Eu tinha perdido o bom senso, e o vinho não estava ajudando, mas ter Diego na minha frente de banho tomado, usando uma camiseta simples e uma bermuda era demais para o meu autocontrole. Quando éramos jovens, nosso namoro foi explosivo, eu era loucamente apaixonada, experimentava o primeiro amor, muitos sentimentos e emoções novas. Eu adorava o risco de fugir da vigilância da minha mãe e ir encontrá-lo na praia ou no bairro onde morava, mesmo sendo claramente uma patricinha protegida, eu só enxergava Diego, e não via o abismo que existia entre nossas realidades. Agora eu queria que Diego jogasse tudo para o alto e deitasse nessa comigo, me abraçasse e dissesse que todos os problemas vão se resolver e que esse reencontro era uma oportunidade de ficarmos juntos para sempre. - Só me abraça e não me deixa sozinha. Ele me encarou. Eu podia ver o conflito em seu íntimo, até o momento que desistiu de lutar contra si mesmo e se aproximou da cama. Diego se deitou ao
Na manhã seguinte, o tempo amanheceu estranho. Nuvens carregadas anunciavam uma chuva forte. Na entrada Diego perguntou para o mesmo atendente entediado da noite anterior se havia alguma oficina ou lugar para conseguir um carro, ele mandou perguntar no café, que nada mais era uma loja de conveniência ao lado posto de gasolina, que no fim não estava abandonado, apesar do aspecto deprimente. Dentro do local cheirava a fritura, uma moça sorridente veio nos atender, ela era feliz demais para o local e sabia disso, o que era engraçado, porque uma mulher mais velha atrás do balcão encarava a coitada com fúria nos olhos. A moça serviu o café e foi buscar nosso pedido, avisando um tal de Dan sobre onde conseguir um carro. Algumas pessoas entraram no café, a maioria homens com cara de desânimo que estavam por ali apenas de passagem. O tal de Dan colocou a cabeça para fora da cozinha e avisou que dava para conseguir um carro, seguindo por uns cinco quilômetro
O mato estava molhado e o chão escorregadio, Diego me segurava com força pelo braço. Ele parecia ter experiência em andar naquele tipo de terreno, pois parecia saber para onde ir. A mata foi dando lugar uma floresta que foi se adensando conforme avançávamos, as árvores mais altas e grossas ofereciam proteção, podia ouvir eles gritando e nos perseguindo, podia jurar que tinha ouvido tiros. O terreno era reto, de modo que fomos seguindo sem parar, Diego sempre me guiando e segurando. Depois de um tempo não ouvimos mais nada, tive a impressão que o casal não se aprofundou floresta adentro nos perseguindo. - Diego, espera. - Precisava parar, estava sem fôlego, com as mãos arranhadas do mato, molhada, e sentindo mato grudado no meu rosto, precisava me acalmar. - Desculpa, vamos parar um pouco, acho que não estão nos perseguindo.Me sentei em tronco, meu estado era lamentável. - Precisamos parar com isso, não vai dar certo, não vamos conseguir fugir, precisamos sair daqui e na p
A conversa entre Elle e sua irmã se desenrolava de forma tensa. Pelo que pude entender, a avó das duas já sabia que ela estava comigo e tinha acionado a família. Não me surpreendia nem um pouco que Margaret Walker soubesse do que vinha acontecendo. Elle estava triste com o que eu tinha falado, mas era verdade, eu não podia deixar meus sentimentos definirem minhas decisões, eu era um fugitivo e ela já tinha corrido riscos demais até aqui. Decidi que iria aguardar que estivesse em segurança para seguir o meu caminho. Doía mais do que gostaria de admitir, pois sabia que talvez nunca mais a veria de novo. No hotel, consegui mandar mensagem para Ada que vinha tentando me ajudar a fazer contato com um advogado que fazia muitos negócios fora da lei. No entanto, nunca com a polícia ou com cartéis. Gabriel Collins era um nome conhecido em alguns meios, não tinha um escritório e quase nunca podia ser encontrado. Mesmo quando se envolvia em algum processo, mandava repres
Me senti do mesmo jeito quando, 7 anos atrás, descobri que Diego tinha ido embora. Dessa vez, houve uma despedida, mas não esperava me sentir sem chão e com um buraco no peito. Meu celular pipocava mensagens, imagino que minha irmã tenha passado o número para a família inteira. Não tinha ânimo para responder ninguém, mesmo porque não tinha uma resposta coerente para o que vinha acontecendo. O segurança chegou junto com alguns policiais, revistaram o quarto e questionaram se estava sendo mantida contra a vontade, avisei que não, foi apenas um mal-entendido. Um cara que parecia ser o chefe dos seguranças, não fez maiores questionamentos, falou com os policiais, provavelmente dizendo que eu não tinha nada a ver com o fugitivo e que ele iria me levar de volta. Fui orientada a entrar no carro junto com outros três seguranças, o chefe avisou que iríamos para o aeroporto onde um jatinho particular estava esperando. Durante o trajeto, não falei nada, fiquei pensando na m
O que eu realmente queria? Era a pergunta de Castillo. Eu queria voltar no tempo, antes que minha vida virasse esse pesadelo, mas essa opção não estava disponível. E esse homem que nunca vi na vida achava que a melhor solução era sumir, deixar tudo para lá e recomeçar. Se nem ele, que também era da polícia, acreditava que meu caso tinha solução, por que eu acreditaria? - Olha, eu entendo o que você queira, fazer justiça, ter justiça, mas o cartel El Lobo tem todo aquele pessoal na palma da mão, ninguém vai querer ser denunciado ou abrir a boca para depois terminar morto em um buraco em algum lugar qualquer que nunca ninguém vai encontrar. Castillo estava certo, eu não tinha muita escolha e até aqui como ele bem pontuou eu tinha tido sorte e ainda estava vivo. Elle estava em segurança, em breve juntos aos familiares, resolvi aceitar por hora a proposta de fuga. - E como funcionaria? - Perguntei enquanto bebia um pouco da cerveja, Castillo falava com a ca
Não conseguia distinguir que horas eram, se era dia ou noite. Maria tinha aparecido duas outras vezes, sempre para trazer comida e água, esperava em silêncio eu terminar de comer e beber e saia sem olhar na minha cara.Tentei várias vezes estabelecer uma conversa, mas ela sempre se fechava e ficava na defensiva. Na última hora, tinha feito uma vistoria completa no quarto, vasculhando cada canto, mas não achei nada de útil que pudesse usar em caso de emergência. A cama estava pregada de forma firme no chão, não era igual nos filmes, onde sempre havia um parafuso frouxo; nesse caso, não havia a menor condição de conseguir mexer nas barras de ferro.A única coisa que achei foram uns rabiscos na parede atrás do colchão. Outras pessoas ficaram presas nesse quarto, e agora, olhando para o nada, eu pensava quantas tinham saído com vida.Não conseguia dormir, mesmo sentindo um cansaço pesado. Meus olhos fechavam, mas, a cada cinco minutos, acordava assustada com os ruídos e barulhos do lado d
Já estava há dois dias escondido no bar quando Ada ligou. Ela nunca ligava, sempre combinamos de trocar mensagens. Quando o telefone tocou, imaginei que algo tinha dado muito errado.— Diego, ontem me chamaram para ajudar algumas pessoas, eram jovens que estavam muito drogados. Enquanto tentava ajudar, ouvi uma conversa estranha. Duas mulheres que faziam ponto por ali falavam sobre um sequestro. Uma delas se gabava porque o namorado ia ganhar um bom dinheiro. Disse que uma "ricaça" tinha sido sequestrada. A outra disse que ele era um mentiroso e que ela não deveria acreditar em tudo que ele falava, mas, aparentemente, o namorado garantiu que era uma herdeira de uma família poderosa de Nova York e que eles ficariam ricos. Eu sei que vocês se separaram, mas você sabe se a Elle chegou em segurança até a família?— Ada, se algo assim tivesse acontecido, estaria em todos os jornais. Pode ser outra pessoa.— Não sei... Achei coincidência demais, com tudo que está acontecendo. Você tem como f