Enquanto isso, Demétrio quase precisou pegar Elena nos braços. A loira, ainda tomada pelo choque, tinha as pernas bambas, tremendo incontrolavelmente, enquanto as lágrimas corriam livremente por seu rosto. Com a vida difícil que levou desde a infância, ela já havia sido testemunha de muitas atrocidades, mas nada se comparava àquele ato repulsivo diante de seus olhos.
Ao ser trancada novamente na cela, ela se arrastou até a parede, onde se encolheu, balançando o corpo para frente e para trás, num movimento quase automático. Era como se tentasse se acalmar, como se aquele balançar frenético fosse uma tentativa de afastar a realidade daquele lugar. Agora, mais do que nunca, temia o tal Dom Mascarado, assim como todos aqueles que ouviam seu nome em sussurros. E não era para menos. Dante não tinha piedade. Ele era implacável, um monstro que se escondia atrás de uma máscara. Mas ela sabia, de alguma forma, que todos nessa vida tinham um ponto fraco. Algo guardado nas profundezas do coração, um segredo capaz de abalar até os mais poderosos. Foi quando esse pensamento cortou sua mente que algo em seu interior se iluminou. Ela se levantou abruptamente, como se uma centelha de esperança tivesse acendido em seu peito. Elena lembrou-se de uma frase que sua mãe sempre dizia: "Todos possuem um ponto fraco, algo guardado no fundo do coração. Se for colocado para fora, traz a paz, o amor e a rendição." Na época, aquelas palavras pareciam abstratas, vazias até, mas agora, enquanto estava presa naquele inferno, elas faziam todo o sentido. O ponto fraco de Dante poderia ser a chave para sua liberdade. E havia alguém lá fora, alguém que dependia de seus cuidados. Isso lhe dava forças para seguir em frente, para lutar pela sua liberdade. Mas depois de alguns minutos tentando pensar em como descobrir o ponto fraco de Dante, o tédio a envolveu novamente. A cela era um ambiente de total desconforto, o único "mimo" era o maldito penico nojento que ficava ali, no canto. Seu estômago roncava alto, pedindo comida, e o frio parecia se espalhar por seu corpo cansado. Porém, ficar de pé não adiantaria em nada, e ela estava exausta. Com isso, se deitou no chão gelado, rezando silenciosamente para que aquilo não causasse uma pneumonia. Deitada, com as mãos sob a cabeça, ela olhou para o teto e algo a fez parar. Ali, logo acima dela, havia uma câmera vigiando cada movimento. Ela se sentiu observada, mas logo a dúvida se instaurou. Será que alguém estava vendo? Será que, se falasse algo, alguém ouviria? Sua mente começou a trabalhar rapidamente. Um plano se formou, e uma ideia curiosa surgiu. Ela decidiria testar sua teoria. Levantou-se com dificuldade, simulando uma tontura. Levou a mão à cabeça e, com uma expressão de dor, disse, quase para si mesma: — Nossa, não estou me sentindo bem... Estou tão tonta... Ela deu alguns passos vacilantes e, para completar a encenação, começou a cambalear para as grades, deixando seu corpo cair no chão de maneira dramática, completamente imóvel. O silêncio da cela foi interrompido por um som familiar: a chave girando na fechadura. O som da porta sendo aberta chegou aos seus ouvidos e, logo, passos rápidos se aproximaram. Ela sentiu alguém tocando levemente seu rosto, tentando acordá-la. — Ei, moça... Acorde, vamos. — A voz masculina era inconfundível. Era o homem baixinho que lhe trouxera o penico momentos antes. Por dentro, Elena sorriu triunfante. Sua teoria estava correta. Não demorou nem um segundo para que ela "acordasse". Seus olhos se abriram lentamente, piscando várias vezes antes de focarem no rosto do homem. — Ai... — Ela gemeu, tocando a cabeça como se tivesse acabado de acordar de um desmaio. — Acho que bati forte a cabeça... — Não duvido, senhorita. A senhora caiu igual a uma jaca podre. — O homem respondeu com uma risada abafada, como se fosse uma piada entre eles. O comentário irônico e a familiaridade do tom lhe deram um toque de leveza no meio de tanto caos. Mas, ao mesmo tempo, Elena sabia que aquilo era apenas o começo de uma trama muito mais complexa. Ela ainda tinha muito a descobrir e, principalmente, a desafiar. A verdadeira batalha estava prestes a começar. Ela o observou novamente, desta vez com mais atenção. Ele não parecia tão mau. Talvez tudo o que fizesse fosse simplesmente cumprir ordens. E se, assim como ela, fosse também um prisioneiro? Alguém obrigado a servir ao tal "verme mascarado", como o Dom era chamado por trás das portas fechadas. A ideia começou a se formar em sua mente, uma possibilidade incômoda, mas que lhe dava alguma esperança. — É que estou com fome... — Elena murmurou, tentando parecer mais fraca e vulnerável. — Por isso me senti mal. O homem não respondeu. Apenas a ajudou a se deitar em um canto da cela e, sem dizer mais nada, saiu. Elena ficou ali, observando os passos dele se afastando. Ela sentiu um misto de alívio e frustração. Alívio por ter confirmado que estava sendo vigiada, mas frustração por não ter conseguido o que realmente precisava: comida. Mais uma vez, a fome apertava, mas ela não podia perder a calma agora. Fora dali, o clima era bem diferente. Firmino, irritado, xingava o motorista, exigindo que ele dirigisse mais rápido. O Dom não gostava de esperar, e Firmino, com sua mente afiada e calculista, sabia que sua própria cabeça estaria a prêmio se não cumprisse as ordens de Dante rapidamente. E não queria, de jeito nenhum, ser o responsável por falhar diante do mascarado. Quando finalmente chegaram ao prédio, Firmino passou pelos seguranças com um ar de autoridade. A tensão era palpável. Ele não tinha tempo para perder. Seguiu direto para o elevador, onde retirou uma chave de seu bolso e a inseriu no buraco acima dos botões dos andares. Ao girá-la, o elevador desceu, parando apenas quando alcançou o Subsolo 3. Com pressa, ele saiu do elevador e cruzou rapidamente com Demétrio, que estava com o telefone no ouvido, aparentemente informando alguém sobre sua chegada. — Entre, senhor Firmino — Demétrio disse com um sorriso disfarçado de simpatia. Seus olhos, no entanto, refletiam uma malícia que Firmino não podia deixar de notar. Demétrio sabia, de alguma forma, que Firmino estava apreensivo. Ele percebia o nervosismo do homem, e não era difícil adivinhar a razão. A mulher loira, que havia sido a causa da hesitação de Dante em matar alguém — algo que Demétrio nunca imaginara que aconteceria. O Dom, sempre tão implacável, havia mostrado fraqueza diante dela. Algo que, certamente, não deveria ter acontecido. Demétrio, com um sorriso de canto, já começava a imaginar o que poderia acontecer a seguir. Sabia que, em breve, cabeças iriam rolar. E ele secretamente torcia para que a cabeça de Firmino fosse uma dessas. Caso isso acontecesse, ele subiria de nível: de secretário a auxiliar. E seu irmão gêmeo, Dimitri, ocuparia o posto de braço direito do Dom, substituindo Firmino. A tensão entre os dois era palpável. Cada um com seus próprios planos, suas próprias ambições. E o destino de Elena, ainda que distante, estava de alguma forma atrelado àquele jogo de poder.Dante estava sentado em sua cadeira, a postura imponente e firme, uma demonstração clara de seu poder. A máscara, como sempre, escondia seu rosto, mas seus olhos brilhavam com uma intensidade ameaçadora. Ele não precisava dizer uma palavra para que qualquer um soubesse o que ele representava. O silêncio pesado no ambiente era quebrado abruptamente pela porta, que se abriu de forma brusca, revelando Firmino. O homem entrou, ganhando imediatamente a atenção de seu Dom. Firmino não pôde deixar de notar a arma sobre a mesa. Ele sabia que aquilo não era apenas um objeto qualquer — era um aviso silencioso, uma mensagem do quanto Dante estava furioso. Os dois se conheciam desde pequenos, e Firmino já havia sido ameaçado diversas vezes por Dante, mas essa era a segunda vez que via a arma do amigo sobre a mesa. A primeira foi no dia da grande tragédia. — O que estava pensando quando trouxe aquela mulher para a cela? — Dante se levantou de repente, seu corpo rígido com raiva, e encarou Firmin
Já em casa, Dante aguardava impaciente em seu escritório, os passos ressoando no chão de madeira enquanto caminhava de um lado para o outro. O copo de whisky em sua mão parecia se tornar um reflexo do que ele sentia — amargo e turbulento. Sabia que Firmino estava a caminho, trazendo consigo a tal loira herdeira dos Vasquez. Sabia também que isso poderia desencadear uma guerra, mas, ao mesmo tempo, compreendia que não havia escolha. Ele precisava se certificar de algumas coisas antes de dar o próximo passo. Manter Elena Vasquez prisioneira em sua casa, onde poucos ousavam entrar, parecia a melhor estratégia. Afinal, quem iria suspeitar de algo vindo de alguém como ele? O Dom, que há anos se isolara do mundo após o acidente trágico, não tinha contato com mais ninguém. Esse mistério, na verdade, era seu maior aliado. Além disso, ele tinha algo muito mais ambicioso em mente. O grande acordo com Alejandro Vasquez. Algo que perseguia há anos. Desde que seu avô estava à frente dos negócios
Elena sentiu uma dor leve em sua cabeça, a sensação de uma ressaca invisível. Antes mesmo que pudesse abrir os olhos, um aroma delicioso invadiu suas narinas, despertando seus sentidos. Era algo reconfortante, algo que sua memória, abalada pela confusão, reconhecia como conforto. — Elena, acorde! — A voz feminina a fez sobressaltar. Ela se sentou rapidamente na cama macia, sentindo o mundo girar um pouco antes de conseguir se estabilizar. Ao olhar para o lado, seus olhos se fixaram em uma senhora que parecia ter seus sessenta e poucos anos. Seus cabelos grisalhos estavam presos em um coque simples, e as linhas em seu rosto contavam histórias de um tempo vivido. Ela segurava uma bandeja nas mãos, e no prato, Elena reconheceu algo que parecia ser um belo prato de macarronada, com molho suculento e cheiroso. A boca de Elena se encheu de saliva, e sua mente, ainda nebulosa, não conseguiu impedir que seus olhos se fixassem no prato. A fome era um monstro, mais voraz que qualquer coisa qu
Assim que saiu do quarto de Elena, Dante se permitiu um banho rápido, mas necessário, antes de se vestir para o jantar. Como de costume, ele se acomodou na sacada de seu quarto, os olhos fixos nas ondas do mar à sua frente, que, para ele, tinham um charme ainda mais intrigante à noite. A cada minuto, um soldado passava pela areia, sua presença discreta, mas vigilante, garantindo a segurança da casa. Todos sabiam que, naquele horário, o Dom estaria ali, e a atenção nos arredores era ainda mais intensa. Se Dante olhasse mais para as laterais da praia, conseguiria avistar outros de seus homens, sempre prontos para defendê-lo de qualquer ameaça. Com a barriga roncando, ele consultou o relógio e notou, pela primeira vez em anos, que Mag se atrasara. Embora isso fosse uma anomalia, não causou qualquer inquietação em Dante. Ele sabia que sua demora estava relacionada a Elena. E, de algum modo, isso só aumentava sua curiosidade em relação à prisioneira. Seus pensamentos voltaram à loira, mai
O estrondo dos tiros rasgou o ar, misturando-se aos gritos apavorados que ecoavam pela boate. O desespero tomou conta do ambiente, pessoas corriam em todas as direções, esbarrando umas nas outras, derrubando mesas e copos no chão. Luzes piscavam freneticamente, criando sombras fantasmagóricas que tornavam a cena ainda mais caótica. No palco, Elena estava encolhida no chão, escondida atrás da mesa de DJ que, até poucos segundos atrás, vibrava ao som da sua música eletrônica. Seu coração martelava contra o peito, um tambor incessante de puro pavor. O ar cheirava a pólvora e suor. Com as mãos trêmulas, ela tentava inutilmente esconder a cabeça, como se pudesse se tornar invisível. Então, de repente, um silêncio sepulcral tomou conta do ambiente. Elena prendeu a respiração. O medo a consumia por completo, seus músculos estavam rígidos, incapazes de reagir. O que aconteceria agora? O silêncio foi quebrado por passos firmes e cadenciados, ressoando no piso como se pertencessem a um p
Quando abriu os olhos, Elena sentiu o impacto do frio em sua pele. O chão duro sob seu corpo era úmido, e um cheiro nauseante tomava o ar, fazendo seu estômago revirar. Ela piscou algumas vezes, tentando se ajustar à escuridão opressora que a cercava. Seu primeiro instinto foi se levantar, mas o movimento repentino trouxe uma onda de tontura. Ainda assim, forçou-se a ficar de pé, os joelhos trêmulos. O coração acelerou ao perceber o que a rodeava: três paredes sólidas e uma cela de barras de ferro à frente. Uma prisão. O pânico a impulsionou para frente. Ela correu até as grades e agarrou o ferro frio com as mãos suadas. Do outro lado, um corredor estreito e mal iluminado se estendia diante dela. À esquerda e à direita, havia mais celas. Vazias. Todas vazias. — Socorrooo! — Elena gritou, sua voz ecoando pelo espaço sombrio. O silêncio que veio em resposta a fez se sentir patética. Claro que ninguém viria. Claro que quem a jogou ali não deixaria ajuda por perto. Ela tentou de novo
D ante estava à beira da exaustão, sua mente afiada como a lâmina do machado que empunhava, mas o seu interior continuava em frangalhos, dilacerado pela raiva e pelo descontrole que ele mesmo havia permitido. Ele olhava para o machado, uma extensão de sua própria raiva, e podia quase sentir o peso de seus próprios fracassos se refletindo no metal escuro. O protocolo já estava em andamento, as mulheres do Egito seriam transportadas em breve, divididas em três partes, uma operação arriscada que ele não podia deixar falhar. Mas a cabeça dele estava longe disso, perdida em um emaranhado de frustração e um desejo urgente de vingança contra a incompetência de seus subordinados. Eles haviam traído sua confiança, e agora ele precisava retomar o controle, mostrar quem comandava ali. Ele se levantou, ainda com o machado em mãos, e foi até a mesa onde deixara sua máscara. Aquele objeto, que o distanciava de sua humanidade, era o último passo antes de se transformar no que ele precisava ser: um