Owen se levantou, deixando para trás a intimidade da noite anterior. Seu olhar era firme, mas o coração pesado. Ele sabia que precisava ir. A missão não era apenas uma obrigação, mas parte de quem ele era. Ele não podia ignorar o chamado da justiça, mesmo que isso significasse deixar Maude.— Eu volto para você — disse ele, sua voz carregada de emoção, pensando que ela ainda estava adormecida.Maude não respondeu de imediato, ela abriu os olhos e eles estavam nublados de tristeza, mas ela se forçou a sorrir.— Espero que volte inteiro, Owen.Owen partiu antes do amanhecer, encontrando-se com o grupo secreto dos Koda na entrada da floresta. O plano era perigoso: invadir a reserva indígena onde soldados haviam instalado um acampamento fortificado. O grito de socorro das tribos havia chegado até eles, e Owen não podia ignorar. Devia isso a Magena, devia a todos os indígenas que precisavam de ajuda. Um dia ele foi um dos soldados que formavam essas reservas, e essa era uma culpa que ele s
Nos dois meses que se passaram, Maude precisou assumir o controle total da fazenda. Antes uma forasteira no mundo rural, ela se viu forçada a desvendar forças que nem sabia possuir. Acordava antes do sol nascer, os primeiros raios tingindo de dourado as colinas que cercam a propriedade. O cheiro de café recém-passado e o som distante dos animais no curral tornaram-se sua rotina, uma melodia agridoce que a mantinha em movimento.Cada decisão era um salto no escuro. Organizar o trabalho dos peões exigia firmeza e sagacidade, qualidades que Maude descobriu aos poucos. No início, seu estômago se revirava a cada confronto ou erro, mas, com o tempo, seu tom de voz tornou-se mais firme, e sua postura refletia a confiança que começava a brotar dentro dela. A fazenda prosperou, e os trabalhadores começaram a vê-la não como "a mulher do Owen", mas como "a patroa". Isso deveria encher Maude de orgulho, mas as noites solitárias revelavam o vazio que a consumia.Quando o sol se punha e as tarefas
Owen voltou do campo numa tarde fria e nublada, o tipo de dia que parece carregar uma premonição. Assim que entrou pela porta, Maude percebeu algo diferente. Ele não a cumprimentou como fazia antes, com um sorriso caloroso e um toque reconfortante. Seus olhos, antes cheios de carinho, agora estavam sombrios, como se carregassem o peso de segredos antigos.— O que aconteceu? — Maude perguntou, franzindo a testa.Owen hesitou, desviando o olhar. Ele parecia mais cansado do que de costume, mas não apenas fisicamente. Era como se uma parte dele tivesse sido desgastada pela vida. Ele se aproximou lentamente, tentando sorrir, mas o sorriso não alcançou seus olhos.— Nada demais. Apenas um dia longo.Maude não acreditou. Ela sempre foi boa em ler as pessoas, e Owen não era exceção. Agora ela sabia que ele escondia algo, e isso a inquietava. queria que ele confessasse o que fazia em segredo. Queria que confiasse nela, queria acima de tudo que ele jurasse que jamais faria aquilo novamente. Ela
Quando Maude foi embora, Owen ficou devastado. Ele havia se sacrificado tanto, apenas para vê-la partir. Em seu interior ele havia decidido deixar os Koda, e passar a se dedicar apenas a família e a fazenda. No entanto, Maude escolhera outro caminho. Nos dias que se seguiram, Owen se sentiu como uma sombra de si mesmo. A raiva e a tristeza o consumiam em igual medida, transformando cada momento em um tormento silencioso. Ela escolheu voltar para sua antiga vida, e se vingar daquele monstro que era Sebastian. Ela ambicionava tanto aquilo, que não exitou em abandonar ele e as crianças.Ele passava horas encarando o vazio, as lembranças dos momentos felizes com Maude agora tingidas pela dor da traição que sentia. "Como ela pôde me abandonar?", perguntava-se incessantemente. Ele se lembrava de cada olhar, cada promessa, e não conseguia entender como ela fora capaz de trocar tudo isso por vingança. Owen se sentia deixado para trás, como se sua dedicação e os sacrifícios que fizera não tives
Maude observava da janela de um pequeno café enquanto a cidade despertava para o caos que ela havia semeado. Os cartazes estavam espalhados por toda parte: postes, vitrines de lojas, bancos de praça. Os desenhos eram simples, mas impactantes, com detalhes sombrios que deixavam margem para interpretação, o suficiente para plantar a semente da dúvida na mente de qualquer um. Ela sabia que não seria apenas a população comum que repararia; os aliados de Sebastian, e o próprio, não demorariam a tomar conhecimento.Seu plano era meticuloso. Há semanas Maude se preparava para aquele momento. Ela havia recrutado a ajuda dos rivais de Sebastian no meio político, aproveitando-se da hostilidade entre eles. Após forjar uma identidade falsa, apresentou-se como uma cidadã consciente e preocupada com a integridade da cidade. Com a promessa de trazer um escândalo à tona, conseguiu acesso a recursos que tornaram possível a criação e distribuição dos cartazes. Ninguém suspeitava que ela fosse a suposta
O plano de Maude havia sido arquitetado com precisão, mas a conclusão se deu de forma inesperada. Sebastian, consumido pela paranoia, sucumbiu ao próprio desespero antes que ela pudesse finalizar sua vingança. Naquela noite fatídica, trancado em seu escritório com cortinas cerradas, ele perdeu a batalha para seus próprios demônios. Um disparo solitário ecoou pela mansão, pondo fim à sua vida. A notícia se espalhou como um incêndio. Quando Maude soube, sentiu um vazio estranho. Não era satisfação, nem alívio. Era como se o desfecho tivesse lhe roubado a chance de encarar seu algoz de frente e, finalmente, vencê-lo com as próprias mãos.Determinada a virar a situação a seu favor, Maude procurou as autoridades na manhã seguinte. Envolta em um véu de aparente fragilidade, ela se apresentou como a esposa desaparecida, alegando que havia se escondido após um ataque de Sebastian, temendo por sua vida. Com um ar de inocência calculada, jurou que não tinha relação com a confusão que envolvia a
América do Norte 1890.Em meio à confusão mental gerada pela gravidade de seus ferimentos, e as fortes dores que sentia. Maude só conseguia pensar no que havia feito a Deus para merecer aquele destino. Sempre fora uma filha obediente, não se lembrava de ter contrariado seus pais nem mesmo quando era uma criança. Quando se casou com Sebastian, tinha sido da mesma forma uma esposa exemplar. Ela já havia nascido em uma família próspera, seu pai quando era jovem havia encontrado uma mina de ouro no território do Oregon, mudou-se para a região e se dedicou a explorá-la com sucesso. Ela morou em uma mansão em Portland a vida inteira, e quando tinha dezoito anos cometeu o maior erro de sua vida, aceitou o pedido de casamento de Sebastian Lee, o emergente gerente do maior banco da cidade. Ele lhe foi apresentado no teatro, por um amigo de seu pai, e desde então ele se dedicou insistentemente a cortejá-la. Sebastian era um homem jovem de boa aparência e muito educado. Era extremamente agradáve
Owen Grant definitivamente tinha um problema. Ficara viúvo há seis meses e precisava urgentemente de alguém para cuidar de seus três filhos. Conseguiu uma senhora viúva, que residia na pequena cidade onde ficava a sua fazenda para cuidar das crianças por alguns dias, ele pagou uma boa quantia a ela e pode viajar. Precisava arrumar uma esposa e voltar para casa rapidamente, não podia deixar a propriedade e as crianças por muito tempo. Seus negócios, tanto os oficiais, como os não oficiais, exigiam que viajasse constantemente. Na sua visão o melhor lugar para isso era Portland. Uma cidade grande o suficiente para encontrar alguma mulher tão desesperada quanto ele, que estaria disposta e embarcar nessa loucura. Chegou na cidade e colocou um anúncio em um dos jornais de maior circulação, em breve começaria a entrevistar as candidatas, se é que teria alguma. Não poderia prometer muito para a sua futura esposa, uma casa confortável e condições de sobrevivência era o que tinha a oferecer. Em