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O destino de Maude
O destino de Maude
Por: Suelen R. Noguez
Capítulo 1 - O veneno da traição.

América do Norte 1890.

Em meio à confusão mental gerada pela gravidade de seus ferimentos, e as fortes dores que sentia. Maude só conseguia pensar no que havia feito a Deus para merecer aquele destino. Sempre fora uma filha obediente, não se lembrava de ter contrariado seus pais nem mesmo quando era uma criança. Quando se casou com Sebastian, tinha sido da mesma forma uma esposa exemplar. Ela já havia nascido em uma família próspera, seu pai quando era jovem havia encontrado uma mina de ouro no território do Oregon, mudou-se para a região e se dedicou a explorá-la com sucesso. Ela morou em uma mansão em Portland a vida inteira, e quando tinha dezoito anos cometeu o maior erro de sua vida, aceitou o pedido de casamento de Sebastian Lee, o emergente gerente do maior banco da cidade. Ele lhe foi apresentado no teatro, por um amigo de seu pai, e desde então ele se dedicou insistentemente a cortejá-la. Sebastian era um homem jovem de boa aparência e muito educado. Era extremamente agradável e sempre lhe trazia presentes.

Em sua inocência, Maude pensou que seu interesse nela era verdadeiro, não imaginava que ele queria apenas o poder sobre a mina de seu pai.

O pai era um homem gentil, sempre se importou com os desejos e felicidade da filha, e como o futuro genro era um homem bem aceito na cidade, ele não se opôs. Inclusive acreditava que seria um bom administrador para os seus negócios no futuro. Maude foi criada como uma princesa, em uma vida de luxos e riqueza. A mãe havia morrido ao contrair uma pneumonia, quando ela tinha apenas quinze anos. Desde então eram apenas ela e seu pai, o que os fez se aproximar ainda mais.

O casamento foi realizado com uma grande festa, estavam presentes as pessoas mais ricas e influentes da cidade. Porém, Maude percebeu que talvez tivesse se equivocado em sua escolha, quando na noite de núpcias a atitude de seu marido mudou drasticamente. Mesmo sem saber muito sobre os homens e a vida conjugal, ela havia sonhado com aquele momento, em que começaria a construir uma família com o homem que amava. Mas já na noite de núpcias veio a decepção, sentiu muito desconforto com a consumação do casamento, Sebastian foi brusco e apenas tomou sua virgindade, quando acabou se retirou e foi dormir em outro quarto. Ela ficou sozinha e machucada, sem entender direito como algumas mulheres podiam gostar daquilo.

Ela nutria esperanças de se acostumar, ou quem sabe poderia melhorar com o tempo, afinal aquele ato era necessário para se ter filhos. Mas as coisas não melhoraram, muito pelo contrário, ao longo de três anos de casamento ele visitou poucas vezes o seu quarto, não demonstrava nenhum interesse por ela ou por ter um herdeiro, só a procurava quando estava bêbado e solitário e geralmente era bastante agressivo. Seu casamento era bem diferente do que havia sido o de seus pais. Nunca os viu se agredirem, havia alguns desentendimentos normais de casais. Seu pai era um marido amoroso, sempre trazia presentes e fazia elogios à esposa. Maude acreditava que o seu seria assim também, mas estava redondamente enganada. Com o tempo vieram os t***s, sempre que ele achava que ela não havia se comportado bem na presença de seus amigos. Uma vez alguém contou uma história engraçada e ela gargalhou alto em um jantar, quando chegaram a casa ele lhe acertou um soco em seu rosto. Ela teve muito trabalho para convencer o pai e a todos de que o ferimento era em decorrência de uma queda desajeitada. Desde aquele dia ela evitava até mesmo sorrir, com medo de alguma reprimenda. Ela sentia alívio, por não precisar ser usada frequentemente por ele, era doloroso e humilhante quando ele vinha, mas ainda queria uma família, alguém que pudesse amar e que fosse amá-la também. Na presença do marido ela não sorria, não emitia opiniões, quase não falava, na verdade. Um mínimo deslize de sua parte era o suficiente para uma agressão gratuita.

Estava destroçada, pois a um mês havia perdido seu querido pai, vítima de um assalto em uma de suas viagens à região em que ficava a mina. O lugar era bastante perigoso, os viajantes ficavam à mercê de assaltantes e indígenas que espreitavam a região.

Como ela era a única herdeira, com a morte do pai, Sebastian assumiu todos os negócios da família em seu nome. A alguns dias Maude vinha se sentindo mal, bastante indisposta. Acreditava que fosse em virtude do luto, mas a governanta insistiu em chamar um médico e ela recebeu a tão esperada notícia de que estava esperando um filho. Pelas suas contas, deveria estar com uns dois meses de gestação.

Ela esperou ansiosa Sebastian voltar de uma de suas viagens para dar a notícia, certamente aquela novidade melhoraria as coisas entre eles, afinal que homem não iria querer um herdeiro. Mas a realidade lhe veio como um balde de água fria. Ele recebeu muito mal a novidade.

– Como assim você está grávida? Eu mal encostei em você.

– Sim, mas uma vez já bastaria se fosse a vontade de Deus.

– Vontade de Deus? Como sempre uma beata frígida. Por isso, cada vez que eu encosto em você, a vontade que eu tenho é de vomitar.

Nem bonita você é, esse cabelo castanho comum, esses olhos pretos. Não existe nada de atrativo em você. Preciso beber muito para conseguir.

– Sebastian, não precisa falar assim comigo, eu não fiz nada. Essa é uma notícia tão boa.

– Boa para quem? Boa para você só se for. Agora ao invés de um eu tenho dois problemas. Vou procurar um médico que consiga resolver isso, não vou ter um filho com você.

– Mas como assim? Eu já estou grávida.

– Mas vai deixar de estar.

Ele falou e saiu apressado, pegou seu casaco e foi em direção a rua. Maude sem entender direito as intenções dele, resolveu segui-lo para tentar conversar e resolver a situação.

Ela o seguiu até um clube de luxo, destinado a cavalheiros. A porta estava aberta e ela entrou, escondendo-se no Hall de entrada. Como era cedo da tarde, havia só os dois no salão. Conseguiu ver ser uma mulher com ele, uma loira alta e muito magra. As vozes estavam alteradas.

– Como assim aquela ridícula está grávida? Você disse que não encostava nela.

– Pouquíssimas vezes, mas às vezes eu bebo além da conta, preciso de um alívio rápido e ela está bem ali no quarto ao lado, eu sou homem a final. Sempre acabo me arrependendo, é a mesma coisa que estar com um corpo inerte. Ela é igual a uma pedra de gelo.

– Seu idiota, poucas vezes é o suficiente para fazer uma criança. E agora temos outro problema para resolver.

– Eu sei, mas no final dá no mesmo. Você não conhece nenhum médico que possa resolver a questão? Assim teremos mais tempo para botar o plano em prática.

– Eu posso arrumar um. Mas você tem que se controlar mais, meu amor, senão vai botar tudo a perder.

Maude viu a mulher caminhar em direção a ele e abraçá-lo. Ele a abraçou também e os dois trocaram um longo e apaixonado beijo.

- Eu só quero que esse inferno acabe de uma vez, e a gente possa desfrutar de tudo o que conseguimos. Deu muito trabalho armar aquela emboscada para o velho, comprar seus seguranças. Não podemos nos livrar dela agora, pode levantar suspeitas.

Maude não aguentou ver toda aquela cena calada e entrou no recinto onde eles estavam.

– Sebastian, o que significa isto? Quem é essa mulher?

Eles se viraram rapidamente em direção a ela, surpresos com a interrupção.

– Maude, o que faz aqui? Não acredito que teve coragem de me seguir.

– Eu queria conversar melhor, mas chego aqui e me deparo com essa cena. Essa mulher é sua amante?

Foi a mulher que respondeu por ele, com ar de superioridade.

– Amante não querida, eu sou a mulher dele, a mulher que ele ama e quer estar realmente junto. E você, é só uma pedra em nossos sapatos.

– Mas nós dois somos casados, eu vou ter um bebê, como é possível?

– Eu já disse que vamos resolver esse problema, Helena conhece um médico que fará o serviço.

– Não! - Maude gritou desesperada.- Vocês não vão matar meu filho. Não podem fazer isso.

– Eu posso fazer o que eu quiser, sou seu marido, vamos dizer que você teve um aborto, é muito comum acontecer isso.

Ela foi em direção a ele, não sabia ao certo se para suplicar ou agredi-lo, sem pensar o empurrou.

– Seu cretino, bastardo, maldito o dia em que eu quis me casar com você.

Ele segurou suas mãos e a empurrou também, fazendo-a cair ao chão.

Maude levantou-se, Helena veio em sua direção e a esbofeteou.

– Não ouse tocar nele, sua ridícula. Esse homem é meu e sempre foi. Você é patética mesmo, acha que ele se interessaria por você? É tão sem atrativos, a única coisa que valia a pena era o seu dinheiro. Mas agora, com a triste partida de seu pai, ele é todo nosso.

– Não abra a boca para falar do meu pai. Ele era um homem de verdade, que cuidava da família. Você, Sebastian, jamais será igual a ele.

Sebastian sorriu diabolicamente.

– Sim, mas morreu como qualquer outro. Nem todos aqueles seguranças conseguiram defendê-lo de cruéis assaltantes

– Eu ouvi que foram vocês que armaram a emboscada, e tudo por causa desse maldito dinheiro.

– Você é tão patética quanto aquele velho, os homens que fizeram o serviço disseram que ele implorou até o final pela vida.

Quando Helena disse isso, Maude perdeu o controle e foi em direção a ela, a esbofeteando também. As duas começaram a brigar, entre t***s e puxões de cabelo, até que Sebastian puxou Maude e a acertou com um soco. Quando ela caiu ao chão, ele seguiu dando-lhe chutes e pontapés. Helena também aproveitou que ela estava caída para fazer o mesmo. Ambos descontaram toda a sua raiva em seu corpo inerte, quando terminaram ela não passava de um punhado de carne caída ao chão, cheia de hematomas e sangrando muito.

Sebastian se deu conta que haviam agido por impulso.

– E agora Helena, como vamos resolver isso? As pessoas vão dar falta dela, a governanta com certeza a viu sair de casa.

– Calma, podemos largá-la em um beco afastado e inventar que ela foi atacada por bandidos.

– Mas e se ela sobreviver? Vamos ter um problema ainda maior.

– Sim, é verdade. O melhor é conseguir alguém para terminar o serviço e se livrar do corpo. Podemos forjar um sequestro ou algo assim, algo que a deixe desaparecida para sempre, logo ela será dada como morta e poderemos enfim nos casar.

– Certo, é um bom plano, chame o seu funcionário. Ele saberá como se livrar dela.

Quando o capanga de Helena chegou, não conseguiu esconder o choque com o estado de Maude.

– Santo Deus, foram vocês que fizeram isso com ela?

– O que você acha? Agora precisamos que você se livre do problema. Termina o serviço, e some com o corpo. Se ela não perdeu o bebê com a surra, os dois vão morrer de qualquer forma.

– Mas dona Helena, o que eu vou fazer com ela?

Gerald era o homem de confiança de Helena, era metido em coisas escusas, mas havia dado apenas alguns t***s em mulheres. Aquela ali estava destruída, era muito difícil que sobrevivesse. Provavelmente era só largar-lá em algum lugar mais distante ou no porto, o destino se encarregaria do resto.

– Tudo bem, vamos enrolá-la em um tapete, para que ninguém me veja sair com um corpo daqui.

– Ótima ideia, Gerald. Eu não falei que ele resolveria Sebastian, meu bem? Vamos logo, quero me livrar desse peso morto quanto antes.

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