O destino me leva até você
O destino me leva até você
Por: Duda Sá
Capítulo 1. Elle

Peguei uma tesoura e comecei a cortar suas roupas enquanto as jogava pela janela em pedaços. Era um belíssimo espetáculo para a vizinhança. Vi quando um carro de polícia chegou.

James ainda teve a audácia de me chamar de amor enquanto, escondido no banheiro, pedia perdão e dizia que tudo era um engano. Meu telefone começou a tocar, meu pai, provavelmente já sabendo, minha mãe e a droga do meu irmão, que ligava do Japão.

Não atendi ninguém. Depois de jogar as roupas caras pela janela, minha missão era destruir aquele apartamento, pedaço por pedaço. Aquele lugar que eu chamava de lar, montado com extremo bom gosto.

Tesourei as almofadas, o estofado milionário do sofá, as cadeiras. Quebrei todos os enfeites dados no dia do noivado, o vaso de 20.000 de uma tia distante que era feio de doer. Rasguei livros de colecionador e o quadro doado por algum artista da família de James.

Alguém batia na porta. Iam arrombá-la. Não importava. Nada mais me importava.

 A fúria começou a doer. Perdi a vontade de viver ali. Sentei-me no sofá e chorei, solucei, por me sentir traída. Eu amava James, ou pelo menos achava que o amava, pelo menos o suficiente para criar uma família. Tinha acabado de pegá-lo no flagra com duas piranhas na cama. Eu era uma idiota iludida. Isso me enfurecia e doía.

— Vem, filha.

Senti meu pai me abraçar. Não sei como ele tinha chegado até ali, mas me abraçava. Deixei-me levar sem perceber o tumulto à minha volta. Minha mãe, me aguardava com um comprimido calmante mais potente de sua coleção.

Por dois dias, dormi e não saí do quarto. Não vi notícias. Afundei-me até me arrastar para o fundo do poço. Mas o poço era ainda mais fundo. Foi o que descobri na reunião de família, quando minha avó, a matriarca da toda-poderosa família Walker, começou a falar:

— Depois do seu escândalo absurdo, fui obrigada a gastar dinheiro com a imprensa para abafar o caso, frear um pouco a sede de sangue da imprensa. Mas nem assim. Você poderia ter sido mais discreta, não ir parar nas páginas de fofoca da internet. Sua mãe parece que não lhe ensinou nada. Mas agora vamos ao que interessa. Já passou uma semana desse absurdo. Quando você pretende falar com James e resolver as coisas com ele?

— Que coisas?

Estava em choque. Minha avó estava sugerindo que eu deveria me resolver com James depois de tudo. Ela ainda achava que existia alguma chance?

— Como assim que coisas? Não seja tonta. Você tem um casamento marcado, milhares de pessoas convidadas, já gastamos uma fortuna, e você acha que vai romper o noivado por uma bobagem?

— Bobagem? Aquele desgraçado estava na cama comendo duas mulheres, uma delas a futura madrinha de casamento, e isso é uma bobagem?

Falei mais alto do que pretendia me levantando do sofá,  deixando a família em choque com minha audácia de enfrentar minha avó. Mas eu não iria ceder. Não voltaria com James.

— Quem você pensa que é para falar assim comigo? Você não passa de uma garota mimada e burra, James é de uma excelente família, com quase tanto dinheiro quanto nós. Pouco me importa o que ele fazia, e não deveria lhe importar também, já que homem é assim mesmo. Então, em vez de chorar pelos cantos, resolva isso como uma pessoa adulta.

Na sala, minha família ficou em silêncio. Minha mãe há muito tempo resignada com o destino, jamais enfrentaria a sogra. Meu pai, minha irmã, meu cunhado — que nada mais era do que um enfeite — e meu tio, irmão do meu pai, que estava ali apenas pela diversão. Ninguém tinha forças para lutar contra minha avó, a toda-poderosa Margaret Walker, matriarca da família que comandava nossas vidas com mãos de ferro. Mas nem ela era capaz de me fazer voltar com James naquele momento. Se queria me deserdar, que fizesse.

James Thompson era de uma família tradicional. Seríamos um par perfeito. O namoro começou no início da faculdade. Circulávamos pelos mesmos locais, tínhamos gostos parecidos. Foi fácil começar a sair e namorar. 

Quatro anos depois, formados, ele já trabalhava ao lado do pai. Eu ainda estava decidindo o que fazer da vida. Noivamos em uma festa linda. Era o início de nossas vidas. Fomos morar juntos. O casamento seria dali a seis meses. Tudo transcorria de forma perfeita e alinhada... caso eu não tivesse chegado um dia mais cedo de viagem. Caso não tivesse resolvido fazer uma surpresa. Caso não tivesse entrado em casa e descoberto ele me traindo com duas vagabundas, uma delas minha amiga.

— E se você trabalhar comigo? Você passa um tempo na galeria, outra cidade, outro ambiente. Vai ser bom. Logo logo, vão arrumar outro escândalo, e seremos esquecidos. Vó, talvez agora seja muito recente, mas a distância faz bem.

Minha irmã era dona de uma galeria de arte em Miami. Sua ideia era que eu passasse um tempo em um cargo de curadoria de uma exposição de artistas locais. Um emprego calmo, discreto, longe da cidade, onde eu pudesse espairecer e esperar o escândalo desaparecer.

Eu queria dizer que não, mas minha avó foi categórica ao aceitar a ideia. E toda a coragem que transbordei ao destruir o apartamento se esvaziou naquela reunião de família.

Ainda usava o anel de noivado. Tirei e joguei na mesa de centro. 

Meu pai disse que sabia que James não prestava. Era verdade. Ele tinha dito isso quando o conheceu no início do namoro. Usou as palavras "fraco" e "desleal". Nada disso importava desde que ele e a família continuassem milionários.

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