Maria grita alguma coisa, e vários fachos de luz seguem para algum canto da casa. Algumas vozes masculinas também chamam por Marquinho. Diego aproveita a escuridão que se forma no topo da escada e me ajuda a subir. No cômodo de cima, é possível enxergar melhor por causa de algumas luzes de emergência. Maria surge e nos guia, meio que nos empurrando, para um quarto perto da cozinha. Ela tranca a porta com a gente dentro. Não entendo o que está acontecendo, mas me deixo guiar. Diego vai até uma janela no fundo do quarto e a abre. É uma janela que dá para fora da casa, nos fundos. Podemos ouvir alguns homens falando e andando ali perto. Diego abre uma mochila, tira um alicate e faz uma abertura na grade, ajudando-me a passar. O buraco é pequeno, e tenho certa dificuldade. Quando finalmente consigo atravessar, ouço um barulho que gela meu coração, mas é apenas Maria que aparece na janela e traz consigo uma criança, que ela ajuda a atravessar e pula para fora logo em
Não sabia se podia confiar na mulher para me ajudar a resgatar Elle, mas era a única ajuda que tinha, então confiei no meu julgamento. Consegui imobilizar o guarda com um mata-leão, chegando atrás dele antes que se virasse na minha direção com a lanterna. A partir daí, correndo contra o tempo, consegui libertar Elle. A mulher realmente me ajudou, e eu não sabia o que esperar disso. Por isso, quando ela surgiu na janela com uma criança, imaginei o que pretendia. Mesmo sem saber qual era aquela história, ajudei-a a fugir também. Quando chegamos ao hotel, precisei informar ao Castillo sobre o que tinha acontecido. Não imaginava que ele viria pessoalmente, mas ele veio e sabia quem eram Maria e a criança que nos acompanhava. Até aquele momento, com a correria da fuga e a parada para descansar depois de uma noite inteira acordado, eu não tinha tido tempo para perguntar quem era ela e o que pretendia. — Como você chegou aqui tão rápido? — perguntei a Castillo.— Amigos.
Eu tinha feito uma loucura. Desde que Marquinho nasceu, o desejo de fugir daquela vida vinha com mais frequência. Ficava sempre devaneando sobre qual seria a melhor oportunidade de levar meu filho para bem longe. Mas tudo não passava de um sonho, claro. Eu sabia que nunca haveria essa oportunidade, ainda mais porque Marcus, às vezes, parecia ler meus pensamentos e me cercava ainda mais, ou então falava sobre o que faria comigo caso eu fugisse. E agora, eu estava aqui, em uma cidade desconhecida, com um grupo de pessoas em quem não sabia se podia confiar. Joguei tudo para o alto quando ajudei o estranho a resgatar Elle e, de última hora, percebi que era tudo ou nada. Aquela janela talvez nunca mais se abrisse na minha vida. Diego parecia uma boa pessoa. Teve coragem de entrar na casa sozinho para resgatar Elle e olhava para ela com amor. Fazia tempo que ninguém me olhava daquele jeito. Já o outro cara era estranho. Tinha um certo charme com aquela cara de homem cansado da vid
Depois que Castillo saiu e Maria foi para o quarto, ficamos eu e Diego na sala. Fazia algum tempo que não ficávamos sozinhos em um momento de calma e, na noite anterior, eu estava muito cansada para conversar e acabei dormindo profundamente, sentindo-me protegida nos braços de Diego. Tinha muita coisa a ser discutida, mas, naquele momento em que me vi sozinha com ele naquela sala, eu queria esquecer todos os problemas, deixar do lado de fora as complicações impossíveis da vida. Diego me encarou por um tempo sem dizer nada e, parecendo ler a minha mente, ele se aproximou e me beijou. Desde o nosso reencontro em Miami, o desejo estava presente entre nós, mas algo segurava Diego. Depois do sequestro e da fuga, eu desisti de resistir e me segurar, andar em uma corda bamba com medo de tudo dar errado e desmoronar era cansativo. Em vez disso, parei de pensar demais no nosso envolvimento. No fim, era isso que eu queria, sentir a língua de Diego se enroscando na minha, em u
— Achei que você nunca aparecia pessoalmente — disse Diego, com um tom de voz meio desconfiado.— Em geral, essa informação está correta, mas digamos que esse caso começou a ter desdobramentos interessantes. Veja, quando Castillo avisou que você ia sair em uma empreitada solitária para tentar salvar a bela moça aqui, confesso que apenas esperei pela pior notícia. Mas, como por um milagre, você não apenas conseguiu tirá-la de lá sã e salva, como também trouxe a mulher de Marcus Rivera e o filho dele. Então pensei: Nossa, temos alguém em mãos que realmente vale a pena. Desculpe se o velho Castillo aqui é meio descrente... já perdemos algumas pessoas no meio do caminho. Sabe como é, ossos do ofício. Então, de qualquer forma, avisei nosso amigo aqui que valia a visita. Agora, vamos discutir o que fazer com vocês. Diego parecia desconfiado. Gabriel era carismático ao falar, mas não deixava margem para dúvidas. Ele percebeu que tinha muito a ganhar nos ajudando, a ponto de se envolve
Mesmo com o cansaço pesando sobre mim, o sono parecia distante. Encostada na parede do quarto, observava Maria, que permanecia imóvel ao lado do filho. Seu medo era palpável, eu podia quase tocar. Tinha quase certeza de que ela não dormiria, imaginando as inúmeras possibilidades de escapar desse novo pesadelo. Voltei para a sala, onde Diego e Gabriel ainda conversavam. Castillo permanecia à parte, apenas observando. O clima estava tenso, mas Gabriel parecia confiante em sua estratégia. Assim que entrei, ele me lançou um olhar avaliador, como se já soubesse o que eu iria dizer. — Maria não vai aceitar ir para Miami — falei, cruzando os braços. — Você sabe disso. — Sei — respondeu Gabriel. — Mas precisamos que ela entenda que essa é a melhor alternativa. Deixá-la sozinha, fugindo por aí, não é uma opção. A melhor chance dela é essa. — E se ela fugir? — perguntei. Imaginei que essa ideia já tivesse passado pela cabeça dele desde o momento em que Maria foi para o quarto. Diego, que e
O helicóptero pousou em um heliponto de outro prédio, agora em Miami. O vento das hélices agitava nossos cabelos quando Gabriel abriu a porta e saltou primeiro, estendendo a mão para ajudar Maria a descer. Ela ainda estava tensa e ficou visivelmente aliviada ao sair da aeronave. — Não se preocupem, aqui é seguro. Vamos pegar um carro lá embaixo e seguir para uma casa protegida — disse Gabriel, seguindo em frente. Dois SUVs pretos estavam estacionados a poucos metros de distância. Não precisei observar muito para perceber os homens à paisana ali para garantir nossa segurança. Dois agentes de terno escuro e óculos de sol nos esperavam. Trocaram um breve aceno com Gabriel antes de abrir as portas para nós. Entramos todos no mesmo carro, um dos seguranças avisou que o outro seguiria logo atrás como apoio. Assim que o motor ligou, senti um aperto no peito. Estávamos mesmo de volta a Miami, no território do inimigo. Me perguntei, mais uma vez, se estava realmente fazendo
— Não consegue dormir também? - Perguntei para Maria. Eu tinha acordado assustada com o ruído vindo da cozinha, mas quando Diego chegou lá, era apenas Maria fazendo um chá. Sem sono, me sentei na cadeira da cozinha e resolvi conversar com ela com calma.— É difícil dormir nessa cidade. O Marcus tem uma casa aqui, acontecem muitos negócios. Já fiquei na cidade algumas vezes, então algumas pessoas me conhecem — disse Maria, sentando-se também. A cada dia, ela parecia mais cansada, com olheiras e linhas de expressão ao redor dos olhos, apesar de ser uma mulher jovem.— Posso perguntar o que mudou? Você parecia bem desesperada quando Gabriel falou de voltar para cá. Como ele te convenceu? O momento parecia ideal para entender o que estava acontecendo. Maria ficou em silêncio, encarando a caneca de chá como se estivesse extraindo força do líquido fumegante. Não quis pressioná-la e deixei que respondesse quando estivesse pronta.— Eu pensei em fugir — ela finalmente respondeu.