4-Lembranças

No dia que Zachary assumiu, meu carro tinha me deixado na mão e por isso cheguei atrasada. Eu achei providencial, pois o choque em vê-lo, não foi tão grande.

Nesse dia, lembro-me de logo que cheguei, Jéssica se aproximou de mim, me informando da mudança do diretor. Discretamente o apontou.

Eu virei minha cabeça na direção que ela apontava. E o avistei. No cantinho do grande salão, conversando com um dos funcionários.

Imediatamente eu o reconheci. Chocada e abalada, senti que perdi a cor do rosto, mas mesmo assim, fui capaz de encará-la. Naquela hora, ela me falou um monte de coisas, mas eu não consegui ouvir uma palavra, tão transtornada que fiquei.

Logo que pude, me refugiei no banheiro. Aos poucos fui me acalmando e me convenci, naquele momento, que isso era bom. Sabendo de tudo antes, eu estaria preparada para enfrentá-lo.

Teria tempo de reação para acalmar os meus nervos tensos e fitá-lo com cara de paisagem. Pronta para ver a reação dele quando me visse. Mas o tão esperado encontro não aconteceu, ele ficou entretido com o nosso antigo diretor e eu não o avistei mais naquele dia.

Fui para casa tensa. Não preguei o olho à noite inteira.

No dia seguinte, consegui chegar mais cedo. Nervosa, aguardei no meu lugar a entrada dele. Lembro-me de toda hora olhar para os elevadores, ansiosa por sua chegada.

Me sentindo nervosa, começou crescer dentro de mim a dúvida se foi bom mesmo eu saber antes que ele seria o nosso novo diretor.

Depois de dez minutos de tensa agonia, ele surgiu. Isso já me desestruturou. Com o coração batendo, fiquei com os olhos pregados nele, enquanto ele caminhava pelo grande e largo corredor, cumprimentando a todos, com um lindo sorriso, que na hora me lembrou um comercial de creme dental.

Quando ele se aproximou do meu biombo, eu quase tive um treco de nervosismo. Ele sorria, e alguns momentos antes de ele passar por mim, nossos olhos se encontraram. Ele me olhou por um tempo fixamente.

Eu o encarei séria, sem conseguir sorrir, sem nem ao menos respirar. A rapidez de seus passos diminuíram. Ele então foi ficando sério e seus olhos se demoraram um pouco mais em mim e com um aceno de cabeça, passou por mim.

Aquilo foi a mais louca de todas as sensações que eu já havia experimentado na vida. Eu me sentia quase fora de mim, como uma criança correndo solta em uma loja de cristais. Mas todo o meu nervosismo esbarrou com toda a calma dele.

Ele apagou minha existência, eu precisava apagar a dele também e precisava parar de pensar nisso.

Peguei um bloco de anotações, me dirigi à sala dele. Passei pela antessala onde a senhora Clark se levantou e se aproximou de mim.

—O que está acontecendo com você? Anda tão estranha!

O que está acontecendo comigo? Neste momento sinto-me presa a um pesadelo e não vejo à hora de acordar.

É isso que está acontecendo comigo!

Ela então me conduziu a sala de reuniões, anexa a de Zachary. Quando entrei, percebi que fui à última a chegar. Sebastian e Priscila já estavam sentados em seus lugares.

Zachary estava em pé e pelo jeito que ele andava de um lado para o outro, impaciente.

Logo que entrei, seus olhos fixaram-se em mim. Eu senti uma sensação insuportável com a dureza de seu olhar. Engoli em seco e desviei meus olhos dos dele. Ocupei logo uma cadeira ao lado de Priscila.

—Bem, como todos já estão acomodados, poderemos começar nossa reunião. —Ele então fitou a todos. — Nossa ida até a mansão, amanhã, será algo estritamente profissional. A senhorita Silva será responsável pela entrevista com o nosso ator.

Ele então me fitou:

—Pessoas como Ryan pensam que só porque têm dinheiro e fama, podem fazer tudo que bem entendem. Digo isso, pois nosso ator tem um histórico desagradável. Ele não resiste ao um rostinho bonito.

Hah! Essa era boa! Quem era ele para julgá-lo?

Ele então intercalou o olhar, fitando Priscila e eu.

— Consegui uma permuta com a loja feminina, La Belle. Ela cederá os trajes de festa em troca de publicidade. Hoje mesmo virá uma consultora de moda com as roupas. Entre as opções, vocês escolherão o que acharem melhor.

Priscila deu um gritinho de felicidade. Eu nada respondi.

—Como sabem almoçaremos todos juntos, depois a senhorita Silva fará a entrevista com Ryan. A festa será no dia seguinte às dez horas da noite. Nesse meio tempo estaremos hospedados na casa de Ryan.

Eu desviei meus olhos dos dele e os fixei em um ponto com a imagem de Jonathan.

Espero que minha mãe dê conta do recado!

Ficar com Zachary todos esse dias. Conviver ali, não seria fácil.

— Srta. Silva. — Ouvi sua voz forte e áspera me chamando. Rompendo meus pensamentos.

— Desculpe-me!

— Não é o suficiente.

Eu pisquei surpresa para ele e me endireitei na cadeira. Espantada de ver esse novo Zachary, menos sedutor, mais duro e fiquei espantada com a facilidade com que ele conseguia ser intragável.

— É importante que esteja atenta a todas as necessidades da revista. — Ele me olhava, censurando minha atitude.

—Sinto muito. — Disse, mas minha vontade era de gritar e dizer o quanto ele era insuportável.

—Aposto que não ouviu o que eu disse?

Eu neguei.

—Não.

—A reunião terminou. Por favor, saiam.

Todos se levantaram, inclusive eu.

—Você fica. —Ele me disse sério.

Eu me sentei novamente.

Santo Deus! Ajude-me a não ultrapassar os limites da minha paciência. Dai-me sabedoria, lucidez e controle.

Depois que todos saíram, ele me encarou.

—Muito bem! Se abra! O que há de errado? Está com problemas particulares? Pois é o que me está parecendo.

Eu o fitei com raiva pela pergunta tão descabida. Ele realmente tinha passado uma borracha em tudo. Eu precisava fazer o mesmo.

—Não, estou bem. Sr.Taylor. — Enfatizei o sobrenome dele para que ele entendesse que, não queria nenhuma conversa mais íntima. Ele sorriu e passou a língua nos lábios. Imediatamente eu senti meu corpo esquentar.

Ele me fitou demoradamente.

—Pois não parece. —Ele se aproximou mais de mim. —Pode responder a minha pergunta agora?

—Acho que o senhor tem as respostas e nem precisa ir muito fundo. Ao menos que tenha sofrido uma amnésia. É absurda essa pergunta.

Seus olhos ficaram presos aos meus por segundos incontáveis. Não sei se foi pelo fato de eu finalmente ser “eu”, mas que ele ficou nitidamente confuso. Ficou.

—Posso ir?

Depois de um longo tempo me fitando, ele limpou a garganta:

—Pode. Pegue! É um esboço do que eu espero de você nessa entrevista com Ryan. — Ele me estendeu um papel.

Eu sem encará-lo peguei o esboço e aliviada, saí da sala.

Enquanto fitava a tela do meu computador, fiquei a pensar na minha mãe. Suspirei.

Instinto de mãe parece não falhar.

Um dia quando Zachary foi em casa conhecê-la. Logo que ele saiu, mamãe já havia decidido que não era para mim.Disse-me que tinha algo nele, muito estranho, pois ele não a encarava direito nos olhos.

Mamãe parecia que já havia se decidido estar contra ele. E nada que eu dizia interferia em sua decisão.

"Afaste-se dele, ele não serve para você." Era sua frase preferida. Uma constante.

É mamãe, antes eu tivesse ouvido seus conselhos... Não estaria colhendo o que plantei: as consequências.

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