Capítulo 5. Elle

Diego me ajudou a levantar e me ajeitar. Seu carro estava estacionado na rua. Os homens estavam desmaiados ou mortos, mas tive medo de perguntar naquele momento e apenas deixei que ele me levasse até o carro.

— Não podemos ir para sua casa ou para a polícia. Vamos para a casa de um amigo, fora da cidade. Depois do que aconteceu com você, nunca vou me perdoar. Vamos dar um jeito. A melhor opção é você voltar para Nova York de forma segura.

Sem condições de debater qual era a melhor opção, apenas me recostei no banco do carro, enquanto Diego dirigia em alta velocidade, tentando se afastar o máximo possível da cidade. A viagem levou mais de uma hora e, quando a paisagem deu lugar apenas ao mato, senti a adrenalina baixar e dar lugar a um cansaço físico e mental. Em algum momento do trajeto, acabei dormindo. Acordei apenas quando já havíamos chegado e senti a mão de Diego em meu ombro.

Era uma cabana no meio do mato.

— É a cabana de um amigo. Vamos ficar aqui essa noite. Estamos no Parque de Everglades. Tenho certeza de que ninguém nos seguiu.

— Eu preciso mandar uma mensagem para minha irmã. Minha bolsa e meu celular ficaram largados na minha sala. Se alguém chegar e ver aquela bagunça, vão achar que fui sequestrada.

— Você não pode mandar mensagem para sua irmã. Ela vai querer saber em que você se meteu, e sua avó tem capacidade de mandar uma cavalaria atrás de você, piorando ainda mais a situação. Além disso, você pode colocar sua irmã em perigo se mandar alguma mensagem.

— Mas eu não posso deixar minha família achar que fui sequestrada! Minha irmã vai ficar doida, meu pai é capaz de morrer! — Aquela sugestão era absurda. Eu não poderia deixar minha família no escuro.

— Elle, o risco é ainda maior se você mandar mensagem. E você vai explicar o quê? Que está fugindo com o ex-namorado da adolescência?

— Posso apenas dizer que estou bem, para não se preocuparem.

— Sua irmã vai ligar na mesma hora para seus pais, que vão ligar para sua avó, e, se essa história se tornar pública, aqueles que te atacaram ficarão ainda mais desesperados para te matar. Eles acham que você sabe quem sou e que também sabe quem eles são.

— E quem são eles?! Me explica, Diego! Você se jogou no meu carro sangrando, quase morrendo, me deu uma explicação meia-boca e, depois de eu quase ter sido sequestrada, ainda assim você não me diz quem está atrás de você… e agora de mim?!

Ele passou a mão nos cabelos, desesperado, e começou a andar de um lado para o outro, nervoso. Lá fora, a chuva, que estava apenas ameaçando cair, desabou de forma estrondosa. O chalé parecia velho e abandonado. Não sei se aguentaria uma chuva forte e, com certeza, haveria goteiras.

— Como eu disse, quando voltei, queria ser policial. Com 19 anos, entrei para a corporação. Era um idiota iludido, achava que poderia fazer a diferença na sociedade, na vida das pessoas. Quando eu era pequeno, tínhamos medo da polícia lá no bairro. Eles não tratavam bem os latinos, os negros… ninguém que morava lá. Então pensei que poderia ser diferente. Eu era meio mexicano, meio americano, tinha os pés nos dois mundos. Mas, como eu disse, era apenas uma ilusão. Depois de dois anos de muito trabalho que não levaram a lugar nenhum, começamos a ter problemas maiores. Uma droga nova começou a assombrar as ruas, então foi montada uma força-tarefa. Trabalhei um tempo à paisana, tentando descobrir como a droga era vendida e por quem. Mas era difícil. Nunca chegávamos perto o suficiente. Então, um dia, consegui monitorar uma compra de carregamento que estava chegando. Me escondi, fotografei… e o que vi foi o sargento da delegacia negociando a chegada do produto com o chefe de um dos cartéis de droga mexicanos. Eu não deveria estar ali. Foi por acaso. Mas eu estava… e com provas. Te juro que achei que realmente poderia desmantelar aquilo. Mas tudo que consegui, ao apresentar as provas direto para o delegado, foi ser acusado de um crime que não cometi, perseguido e ameaçado… pela polícia e pelo cartel.

— Quem está nos perseguindo agora?

— Sinceramente? Não sei. Podem ser os dois. Eu sou uma ponta solta e venho tentando me manter vivo. Ainda tenho provas e, se eu puder provar minha inocência e expor aquela delegacia corrupta, posso ter minha carreira de volta. Minha vida de volta.

A situação era pior do que eu imaginava. O desamparo de Diego era palpável. Ele não era o criminoso que dizia ser quando pediu que eu fosse embora. O menino que conheci ainda estava dentro dele. Apesar de tudo, ele ainda era alguém com esperança. Talvez eu pudesse ajudar. Minha família tinha conexões, meios. Eu tinha um primo advogado.

— E se eu ajudar? Posso tentar conversar com alguém. Meu primo é advogado, ele deve conhecer alguém na polícia…

— Não posso te envolver nisso mais do que você já está envolvida. É loucura. Meu objetivo é te levar para Nova York em segurança. Meus problemas eu resolvo.

— Mas eu já estou envolvida! A essa altura, minha irmã já sabe o que aconteceu. Até mesmo minha avó já deve saber. Então, é tarde demais para eu não me envolver. Não quero resolver o seu problema, quero ajudar. E sei que posso.

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