Mais de cinco horas na estrada, dirigi direto a noite toda e dormi durante o dia em um motel beira de estradam, a ideia era chegar no endereço que Castillo me passou a noite. Não estou mais na Flórida, mas sim na Geórgia. O local é remoto, a cidade mais próxima está a uma hora de distância. Castillo estava certo—isso pode ser uma missão fracassada. Não tenho certeza se Elle está aqui. Paro o carro longe da estrada, escondendo-o sob a sombra de uma árvore. Cubro a lataria com galhos e folhas, camuflando-o o melhor que posso. Visto um colete à prova de balas e me armo: uma pistola na cintura, outra presa à canela, e na mochila, granadas de luz e fumaça, alicate, chave de fenda e mais alguns equipamentos. Respiro fundo. Não há espaço para erro. Caminho pela vegetação densa, sentindo a umidade da terra sob as botas. Não ha iluminação da rua ou do céu, então a escuridão é fechada. Logo, avisto a casa. Dois andares, um galpão mais afastado e cercada por arame farpado. No meio d
Minha decisão já estava tomada. Era um plano falho. Maria era esposa de Marcus, e eu não sabia como era a dinâmica do relacionamento deles, mas não parecia boa. Será que Maria estava disposta a fugir e deixar tudo para trás, ou tinha fidelidade ao marido? E se ela estivesse fingindo ser uma mulher assustada e contasse para ele minha sugestão de fuga? Eram muitas questões que estavam me deixando com dor de cabeça. Não saber o que estava acontecendo era talvez o mais angustiante. Eu queria uma luz, mas, a cada hora que passava, sentia que as coisas estavam dando errado e que eu estava sozinha. O que será que minha família estava fazendo? Por que Marcus falava da minha avó como se a conhecesse? Quando a porta abriu de novo, com Maria trazendo a comida de sempre, percebi que havia passado várias horas pensando nesses assuntos.Dessa vez, ela trouxe mais comida do que o normal e uma lata de Coca-Cola. Achei um bom sinal.— Obrigada — bebi agradecida, sentindo o líquido
Maria grita alguma coisa, e vários fachos de luz seguem para algum canto da casa. Algumas vozes masculinas também chamam por Marquinho. Diego aproveita a escuridão que se forma no topo da escada e me ajuda a subir. No cômodo de cima, é possível enxergar melhor por causa de algumas luzes de emergência. Maria surge e nos guia, meio que nos empurrando, para um quarto perto da cozinha. Ela tranca a porta com a gente dentro. Não entendo o que está acontecendo, mas me deixo guiar. Diego vai até uma janela no fundo do quarto e a abre. É uma janela que dá para fora da casa, nos fundos. Podemos ouvir alguns homens falando e andando ali perto. Diego abre uma mochila, tira um alicate e faz uma abertura na grade, ajudando-me a passar. O buraco é pequeno, e tenho certa dificuldade. Quando finalmente consigo atravessar, ouço um barulho que gela meu coração, mas é apenas Maria que aparece na janela e traz consigo uma criança, que ela ajuda a atravessar e pula para fora logo em
Não sabia se podia confiar na mulher para me ajudar a resgatar Elle, mas era a única ajuda que tinha, então confiei no meu julgamento. Consegui imobilizar o guarda com um mata-leão, chegando atrás dele antes que se virasse na minha direção com a lanterna. A partir daí, correndo contra o tempo, consegui libertar Elle. A mulher realmente me ajudou, e eu não sabia o que esperar disso. Por isso, quando ela surgiu na janela com uma criança, imaginei o que pretendia. Mesmo sem saber qual era aquela história, ajudei-a a fugir também. Quando chegamos ao hotel, precisei informar ao Castillo sobre o que tinha acontecido. Não imaginava que ele viria pessoalmente, mas ele veio e sabia quem eram Maria e a criança que nos acompanhava. Até aquele momento, com a correria da fuga e a parada para descansar depois de uma noite inteira acordado, eu não tinha tido tempo para perguntar quem era ela e o que pretendia. — Como você chegou aqui tão rápido? — perguntei a Castillo.— Amigos.
Eu tinha feito uma loucura. Desde que Marquinho nasceu, o desejo de fugir daquela vida vinha com mais frequência. Ficava sempre devaneando sobre qual seria a melhor oportunidade de levar meu filho para bem longe. Mas tudo não passava de um sonho, claro. Eu sabia que nunca haveria essa oportunidade, ainda mais porque Marcus, às vezes, parecia ler meus pensamentos e me cercava ainda mais, ou então falava sobre o que faria comigo caso eu fugisse. E agora, eu estava aqui, em uma cidade desconhecida, com um grupo de pessoas em quem não sabia se podia confiar. Joguei tudo para o alto quando ajudei o estranho a resgatar Elle e, de última hora, percebi que era tudo ou nada. Aquela janela talvez nunca mais se abrisse na minha vida. Diego parecia uma boa pessoa. Teve coragem de entrar na casa sozinho para resgatar Elle e olhava para ela com amor. Fazia tempo que ninguém me olhava daquele jeito. Já o outro cara era estranho. Tinha um certo charme com aquela cara de homem cansado da vid
Depois que Castillo saiu e Maria foi para o quarto, ficamos eu e Diego na sala. Fazia algum tempo que não ficávamos sozinhos em um momento de calma e, na noite anterior, eu estava muito cansada para conversar e acabei dormindo profundamente, sentindo-me protegida nos braços de Diego. Tinha muita coisa a ser discutida, mas, naquele momento em que me vi sozinha com ele naquela sala, eu queria esquecer todos os problemas, deixar do lado de fora as complicações impossíveis da vida. Diego me encarou por um tempo sem dizer nada e, parecendo ler a minha mente, ele se aproximou e me beijou. Desde o nosso reencontro em Miami, o desejo estava presente entre nós, mas algo segurava Diego. Depois do sequestro e da fuga, eu desisti de resistir e me segurar, andar em uma corda bamba com medo de tudo dar errado e desmoronar era cansativo. Em vez disso, parei de pensar demais no nosso envolvimento. No fim, era isso que eu queria, sentir a língua de Diego se enroscando na minha, em u
— Achei que você nunca aparecia pessoalmente — disse Diego, com um tom de voz meio desconfiado.— Em geral, essa informação está correta, mas digamos que esse caso começou a ter desdobramentos interessantes. Veja, quando Castillo avisou que você ia sair em uma empreitada solitária para tentar salvar a bela moça aqui, confesso que apenas esperei pela pior notícia. Mas, como por um milagre, você não apenas conseguiu tirá-la de lá sã e salva, como também trouxe a mulher de Marcus Rivera e o filho dele. Então pensei: Nossa, temos alguém em mãos que realmente vale a pena. Desculpe se o velho Castillo aqui é meio descrente... já perdemos algumas pessoas no meio do caminho. Sabe como é, ossos do ofício. Então, de qualquer forma, avisei nosso amigo aqui que valia a visita. Agora, vamos discutir o que fazer com vocês. Diego parecia desconfiado. Gabriel era carismático ao falar, mas não deixava margem para dúvidas. Ele percebeu que tinha muito a ganhar nos ajudando, a ponto de se envolve
Mesmo com o cansaço pesando sobre mim, o sono parecia distante. Encostada na parede do quarto, observava Maria, que permanecia imóvel ao lado do filho. Seu medo era palpável, eu podia quase tocar. Tinha quase certeza de que ela não dormiria, imaginando as inúmeras possibilidades de escapar desse novo pesadelo. Voltei para a sala, onde Diego e Gabriel ainda conversavam. Castillo permanecia à parte, apenas observando. O clima estava tenso, mas Gabriel parecia confiante em sua estratégia. Assim que entrei, ele me lançou um olhar avaliador, como se já soubesse o que eu iria dizer. — Maria não vai aceitar ir para Miami — falei, cruzando os braços. — Você sabe disso. — Sei — respondeu Gabriel. — Mas precisamos que ela entenda que essa é a melhor alternativa. Deixá-la sozinha, fugindo por aí, não é uma opção. A melhor chance dela é essa. — E se ela fugir? — perguntei. Imaginei que essa ideia já tivesse passado pela cabeça dele desde o momento em que Maria foi para o quarto. Diego, que e