandro Vasquez, mas ela não sabe disso. Sua mãe fugiu com ela quando ainda era um bebê. Deve saber dessa história.

— Sim, continue. — Dante mandou, enquanto engolia o restante da bebida de uma só vez, sentindo o líquido âmbar queimando na garganta.

— Acontece que...

Mas antes que Firmino pudesse terminar, a porta foi aberta bruscamente novamente, e Dimitri entrou, com um semblante assustado, seu rosto pálido como se tivesse visto um fantasma. O ar na sala ficou ainda mais pesado, o suspense aumentando. Dante virou-se para ele, seus olhos se estreitando sob a máscara e a arma apontada para o homem próximo à porta.

— Que porra é essa? — Dante gritou, apontando a arma para Dimitri, que imediatamente estendeu as mãos ao alto, em sinal de rendição, o medo estampado em seu rosto.

— Estão dizendo por aí que temos uma mulher presa na nossa sede. Isso é verdade? — Dimitri perguntou, sua voz tremendo apesar da tentativa de manter a calma.

— Você ousa entrar aqui desse jeito para perguntar isso? — Dante continuou, sua raiva evidente, o tom de sua voz cortante, como uma lâmina afiada.

— Sei que não deveria, mas as informações são que a garota é filha de Alejandro, do México, e que ele já está sabendo e ameaçou vir resgatá-la.

— Mas que porra! Como ele ficou sabendo de uma informação dessas? Se... — Dante interrompeu, a frustração começando a tomar conta de sua expressão, mas Firmino, com a calma que só ele possuía, completou a explicação.

— Elena tinha alguém que a vigiava constantemente depois que ela perdeu a mãe. Era alguém de confiança de Guadalupe, mãe dela. — Firmino disse, agora se sentando após o susto com a entrada de Dimitri. — Quando esse 'vigia' viu que a pegamos, ele notificou o paradeiro da herdeira mexicana. Era um acordo que ele tinha com Guadalupe, que se a garota estivesse em apuros, ele poderia revelar seu paradeiro.

— Droga, não podemos deixá-la aqui. — Dimitri disse, visivelmente preocupado.

Dante ficou em silêncio por alguns segundos, processando as informações. O clima tenso no ar parecia carregar o peso de todas as escolhas que ele teria que fazer a partir daquele momento. Ele estava tentando entender como tudo havia saído de controle tão rapidamente.

— Primeiro você vaza daqui. — Dante ordenou, apontando para Dimitri, que, sem hesitar, saiu da sala apressadamente, não ousando resistir.

— Segundo, você leva a mexicana para a minha casa. — Dante virou-se para Firmino, dando a última ordem.

— Como é? Para a sua casa? — Firmino questionou, surpreso pela decisão inesperada.

— Vai me questionar? — Dante perguntou, o olhar penetrante por trás da máscara, tornando claro que ele não estava disposto a ouvir discordâncias. Ele viu Firmino trancar a porta, sabendo que o amigo queria discutir melhor a situação.

Com o gesto silencioso, Dante retirou sua máscara, revelando sua verdadeira face, algo que apenas Firmino e a governanta de Dante sabiam. Era um momento raro, a confiança entre os dois tão profunda que Dante não precisava esconder sua identidade.

— Ótimo, agora podemos conversar. — Firmino começou, encarando o amigo com a coragem que só ele possuía, sem se deixar intimidar.

— Comece. — Dante disse, cruzando os braços, com o semblante fechado, demonstrando que ele não estava interessado em rodeios.

— Por que a levaria para a sua casa? Arriscando ser atacado? Aqui no subsolo estamos protegidos, caso Alejandro ataque. — Firmino questionou, tentando entender o raciocínio por trás da decisão.

— Já parou pra pensar que a minha casa é o último lugar onde ele vai procurá-la? Ele e todos sabem que ninguém frequenta a minha casa, além de você. — Dante respondeu, a lógica fria e calculista em suas palavras. Ele sabia que, na mente de Alejandro, sua casa era o refúgio mais improvável para Elena.

— Não tinha pensado nisso. — Firmino se deu por vencido, admitindo que a ideia de Dante fazia sentido. Ele respeitava a capacidade do amigo de ver além das evidências óbvias.

— Então pare de perder tempo. — Dante disse, pegando a máscara novamente e a colocando sobre o rosto. Ele olhou para a tela de seu notebook e sorriu. — Em cinco minutos, aquele babaca que guarda a cela vai levar a refeição dela. Notando como ela tem sangue quente, ela vai atacá-lo e tentar fugir. É nessa hora que você vai sair com ela pelos túneis.

Dante colocou a máscara com um gesto preciso, como se aquele fosse o sinal para Firmino agir. Ele observou o amigo sorrir, sabendo que Firmino, mais do que ninguém, entendia a mente de Dante. Ele sabia que seu amigo era um mestre em prever as ações das pessoas, e, mais uma vez, estava tomando a frente de uma situação difícil com precisão.

Dante fechou o notebook e ajeitou a arma sobre a roupa, e Firmino estava pronto para cumprir a missão com a confiança que Dante depositava nele. Ele sabia que a noite estava prestes a se transformar em um jogo de vida ou morte, e apenas os mais fortes sobreviveriam.

Firmino assistiu Dante sair com seus seguranças, o ritmo de seus passos confiantes ecoando pelos corredores. Ele sabia que o Dom estava tomando decisões com base em seu instinto afiado, mas também sentia a crescente tensão no ar. Cada movimento, cada palavra de Dante parecia carregar o peso de um destino irreversível, e Firmino não podia negar que havia algo inquietante na maneira como as coisas estavam se desenrolando.

Ele parou por um momento, observando a porta pela qual Dante saíra, e então murmurou para si mesmo, com um sorriso irônico:

— Acho que isso ainda vai dar merda... — Ele balançou a cabeça, sentindo a pressão que se acumulava sobre seus ombros. — Ele está subestimando Alejandro. O cara é mais esquentado que as pimentas de seu país.

Firmino se afastou da mesa, a mente cheia de possibilidades. Alejandro não era alguém fácil de se lidar. A tensão entre ele e Dante era um jogo de poder que se arrastava há anos. Subestimar o mexicano poderia ser um erro fatal, e Firmino sabia que, se as coisas dessem errado, seriam ele e Dante a pagarem o preço.

Ele pegou o celular, enviando uma mensagem para seus homens. Eles precisavam estar preparados. Qualquer sinal de que algo estava errado, e ele deveria agir rapidamente. A casa de Dante, embora bem protegida, ainda estava exposta a muitos riscos. E se Alejandro decidisse ir até lá, ninguém poderia prever o que aconteceria.

Firmino suspirou, ciente de que, mais uma vez, seria ele a salvar a situação — ou, talvez, arruinar tudo. A lealdade que sentia por Dante era inabalável, mas ele também sabia que a vida deles estava sempre à beira de um abismo, e um passo em falso poderia ser o suficiente para tudo desmoronar.

— Vamos ver até onde isso vai. — Ele murmurou, se dirigindo para os corredores, já pensando no que mais poderia fazer para garantir que tudo desse certo.

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