Maude estava lavando a louça do jantar quando Owen foi falar com ela, quando o viu se aproximar ela mesma iniciou o assunto.
— Eu sei que precisa de uma resposta, e eu já tenho uma para te dar. Aceito ficar por um tempo, como sua empregada. Depois definimos um pagamento justo. Eu não tenho muita experiência cuidando eu mesma de uma casa, mas acredito que conheço o básico. Mas você sabe que é bastante serviço para uma pessoa só, você mesmo e o Thomas se dividem nas tarefas.
Ela disse, de costas para ele, sem parar de lavar os pratos. Ele estava tão aliviado que sentia vontade de beijá-la, achou melhor apenas agradecer.
— Muito obrigada Maude. Você não tem ideia de como me deixa aliviado. Não se preocupe, eu preciso de alguém de confiança para ficar responsável por tudo e pelas crianças, mas posso contratar outra pessoa para ajudar nas tarefas de casa. Eu terei que me ausentar constantemente, e a vezes passar semanas fora, os empregados são de confiança e farão o trabalho da fazenda, mas aqui na casa, tudo ficará por sua conta.
Ela balançou a cabeça em concordância, e ele seguiu explicando.
— Inclusive, já passou da data de nós levarmos o gado para um comprador. Eu e Thomas viajamos em seguida, terá apenas uns três dias para se preparar para a nossa partida. Ficaremos apenas alguns dias fora, mas em seguida partiremos outra vez e ficarei mais tempo.
Ela terminou a tarefa e se virou para ele, secando as mãos em um pano de prato.
— Tudo bem, é o suficiente para eu me inteirar de tudo. Eu queria te pedir uma coisa, por acaso você não tem outros vestidos guardados, Melanie me disse serem da mãe dela. Ela não se importa que eu os use, e no momento não tenho como comprar novos. É bastante incômodo ficar revezando entre o meu destruído e esse que você conseguiu.
— É claro, no meu quarto tem um baú com alguns, pode pegar todos se quiser. Mas assim que eu voltar posso te levar na cidade para comprar uns para você.
— Seria muito bom, ela não era exatamente do meu tamanho, vou ter que soltar algumas costuras. Um outro ponto importante, precisaremos pensar nas acomodações. Não tem nem espaço para mim nesta casa, que dirá para outra funcionária. Pensei em transformar o ateliê de costura em um quarto com duas camas, assim as crianças podem ter o quarto de volta, e você o seu.
— Essa é realmente uma ideia ótima. Quando voltarmos após levar o gado, vou providenciar tudo. Eu não tenho palavras para te agradecer, você está me fazendo um grande favor.
Ela cruzou os braços e escorou o quadril no balcão de pia.
— Eu tenho que te agradecer primeiro, você salvou minha vida e ofereceu uma chance de sobreviver com esse emprego. Graças a isso vou ter um salário e um lugar seguro para viver. Da minha parte tentarei fazer o meu melhor em casa e com as crianças.
Ele balançou a cabeça em anuência, aliviado com as palavras de Maude.
— Então amanhã te passaremos as tarefas que devem ser feitas. Esteja preparada para trabalhar duro.
— Acredite, eu estou.
Ela passou por ele e foi se recolher no quarto das crianças. Ainda não sentia a vontade naquela casa, levaria um tempo para se acostumar. Mas Maude desconfiava que já estava se apaixonando por aquelas crianças. A menina Melanie era muito gentil e meiga, mas tinha um gênio forte que ela havia aprendido a contornar. A bebê era uma criança saudável que adorava brincar, não era difícil distraí-la. E o menino era mais fechado e desconfiado, talvez por ser mais velho. Devia sentir muito a falta da falecida mãe. Ele não participava das brincadeiras, sempre alegava ser muito velho, ou que eram coisas de meninas, mas ela sabia que, no fundo ele só não queria se aproximar dela.
Maude decidiu que daria um tempo a ele, confiança era algo a ser conquistado afinal. Naquela noite ela demorou um pouco para pegar no sono, estava ansiosa para seu novo posto de criada, uma mudança e tanto para quem sempre fora a patroa.
Devido à expectativa, ela acordou um pouco antes de amanhecer, vestiu-se e foi para a cozinha. Assim que tivesse um tempo iria procurar os outros vestidos, estava necessitando muito deles. A esposa do Owen devia ter sido uma mulher muito bonita, devido à graciosidade das crianças com aqueles cabelos loiros. A cintura e o busto de Maude ficavam muito justas no vestido, acreditava que só havia entrado na roupa, devido aos quilos que havia perdido enquanto se recuperava. Precisaria ajustar os outros para conseguir usá-los.
Apesar de viver cercada de empregados, a mãe fora em sua juventude uma mulher humilde, que não conseguia abandonar certos hábitos. Gostava de cozinhar para Maude e seu pai, seus pratos favoritos, e ela sempre a ajudava. Conseguiu acender o fogo com alguma dificuldade, quando conseguiu tornar o fogão funcional foi direto verificar a dispensa. Pegou ingredientes para fazer os seus amados biscoitos e também uns pãezinhos de minuto. Haviam algumas geleias e manteiga para acompanhamento, então ela só faria mais uns ovos mexidos com bacon.
Enquanto preparava tudo, ela relembrava os momentos que havia passado com sua mãe. Depois que ela faleceu, Maude havia mantido a tradição de cozinhar para o pai, até se casar. Sebastian teria um ataque se a visse ou soubesse que ela havia estado em uma cozinha, para qualquer coisa além de dar ordens.
Quando Thomas chegou com o leite para o café já estava quase tudo pronto, ela estava colocando os alimentos na enorme mesa da cozinha. Ele ficou bastante surpreso quando a viu.
— Veja só, parece que alguém madrugou. O cheiro aqui está ótimo.
— Obrigada, eu estava ansiosa para começar no meu novo cargo. Não sei preparar muita coisa, fiz apenas o pouco que minha mãe me ensinou.
Ela falou, pegando o leite das mãos dele e indo colocar para ferver no fogão.
— Menina, pela aparência e cheiro dessa mesa de café da manhã, tenho certeza que será suficiente para nós.
Quando ele terminou de falar, eles viram Owen entrando na cozinha, acompanhado das três crianças. Ele colocou a Alex na sua cadeirinha de alimentação infantil, enquanto os dois mais velhos tomaram seus costumeiros lugares à mesa. Ela foi buscar o leite quente e se sentou também.
Percebeu que o dono da casa e as crianças a encaravam.
— O que foi? Eu resolvi começar logo com o trabalho. Eu disse ao Thomas, não sei preparar muita coisa, vão ter que me ensinar. Espero que esteja aceitável. Owen deu um de seus sorrisos gentis e disse:
— Deve ter se esforçado bastante, tem farinha até no nariz.
Ela se limpou rapidamente com a manga do vestido, um pouco constrangida. E se dirigiu a Thomas.
— Você me viu e não falou nada!
— Eu achei que estava tão concentrada, não pensei que ligaria para um pouco de farinha.
Nesse momento, Melanie não resistiu e pegou um biscoito da travessa que estava sobre a mesa, seu uma mordida e fechou os olhos em um momento de genuína apreciação.
— Meu Deus! — A menina falou dramaticamente. -- Esse é o melhor biscoito que eu já comi na minha vida.
Quando ela disse isso, todos praticamente voaram sobre a travessa e pegaram um para si. Maude também pegou dois e ofereceu um, a bebê que sorriu enquanto tirava o biscoito de sua mão.
Todos devoravam tudo o que estava na mesa com evidente apreciação. Owen foi o primeiro a falar.
— Estava tudo ótimo, isso é muito melhor do que eu e Thomas conseguiríamos fazer. Para nós já está ótimo, mas se quiser aumentar suas opções eu tenho um caderno de receitas em algum lugar, posso procurar.
— Eu agradeceria. Os pratos que sei preparar devem ser em torno de uns 5. Preciso urgente ampliar meus conhecimentos.
— Ok, agora deixa o Thomas retirar a mesa e lavar tudo, que eu vou te explicar o restante das tarefas. Se já terminou, é claro.
— Sim, estou pronta. Me mostre por onde começar.
Os dois foram juntos até o lado de fora da casa.
Owen a levou até o lado de fora e se direcionou para as acomodações dos animais. No caminho começou a explicar. — Cuidar das galinhas e recolher os ovos você já sabe. Quanto aos cuidados dos outros animais e o leite da vaca você não precisa se preocupar, vou sempre deixar algum dos homens encarregado de te levar na primeira hora da manhã. Se faltar algum mantimento, peça para um deles ir à cidade buscar. Você vai ter que controlar a dispensa e os alimentos que dispomos. — Tudo bem, eu consigo fazer isso. — Agora vamos até onde o Thomas cultiva os vegetais. Eles se dirigiram a horta, que ficava cercada e tinha a porteira. — Você conhece alguma coisa de vegetais e temperos? Deitar-se na cama do Owen estava sendo um misto de sensações. A bebe dormia tranquila a seu lado, após ter tomado uma mamadeira. Maude se virava de um lado para o outro, mas não conseguia conciliar o sono. O quarto dele era simples, a grande cama de casal, um armário e uma cômoda que ficavam lado a lado na parede oposta da cama. O chão era de assoalho como o resto da casa, e as paredes eram brancas e lisas. Havia um espelho que ficava pendurado na parede acima da cômoda, e uma poltrona em um canto. O ambiente era limpo e organizado, antes mesmo dela assumir os cuidados com a casa. Ele era um homem que gostava de manter tudo em ordem. Apesar de trabalhar arduamente todos os dias, estava sempre limpo e de roupas limpas se não estivesse na lida. Até a espessa barba era bem cuidada. Ela não costuma ficar muito próxima a ele, mas percebeu que os travesseiros e roupas de cama tinham o cheiro que exalava qCapítulo 8- Suave feitiço.
Durante o jantar eles narraram a viagem e as aventuras que ocorreram, as crianças escutavam havidas pelos relatos, viam o pai e o tio como verdadeiros heróis. Ela escutava em silêncio, achando graça quando Thomas exagerava na história para prender a atenção dos meninos. Até que Owen se dirigiu a ela.— Maude, essa noite você dorme com a Mel, como antes. Mas amanhã nós providenciaremos a cama para o quarto de costura, e você vai poder se instalar lá definitivamente. E eu vou até a cidade colocar anúncio procurando por uma ajudante.— Obrigada, senhor Owen.— Por favor, use apenas Owen. Eu me sinto com cinquenta anos ao invés dos meus trinta quando me chama assim.
Quando chegaram até a mulher caída, Owen a pegou nos braços e se dirigiu a parte de dentro da casa. Thomas já vinha correndo em seu encontro, buscando entender o que estava acontecendo. Maude seguia na frente, abrindo as portas da casa e do quarto dela para que Owen depositasse a mulher na outra cama de solteiro que havia no cômodo. Explicou novamente para os dois homens como a haviam encontrado e tudo que ela havia falado.— Ela não disse muito, mas fala nossa língua. Só disse buscar por água, e que ouviu o barulho do rio.— Aparentemente não está ferida, mas deve estar fraca, sem comer ou beber água por sabe-se lá quanto tempo. Vamos dar-lhe água, comida e deixá-la descansar. Não sabemos de quem se trata, então todo cuidado é pouco. Maude tenta manter os olhos nas crianças o máximo que conseguir, e Thomas, peço que por essa noite durma aqui na sala, até ela recuperar a consciência e sabermos o que esperar, eu ficaria mais tranquilo.Disse Owen muito sério, visivelmente temeroso pela
Os dias de trabalho na fazenda passaram tranquilos. Owen e Thomas se preparavam em segredo para atacar a reserva em que Magena vivia, enquanto ela se recuperava de sua debilidade. Depois de três dias, ela conseguia parar em pé sem ter vertigens, estava bem alimentada, e já desempenhava algumas tarefas simples. A reserva possuía rebanhos de gado e criações de aves, por isso, ela conhecia grande parte do trabalho, só precisou se adaptar à forma como as coisas eram feitas ali. Em uma das primeiras vezes que foi ao galinheiro, ela escorregou, caindo e quebrando os ovos que carregava.— O senhor Owen certamente me castigará, por muito menos que isso eu já fui açoitada.Maude, que estava mexendo uma panela de doce, pousou a mão que tinha livre sobre a dela, na tentativa de acalmá-la. — Não se preocupe Magena, eu realmente acredito que ele não seja esse tipo de homem. — E existe outro tipo de homem? Um do tipo que não bate e não violenta uma mulher, por diversão?Magena perguntou com olho
Apesar do cansaço do dia, Owen teve dificuldade em conciliar o sono a noite. Na manhã seguinte teria que ir bem cedo até a cidade, falar com o pastor da igreja. A mensagem que ele mandou não abria brechas para recusas. O conteúdo da carta era passível de interpretação, solicitava a presença dele na igreja para tratar de boatos que corriam pela cidade, e ameaçavam a moral e os bons costumes de SunCity.Porém, ele tinha quase certeza que tinha algo a ver com empregar e abrigar em sua casa, duas mulheres solteiras. Aquela era uma cidade pequena, afinal, as notícias se alastram como fogo na palha. Quando chegou à igreja no dia seguinte, suas suspeitas foram confirmadas.— É bom ver que atendeu rapidamente o meu convite senhor Grant. Estava ansioso para fala
Owen levou o dia todo escolhendo o momento ideal para abordar o assunto com Maude, e esse melhor momento simplesmente não apareceu. Mal conseguiu se concentrar no trabalho, e seu humor não estava dos melhores. No fim da tarde, Thomas foi questioná-lo, pois já não tinha mais explicações a dar aos peões sobre o mau gênio do chefe. Owen estava observando a doma, escorado na cerca do curral, quando o amigo se aproximou.— Acho melhor você colocar para fora ou tratar de resolver o que o está incomodando, porque ninguém aguenta mais Grant.— Você não faz ideia do quanto eu estou encrencado Thomas. O pastor me chamou para uma conversinha esta manhã, para falar que a cidade está escandalizada por eu ter duas mulheres solteiras na minha casa.— Eu pensei que isso mais cedo ou mais tarde poderia acontecer, cidades pequenas são um antro de fofocas e falatórios. Quais as opções que lhe foram dadas meu amigo?— Adivinhe? Ou me caso com Maude, ou elas terão que ir embora, sob uma forte ameaça de bo
Os noivos partiram para a cidade bem cedo na manhã seguinte. Foram direto falar com o pároco, para marcar a cerimônia. O homem estava tão satisfeito em resolver o problema, que resolveu celebrar no dia seguinte a cerimônia. Seria apenas para a família e Thomas como testemunha.Antes de partirem, passaram no armazém, para providenciar uns tecidos, pois Maude nem sequer possuía um vestido adequado para usar. Quando chegaram de volta à fazenda, decidiram contar juntos às crianças a novidade, na hora de colocá-los na cama.Magene estava com eles, quando Maude e Owen entraram no quarto.— Meninos, eu e o pai de vocês temos uma coisa para contar a vocês. Nós descemos nos casar.A menina pulou da cama e correu para abraçá-los, e o menino apenas comentou.— Já era hora, agora finalmente a senhorita Maude pode ser nossa mãe de verdade.— Tobby, nós já conversamos sobre isso.Ele revirou os olhos, com a reprimenda.— Eu sei, nós já tivemos uma mãe. Mas você é tão diferente de como ela era, você