A conversa entre Elle e sua irmã se desenrolava de forma tensa. Pelo que pude entender, a avó das duas já sabia que ela estava comigo e tinha acionado a família. Não me surpreendia nem um pouco que Margaret Walker soubesse do que vinha acontecendo. Elle estava triste com o que eu tinha falado, mas era verdade, eu não podia deixar meus sentimentos definirem minhas decisões, eu era um fugitivo e ela já tinha corrido riscos demais até aqui. Decidi que iria aguardar que estivesse em segurança para seguir o meu caminho. Doía mais do que gostaria de admitir, pois sabia que talvez nunca mais a veria de novo. No hotel, consegui mandar mensagem para Ada que vinha tentando me ajudar a fazer contato com um advogado que fazia muitos negócios fora da lei. No entanto, nunca com a polícia ou com cartéis. Gabriel Collins era um nome conhecido em alguns meios, não tinha um escritório e quase nunca podia ser encontrado. Mesmo quando se envolvia em algum processo, mandava repres
Me senti do mesmo jeito quando, 7 anos atrás, descobri que Diego tinha ido embora. Dessa vez, houve uma despedida, mas não esperava me sentir sem chão e com um buraco no peito. Meu celular pipocava mensagens, imagino que minha irmã tenha passado o número para a família inteira. Não tinha ânimo para responder ninguém, mesmo porque não tinha uma resposta coerente para o que vinha acontecendo. O segurança chegou junto com alguns policiais, revistaram o quarto e questionaram se estava sendo mantida contra a vontade, avisei que não, foi apenas um mal-entendido. Um cara que parecia ser o chefe dos seguranças, não fez maiores questionamentos, falou com os policiais, provavelmente dizendo que eu não tinha nada a ver com o fugitivo e que ele iria me levar de volta. Fui orientada a entrar no carro junto com outros três seguranças, o chefe avisou que iríamos para o aeroporto onde um jatinho particular estava esperando. Durante o trajeto, não falei nada, fiquei pensando na m
O que eu realmente queria? Era a pergunta de Castillo. Eu queria voltar no tempo, antes que minha vida virasse esse pesadelo, mas essa opção não estava disponível. E esse homem que nunca vi na vida achava que a melhor solução era sumir, deixar tudo para lá e recomeçar. Se nem ele, que também era da polícia, acreditava que meu caso tinha solução, por que eu acreditaria? - Olha, eu entendo o que você queira, fazer justiça, ter justiça, mas o cartel El Lobo tem todo aquele pessoal na palma da mão, ninguém vai querer ser denunciado ou abrir a boca para depois terminar morto em um buraco em algum lugar qualquer que nunca ninguém vai encontrar. Castillo estava certo, eu não tinha muita escolha e até aqui como ele bem pontuou eu tinha tido sorte e ainda estava vivo. Elle estava em segurança, em breve juntos aos familiares, resolvi aceitar por hora a proposta de fuga. - E como funcionaria? - Perguntei enquanto bebia um pouco da cerveja, Castillo falava com a ca
Não conseguia distinguir que horas eram, se era dia ou noite. Maria tinha aparecido duas outras vezes, sempre para trazer comida e água, esperava em silêncio eu terminar de comer e beber e saia sem olhar na minha cara.Tentei várias vezes estabelecer uma conversa, mas ela sempre se fechava e ficava na defensiva. Na última hora, tinha feito uma vistoria completa no quarto, vasculhando cada canto, mas não achei nada de útil que pudesse usar em caso de emergência. A cama estava pregada de forma firme no chão, não era igual nos filmes, onde sempre havia um parafuso frouxo; nesse caso, não havia a menor condição de conseguir mexer nas barras de ferro.A única coisa que achei foram uns rabiscos na parede atrás do colchão. Outras pessoas ficaram presas nesse quarto, e agora, olhando para o nada, eu pensava quantas tinham saído com vida.Não conseguia dormir, mesmo sentindo um cansaço pesado. Meus olhos fechavam, mas, a cada cinco minutos, acordava assustada com os ruídos e barulhos do lado d
Já estava há dois dias escondido no bar quando Ada ligou. Ela nunca ligava, sempre combinamos de trocar mensagens. Quando o telefone tocou, imaginei que algo tinha dado muito errado.— Diego, ontem me chamaram para ajudar algumas pessoas, eram jovens que estavam muito drogados. Enquanto tentava ajudar, ouvi uma conversa estranha. Duas mulheres que faziam ponto por ali falavam sobre um sequestro. Uma delas se gabava porque o namorado ia ganhar um bom dinheiro. Disse que uma "ricaça" tinha sido sequestrada. A outra disse que ele era um mentiroso e que ela não deveria acreditar em tudo que ele falava, mas, aparentemente, o namorado garantiu que era uma herdeira de uma família poderosa de Nova York e que eles ficariam ricos. Eu sei que vocês se separaram, mas você sabe se a Elle chegou em segurança até a família?— Ada, se algo assim tivesse acontecido, estaria em todos os jornais. Pode ser outra pessoa.— Não sei... Achei coincidência demais, com tudo que está acontecendo. Você tem como f
Sonho:— Olha, ele está olhando para você. Não é um gatinho? — Leah apontava para um rapaz que estava em uma roda de amigos a alguns metros. Ele nos olhava sem disfarçar, enquanto os amigos riam de alguma piada, era um rapaz até bonito mas que parecia meio idiota, guardei para mim essa impressão, sabendo que Leah me acharia chata. — Vou comprar um refrigerante. — Antes que Leah fale alguma coisa, sigo andando até a calçada da praia.— Acho que sua amiga vai beijar seu namorado. — Uma voz ao meu lado fala baixinho. Olho para trás e vejo Leah sorridente junto ao rapaz que nos observava.— Ele não é meu namorado, nem o conheço. — Respondo, olhando para o rapaz ao meu lado. Moreno, com os cabelos bagunçados pelo vento, sem camisa, ele ri.— É assim que você pergunta se estou namorando?— Funcionou, é um bom método.Acordo assustada.Mesmo com medo de dormir, fui dominada pelo cansaço físico e mental. Sonhava com Diego, com o dia em que nos conhecemos, ou melhor, o dia em que ele falou co
Mais de cinco horas na estrada, dirigi direto a noite toda e dormi durante o dia em um motel beira de estradam, a ideia era chegar no endereço que Castillo me passou a noite. Não estou mais na Flórida, mas sim na Geórgia. O local é remoto, a cidade mais próxima está a uma hora de distância. Castillo estava certo—isso pode ser uma missão fracassada. Não tenho certeza se Elle está aqui. Paro o carro longe da estrada, escondendo-o sob a sombra de uma árvore. Cubro a lataria com galhos e folhas, camuflando-o o melhor que posso. Visto um colete à prova de balas e me armo: uma pistola na cintura, outra presa à canela, e na mochila, granadas de luz e fumaça, alicate, chave de fenda e mais alguns equipamentos. Respiro fundo. Não há espaço para erro. Caminho pela vegetação densa, sentindo a umidade da terra sob as botas. Não ha iluminação da rua ou do céu, então a escuridão é fechada. Logo, avisto a casa. Dois andares, um galpão mais afastado e cercada por arame farpado. No meio d
Minha decisão já estava tomada. Era um plano falho. Maria era esposa de Marcus, e eu não sabia como era a dinâmica do relacionamento deles, mas não parecia boa. Será que Maria estava disposta a fugir e deixar tudo para trás, ou tinha fidelidade ao marido? E se ela estivesse fingindo ser uma mulher assustada e contasse para ele minha sugestão de fuga? Eram muitas questões que estavam me deixando com dor de cabeça. Não saber o que estava acontecendo era talvez o mais angustiante. Eu queria uma luz, mas, a cada hora que passava, sentia que as coisas estavam dando errado e que eu estava sozinha. O que será que minha família estava fazendo? Por que Marcus falava da minha avó como se a conhecesse? Quando a porta abriu de novo, com Maria trazendo a comida de sempre, percebi que havia passado várias horas pensando nesses assuntos.Dessa vez, ela trouxe mais comida do que o normal e uma lata de Coca-Cola. Achei um bom sinal.— Obrigada — bebi agradecida, sentindo o líquido