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2- Jonathan, meu filho

Desci quase em frente. Fitei o relógio, 18:40 hrs. Era sempre assim, nunca conseguia chegar no horário certo.

Entrei na escola e fui até uma salinha onde as crianças ficavam a espera dos pais.

Jonathan quando me viu, veio correndo com a malinha nas costas, com um sorriso enorme no rosto. Eu me abaixei e o abracei. Não consegui conter as lágrimas. Droga! Geralmente eu não era assim, tão emotiva.

Eu as enxuguei antes que Jonathan visse.

—Oi, como foi tudo? Brincou bastante?

Ele mexeu a cabecinha para mim. Ele era a miniatura do pai. Cabelos negros, olhos negros, e bem grande para sua idade. Seria bem alto.

—Hoje nós vamos na vovó?

Eu neguei.

—Não. Vamos visitá-la outro dia.

Minha mãe tinha recentemente pegado um cachorro pequeno na rua. E Jonathan adorou. Agora não via a hora de ir lá para brincar com o animal.

—Amanhã?

—Amanhã! —Respondi com um sorriso. Amanhã já era quinta-feira.

 —Promete?

—Mamãe promete. Agora vamos! Está esfriando. E você não quer ficar doente, quer? Se ficar, não poderá brincar com Joby.

—Vamos! —Ele disse sorrindo.

Eu peguei a mãozinha dele até a calçada.  Lá tirei a mala dele das costas e a prendi no meu braço e o peguei no colo. Ele não protestou. Que bom! Assim seria mais rápido e eu não via a hora de chegar em casa. Quando comecei a andar, me lembrei do tombo na sala de Zachary

Que patético!

Afastei meus pensamentos e me concentrei no caminho, e andei com cuidado redobrado.

Logo cheguei a minha casa. Abri o portão baixo e entramos num pequeno quintal sem jardim. Coloquei Jonathan no chão e caminhamos juntos até a porta da entrada que dava diretamente na sala e a abri.

Reparei que Jonathan estava com sono, pois já coçava os olhos. Quando ele se distraiu na sala com a televisão, fui até meu quarto e tirei meu conjunto de terno e saia que eu usava e coloquei um vestido jeans folgado.

Dei banho em Jonathan e em seguida a sopa para ele. Enfrentei dificuldade, pois ele estava irritado por causa do sono.

Escovei os dentinhos dele com ele reclamando e o levei para uma caminha que ficava ao lado da minha. Ele ficou um tempo batendo os pés agitado. Eu fiquei deitada ali, esperando ele dormir. Logo seus dedinhos começaram a enrolar um pedaço da fronha com os dedos e dormiu.

Agora era hora que eu tirava para mim.

Tirei o vestido e tomei um banho demorado. Coloquei minha camisola e lavei o prato da sopa que Jonathan tinha comido e joguei fora o resto da sopa que tinha sobrado. Lavei o pote. Peguei uma maça e com ela nas mãos fui até a sala, liguei um pouco a televisão.  Mas as imagens do jornal passavam, pois eu não conseguia tirar da cabeça meu dia de hoje.

Desliguei a televisão e resolvi deixar minha mala pronta. E a roupa que usaria amanhã, separada.

Foi o que fiz. Arrumei minha mala e a roupa de amanhã. Por último deixe para ver um vestido bonito para a festa. Eu não tinha muito para escolher. Por isso peguei um preto. Tubinho, mas nem tanto assim, pois marcava a minha cintura. Um pouco acima dos joelhos, decote quadrado. E para quebrar um pouco a cor, uma echarpe vermelha.

Arrumei também a mala de Jonathan, com roupas do dia a dia.

No dia seguinte, com dor no coração, tirei Jonathan da cama. Essa hora era a mais difícil para uma mãe. 

Ele dormia tão sereno, tão pesado e ter que acordá-lo cedo era terrível para mim. Minha mãe já tinha me pedido para eu deixá-lo com ela, mas ela tinha artrose nos joelhos, já estava com seus 60 anos, não era justo. Ela já tinha feito seu papel.

Por que tudo que gosto é ilegal...Ou engorda...? Me perguntei.

— Boa resposta. Você foi escolhida por isso mesmo. Gosto do seus artigos, mas não é para isso. Quem fará isso é nossa colunista, Priscila. Ela irá também.

Ele passou a mão pelo cabelo. Sua postura ficou ereta e ele colocou as duas mãos apoiadas na mesa.

—Ele fará um filme, a festa é em comemoração ao fim das filmagens de “Dias de trevas”. Você o entrevistará. Colherá informações de como ele se sentiu ao fazer o filme, suas impressões.  

—Eu entendo. É o filme onde ele faz um homem judeu que amava uma alemã na segunda guerra mundial.

Ele me fitou sério.

—Exatamente. Bem é isso. Pode ir.

Por muito tempo chorei. Acho que a decepção foi a causa maior do meu choro, pois ele sempre foi envolvente como uma serpente, mas superficial. Enigmático. Pratico.

E agora eu estava confusa, diante de um homem completamente diferente. Um homem muito mais perigoso agora do que no passado.  Antes o que me levou a entrega foi a atração física, esse novo Zachary não, parecia que ele levaria minha alma agora.

 —Senhorita Silva, o que ainda está fazendo aqui?

Seus olhos estavam cravados no meu rosto, um sorriso debochado surgiu em seus lábios. Eu pisquei, e me levantei envergonhada por ter me perdido no tempo.

Eu caminhei para fora da sala dele com tanta vontade de sair de lá que tropecei nos meus próprios pés, e cai no chão, como uma manga madura. Só ouvi o movimento da cadeira e logo ele estava ao meu lado. Suas mãos pegaram os meus braços e me ergueram aos poucos, por um momento eu me apoiei contra seu corpo. Duro e quente. O cheiro dele invadiu meu nariz.  O calor das mãos dele no meu braço.

Quando relanceei o olhar nele vi que seus olhos negros demonstraram preocupação.

—Você está bem?

—Estou. — Respirei fundo para me acalmar, sem fita-lo.

Me sentia agora desengonçada. Na verdade, sempre fui, agora ao lado dele parecia tudo amplificado. Me afastei dele, com passos seguros, embora tremesse por dentro e ocupei meu lugar à frente do computador.

—Maria Eduarda.

Eu fitei Priscila que me chamava.

—Pelo visto, você também irá à festa?

—Irei.

Ela sorriu de orelha a orelha. Ela era jovem, talvez 30 anos. Cabelo castanho-escuro, perfeitamente penteados para o lado. Sua pele branca quase brilhava pela claridade da sala, muito bem iluminada.

Eu a encarei, por dentro completamente apavorada. Eu não sei se isso seria bom. Estava tudo tão estranho, tudo tão imprevisível e eu não estava gostando nada disso. Fora meu filho de quatro anos, que eu teria que deixar com minha mãe.

—Maria, você já se olhou no espelho?

—Não, por quê?

—Eu não vou dizer nada, vá até o banheiro e se olhe.

Eu me levantei do meu lugar e caminhei até o banheiro e logo que entrei, fitei o enorme espelho.

Meu Deus!

Eu estava toda borradaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa! Meus olhos me faziam lembrar um guaxinim. Os cabelos armados, rebeldes...

Ele me chamava de brasileirinha. Que eu tinha uma beleza natural. Ri amarga. Agora eu o fitei com cara de palhaça, que no fundo eu era por ter acreditado em suas mentiras. 

Mas agora chega!

Ele que não se metesse comigo!

Eu passei um papel absorvente e limpei o borrado, penteei os meus cabelos os deixando menos rebeldes e passei batom clarinho.

Saí do banheiro e caminhei pelo corredor até meu lugar.

Ao virar no corredor, Zachary surgiu caminhando com a graça de um felino ao lado de Sebastian.  Que com certeza iria nos acompanhar na festa. Ele era o nosso melhor fotógrafo.

Zachary, nessa hora, me avistou, seus olhos se demoraram um pouco em mim, eu o fitei por alguns segundos, antes dele desviar seus olhos e entrar na sala de Sebastian. A porta então, se fechou.

Logo ocupei minha cadeira, a mente trabalhando a milhão. Mordi a tampa de uma caneta, para não roer as unhas, num gesto nervoso.

Resolvi ligar para a minha mãe, avisando que ficaria fora a trabalho.

Foi o que fiz: liguei, conversei com ela e combinamos tudo. Quinta-feira à noite, eu e Jonathan dormiríamos lá. De manhã eu iria para minha casa e esperaria a Limusine.

Contudo, omiti dela quem era meu novo chefe. Não queria preocupá-la.

Depois que desliguei o telefone, fiquei pensando no jeito dele.

Por que ele não fez nenhum tipo de comentário?

Qual era a deleeeeeee?

Quem ele queria ser? O sujo ou o mal lavado?

Hipócrita!  

Sofreu um acidente e teve uma amnésia?

Não! Sai dessa!

Eu já estava inventando desculpa para isso tudo. Essas coisas só se viam em romances. Contudo lá, o protagonista era o mocinho, aqui temos o vilão da história com “H” de real.

Afastando os pensamentos, me voltei para o meu trabalho e fiz aquilo que se esperava de mim. Logo deu o horário de almoço. Desci até o restaurante três andares abaixo da onde eu estava, onde éramos conveniados. A comida era excelente, self service. Não comi muito, mais salada, pois a sensação de um caroço grosso na minha garganta era grande.

À tarde eu peguei firme no trabalho e me envolvi com a matéria. Quando deu 17:30 hrs, fiquei de olho no relógio, pois pegava Jonathan na escolinha, 18:30 hrs.

Quando deu 18:00 hrs já estava pronta para sair, peguei minha bolsa e apressei o passo, sentido aos elevadores. Apertei o botão. Graças a Deus, logo ele surgiu.

Depois de dez minutos esperando, peguei o ônibus em direção ao meu bairro, Holloway. A escolinha ficava a quatro quarteirões de meu apartamento.

Mesmo assim, às vezes eu abusava de sua boa vontade quando eu precisava sair a trabalho.

Não era muito de sair. Desde que tudo aconteceu, eu tinha me fechado no meu mundinho. Vivendo de casa para o trabalho e do trabalho para a casa.

Meu trabalho às vezes era puxado, pois eu tinha que sair a campo atrás de matéria para a minha coluna. Como ela era sobre variedades, eu não podia reclamar.

 Lá eu poderia falar de quase tudo. Tirando política, esportes que tinham sua própria coluna.

Deixei Jonathan na escola e fui até a oficina ficava a dois quarteirões depois da escola. Fiquei feliz em saber que meu carro estava pronto. Meia hora depois, eu estava na revista. E 8:30 hrs já estava em frente ao meu PC.

Enquanto eu o aguardava surgi as imagens na tela, fitei o corredor e o avistei. Precisamente nesse instante vi Zachary saindo do elevador esbanjando charme, cumprimentando todos com um aceno de cabeça.

Meu coração me golpeou, com batidas irregulares dentro de meu peito. Meus hormônios adormecidos ficaram enfurecidos, adorando aquela visão. Desviei meus olhos dele com muita dificuldade, voltando minha concentração para a tela aberta. Embora fitasse sem nada ver, pois a imagem de Zachary estava gravada na minha mente.

Os cabelos negros brilhantes grossos. Alto. Físico perfeito dentro do terno chumbo. A gravata preta, camisa cinza um pouco mais clara que o terno.

Nunca conheci alguém com aquele corpo, ombros largos, cintura estreita e um belo bumbum.

Senti seu perfume e uma sombra se projetou na minha mesa.

Droga! Ele parou ao meu lado.

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