Para o meu alívio, os dias que se seguiram ao festival foram intensos e cheios de tarefas ininterruptas. Estava indo tudo tão bem, que iríamos precisar de ingredientes extras para o último dia, pois pediram muito mais dos confeitos que fazíamos.
Infelizmente, Serena Whitmore não apareceu na minha cozinha. Não sabia se era por conta de suas atividades ou se era pela cena que havia acontecido entre mim e o Matteo. Esperava que ela pelo menos cogitasse experimentar diretamente do salão. Manon tentava me animar constantemente, dizendo o sucesso que estávamos fazendo. Meu nome como Chef poderia estar se espalhando e isso poderia trazer resultados muito positivos para minha carreira e meu restaurante, no futuro. E era tudo no que eu precisava pensar, mas não funcionava tão bem assim dentro da minha cabeça.
Todas as vezes que eu fechava os olhos, a sigla R.A. vinha a minha mente, junto com os olhos sedutores daquele homem desconhecido. Eu tentava balançar a cabeça para dispersar os pensamentos, mas o meu coração já estava batendo forte e deixar de pensar não o desacelerou. A noite casual não era o problema, e sim ele ter ido embora sem dizer nada. Todos os homens resolveram começar a guardar segredos de mim ao mesmo tempo?
Só mais um dia e eu poderia ir embora. Não era justo eu invalidar tudo o que eu conquistei por causa de dois homens idiotas. O problema eram eles, não eu. Mesmo assim, não acredito que pensei que poderia ser coisa do destino. Eu já tinha 34 anos, não era nenhuma adolescente sonhando com um amor platônico irreal.
Quando encerramos o último dia, eu e minha equipe nos abraçamos. Tudo tinha dado certo. Recebemos feedbacks extraordinários. Pessoas da família real mandaram os agradecimentos, outras pessoas pediram para me conhecerem. Conversei com muitas pessoas novas, e também com outros chefes. Inclusive, saímos em grupo para comemorar o bom resultado de todos.
Como o nosso voo ia sair bem cedo, decidi não beber, mas Manon se engraçou fundo com a bebida. Era bom que ela estivesse feliz por nós duas. Mas conversamos muito com os colegas, isso fez meu coração aquecer um pouco e voltar para casa acabou sendo bem mais reconfortante. Já era quase meia-noite quando decidimos encerrar a noite.
Precisei dar um pouco de apoio a Manon para entrarmos no táxi e seguidos de volta ao hotel. Sempre ficava apreensiva em encontrar com o Matteo pelos corredores, mas parece que ele foi sensato o suficiente em não me encontrar por esses dias. Ou talvez ele só achasse que não valesse a pena. Mas pensei nisso cedo demais.
Foi só trancar a porta do quarto e ajudar minha amiga a deitar na cama que eu ouvi meu celular tocar na bolsa. Era uma ligação do número do Matteo. Eu nem tinha salvo seu contato ainda. Deixei chamar até cair na caixa postal e fui tomar um banho longo e demorado.
Quando deitei já haviam muitas mensagens dele. Pedindo desculpas, pedindo pra me ver, que agora depois do festival eu poderia estar mais calma, que ele gostaria de se explicar, que eu pudesse dar essa chance a ele. E quem disse que eu não estava calma? Se eu estava uma coisa, era calma, tão calma que não precisava de nenhum drama no qual ele fosse querer me incluir.
O sol ainda não tinha nascido quando meu celular despertou. Eu chacoalhei a Manon até que ela finalmente parasse de implorar por mais alguns minutinhos. Ela tomou um banho e parece que despertou um pouco, mas reclamava que a cabeça ainda estava girando.
Saímos do hotel às seis da manhã e fomos para o aeroporto. A ida para casa não foi tão empolgada quanto a chegada. Eu abri minha bolsa algumas vezes para olhar o bilhete. Ainda não sabia o porquê de tê-lo levado comigo. Manon acabou ficando em silêncio por todo o trajeto por causa da ressaca. E eu só estava feliz por ouvir o comandante avisar que estávamos prontos para aterrissar. Com sorte, a vida voltaria ao normal e todo meu drama romântico ficaria para trás. E que apenas viesse o sucesso da carreira.
Já haviam se passado dois meses desde o festival em Londres. E com ele, todo o drama romântico que estava incluído. Felizmente precisei trabalhar bastante nesse período, então estive ocupada o suficiente para não perceber que o tempo passara tão depressa. Ao menos isso aconteceu melhor do que eu esperava. Graças aos bons frutos gerados dessa grande oportunidade que estavam sendo colhidos. Então mesmo que eu tenha saído com o coração partido, estava sendo fácil seguir em frente. Minha participação no festival fez com que grandes críticos e outros colegas da área me procurassem, então a popularidade do meu trabalho e do meu restaurante cresceu e eu precisava focar na minha carreira mais do que nunca. Na última semana, as lembranças ruins daquele evento nem apareciam mais, já que eu estava sempre ocupada. Contratei mais pessoas, coloquei Manon como chefe de cozinha e eu pude focar apenas na minha especialidade. Estávamos sempre combinando nossos pratos, para que as sobremesas fossem o áp
O primeiro trimestre da gravidez estava terminando. Minha ficha havia caído oficialmente na consulta com minha obstetra. Ouvir o coração do bebê foi como uma virada de chave na minha mente. Ter outra vida dentro de mim era um peso muito grande. E mesmo sabendo que poderia ser apenas os meus hormônios mexendo com meu corpo, eu estava muito feliz e empolgada em ter um filho. Havia se tornado um hábito levar a mão à minha barriga para tentar sentir alguma coisa.E mesmo assim eu não queria pensar tão a fundo sobre o futuro. Haviam muitas decisões e escolhas que estavam longe de chegar e eu precisava seguir um passo de cada vez. Os enjoos já estavam passando, e contanto que eu não carregasse nenhum peso e me alimentar decentemente, eu poderia continuar trabalhando. Manon estava me apoiando muito nisso. Puxando a minha orelha talvez fosse mais preciso. Ela parecia estar doida para dar uma de titia. Era bom saber que eu ia ter alguma rede de apoio. Minha mãe faleceu quando eu era adolescente
O voo tinha sido tranquilo. Eu dormi praticamente todo o trajeto. Depois que fiquei grávida, conseguia dormir muito facilmente em qualquer lugar que fosse possível. Ainda estava sonolenta quando desci do avião e me dirigi para a área de desembarque. Dirigia-me à esteira de bagagens para pegar minha mala quando esbarrei em alguém que vinha em minha direção. Agora desperta, virei-me para me desculpar com um homem de boné e máscara. Ele estava de cabeça baixa e parecia estar com pressa. Não me respondeu, virou o rosto e fez com que ia seguir caminho. Por um impulso involuntário, eu o segurei e o puxei pelo braço. Então ele me olhou diretamente sem entender o que estava acontecendo.Imediatamente eu perdi o fôlego. Era ele. A máscara atrapalhava a ver o seu rosto. Só era possível ver os olhos azuis inquisitivos com a situação. Mesmo assim eu tive a certeza de que era o pai do meu bebê. Ele não pareceu me reconhecer e puxou o braço de volta. Ele se virou e tentou seguir seu caminho ainda ma
Não queria admitir para mim mesma que fiquei abalada com todo o acontecimento no aeroporto. Mesmo aceitando que o pior já havia passado, que era encontrá-lo e dizer sobre a gravidez, ter deixado as coisas indefinidas com o Ryan deixou tudo mais angustiante, mesmo que toda a questão precisasse depender se ele faria ou não alguma coisa. E tudo isso junto com a possibilidade de perder uma grande chance da minha carreira parecia demais para mim. Decidi tomar um banho. Precisava tentar me manter calma para que minha pressão não subisse e fizesse mal para o bebê. E por mais que eu tenha conseguido amenizar os meus pensamentos sobre isso, toda minha calma não poderia durar muito tempo. Meu celular apitou com a notificação de uma mensagem. Era Matteo. Com todo o drama, e como eu só me comuniquei com a assistente desde o recado dele, havia me esquecido completamente que eu o encontraria novamente. E que provavelmente iremos trabalhar juntos. Meu estômago revirou. Não quis arriscar e tomei logo
Eu, a chef Whitmore e os outros chefes passamos horas replanejando as novas mudanças. Da minha parte, a futura noiva fez a exigência um bolo de ameixa negra com rum envelhecido. Parecia muito alarde para uma sobremesa que não iria combinar em nada com a ocasião. Pelo breve momento em que estivera com ela, parecia ser um simples desejo em dificultar as coisas para todo mundo. Esse era o murmurinho que vinha de todos os outros colaboradores. Todos estavam correndo para atender às novas exigências. Graças ao meu pequeno sucesso no festival e toda a reputação que eu estava construindo me deu uma chance com o grande problema que havíamos que resolver para o banquete. Eu conhecia ótimas fazendas de ameixa na Itália e felizmente uma delas produzia compotas de ameixas negras com rum com uma ótima reputação a zelar. Graças a um orçamento um pouco ilimitado, esse seria meu único meio para conseguir atender às novas exigências, visto que, se não fosse desse jeito, levaria meses para que eu conse
Minha visão ainda estava turva quando acordei. Senti meu corpo recostado em uma cama. Esfreguei os olhos e comecei a ver mais detalhes. Havia um pacote de soro pendurado e ligado a um curativo na minha mão esquerda. Já conseguia entender que eu estava em um hospital. Manon estava deitada torta em uma poltrona perto de uma janela mexendo no seu celular, mas veio depressa para perto quando me ouviu acordar. - Que bom que está bem! - Manon sorria aliviada - Você me deixou muito assustada. - O que aconteceu? - eu ainda não entendia porque eu estava ali. - Você desmaiou. No meio do banquete. Ainda bem que eu estava lá! - ela apertou minha mão forte - Chamamos uma ambulância e viemos para o hospital. Sua pressão estava muito alta e por isso você desmaiou. Manon havia me explicado que o médico preferiu me manter internada por um tempo para acompanhar minha pressão. Pelo menos até os resultados dos exames. Era um risco muito grande para o bebê. Por isso, era preciso averiguar se foi um cas
Felizmente eu não precisaria passar mais um dia no hospital. Meus exames estavam bons e meu bebê parecia bem. Minha pressão ficou estável mesmo com as tensas visitas. O médico tinha feito algumas recomendações para que eu evitasse o estresse e o trabalho por alguns dias e que eu consultasse minha médica o mais rápido possível. Entretanto, recomendou também que eu não fizesse a viagem de volta por enquanto. Manon não quis aceitar muito bem ter que voltar sem mim. Mas a fiz entender que o restaurante não ia sobreviver tantos dias sem uma de nós duas. E eu prometi repetidamente mantê-la informada sobre tudo o que acontecesse, principalmente com o Ryan. Como eu tinha minhas economias, tentaria levar as coisas como um tipo de férias forçada. Eu também não ia ficar satisfeita em ir embora sem resolver tudo com o príncipe. E pensar nele com o título ainda me deixava intrigada. Por mim eu continuaria no hotel, mas Matteo me convenceu a ficar no apartamento dele. Ele estaria fora na próxima se
Eu pude ouvir o barulho da cadeira se arrastando enquanto o Ryan se levantava abruptamente da mesa de jantar. Ele logo apareceu ao meu lado, tão incrédulo quanto eu estava. Mesmo assim ele fez uma reverência e eu acabei por imitá-lo. A rainha, esguia e com uma postura ereta que transmitia confiança e autoridade, esperava na porta. Ela questionou se não seria convidada a entrar, e eu fiz um gesto convidativo. Seu rosto, marcado pelos anos de experiência, exibia linhas suaves e traços aristocráticos. Seus olhos eram do mesmo azul profundo dos de Ryan. Os cabelos loiros salpicados de prata, estavam impecavelmente ajeitados em um elegante penteado preso. Vestida com um conjunto azul sob medida, jóias extravagantes e uma fina coroa refletia sua posição. A voz da rainha era suave e melodiosa, mas não escondia seu descontentamento. Ela estava acompanhada de um homem de meia idade, com um olhar sério e vestido em um terno preto. Parecia ser como um assistente, ou segurança. Ela entrou enquan