8- Zachary

Fechei os olhos evitando olhar para Maria. Ela estava me enlouquecendo, me tirando do sério. As memórias instantâneas do dia que a vi no escritório começaram a dançar em volta da minha cabeça latejando.

Quando assumi a Inove, sabia tudo que me esperava profissionalmente. Experiência não me faltava, pois fui editor chefe do jornal regional London.

Fui apresentado a todos e fiz meu discurso, nada planejado, preparado antes. Eu disse o que veio ao meu coração dizer. Me apresentei da forma mais objetiva e simples do mundo.

Me senti muito a vontade assumindo a diretoria da revista. Já estava acostumado com aquele tipo de ambiente de trabalho, sempre gostei da liderança. Esperava fazer um bom trabalho, arrematar o que faltava e melhorar a vendagem da revista. Tudo estava indo bem. Seria mais uma conquista, fruto do meu trabalho e da minha dedicação.

A conversa fluía com o antigo diretor que me passou tudo e me apresentou a todos. Nesse dia, eu não vi Maria.

No dia seguinte eu fui trabalhar feliz, com prazer evidente pelo meu novo posto. Caminhei pelo corredor cumprimentando a todos com um largo sorriso. Observando a todos, alerta como sempre. Foi quando eu a avistei. Impressionado por sua beleza segurei o olhar. Nunca tinha visto olhos tão perfeitos, grandes, brilhantes e de um verde vivo, com tons alaranjados. Percebi então, que ela, não foi indiferente a minha presença.

Nesse mesmo dia, no meu escritório, me dediquei a conhecer a minha equipe. Peguei todas as fichas. E fui a fundo na investigação, desde a vida pessoal, até o trabalho que eles desenvolviam na revista.

Quando foi a vez de Maria Eduarda, senti um arrepio na espinha e só de ler o nome dela em sua ficha, me fez me sentir diferente. Descobri que ela tinha vinte e cinco anos, e tinha um dependente no convênio médico, seu filho de quatro anos. Não era casada. Eu li duas vezes na ficha a palavra "solteira".

Então passei a ler todos os trabalhos que ela tinha desenvolvido como colunista na parte de variedades. E gostei muito do que li. A linguagem clara, o toque de humor que ela usava, sem ser forçado, a qualidade das matérias escolhidas e a apresentação. Ela tinha dois predicados que me atraíram, bonita e talentosa. Eu me identifiquei tanto com o que li, que era como se ela me falasse a minha linguagem. Isso aguçou bastante a vontade de conhecê-la melhor, mas era muito cedo para isso. Me contive para não chamá-la no calor da emoção.

No dia seguinte ela chegou atrasada. Reparei pois passei por todos e não a avistei em seu lugar. E novamente contive o desejo de chamá-la no meu escritório.

No terceiro dia novamente, logo que saí do elevador, reparei que ela não estava em seu lugar. E comecei a me preocupar: Ela estava com problemas com o filho? Ela estava procurando emprego em outro lugar?

Eu precisava investigar. Além disso, tinha surgido a oportunidade de entrevistar Ryan. Há tempos eu vinha negociando isso com o empresário dele.

Então, preocupado, saí de minha sala e fitei o grande salão. Foi então que eu a avistei, toda molhada, a maquiagem borrada saindo apressada do elevador. Meu corpo reagiu violentamente, meu coração deu um salto mortal.

Fiquei paralisado quando a observei caminhar em direção a sua mesa, nessa hora, seus olhos verdes brilhantes me fitaram. A respiração me faltou, isso me fez reagir com um sorriso nervoso. Lembro-me de fitar o relógio indicando que estava ciente do seu atraso. Percebi então, o quanto ela estava nervosa. Eu via nela uma energia oposta, uma certa raiva, ojeriza, que eu não entendi. Fui até a mesa dela, com o desejo de entendê-la e principalmente sentir dela que energia era aquela. Então a chamei.

No meu escritório eu disse:

—Terceira vez que chega atrasada.

—Estou com problema com meu carro. Mas hoje mesmo vou pegá-lo no mecânico.

Nesse momento, não consegui desgrudar meus olhos dela e nem piscar. Uma parte da minha mente me avisou que eu a olhava por muito tempo, eu precisava conquistar sua confiança.

No entanto, vendo-a ali, com os cabelos molhados, a maquiagem borrada, o terninho preto molhado me senti por um tempo sem ação. Perdido, golpeado, sem conseguir falar. E aquilo para um homem como eu, acostumado a controlar e m****r em tudo, inclusive em mim mesmo, era algo intolerável.

Foi então que mudei de assunto e disse que tinha gostado do trabalho dela. Fiz um elogio sincero. Não para conquistá-la, mas disse o que eu estava sentido.

Ela simplesmente agradeceu secamente e percebi que ela não via a hora de deixar a minha presença, isso me incomodou, a ponto de doer. E perguntei:

—Percebi que não gosta muito de mim.

Ela me fitou séria.

—De maneira nenhuma, apenas achei que isso fosse tudo.

Eu a fitei irritado.

Mentira! Ela não gostava de mim, eu podia sentir isso e passei a tratá-la com uma energia diferente do que eu estava sentindo. Pois eu estava confuso, irritado.

Quando ela saiu do meu escritório, meus sentimentos contraditórios vieram como uma enxurrada, sem controle, sem que eu pudesse fazer nada para impedir.

Queria poder dizer: Não gosta de mim, que se dane!

Chegava a ser perturbador saber que uma mulher que para mim ainda era estranha, pudesse ter tal poder sobre mim, a ponto de me perturbar.

Nunca fui impulsivo, isso me ajudou a ter paciência para esperar aquele momento passar, e tentar ler os sinais para conseguir entende-la.

Então, no dia seguinte, eu a avistei. O meu coração nessa hora golpeou meu corpo. Ela tinha conseguido chegar no horário. Eu não consegui deixar de notar o quanto ela estava bonita. Lembro-me de até ter feito um elogio singelo e sincero. Recebi dela, um olhar de tão pouco caso. E eu novamente, me senti incomodado e cheguei a pedir que ela baixasse aquele muro que ela tinha erguido entre nós.

Convoquei então uma reunião, e percebi algo de muito errado com Maria Eduarda. Ela estava distraída, pensativa. E pensei que talvez o problema nem fosse comigo, ela poderia estar tendo algum problema particular. Novamente o desejo de entendê-la me fez ficar as sós com ela.

Então me veio à revelação que me deixou confuso: Maria achava que me conhecia, e me começou a me acusar de algo que eu tinha feito no passado.

Foi aí que tudo se encaixou e eu entendi que ela tinha conhecido o meu" irmão".

Eu naquela hora, a fitei sem reação. Isso foi assinar minha confissão de culpa e por ainda tentar entender o que se passou entre os dois, eu não tinha esclarecido as coisas.

Abri meus olhos que automaticamente a procuraram. Ela, que me observava, desviou os olhos de mim. Baixei meu rosto e fitei o vazio.

O ódio andava de mãos dadas com o amor. Maria Eduarda, amava meu irmão?

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