Capítulo 3. Diego

Olhar para ela era desconcertante. Eu podia ver em seus olhos a pergunta que queria fazer, e eu não sabia se estava pronto para responder. A menina por quem eu tinha me apaixonado havia se transformado em uma bela mulher, com os cabelos loiros na altura dos ombros, olhos azuis e aquele ar de realeza que ela sempre teve. Mas ela nunca foi arrogante; achava graça em tudo, adorava uma aventura e tinha muitos sonhos.

Com o passar dos anos, tive outras namoradas, mas ainda assim doeu quando soube do noivado, e doeu mais ainda quando as notícias do rompimento saíram em todos os jornais. O desgraçado a tinha feito passar por uma humilhação pública, e Elle havia reagido de uma forma que eu tinha certeza de que sua avó deve ter condenado.

Agora, ela estava na minha frente. Minha vida era uma bagunça, cheia de confusão, e eu temia ter colocado a dela em risco. Mas eu lhe devia uma explicação. Ou, pelo menos, uma meia explicação.

— Não vou embora. Eu preciso saber o que está acontecendo.

— Vamos entrar. Vou tentar te contar.

Ada nos olhou, pensou em dizer algo, mas desistiu e seguiu para a garagem da casa. Sentindo meu corpo moído e fraco, fui para o quarto, pois já não aguentava mais ficar de pé. Elle me seguiu e, assim que chegou, puxou uma cadeira.

— Desculpe de novo por te colocar nessa situação. Eu te vi na garagem e, por um instante, pensei que era uma miragem. Não pensei muito. Eu sabia que você não iria me expulsar do carro ou me entregar. Não era minha intenção te fazer passar por isso.

— O que está acontecendo, Diego? Um dia, você simplesmente desapareceu da face da terra, sem nenhuma explicação, e agora aparece esfaqueado, fugindo provavelmente da polícia ou sei lá de quem. Não, você não vai me mandar embora sem uma explicação. Eu não sou mais uma adolescente boba e exijo saber o que está acontecendo.

Brava, ela ficava ainda mais linda, se é que era possível. Decidi contar uma versão da verdade. Ela não precisava saber mais do que o necessário, tanto sobre o passado quanto sobre o futuro.

— Claro, vou te contar. Primeiro, o que aconteceu sete anos atrás foi simples. Minha mãe recebeu um aviso de despejo. As coisas já não estavam muito boas em casa, então pioraram. Junto com isso, veio a notícia de que minha tia, no México, estava com problemas de saúde e precisava de cuidados. Sem ninguém para ajudá-la, minha mãe decidiu que voltaríamos para lá. Ficamos morando com minha tia e, um dia, eu e meus irmãos tentaríamos recomeçar aqui. Você estava viajando com seus pais naquele fim de semana, e foi quando juntamos nossas coisas e fomos embora, aproveitando uma carona com um vizinho.

— Por que você não ligou avisando? Uma mensagem, um e-mail, qualquer coisa! Você simplesmente sumiu, Diego. Eu mandei milhares de mensagens, até mesmo recados pelos seus parentes, e nada.

— Elle, a gente não tinha futuro. Não havia por que alimentar uma ilusão. Você era uma menina rica, de uma família tradicional, e ainda é. Eu era um adolescente de uma família que mal tinha onde morar, com irmãos pequenos correndo risco de passar fome. Minha mãe me disse que aquele era o momento ideal para eu parar de me iludir. Cortar todo e qualquer contato.

— Você não pensou em como eu me sentiria? Em como eu ficaria? Eu chorei por meses. Eu fui até onde você morava por dias, e ninguém me falava nada!

Elle agora me olhava com lágrimas nos olhos, lutando contra o choro de tantos anos acumulado. Senti peso na consciência por não contar toda a verdade, mas ela não precisava saber do resto. Eu fui embora e cortei contato. Era isso.

Ela respirou fundo e perguntou sobre o que havia acontecido. Mais uma vez, optei por uma meia verdade.

— Voltei há alguns anos e resolvi ser policial. Tenho um tio, por parte de pai, que é detetive em Miami e me ajudou com os processos. Eu consegui, mas me envolvi com coisas erradas, ilegais. Fui expulso e agora tenho problemas tanto com a justiça quanto com alguns bandidos. Para resumir: você não precisa saber tudo o que fiz. Não importa. Eu não me tornei uma boa pessoa. Não sou uma boa pessoa. Sou um homem que está fugindo. Por isso, preciso que vá embora, esqueça que me viu e continue com a sua vida.

Elle ficou calada. Eu sempre entendi muito bem seus pensamentos, e percebi que, mesmo depois de tantos anos, ainda conseguia ler sua expressão. Ela não acreditava cem por cento na minha explicação. Mesmo sem saber tudo o que fiz nesses anos, ainda acreditava que eu não era uma pessoa má, que não era capaz de fazer algo contra a lei. Senti uma emoção dentro do peito que precisava abafar. Precisava que ela fosse embora. Precisava garantir que nunca mais nos veríamos.

— E mesmo assim, você entrou no meu carro.

— Eu sei. Peço desculpas novamente. Eu não deveria ter feito isso.

Ela se levantou e andou pelo quarto, olhando em volta como se procurasse uma solução. Por fim, decidiu que eu estava certo.

— Espero que melhore e resolva sua vida. Eu vou embora. Obrigada pela explicação.

E saiu porta afora. Não demorou para eu ouvir o ruído do motor do carro. Elleanor, a minha linda Elle,  tinha ido embora. Desta vez, duvidava que nos encontraríamos novamente.

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