Eu não voltei para o meu quarto. Eu estava tão constrangida, que não queria encarar a Manon e contar desse desastre. Eu queria não ter escutado tão bem as últimas palavras que ele disse. Queria pensar que talvez estivesse enganada. Ele está noivo! E eu ia pra cama com ele. Ele correspondeu mais cedo, não disse nada. Ele me chamou para o quarto dele, certo? Não sou eu que estou errada. Não sabia o que pensar…
Mais e mais desses pensamentos de culpa e autopiedade embrulhavam minha mente e meu estômago. Comecei a questionar nosso passado, mas se continuasse, poderia enlouquecer. Chamei um táxi e pedi para que me levasse a um bar qualquer. Meu celular começou a vibrar. Era uma mensagem dele: “Onde você está? Eu posso explicar. Por favor!”.
Eu o ignorei. Pensei em bloquear seu número, mas antes que eu o pudesse fazer, recebi uma mensagem da Manon preocupada, porque ele tinha ido ao nosso quarto me procurar.
Maron: “Tudo bem com você? Onde foi?”
Eu: “Estou indo beber, preciso espairecer. Depois te conto tudo.”
Manon: “Certeza? Eu posso ir te encontrar.”
Eu: “Preciso pensar sozinha. Qualquer coisa te ligo.”
Manon: “Ok. Cuidado e se cuida. Não bebe de mais.”
O motorista me deixou em um bar que também parecia uma boate. Como eu não disse para onde queria ir, não poderia reclamar. Não estava tão arrumada, mas as pessoas não pareciam se importar com a minha aparência. Nem eu estava com cabeça para ligar para o que os outros iriam pensar.
Felizmente, havia uma grande bancada onde pude me sentar, com alguns barmen prontos para me servir. Pedi um Cosmopolitan, que era um dos que eu mais gostava. Eu nunca fui muito de beber, mas gostava das experiências dos drinks, pois envolvia misturas de sabores.
O ambiente era escuro, com poucas luzes neon iluminando tudo. Tinha uma pista para dançar, mais muitas mesas e cadeiras espalhadas. Uma pegada de boate de filme americano. A música até era boa e a bebida bem feita. Consegui ficar algum tempo imersa apenas no ambiente enquanto observava meu copo suar.
Terminei meu terceiro copo, paguei minha conta e decidi ir embora. Entretanto, enquanto eu andava para a saída, uma mão puxou forte o meu pulso e me fez virar. Fiquei tonta com o movimento e demorei a entender o que estava acontecendo. Meu peito gelou quando a imagem do Matteo focou na minha frente.
- Bianca, eu posso explicar, eu…
- ME SOLTA! - eu não queria escutar mais nada dele. Fazia força para soltar meu braço, mas não conseguia.
- Tem que me deixar explicar! - ele faz ainda mais força para não deixar eu me soltar.
- Explicar que casualmente esqueceu de me falar que tinha uma noiva? - como eu não conseguia me soltar, eu fechei os olhos e comecei a bater nele, embora sem nenhum efeito.
- Me deixa falar, por favor…
- Matteo, solta ela! - era uma voz desconhecida, que fez com que meu braço finalmente se soltasse. - Cara, o que você pensa que está fazendo?
Eu não sei o que aconteceu exatamente, mas quando abri os olhos, Matteo já estava a caminho da saída. Então pude olhar para o homem de pé à minha frente. Ele era alto, os cabelos loiros desalinhados jogado para trás, uma barba curta muito bem cuidada. Seus olhos azuis pareciam genuinamente preocupados.
- Você está bem? - perguntou pegando minha mão delicadamente para ver meu pulso.
- Eu… - não sabia como me sentir naquele momento. - preciso beber mais um pouco. - olhei para o bar e as peças do que acabara de acontecer começou a se encaixar na minha cabeça. - Obrigada por me ajudar.
- Fico feliz em ter aparecido na hora certa. - o sorriso dele acabou me sendo muito reconfortante. - Vem, eu te pago uma rodada.
Eu pensei em negar, mas não queria ainda mais drama naquela noite. Seja com Manon me interrogando, ou com a chance de dar de cara com o Matteo. Vou terminar de aproveitar a minha noite e, com alguma sorte, enfrentar essas coisas mais bêbada do que eu estou no momento.
Eu e o meu salvador desconhecido sentamos juntos no bar e conversamos por um bom tempo. Mais alguns drinks depois e eu já me sentia muito melhor. Não conversamos muito sobre nossa vida pessoal. Muito nobre da parte dele não tocar no assunto que gerou toda a confusão do seu resgate. Ele era inteligente e bem humorado. Podia ser um pouco a bebida, mas ele deixou meu riso frouxo. Minhas bochechas até doíam um pouco.
Ele me viu olhando para a pista de dança e me chamou para irmos juntos. Eu me soltei, o que foi bom para extravasar, mas talvez tenha exagerado um pouco. Senti que precisava seduzi-lo um pouco com as batidas da música.
Então veio uma música mais lenta. Ficamos parados de frente um para o outro enquanto as pessoas ao redor diminuíram o ritmo. Alguns casais se abraçavam. Ele parecia esperar uma permissão, então peguei suas mãos e as coloquei na minha cintura. Eu coloquei meus braços em seus ombros. Abracei seu pescoço quando ele pousou a cabeça no meu ombro. Não dissemos nada.
Não sei quanto tempo ficamos assim, mas a música agitada já tinha voltado. Então eu o afastei. Seu rosto parecia pedir para que continuássemos.
- Eu preciso ir. - consegui dizer.
- Eu posso te levar para casa. - ofereceu.
- Eu não quero ir para casa. - não consegui esconder minha preocupação em voltar.
- Se quiser… - ele hesitou, como se não soubesse como expressar o que estava pensando. - eu posso te levar para a minha.
- Tudo bem. - não sei se era a bebida falando, mas eu simplesmente quis.
Ele sorriu. Como aquele sorriso era lindo.
Pegamos um táxi e seguimos conversando. Acabei contando toda a trajetória da minha carreira durante o percurso.
- É o que eu sempre quis fazer e tudo tem dado certo. - eu sempre achava que colocava entusiasmo demais nisso, mas não conseguia evitar.
- Isso é muito bom. A maioria das pessoas não tem esse tipo de determinação. - ele pareceu cabisbaixo ao falar isso.
- E você? O que faz?
- Digamos que eu estou na fila para assumir os negócios da família. - ele parecia chateado e evasivo, então não insisti na conversa.
Chegamos à uma casa muito bonita. Tinha um estilo antiquado muito elegante. Mas não consegui ver muitos detalhes, pois fomos direto para o quarto. Finalmente eu estava me sentindo despreocupada. Sem pensar muito, sentei na cama. Ele sentou ao meu lado. Como ele não parecia ter a iniciativa, inclinei-me e o beijei.
Ele segurou meu rosto e retribuiu. Começou a ficar mais intenso e eu me coloquei no seu colo.
- Sabe… - ele tentava dizer entre os beijos - Eu nunca fiz… isso antes… - eu parei de beijá-lo esperando ele concluir o que ia dizer - Com alguém que eu acabei de conhecer.
Não pude deixar de sorrir diante disso. De certa forma era fofo ele querer se explicar.
- Você quer que eu pare?
- De jeito nenhum.
- Parece tão certo, né?
Ele me abraçou ainda mais, e pude sentir sua mão explorando me explorando. Sentir o corpo dele me desejando fazia com que eu quisesse aquilo ainda mais. Ele nos virou e me deitou na cama. Tirou cada peça da minha roupa e se despiu. Ele era gentil com os lábios e apaixonado com o corpo. Seu suor começou a se misturar com o meu. Eu estava entregue aos prazeres que ele me oferecia. No fim eu estava sem fôlego. Me aconcheguei sobre seu peito que ainda arfava. Adormeci em seus braços, que me proporcionaram uma sensação de conforto e segurança.
Escuto meu celular tocando o despertador e eu logo aperto a soneca. Um flash da noite anterior volta aos meus pensamentos e eu me viro para abraçá-lo novamente, mas ele não estava mais ali. Havia apenas um bilhete em cima do travesseiro onde ele repousava a cabeça anteriormente.
“Tive que sair. Eu sinto muito. R.A.”
Ele saiu sem dizer nada? Eu não podia acreditar que cheguei a cogitar que ele fosse um verdadeiro cavalheiro. Que idiota! Todo aquele papo educado… Vesti minhas roupas e sai, deixando a casa como estava. Chamei um táxi e voltei para o hotel me sentindo a pessoa mais iludida do mundo.
E eu nem sabia o nome dele…
Para o meu alívio, os dias que se seguiram ao festival foram intensos e cheios de tarefas ininterruptas. Estava indo tudo tão bem, que iríamos precisar de ingredientes extras para o último dia, pois pediram muito mais dos confeitos que fazíamos. Infelizmente, Serena Whitmore não apareceu na minha cozinha. Não sabia se era por conta de suas atividades ou se era pela cena que havia acontecido entre mim e o Matteo. Esperava que ela pelo menos cogitasse experimentar diretamente do salão. Manon tentava me animar constantemente, dizendo o sucesso que estávamos fazendo. Meu nome como Chef poderia estar se espalhando e isso poderia trazer resultados muito positivos para minha carreira e meu restaurante, no futuro. E era tudo no que eu precisava pensar, mas não funcionava tão bem assim dentro da minha cabeça. Todas as vezes que eu fechava os olhos, a sigla R.A. vinha a minha mente, junto com os olhos sedutores daquele homem desconhecido. Eu tentava balançar a cabeça para dispersar os pensamen
Já haviam se passado dois meses desde o festival em Londres. E com ele, todo o drama romântico que estava incluído. Felizmente precisei trabalhar bastante nesse período, então estive ocupada o suficiente para não perceber que o tempo passara tão depressa. Ao menos isso aconteceu melhor do que eu esperava. Graças aos bons frutos gerados dessa grande oportunidade que estavam sendo colhidos. Então mesmo que eu tenha saído com o coração partido, estava sendo fácil seguir em frente. Minha participação no festival fez com que grandes críticos e outros colegas da área me procurassem, então a popularidade do meu trabalho e do meu restaurante cresceu e eu precisava focar na minha carreira mais do que nunca. Na última semana, as lembranças ruins daquele evento nem apareciam mais, já que eu estava sempre ocupada. Contratei mais pessoas, coloquei Manon como chefe de cozinha e eu pude focar apenas na minha especialidade. Estávamos sempre combinando nossos pratos, para que as sobremesas fossem o áp
O primeiro trimestre da gravidez estava terminando. Minha ficha havia caído oficialmente na consulta com minha obstetra. Ouvir o coração do bebê foi como uma virada de chave na minha mente. Ter outra vida dentro de mim era um peso muito grande. E mesmo sabendo que poderia ser apenas os meus hormônios mexendo com meu corpo, eu estava muito feliz e empolgada em ter um filho. Havia se tornado um hábito levar a mão à minha barriga para tentar sentir alguma coisa.E mesmo assim eu não queria pensar tão a fundo sobre o futuro. Haviam muitas decisões e escolhas que estavam longe de chegar e eu precisava seguir um passo de cada vez. Os enjoos já estavam passando, e contanto que eu não carregasse nenhum peso e me alimentar decentemente, eu poderia continuar trabalhando. Manon estava me apoiando muito nisso. Puxando a minha orelha talvez fosse mais preciso. Ela parecia estar doida para dar uma de titia. Era bom saber que eu ia ter alguma rede de apoio. Minha mãe faleceu quando eu era adolescente
O voo tinha sido tranquilo. Eu dormi praticamente todo o trajeto. Depois que fiquei grávida, conseguia dormir muito facilmente em qualquer lugar que fosse possível. Ainda estava sonolenta quando desci do avião e me dirigi para a área de desembarque. Dirigia-me à esteira de bagagens para pegar minha mala quando esbarrei em alguém que vinha em minha direção. Agora desperta, virei-me para me desculpar com um homem de boné e máscara. Ele estava de cabeça baixa e parecia estar com pressa. Não me respondeu, virou o rosto e fez com que ia seguir caminho. Por um impulso involuntário, eu o segurei e o puxei pelo braço. Então ele me olhou diretamente sem entender o que estava acontecendo.Imediatamente eu perdi o fôlego. Era ele. A máscara atrapalhava a ver o seu rosto. Só era possível ver os olhos azuis inquisitivos com a situação. Mesmo assim eu tive a certeza de que era o pai do meu bebê. Ele não pareceu me reconhecer e puxou o braço de volta. Ele se virou e tentou seguir seu caminho ainda ma
Não queria admitir para mim mesma que fiquei abalada com todo o acontecimento no aeroporto. Mesmo aceitando que o pior já havia passado, que era encontrá-lo e dizer sobre a gravidez, ter deixado as coisas indefinidas com o Ryan deixou tudo mais angustiante, mesmo que toda a questão precisasse depender se ele faria ou não alguma coisa. E tudo isso junto com a possibilidade de perder uma grande chance da minha carreira parecia demais para mim. Decidi tomar um banho. Precisava tentar me manter calma para que minha pressão não subisse e fizesse mal para o bebê. E por mais que eu tenha conseguido amenizar os meus pensamentos sobre isso, toda minha calma não poderia durar muito tempo. Meu celular apitou com a notificação de uma mensagem. Era Matteo. Com todo o drama, e como eu só me comuniquei com a assistente desde o recado dele, havia me esquecido completamente que eu o encontraria novamente. E que provavelmente iremos trabalhar juntos. Meu estômago revirou. Não quis arriscar e tomei logo
Eu, a chef Whitmore e os outros chefes passamos horas replanejando as novas mudanças. Da minha parte, a futura noiva fez a exigência um bolo de ameixa negra com rum envelhecido. Parecia muito alarde para uma sobremesa que não iria combinar em nada com a ocasião. Pelo breve momento em que estivera com ela, parecia ser um simples desejo em dificultar as coisas para todo mundo. Esse era o murmurinho que vinha de todos os outros colaboradores. Todos estavam correndo para atender às novas exigências. Graças ao meu pequeno sucesso no festival e toda a reputação que eu estava construindo me deu uma chance com o grande problema que havíamos que resolver para o banquete. Eu conhecia ótimas fazendas de ameixa na Itália e felizmente uma delas produzia compotas de ameixas negras com rum com uma ótima reputação a zelar. Graças a um orçamento um pouco ilimitado, esse seria meu único meio para conseguir atender às novas exigências, visto que, se não fosse desse jeito, levaria meses para que eu conse
Minha visão ainda estava turva quando acordei. Senti meu corpo recostado em uma cama. Esfreguei os olhos e comecei a ver mais detalhes. Havia um pacote de soro pendurado e ligado a um curativo na minha mão esquerda. Já conseguia entender que eu estava em um hospital. Manon estava deitada torta em uma poltrona perto de uma janela mexendo no seu celular, mas veio depressa para perto quando me ouviu acordar. - Que bom que está bem! - Manon sorria aliviada - Você me deixou muito assustada. - O que aconteceu? - eu ainda não entendia porque eu estava ali. - Você desmaiou. No meio do banquete. Ainda bem que eu estava lá! - ela apertou minha mão forte - Chamamos uma ambulância e viemos para o hospital. Sua pressão estava muito alta e por isso você desmaiou. Manon havia me explicado que o médico preferiu me manter internada por um tempo para acompanhar minha pressão. Pelo menos até os resultados dos exames. Era um risco muito grande para o bebê. Por isso, era preciso averiguar se foi um cas
Felizmente eu não precisaria passar mais um dia no hospital. Meus exames estavam bons e meu bebê parecia bem. Minha pressão ficou estável mesmo com as tensas visitas. O médico tinha feito algumas recomendações para que eu evitasse o estresse e o trabalho por alguns dias e que eu consultasse minha médica o mais rápido possível. Entretanto, recomendou também que eu não fizesse a viagem de volta por enquanto. Manon não quis aceitar muito bem ter que voltar sem mim. Mas a fiz entender que o restaurante não ia sobreviver tantos dias sem uma de nós duas. E eu prometi repetidamente mantê-la informada sobre tudo o que acontecesse, principalmente com o Ryan. Como eu tinha minhas economias, tentaria levar as coisas como um tipo de férias forçada. Eu também não ia ficar satisfeita em ir embora sem resolver tudo com o príncipe. E pensar nele com o título ainda me deixava intrigada. Por mim eu continuaria no hotel, mas Matteo me convenceu a ficar no apartamento dele. Ele estaria fora na próxima se