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Capítulo 4 - Pedido de casamento

– Desculpe, creio não ter entendido corretamente o que o senhor falou.

– Eu disse, que gostaria que a senhora aceitasse a oferta de ser minha esposa e mãe dos meus filhos.

Então ela havia entendido bem, isso significava que aquele homem era no mínimo maluco, talvez até perigoso. No meio da confusão e receio que se instalou em seus pensamentos, Maude apenas conseguiu responder o óbvio.

– Mas eu já sou casada!

– Eu sei que você era, mas achei que depois do que aconteceu não ia mais querer voltar para aquele homem.

– E você está certo, eu não quero! Mas isso não quer dizer nada, pois aos olhos de Deus eu continuo casada. Não posso simplesmente me unir a outro homem.

Ela disse isso e foi em direção ao caminho que levava a casa. Ele deixou-a passar na frente e então a seguiu, ainda expondo seus argumentos.

– Eu sei, mas a questão é que por aqui ninguém sabe quem a senhora é, ou de onde veio. Podíamos inventar uma história sobre o seu passado, e conseguir um padre para nos casar. 

– Isso é loucura, sem falar que é pecado. E com certeza um crime. Bigamia, o senhor já ouviu falar?

Maude disse ainda caminhando.

– O que eu sei, é que o seu marido queria que a senhora morresse. É só realizar o desejo dele e escolher uma nova vida. Não tem como ninguém descobrir, isso pode ajudar a te proteger também. Aqui você vai ter uma casa, uma família, a proteção do meu nome, como minha esposa.

Ela parou novamente e se virou para encará-lo.

– Senhor, mesmo que eu não fosse casada, eu não me casaria com um estranho. Eu não o conheço, não sei nada sobre você. E ainda considerando como terminou meu último casamento, mesmo que eu me tornasse viúva, eu certamente não estaria inclinada a tentar outra vez. Uma vez foi o suficiente.

– Mas senhora…

– Maude, meu nome é Maude. Meu Deus, que absurdo, o senhor sequer sabe o meu nome.

– Senhora Maude, peço desculpas se a estou ofendendo, mas estou desesperado. Fui a Portland para encontrar uma esposa, já não posso cuidar da casa e das crianças sozinho. E mesmo que eu arrume uma criada, não será a mesma coisa. Eu quero que eles tenham uma mãe. Eu também sei que pode ter perdido o seu filho.

Aquilo era uma ferida aberta para ela, e muito recente.

– Eu não sei quais foram os danos, mas acho impossível ele ter sobrevivido.

– Por isso também pensei que poderia pelo menos considerar minha ideia.

Maude não pode evitar sentir um pouco de pena dele, ela havia visto naqueles dias o quanto ele estava se desdobrando para cuidar de tudo sozinho.

– Senhor Owen, por melhores que sejam suas intenções, minha resposta ainda é não. Agradeço sua hospitalidade, mas acho que se aproxima o momento de eu ir embora.

– Não é necessário, você tem o direito de recusar, eu nunca a obrigaria a nada. Mas eu insisto que fique, pois ainda não está bem e pode ser perigoso. O homem que seu marido mandou que terminasse o serviço me disse, para que nunca a deixasse voltar. O que a espera se voltar para aquela cidade é a morte. 

– Não se preocupe, eu jamais voltaria para ele, mas preciso seguir a minha vida.

– Então me deixa fazer outra proposta, quando melhorar, pode trabalhar para mim. Realmente preciso de muita ajuda, e eu posso pagar um salário justo.

Ela pensou que não tinha opções melhores no momento, poderia ficar um pouco por ali até juntar um dinheiro. Mas ainda não estava certa se poderia confiar naquele homem.

– Vamos fazer assim, eu ainda preciso de uns dias para me recuperar, só no final desse período eu digo se vou ficar ou não. O senhor aceita?

Ele deu-se por vencido, afinal não tinha escolha.

– Se é assim que quer, é como vai ser. Agora vamos entrar, melhor não exagerar e ficar muito tempo de pé. 

Ela se recolheu novamente ao quarto das crianças, que lhe havia sido designado, ainda sem acreditar na proposta de casamento que ele lhe havia feito. Descansou pelo resto do dia, mas teve que prometer à menininha que no dia seguinte brincaria um pouco com ela. A garota era obstinada, o pai devia passar trabalho com ela. Ela não podia culpá-la, estava sendo uma companheira de quarto muito monótona. Ficava apenas deitada na cama, e frequentemente indisposta. Esperava melhorar nos próximos dias. 

Gradualmente foi recuperando as forças, conseguia sair do quarto e fazer refeições com a família. Moravam ali na casa o pai e as três crianças, porém o capataz da fazenda que se chamava Thomas fazia todas as refeições com eles e ajudava muito as crianças. Ele e Owen se revezavam na cozinha e nas tarefas domésticas, que pareciam sempre um pouco abandonadas. A casa estava sempre um tanto bagunçada e a limpeza não era a que ela consideraria ideal. A comida era melhor quando Thomas cozinhava, o homem parecia ter mais experiência, mas ninguém poderia dizer que eles não estavam tentando o seu melhor. O capataz era um homem alto e corpulento, de cabelos negros e sorriso doce, devia estar na casa dos 40 anos. As crianças o adoravam, e ele lhes dispensava um tratamento muito carinhoso. Parecia ser um braço direito nos negócios da fazenda e comandava os peões, estando apenas abaixo do próprio Owen. Maude não falava muito nos momentos em que estavam reunidos, apenas respondia se algo lhe era perguntado, o que também acontecia muito pouco, na maior parte do tempo todos pareciam querer lhe dar um espaço e respeitavam seu silêncio. Um dia as crianças conversavam animadas na hora do almoço, sobre uma pescaria que estavam planejando. A empolgação deles era tão genuína que Maude sorriu sinceramente, a alegria daqueles pequenos com algo tão simples era contagiante. Foi um gesto espontâneo e ela só se deu conta de que o havia feito quando todos pararam de falar e a encararam com expressão de surpresa.

Ela imediatamente se retraiu não querendo ser o centro das atenções, e voltou a atenção para o prato de comida. Aquela fora uma mudança e tanto do seu costumeiro semblante, sempre sério e taciturno. Os dois homens trocaram olhares curiosos e todos voltaram a comer em silêncio. Melanie ficou apenas mexendo a comida no prato, demonstrando pouca vontade de comer. O pai percebeu e a repreendeu.

— Melanie, pare de brincar com a comida, coma antes que esfrie.

— Tanto faz. — Foi a resposta audaciosa da menina. 

O pai a encarou sério e todos focaram sua atenção na dupla conflituosa.

 — Isso não é jeito de falar na mesa, muito menos de se dirigir a mim, quando eu falo com você.

A garotinha largou o garfo e o olhou.

— Desculpe papai, mas hoje a sua comida está especialmente ruim. A do tio Thomas é muito melhor, por que ele não pode cozinhar sempre?

O outro homem tossiu, se controlando para não rir, e Tobby largou o garoto também sobre a mesa.

— É verdade, papai, eu concordo com a Mel, o tio Thomas podia cozinhar e o senhor ficar com as outras tarefas.

— O que é isso, um motim? Seus mal-agradecidos. — O homem falou fingindo estar bravo, mas achava graça do constrangimento dos filhos em lhe falar que a comida que ele fazia era ruim. — Se todos pensam igual, eu não cozinharei mais, não vou desperdiçar o meu talento com que não sabe apreciar.

Nesse momento, todos olharam para Maude, esperando a resposta dela ou algum posicionamento sobre o conflito. Ela não viu outra alternativa a não ser dizer a verdade.

— Quando o senhor Thomas cozinha, a comida é realmente melhor. Mas ainda é preferível comer a sua do que passar fome.

Ela respondeu diretamente para o Owen, os outros três integrantes da mesa riram de seu comentário, até a bebê Alex, que achou graça por todos estarem rindo. Apenas Owen a encarava com um meio sorriso, surpreso com a coragem e sinceridade do comentário dela. Talvez ela estivesse ficando pronta para deixar a casca, afinal, e participar daquela família.

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