Ergui meu rosto e dei com aqueles olhos negros me fitando.
—Bom dia, pelo visto arrumou o carro.
Eu demorei um pouco para responder.
—Sim. Acertou! —Fingi um sorriso.
Seus olhos fitaram meus cabelos castanho-claros geralmente rebeldes, mas que hoje estavam domados. Desceram então para a minha boca e fixaram-se ali por um tempo e só então fitou meus olhos.
—Está com um ótimo aspecto hoje.
Sentiu isso? Não caia nessa! Agora você está vendo o homem que conheceu no passado.
—Obrigada. —Desviei meus olhos para a tela. E Abri a pasta que eu tinha deixado na mesa ontem, ignorando o cretino, que não devia estar gostando muito disso.
Com certeza, não deveria estar acostumado a ser ignorado.
—Faremos uma reunião daqui a dez minutos na minha sala.
Eu o fitei novamente e assenti séria.
— Outra coisa. Relaxa. Parece que constrói uma muralha toda vez que me aproximo de você. Não sou o lobo mau e você não é a chapeuzinho vermelho e não tenho nenhum histórico de distúrbio de personalidade.
Eu segurei seu olhar. Queria poder falar poucas e boas para ele. Mas eu precisava do meu emprego para pagar as minhas contas.
Seus olhos se demoraram em mim.
— Podemos ser mais profissionais?
—Profissionais? Isso é ótimo. —Eu disse séria.
Um sorriso devasso se projetou na sua boca e não tinha nada a ver com profissionalismo.
—Ótimo. —Seus olhos se demoraram em mim.
Calada observei Zachary se afastar, absorvendo tudo o que aconteceu, e ainda sem respostas para as minhas dúvidas.
Como ele conseguia?
Eu não fui à namoradinha dele de beijinhos na boca.
Ele me levou para a cama. Fomos íntimos! E diante tudo que descobri, era normal minha atitude. A dele que era fria demais.
Sabe que eu via com tudo isso? Que eu nunca fui importante para ele, e eu sentia como se ele tivesse passado uma borracha em tudo sem deixar rastros. Nada!
Me sentia uma idiota manipulável!
As lágrimas começaram a pingar na mesa.
Droga!
Limpei meus olhos e me levantei. Caminhei em direção ao toalete.
No refúgio dele, observei minha imagem no espelho. Passei um papel, limpando o lápis que tinha descido um pouco. Nunca mais compraria essa marca, o barato sai mais caro e mais fácil.
Por que me importo?
Sempre fui forte, não sou passional, sou bem lógica, nem tempestuosa, mas comedida.
Por que então, as lembranças me abalam dessa forma?
Jonathan! Sim, era por que tínhamos um filho. Essa era a explicação lógica de tudo isso. Por isso ele conseguia me afetar dessa forma.
Abri um artigo que escrevi sobre o “Passado/Futuro”.
"Se o futuro não existe, porque pensamos tanto nele? Tudo o que pensamos a respeito do futuro é um belo chute, pois não sabemos o que a vida nos prepara para o próximo mês ou para o próximo ano. Perdemos muita energia planejando o futuro sem observar o presente, ao mesmo tempo em que projetamos neste futuro nossos desejos de consertar nosso passado, que também não existe. O passado já passou. Ter qualquer sentimento ou pensamento por qualquer um desses tempos verbais é loucura, é êxtase de drogados viciados em dor, uma vez que temos o presente, que não cala e não passa, e a todo momento nos dá dicas mostrando a maneira correta de agirmos de acordo com a nossa própria natureza.
Como planejo o futuro? Perguntará o leitor atento. De forma bastante simples. Enxergo o que me alegraria fazer no presente e faço. Tendo prazer e realização, é isto que farei no próximo dia, e nos próximos, e nos próximos. Aumento minha ação no presente e espero, sem criar nenhuma expectativa, que se for de minha oportunidade, poder atuar da maneira como imagino daqui a uns anos mais à frente.
Como enxergo meus erros do passado? Simplesmente não os vejo e não penso sobre eles. Apenas aceito ter feito isto ou aquilo por ingenuidade e ignorância no passado e pronto. O que puder reparar, pedir desculpas, voltar atrás para conversar, eu converso. O resto, me perdoo, pois não tem jeito. Isto que vivemos é somente uma experiência. “Sem chances de sucessos ou fracassos.”
Quando terminei de ler, a sensação que eu tinha era que outra pessoa tinha escrito isso tudo.
Aquelas palavras ditas por mim eram verdades, mas eu só não contava com uma situação.
E se seu passado b**e à sua porta e sem que você queira, entra novamente na sua vida? Eis aí uma questão difícil de resolver.
Senti a presença de alguém e ergui meu rosto.
—Não irá à reunião com Taylor?
Priscila esperava minha resposta.
—Sim irei.
—Percebi que você não gostou muito da mudança de diretor.
—Não cabe em mim gostar ou desgostar. Gostando ou não, ele será nosso diretor.
—Você não estava aqui quando ele assumiu, estava?
—Não, nesse dia cheguei atrasada por causa do meu carro.
—Talvez seja por isso que não simpatizou com ele. Ele se apresentou a todos, e nas suas palavras percebemos que ele é muito carismático, inteligente e dinâmico.
—Pode ser. —Foi minha resposta.
—Bem vou indo, eles já devem estar esperando. Se apresse.
Priscila se afastou e eu fiquei a olhar para o vazio...
No dia que Zachary assumiu, meu carro tinha me deixado na mão e por isso cheguei atrasada. Eu achei providencial, pois o choque em vê-lo, não foi tão grande. Nesse dia, lembro-me de logo que cheguei, Jéssica se aproximou de mim, me informando da mudança do diretor. Discretamente o apontou.Eu virei minha cabeça na direção que ela apontava. E o avistei. No cantinho do grande salão, conversando com um dos funcionários.Imediatamente eu o reconheci. Chocada e abalada, senti que perdi a cor do rosto, mas mesmo assim, fui capaz de encará-la. Naquela hora, ela me falou um monte de coisas, mas eu não consegui ouvir uma palavra, tão transtornada que fiquei. Logo que pude, me refugiei no banheiro. Aos poucos fui me acalmando e me convenci, naquele momento, que isso era bom. Sabendo de tudo antes, eu estaria preparada para enfrentá-lo. Teria tempo de reação para acalmar os meus nervos tensos e fitá-lo com cara de paisagem. Pronta para ver a reação dele quando me visse. Mas o
Meu dia seguiu, sem maiores problemas. Finalizei minha coluna sobre restaurantes e seus pratos inusitados, pronta para uma nova missão.Zachary não me dirigiu mais a palavra, e eu, não mais o avistei. Depois que falei aquelas coisas, me senti melhor. Tanto que no almoço comi bem, coisa que eu não estava fazendo desde que ele tinha atropelado minha vida profissional e emocional.À tarde veio a consultora. Nos levou para uma sala, onde foi colocado um grande espelho e uma arara com uma grande variedades de roupas de festa.Priscila escolheu um vermelho glamoroso, bem chamativo para o meu gosto. Eu fitei todos e acabei escolhendo um preto, igual meu humor negro. Ele tinha um caimento bonito, um clássico tubinho, decote quadrado, um pouco acima dos joelhos, parecido com o meu, o único detalhe diferente, era que ele era revestido na parte de cima de pedras pretas, poucas, mas que davam um toque a mais para a noite. Eu nem precisaria usar a echarpe que eu tinha separado.E
A Limusine parou em frente a uma linda entrada. A propriedade era cercada por grandes muros brancos e altos. Logo dois seguranças surgiram. Depois de nos identificarem, autorizaram a abertura dos grandes portões. Conforme o carro foi avançando eu comecei a me sentir nervosa, e não era por conhecer o ator, pessoalmente. Meu nervosismo era outro, bem pior.A limusine avançou por um tempo, um caminho inteirinho formado por paralelepípedos, margeado por árvores altas.Entramos num local aberto. O motorista rodeou a fonte que tinha aparência de uma cascata onde por ela descia águas cristalina e caia numa espécie de lago artificial, cheio de carpas coloridas. Elas eram tão grandes que deu para eu ver de dentro do carro.Logo que ele estacionou em frente a lindíssima mansão, Zachary saiu ao lado de Ryan. Não consegui deixar de fazer uma comparação entre os dois homens.Ryan parecia um projeto de homem em desenvolvimento. Era a juventude batendo de frente com a beleza da mat
—Ele deve trazer mulheres para cá, que vem no impulso de seu convite, cheio de sedução. Chegam desprovidas e usa as roupas que aqui estão. Ou tem alguma namorada fixa. Vai saber!Ela negou.—Se fosse uma namorada fixa ele não nos deixaria usar as roupas dela, acho que nem ela ia gostar, e com certeza estaria com ele agora. —Priscila me disse sonhadora.Ela foi abrindo as gavetas até que achou a dos biquínis e maios.— Olha esse. —Ela me mostrou o amarelo.—Usa. Você está bronzeada, ficará bem em você. —Eu a incentivei.—Vou experimentar.Eu fucei na gaveta e achei um branco e preto. Fui ao banheiro me trocar, Priscila ficou com o quarto para essa tarefa. Quando pronta, me fitei no espelho.Ele era absurdamente lindo. Nem que eu procurasse, acharia tal joia. Priscila quando me viu, se mostrou surpresa.—Sortuda! Pegou um mais bonito que o meu.—Quer trocar? Não me importo.Ela sorriu.—Não, eu não sou muito peituda, para mim não ficaria bem.Eu
Fechei os olhos evitando olhar para Maria. Ela estava me enlouquecendo, me tirando do sério. As memórias instantâneas do dia que a vi no escritório começaram a dançar em volta da minha cabeça latejando.Quando assumi a Inove, sabia tudo que me esperava profissionalmente. Experiência não me faltava, pois fui editor chefe do jornal regional London.Fui apresentado a todos e fiz meu discurso, nada planejado, preparado antes. Eu disse o que veio ao meu coração dizer. Me apresentei da forma mais objetiva e simples do mundo.Me senti muito a vontade assumindo a diretoria da revista. Já estava acostumado com aquele tipo de ambiente de trabalho, sempre gostei da liderança. Esperava fazer um bom trabalho, arrematar o que faltava e melhorar a vendagem da revista. Tudo estava indo bem. Seria mais uma conquista, fruto do meu trabalho e da minha dedicação.A conversa fluía com o antigo diretor que me passou tudo e me apresentou a todos. Nesse dia, eu não vi Maria. No dia seguinte
Esse desgraçado teve a cara de pau de usar meu nome, isso me levava a crer que eles tiveram um relacionamento enquanto ele era casado. Ela deve ter descoberto tudo. Que meu irmão sempre fora um cafajeste, isso para mim, não era surpresa.A pergunta agora era:O filho de Maria, era de Nicholas? O filho poderia ser dele.Meu irmão hoje estava separado. Ela estaria mesmo disposta a afastá-lo de si? Mesmo sabendo que hoje ele era um homem livre?Maria Eduarda o amava ainda?Como eu a colocaria em minha vida? Se meu irmão me visse com ela, como ele reagiria? Poderia tentar se redimir, arrependido das burradas que fez. Conquistá-la. Eles tinham algo em comum, um passado, um filho.Eu precisava entender tudo antes, e eu usaria, por enquanto, a figura de meu irmão. Precisava realmente descobrir se esse filho era dele. E sentir qual seria a reação dela, diante da minha descoberta.Então outro ponto, começou a me preocupar. Se eu me revelasse a ela. Quem ela veria? A figu
Eu me sentei na borda da piscina no sol e fitei Zachary, ele estava de olhos fechados.Fechei os olhos, me lembrando dele no passado.Um homem galanteador, sempre querendo me agradar me dando presentes, palavras doces, promessas. Hoje, eu entendia que ele queria que eu me iludisse com ele, enquanto ele me fazia sua amante. Era confortável para ele ter um casamento de aparências por causa de dinheiro dela e ao mesmo tempo me ter na cama dele.Na verdade ele me alimentava com suas migalhas, me fazendo achar que eu era a mulher da vida dele, a dona da situação, mas percebi que na verdade ele me manipulou ao seu bel prazer. Vivi de acordo com o que ele estipulou. As sobras do tempo dele.Mas e agora?Qual era a dele?Primeiro agiu como se eu nunca tivesse feito parte de sua vida e me mostrou um lado dele que eu não conhecia. E muito mais perigoso.Era um novo Zachary, o homem centrado, dedicado, profissional e maduro. E principalmente, agia como se aquele homem,
Logo que alcancei meu quarto, as lágrimas desceram fáceis de meus olhos. Estava acontecendo algo comigo que estava me deixando confusa e perplexa: Jamais pensei, depois de tudo que Zachary me fez, eu ficasse tão balançada por ele.Eu não conseguia ignorar aquilo que nosso encontro tornara abundantemente claro. Que parte de mim ainda buscava uma forma de fugir do que eu estava sentindo. Em alguns momentos, o outro lado sobressaía dizendo para eu acreditar nesse novo homem que eu estava vendo, então vinha o outro e lutava contra.E eu que acreditava que tinha superado Zachary...Burra!Quando eu o avistei no meu trabalho, já foi algo que, nem nos mais terríveis pesadelos eu imaginaria. Zachary trabalhando? Diretor de uma revista de prestígio?E pior, sendo meu chefe.Isso me deu um nó na cabeça, pois para mim ele era um sanguessuga, um boa vida. Essa imagem dele tão profissional, eu não tinha comigo. E eu tinha me apegado ao pior dele como uma tábua de salvação. Aflo