Fechei os olhos evitando olhar para Maria. Ela estava me enlouquecendo, me tirando do sério. As memórias instantâneas do dia que a vi no escritório começaram a dançar em volta da minha cabeça latejando.
Quando assumi a Inove, sabia tudo que me esperava profissionalmente. Experiência não me faltava, pois fui editor chefe do jornal regional London.Fui apresentado a todos e fiz meu discurso, nada planejado, preparado antes. Eu disse o que veio ao meu coração dizer. Me apresentei da forma mais objetiva e simples do mundo.Me senti muito a vontade assumindo a diretoria da revista. Já estava acostumado com aquele tipo de ambiente de trabalho, sempre gostei da liderança. Esperava fazer um bom trabalho, arrematar o que faltava e melhorar a vendagem da revista. Tudo estava indo bem. Seria mais uma conquista, fruto do meu trabalho e da minha dedicação.A conversa fluía com o antigo diretor que me passou tudo e me apresentou a todos. Nesse dia, eu não vi Maria.No dia seguinte eu fui trabalhar feliz, com prazer evidente pelo meu novo posto. Caminhei pelo corredor cumprimentando a todos com um largo sorriso. Observando a todos, alerta como sempre. Foi quando eu a avistei. Impressionado por sua beleza segurei o olhar. Nunca tinha visto olhos tão perfeitos, grandes, brilhantes e de um verde vivo, com tons alaranjados. Percebi então, que ela, não foi indiferente a minha presença.Nesse mesmo dia, no meu escritório, me dediquei a conhecer a minha equipe. Peguei todas as fichas. E fui a fundo na investigação, desde a vida pessoal, até o trabalho que eles desenvolviam na revista.Quando foi a vez de Maria Eduarda, senti um arrepio na espinha e só de ler o nome dela em sua ficha, me fez me sentir diferente. Descobri que ela tinha vinte e cinco anos, e tinha um dependente no convênio médico, seu filho de quatro anos. Não era casada. Eu li duas vezes na ficha a palavra "solteira".Então passei a ler todos os trabalhos que ela tinha desenvolvido como colunista na parte de variedades. E gostei muito do que li. A linguagem clara, o toque de humor que ela usava, sem ser forçado, a qualidade das matérias escolhidas e a apresentação. Ela tinha dois predicados que me atraíram, bonita e talentosa. Eu me identifiquei tanto com o que li, que era como se ela me falasse a minha linguagem. Isso aguçou bastante a vontade de conhecê-la melhor, mas era muito cedo para isso. Me contive para não chamá-la no calor da emoção.No dia seguinte ela chegou atrasada. Reparei pois passei por todos e não a avistei em seu lugar. E novamente contive o desejo de chamá-la no meu escritório.No terceiro dia novamente, logo que saí do elevador, reparei que ela não estava em seu lugar. E comecei a me preocupar: Ela estava com problemas com o filho? Ela estava procurando emprego em outro lugar?Eu precisava investigar. Além disso, tinha surgido a oportunidade de entrevistar Ryan. Há tempos eu vinha negociando isso com o empresário dele.Então, preocupado, saí de minha sala e fitei o grande salão. Foi então que eu a avistei, toda molhada, a maquiagem borrada saindo apressada do elevador. Meu corpo reagiu violentamente, meu coração deu um salto mortal.Fiquei paralisado quando a observei caminhar em direção a sua mesa, nessa hora, seus olhos verdes brilhantes me fitaram. A respiração me faltou, isso me fez reagir com um sorriso nervoso. Lembro-me de fitar o relógio indicando que estava ciente do seu atraso. Percebi então, o quanto ela estava nervosa. Eu via nela uma energia oposta, uma certa raiva, ojeriza, que eu não entendi. Fui até a mesa dela, com o desejo de entendê-la e principalmente sentir dela que energia era aquela. Então a chamei.No meu escritório eu disse:—Terceira vez que chega atrasada.—Estou com problema com meu carro. Mas hoje mesmo vou pegá-lo no mecânico.Nesse momento, não consegui desgrudar meus olhos dela e nem piscar. Uma parte da minha mente me avisou que eu a olhava por muito tempo, eu precisava conquistar sua confiança.No entanto, vendo-a ali, com os cabelos molhados, a maquiagem borrada, o terninho preto molhado me senti por um tempo sem ação. Perdido, golpeado, sem conseguir falar. E aquilo para um homem como eu, acostumado a controlar e m****r em tudo, inclusive em mim mesmo, era algo intolerável.Foi então que mudei de assunto e disse que tinha gostado do trabalho dela. Fiz um elogio sincero. Não para conquistá-la, mas disse o que eu estava sentido.Ela simplesmente agradeceu secamente e percebi que ela não via a hora de deixar a minha presença, isso me incomodou, a ponto de doer. E perguntei:—Percebi que não gosta muito de mim.Ela me fitou séria.—De maneira nenhuma, apenas achei que isso fosse tudo.Eu a fitei irritado.Mentira! Ela não gostava de mim, eu podia sentir isso e passei a tratá-la com uma energia diferente do que eu estava sentindo. Pois eu estava confuso, irritado.Quando ela saiu do meu escritório, meus sentimentos contraditórios vieram como uma enxurrada, sem controle, sem que eu pudesse fazer nada para impedir.Queria poder dizer: Não gosta de mim, que se dane!Chegava a ser perturbador saber que uma mulher que para mim ainda era estranha, pudesse ter tal poder sobre mim, a ponto de me perturbar.Nunca fui impulsivo, isso me ajudou a ter paciência para esperar aquele momento passar, e tentar ler os sinais para conseguir entende-la.Então, no dia seguinte, eu a avistei. O meu coração nessa hora golpeou meu corpo. Ela tinha conseguido chegar no horário. Eu não consegui deixar de notar o quanto ela estava bonita. Lembro-me de até ter feito um elogio singelo e sincero. Recebi dela, um olhar de tão pouco caso. E eu novamente, me senti incomodado e cheguei a pedir que ela baixasse aquele muro que ela tinha erguido entre nós.Convoquei então uma reunião, e percebi algo de muito errado com Maria Eduarda. Ela estava distraída, pensativa. E pensei que talvez o problema nem fosse comigo, ela poderia estar tendo algum problema particular. Novamente o desejo de entendê-la me fez ficar as sós com ela.Então me veio à revelação que me deixou confuso: Maria achava que me conhecia, e me começou a me acusar de algo que eu tinha feito no passado.Foi aí que tudo se encaixou e eu entendi que ela tinha conhecido o meu" irmão".Eu naquela hora, a fitei sem reação. Isso foi assinar minha confissão de culpa e por ainda tentar entender o que se passou entre os dois, eu não tinha esclarecido as coisas.Abri meus olhos que automaticamente a procuraram. Ela, que me observava, desviou os olhos de mim. Baixei meu rosto e fitei o vazio.O ódio andava de mãos dadas com o amor. Maria Eduarda, amava meu irmão?Esse desgraçado teve a cara de pau de usar meu nome, isso me levava a crer que eles tiveram um relacionamento enquanto ele era casado. Ela deve ter descoberto tudo. Que meu irmão sempre fora um cafajeste, isso para mim, não era surpresa.A pergunta agora era:O filho de Maria, era de Nicholas? O filho poderia ser dele.Meu irmão hoje estava separado. Ela estaria mesmo disposta a afastá-lo de si? Mesmo sabendo que hoje ele era um homem livre?Maria Eduarda o amava ainda?Como eu a colocaria em minha vida? Se meu irmão me visse com ela, como ele reagiria? Poderia tentar se redimir, arrependido das burradas que fez. Conquistá-la. Eles tinham algo em comum, um passado, um filho.Eu precisava entender tudo antes, e eu usaria, por enquanto, a figura de meu irmão. Precisava realmente descobrir se esse filho era dele. E sentir qual seria a reação dela, diante da minha descoberta.Então outro ponto, começou a me preocupar. Se eu me revelasse a ela. Quem ela veria? A figu
Eu me sentei na borda da piscina no sol e fitei Zachary, ele estava de olhos fechados.Fechei os olhos, me lembrando dele no passado.Um homem galanteador, sempre querendo me agradar me dando presentes, palavras doces, promessas. Hoje, eu entendia que ele queria que eu me iludisse com ele, enquanto ele me fazia sua amante. Era confortável para ele ter um casamento de aparências por causa de dinheiro dela e ao mesmo tempo me ter na cama dele.Na verdade ele me alimentava com suas migalhas, me fazendo achar que eu era a mulher da vida dele, a dona da situação, mas percebi que na verdade ele me manipulou ao seu bel prazer. Vivi de acordo com o que ele estipulou. As sobras do tempo dele.Mas e agora?Qual era a dele?Primeiro agiu como se eu nunca tivesse feito parte de sua vida e me mostrou um lado dele que eu não conhecia. E muito mais perigoso.Era um novo Zachary, o homem centrado, dedicado, profissional e maduro. E principalmente, agia como se aquele homem,
Logo que alcancei meu quarto, as lágrimas desceram fáceis de meus olhos. Estava acontecendo algo comigo que estava me deixando confusa e perplexa: Jamais pensei, depois de tudo que Zachary me fez, eu ficasse tão balançada por ele.Eu não conseguia ignorar aquilo que nosso encontro tornara abundantemente claro. Que parte de mim ainda buscava uma forma de fugir do que eu estava sentindo. Em alguns momentos, o outro lado sobressaía dizendo para eu acreditar nesse novo homem que eu estava vendo, então vinha o outro e lutava contra.E eu que acreditava que tinha superado Zachary...Burra!Quando eu o avistei no meu trabalho, já foi algo que, nem nos mais terríveis pesadelos eu imaginaria. Zachary trabalhando? Diretor de uma revista de prestígio?E pior, sendo meu chefe.Isso me deu um nó na cabeça, pois para mim ele era um sanguessuga, um boa vida. Essa imagem dele tão profissional, eu não tinha comigo. E eu tinha me apegado ao pior dele como uma tábua de salvação. Aflo
Ele se colocou a minha frente. Senti o perfume dele, Ele se inclinou para frente. Estava muito próximo.Meu Deus! Próximo demais.Eu desviei meus olhos do rosto dele e fitei sua camiseta. Quieta.Percebi pelo descer e subir de seu peito que sua respiração estava tão ofegante quanto a minha. Seu corpo estava tenso, eu podia ver. Ele mudou de perfume, não usava aquele que ele tanto gostava. Não tem mais o cheiro que ele costumava a ter. Talvez por isso eu não consiga raciocinar direito, pois parece que estou diante de outra pessoa. Queria empurrá-lo para longe para que ele entendesse que eu era feliz, até ele chegar. Eu estava indo bem. Agora eu me sinto triste. Eu senti o sangue ferver, estava estranhamente emocionada por ele estar tão perto de mim, sentindo uma coisa estranha por desejá-lo, como nunca o desejei antes, nem no passado, eu sentia o que estava sentindo agora. E isso estava me deixando confusa.Algo nele, alguma mudança dele estava fazendo isso comigo
Quando sua boca tocou a minha, fechei meus olhos e deixei que tudo acontecesse eu não consegui deixar de abrir os lábios para recebe-lo. Sentir a umidade morna da boca dele, foi algo tão maravilhoso que eu estremeci e me segurei nele para não cair. Ele me apertou em um dos braços, enquanto uma mão segurava a minha cabeça, seus lábios passaram a se mover sobre os meus famintos.Eu não o resistia, não conseguia, fiquei atordoada com a sensação maravilhosa de estar nos braços dele, sentindo seu calor, sentindo seu perfume maravilhoso.Quando eu estava para corresponder seus beijos, a imagem dele me dizendo que era casado, me veio muito forte, e minha razão falou mais alto que meu coração, ela me lembrava agora que: eu fui um joguete nas mãos dele, talvez eu fosse seu brinquedinho novo.Tive que ter muita, mas muita força de vontade para empurrá-lo.Ele não me impediu de afastá-lo e eu tenho certeza que se ele quisesse, ele poderia me dominar, mas o beijo, pareceu satisfazê-
Zachary Eu sabia que tinha de ser paciente com Maria. Não era que ela estava sendo dura, ou razoável. Mas ela não conseguia entender. Ele não fazia ideia de quem eu era – três meses juntos. Isso ainda doía em meu coração. TRÊS MESES.Meu irmão a conseguiu enganar por todo esse tempo. No fundo, ela e meu irmão tinham uma história juntos. E eu? Não tinha absolutamente nada. Ela nem sabia que eu existia.Ainda...Não queria falar desses tempos estéreis. Do passado vivido entre os dois. Eu queria que ela na verdade, o esquecesse. E só o lembraria para não o repetir.Meu irmão sempre foi um inconsequente. Uniu-se a Nádia, em um casamento sem amor, e nunca me escondeu isso. Eu o responsabilizava por todas as coisas estúpidas que havia feito a Maria. A dor que ele causou.Então, eu teria que colocar a minha explicação em palavras muito cuidadosamente. Explicar porque eu ainda não tinha revelado quem eu era. Mostrando a ela, que eu na verdade estava sentindo o terreno
Eu me tranquei no quarto até o dia seguinte. Não dormi quase nada, a imagem dele com outra mulher não saía da minha cabeça.Era tarde quando me levantei, com uma dor de cabeça danada. Tomei um banho de imersão para tentar relaxar. A possibilidade de ver Zachary me deixava mal do estômago. Por isso tomei uma resolução. Não ficaria sozinha com ele. Eu precisa estar sempre acompanhada. Resolvi alugar os braços de Ryan.A minha garganta doía muito e dentro da banheira começou a me dar uns calafrios. A dor de cabeça que eu estava se intensificou. Sentia-me mal, as pernas pesadas, a cabeça rodando.Levantei-me da banheira vacilante, peguei a toalha e comecei a me enxugar, mas tive que me sentar no vaso sanitário, pois tudo começou a rodar. Coloquei o meu robe branco ainda meio molhada e me segurando fui até a porta. O quarto de Priscila era ao lado do meu, eu precisava avisá-la que eu não estava bem.E depois eu só queria voltar para a cama. . . A cada minuto eu me sentia pior
Zachary ―Pai. ― Eu disse, meu pai sorriu.Eu o segurei no corredor.―Obrigada por ter vindo.―Essa moça deve ser muito importante para você. Senti isso, pela ansiedade na sua voz.Eu sorri levemente.―Ela é.―Enquanto eu a examino, vá até a sala. Seu irmão me trouxe e está lá.Meus olhos se estreitaram. Senti como se meu coração falhasse. O meu entusiasmo desapareceu.―Nicholas o trouxe? ―Repeti como se não acreditasse nos meus próprios ouvidos.―Sim, ele me trouxe. Estou sem carro, lembra? Hoje é dia que sua mãe visitar Elizabeth na casa de repouso.Elizabeth era uma tia de mamãe. Ela sofria de Alzheimer. Mamãe sempre que podia pegava o carro de papai e ia visitá-la aos sábados.―É verdade. ― Suspirei, me sentindo mal com essa informação, contrariado. ―Então, entra. Maria Eduarda o espera. Vou lá falar com Nicholas. Precisava falar com ele algumas coisas, mesmo que ele não entenda.―E pai... ―Ele se virou para mim. ― Não toca no assun