Os tiros soavam sem parar. Quando entrei no quarto, fechei a porta imediatamente e a tranquei. Marquinho estava agarrado à minha cintura. A ideia de Maria era que eu abrisse a janela e fugisse pelos fundos, mas percebi que que não ia dar para fazer isso ao ver uma sombra passando do lado de fora. Não sabia se era amigo ou inimigo. Abaixei-me, abraçada a Marquinho, atrás de uma cômoda, e ficamos ali em silêncio, ouvindo os gritos e os tiros, sem saber o que fazer, esperando por um milagre. Lágrimas desceram pelo meu rosto ao imaginar o que tinha acontecido com Diego e o que poderia acontecer com Maria se Marcus entrasse na casa.Não sei quanto tempo ficamos ali esperando. Quando ouvi uma batida na porta, me assustei. Não sabia o que esperar. Até aquele momento, a impressão era de que estávamos perdendo. De alguma forma, Marcus tinha encontrado Maria, e não havia segurança em lugar nenhum.— Elle, você está aí? Sou eu! — gritou Diego do outro lado da porta . Me levantei de
Fomos todos para a delegacia, e a partir desse momento tudo se passou como um borrão. Como previsto, Diego foi preso, sou interrogada por horas e Gabriel é obrigado a sair do hospital para resolver a situação. Não podemos falar sobre a investigação envolvendo os membros da delegacia, então passo horas explicando qual é minha relação com Maria, o que leva a muitas perguntas, já que minha família não informou à polícia que fui sequestrada. Meu pai, que já me esperava com uma equipe de advogados, explicou que o assunto foi tratado de forma interna. Muito dinheiro, contatos e, no fim do dia, fui liberada para ir para casa, onde teria uma equipe de segurança 24 horas por dia. Mesmo com Marcus morto, ainda havia outras pessoas atrás de Maria, que estava no hospital lutando pela vida. Eu queria ir até o hospital, mas Gabriel me garantiu que não havia nada que eu pudesse fazer no momento. Para ficar com Marquinho, precisei usar todos os advogados e a influência da família, po
A noite foi difícil. Dormi mal e, assim que amanheceu, mandei uma mensagem para o Gabriel. Tinha pedido à minha irmã que conseguisse um celular novo. Marquinho também acordou cedo, já perguntando pela mãe. Eu ainda não tinha notícias, mas Gabriel garantiu que ela continuava lutando pela vida. Sabia que precisava descer para o café da manhã, então preparei o Marquinho e o avisei de que era melhor ele ficar na cozinha com a cozinheira. Aquele menino não precisava ouvir os desaforos que, com certeza, minha avó soltaria. Minha intenção era entender como estava o clima na família e depois correr para o hospital, saber do estado da Maria e falar com Gabriel sobre o processo do Diego. Quando enfim cheguei à sala, todos já estavam à mesa. Ninguém sabia ao certo como se dirigir a mim. Pelo olhar da minha mãe, pude imaginar que Grace tinha contado tudo o que eu disse e ela, claramente, não aprovava a situação, provavelmente estava morrendo de medo da minha avó, com toda a
Quando cheguei em casa, esperava encontrar minha avó já armada para mais uma discussão, mas, para minha surpresa, todo mundo tinha saído e apenas minha mãe estava em casa. Não precisei de muito para adivinhar que tinham delegado a ela a missão de conversar comigo e colocar juízo na minha cabeça.Avisei que precisava cuidar do Marquinho primeiro. Minha mãe não disse nada. Levei ele para tomar banho e se trocar. Depois de um dia cheio, o menino estava cheio de sono. Não conversamos muito, falei apenas que, no dia seguinte, podíamos ir de novo ao hospital falar com o Gabriel sobre o estado da mãe dele. Marquinho tinha voltado a ser um menino mais quieto e calado,Toda a situação era muito complicada, e ele tinha medo de perder a mãe. Na nossa preocupação, a gente se entendia, mesmo sem conversar muito. Acompanhei ele no jantar, e só depois que ele dormiu e eu tomei banho é que fui conversar com minha mãe, que estava na sala tomando uma taça de vinho.— Ninguém voltou ainda? — perguntei, e
Daniel, ao meu lado, falava alguma coisa à qual eu não estava prestando atenção. Meu olhar e pensamento estavam perdidos em algum ponto do corredor, para ser mais exato, no quarto de Maria, que ainda permanecia na UTI, lutando pela vida.Eu não sabia que alguém que eu conhecia há tão pouco tempo podia se tornar uma pessoa tão importante na minha vida. Até o momento em que a conheci, só me importava com os negócios, com quanto eu conseguiria ganhar e levar vantagem, como conseguiria livrar a cara dos meus clientes duvidosos. O amor era algo distante, que eu acreditava só trazer prejuízo, como advogado já tinha visto de tudo. Então surgiu Diego, um homem inocente incriminado, que eu queria tirar vantagen na verdade, mas no fim, seu relacionamento com Elle me trouxe Maria, uma mulher forte, sobrevivente, que merecia muito mais do que uma cama de hospital.Daniel continuava falando, e eu só pensava que eu não podia ser a pessoa a dar a notícia ao Marquinho de que ele tinha perdido a mãe,
Mais uma noite mal dormida estava cobrando seu preço. Nem a maquiagem era capaz de disfarçar meu cansaço e minhas olheiras. Eu tinha ligado para Gabriel, e ele havia desaconselhado a visita, mas fui firme e disse que assumia o risco. Eu precisava falar com Diego. Precisava ouvir da boca dele a história toda, ou acabaria enlouquecendo com as inúmeras teorias que a minha mente era capaz de criar.Eu não duvidava do amor de Diego por mim, porque já o tinha visto enfrentar o perigo várias vezes para me salvar. Ninguém da minha família era capaz de entender o que passei no cativeiro, presa em um quarto escuro, sem saber se ia morrer ou não, e Diego tinha ido sozinho até lá para me resgatar. Uma atitude que parecia sem importância para todo mundo, menos para mim. Mas eu precisava entender o que aconteceu quando ele saiu misteriosamente da minha vida, e, pelo jeito, minha avó estava envolvida nessa história.De manhã, liguei para Gabriel. Ele não atendeu, nem respondeu minhas mensagens. Arru
Peguei uma tesoura e comecei a cortar suas roupas enquanto as jogava pela janela em pedaços. Era um belíssimo espetáculo para a vizinhança. Vi quando um carro de polícia chegou.James ainda teve a audácia de me chamar de amor enquanto, escondido no banheiro, pedia perdão e dizia que tudo era um engano. Meu telefone começou a tocar, meu pai, provavelmente já sabendo, minha mãe e a droga do meu irmão, que ligava do Japão.Não atendi ninguém. Depois de jogar as roupas caras pela janela, minha missão era destruir aquele apartamento, pedaço por pedaço. Aquele lugar que eu chamava de lar, montado com extremo bom gosto.Tesourei as almofadas, o estofado milionário do sofá, as cadeiras. Quebrei todos os enfeites dados no dia do noivado, o vaso de 20.000 de uma tia distante que era feio de doer. Rasguei livros de colecionador e o quadro doado por algum artista da família de James.Alguém batia na porta. Iam arrombá-la. Não importava. Nada mais me importava. A fúria começou a doer. Perdi a vont
Saí da galeria mais tarde do que o planejado, já era quase seis e meia da tarde e estava escuro. Miami se preparava para o Natal, que, diferente de Nova York, acontecia em um clima quente e leve. Precisava ir até o shopping Bal Harbour comprar o presente de aniversário de Annie, minha sobrinha. Já não pensava em James ou na família. Só trabalhava na galeria e ia para casa, um apartamento pequeno que teria deixado minha avó de cabelo em pé. Minha irmã insistia que eu deveria sair e me convidava para todos os eventos sociais, mas eu sempre ficava uma hora e ia embora sem conversar muito com as pessoas. Já a peguei falando com meu pai que estava preocupada com a minha aparente apatia. Sem ânimo para procurar um presente, comprei o primeiro da lista que Annie tinha enviado para a família. Meia hora depois, já estava no estacionamento. Coloquei a caixa no banco de trás, entrei no carro e o liguei. De repente, a porta de trás abriu bruscamente e alguém entrou, se jogando no banco tra