Elena sentiu uma dor leve em sua cabeça, a sensação de uma ressaca invisível. Antes mesmo que pudesse abrir os olhos, um aroma delicioso invadiu suas narinas, despertando seus sentidos. Era algo reconfortante, algo que sua memória, abalada pela confusão, reconhecia como conforto. — Elena, acorde! — A voz feminina a fez sobressaltar. Ela se sentou rapidamente na cama macia, sentindo o mundo girar um pouco antes de conseguir se estabilizar. Ao olhar para o lado, seus olhos se fixaram em uma senhora que parecia ter seus sessenta e poucos anos. Seus cabelos grisalhos estavam presos em um coque simples, e as linhas em seu rosto contavam histórias de um tempo vivido. Ela segurava uma bandeja nas mãos, e no prato, Elena reconheceu algo que parecia ser um belo prato de macarronada, com molho suculento e cheiroso. A boca de Elena se encheu de saliva, e sua mente, ainda nebulosa, não conseguiu impedir que seus olhos se fixassem no prato. A fome era um monstro, mais voraz que qualquer coisa qu
Assim que saiu do quarto de Elena, Dante se permitiu um banho rápido, mas necessário, antes de se vestir para o jantar. Como de costume, ele se acomodou na sacada de seu quarto, os olhos fixos nas ondas do mar à sua frente, que, para ele, tinham um charme ainda mais intrigante à noite. A cada minuto, um soldado passava pela areia, sua presença discreta, mas vigilante, garantindo a segurança da casa. Todos sabiam que, naquele horário, o Dom estaria ali, e a atenção nos arredores era ainda mais intensa. Se Dante olhasse mais para as laterais da praia, conseguiria avistar outros de seus homens, sempre prontos para defendê-lo de qualquer ameaça. Com a barriga roncando, ele consultou o relógio e notou, pela primeira vez em anos, que Mag se atrasara. Embora isso fosse uma anomalia, não causou qualquer inquietação em Dante. Ele sabia que sua demora estava relacionada a Elena. E, de algum modo, isso só aumentava sua curiosidade em relação à prisioneira. Seus pensamentos voltaram à loira, m
No dia seguinte, Dante ordenou a Mag que não levasse o café da manhã para Elena. Disse, com sua voz grave e sem espaço para discussão, que ela não estava ali de férias. Mag, como sempre, não o questionou. Jamais o questionava. Sabia muito bem qual era o seu lugar dentro daquela casa e que sua posição não lhe permitia desafiar as decisões do Dom. Mas Mag não era boba. Sabia que, se havia alguém que podia enfrentar Dante sem sair com um buraco de bala no meio da testa, esse alguém era Firmino. E foi por isso que, assim que Firmino apareceu na entrada da casa do Dom, Mag o interceptou com um discreto aceno de cabeça, chamando-o para a cozinha. — O que foi agora, Mag? — Firmino perguntou, cruzando os braços. Ele já conhecia aquele olhar da governanta. Sempre significava que ela tinha uma tarefa — ou um problema — para ele resolver. — É sobre a mulher que está aqui, essa tal de Elena. Quem diabos é ela, afinal? E por que não está trancada numa cela como os outros? Firmino suspirou, es
O som da chave girando na porta fez Elena se sentar abruptamente, um arrepio percorrendo sua espinha. Ela sabia que aquela porta, sempre que se abria, trazia algo que a fazia se sentir ainda mais aprisionada. Não demorou até que a porta se escancarasse, revelando o homem alto e barbudo que a havia levado da boate para aquela cela imunda. Aquele homem imponente, sempre com um ar de quem tinha o controle da situação, como se tudo ao redor girasse conforme sua vontade. — Bom dia, coisa linda. As palavras caíram como um peso no ar. Elena se levantou lentamente, o coração disparando no peito. Sempre que seu caminho cruzava com esse brutamontes, ela acabava desacordada, e a memória daquele acontecimento a fez frisar os olhos, ciente de que não podia deixar que a situação se repetisse. Ela não diria nada, preferiu ficar em silêncio, observando-o com o olhar firme, mas não sem antes se preparar mentalmente para o que estava por vir. A expressão de Elena estava longe de ser amigável. Ela o e
O Dom percorreu o olhar pelo quarto, avaliando o espaço ao seu redor, enquanto ponderava se deveria ou não ir até Elena. Ela estava trancada no banheiro, e o silêncio que vinha de lá apenas alimentava sua inquietação. O nervosismo percorria suas veias como fogo líquido, misturado à raiva que ainda pulsava dentro dele pelo que havia testemunhado instantes atrás.A lembrança da noite anterior veio à tona — ele a ajudara, e, mesmo assim, Elena reagira com ofensa, como se sua presença fosse um fardo. A memória pesou em sua decisão. Cerrando o maxilar, Dante deu meia-volta, seus passos firmes ecoando no chão de madeira. Ao sair do quarto, girou a chave na fechadura, trancando a porta pelo lado de fora, e desceu as escadas sem olhar para trás.No térreo, Mag já o aguardava, segurando seu inseparável sobretudo negro. Dante se aproximou em silêncio, vestindo-o com a naturalidade de quem incorpora uma segunda pele. Assim como sua máscara, aquele casaco não era apenas uma peça de roupa — era um
O Dom percorreu o olhar pelo quarto, os olhos sombrios analisando cada detalhe ao seu redor. O silêncio era espesso, quase sufocante. Do outro lado da porta trancada, Elena estava no banheiro. Ele sabia disso. Podia senti-la. O nervosismo pulsava em suas veias, um turbilhão de emoções conflitantes o consumindo. A raiva ainda latejava em seu peito, tão vívida quanto a cena que testemunhara poucos instantes atrás.A lembrança da noite anterior relampejou em sua mente. Ele a ajudara, estendera a mão sem hesitação… e, em troca, recebera apenas desdém. O orgulho ferido o corroía, mas ele não permitiria que isso o desviasse de suas decisões.Com um último olhar para a porta fechada, ele se moveu. Seus passos eram firmes, quase mecânicos. Ao sair do quarto, girou a chave na fechadura, trancando-a novamente pelo lado de fora, selando Elena naquele espaço como um segredo bem guardado.Quando desceu as escadas, Mag já o aguardava no rodapé, postura ereta e expressão impassível. Em suas mãos, re
Enquanto Elena se martirizava sozinha no quarto, sentindo o peso esmagador da culpa, Mag já movia suas peças no tabuleiro.Ela não era do tipo que aceitava histórias sem provas.Entrou em contato com Firmino, informando-o sobre a revelação de Elena.Do outro lado da linha, Firmino franziu a testa. Aquilo não fazia sentido. No dossiê detalhado que possuía sobre Elena, não havia qualquer menção a uma irmã, muito menos a uma garotinha de seis anos.A informação inesperada o incomodou profundamente. Como isso havia passado despercebido? A dúvida se instalou como uma sombra, e Firmino não era um homem que gostava de incertezas.Ele imediatamente contatou os investigadores da Família, ordenando que refizessem as buscas. Mas a impaciência queimava dentro dele. Esperar não era uma opção. Ele precisava de respostas. E precisava delas agora.Prestando-se a um impulso que sabia poder ser inútil, Firmino alterou sua rota.Estava prestes a sair para cobrar dívidas quando mudou de direção, abandona
Firmino ergueu-se como um raio, os músculos retesados pela adrenalina, e disparou em sequência com uma precisão quase instintiva.O terceiro homem mal teve tempo de reagir. Cambaleou ao ser atingido no ombro e no peito, soltando a arma com um ruído metálico antes de tombar de costas, os olhos ainda arregalados de surpresa e dor. Os dois remanescentes hesitaram por uma fração de segundo — e isso foi tudo o que Firmino precisou.Avançou como uma sombra, deslizando por trás de uma pilastra de mármore lascada, o frio da pedra colando em sua pele suada. Surgiu ao lado deles com a letalidade de um predador, disparando dois tiros secos. Dois corpos tombaram quase ao mesmo tempo, sem um som além do baque surdo contra o chão manchado de sangue e poeira.Então, o silêncio caiu de forma abrupta. Um silêncio denso, sufocante, que contrastava com o eco recente dos tiros que ainda reverberava pelos corredores largos e escuros do prédio. Do teto, pedaços de gesso pendiam como teias prestes a se desfa