Minha visão ainda estava turva quando acordei. Senti meu corpo recostado em uma cama. Esfreguei os olhos e comecei a ver mais detalhes. Havia um pacote de soro pendurado e ligado a um curativo na minha mão esquerda. Já conseguia entender que eu estava em um hospital. Manon estava deitada torta em uma poltrona perto de uma janela mexendo no seu celular, mas veio depressa para perto quando me ouviu acordar. - Que bom que está bem! - Manon sorria aliviada - Você me deixou muito assustada. - O que aconteceu? - eu ainda não entendia porque eu estava ali. - Você desmaiou. No meio do banquete. Ainda bem que eu estava lá! - ela apertou minha mão forte - Chamamos uma ambulância e viemos para o hospital. Sua pressão estava muito alta e por isso você desmaiou. Manon havia me explicado que o médico preferiu me manter internada por um tempo para acompanhar minha pressão. Pelo menos até os resultados dos exames. Era um risco muito grande para o bebê. Por isso, era preciso averiguar se foi um cas
Felizmente eu não precisaria passar mais um dia no hospital. Meus exames estavam bons e meu bebê parecia bem. Minha pressão ficou estável mesmo com as tensas visitas. O médico tinha feito algumas recomendações para que eu evitasse o estresse e o trabalho por alguns dias e que eu consultasse minha médica o mais rápido possível. Entretanto, recomendou também que eu não fizesse a viagem de volta por enquanto. Manon não quis aceitar muito bem ter que voltar sem mim. Mas a fiz entender que o restaurante não ia sobreviver tantos dias sem uma de nós duas. E eu prometi repetidamente mantê-la informada sobre tudo o que acontecesse, principalmente com o Ryan. Como eu tinha minhas economias, tentaria levar as coisas como um tipo de férias forçada. Eu também não ia ficar satisfeita em ir embora sem resolver tudo com o príncipe. E pensar nele com o título ainda me deixava intrigada. Por mim eu continuaria no hotel, mas Matteo me convenceu a ficar no apartamento dele. Ele estaria fora na próxima se
Eu pude ouvir o barulho da cadeira se arrastando enquanto o Ryan se levantava abruptamente da mesa de jantar. Ele logo apareceu ao meu lado, tão incrédulo quanto eu estava. Mesmo assim ele fez uma reverência e eu acabei por imitá-lo. A rainha, esguia e com uma postura ereta que transmitia confiança e autoridade, esperava na porta. Ela questionou se não seria convidada a entrar, e eu fiz um gesto convidativo. Seu rosto, marcado pelos anos de experiência, exibia linhas suaves e traços aristocráticos. Seus olhos eram do mesmo azul profundo dos de Ryan. Os cabelos loiros salpicados de prata, estavam impecavelmente ajeitados em um elegante penteado preso. Vestida com um conjunto azul sob medida, jóias extravagantes e uma fina coroa refletia sua posição. A voz da rainha era suave e melodiosa, mas não escondia seu descontentamento. Ela estava acompanhada de um homem de meia idade, com um olhar sério e vestido em um terno preto. Parecia ser como um assistente, ou segurança. Ela entrou enquan
Já havia se passado quase uma semana desde o meu encontro com a rainha. Eu ainda não tinha tido coragem de sair do apartamento. Ficava a maior parte do dia deitada, fingindo estar de repouso, quando na verdade era por estar completamente desanimada. Não era fácil processar tudo o que estava acontecendo. Parecia que minha vida estava perdendo o rumo sem que eu pudesse controlar nada. Depois do encontro com a rainha, tudo começou a parecer ainda mais complexo. Queria poder dizer que eu superaria tudo e que não ia me importar com o que fosse acontecer, mas a verdade era que tudo me preocupava, principalmente o bem estar do bebê. Ryan tentava manter contato comigo pelo telefone. Ele dizia que preferia não arriscar me expor vindo me encontrar. A princípio eu achei tudo um grande exagero, como se ele estivesse dando apenas uma desculpa. Entretanto, uma rápida pesquisa na internet sobre a família dele já era possível entender o quanto de atenção eles podiam chamar, por qualquer coisa. Ele di
O vestido tinha um ótimo caimento. Meu colo exposto no decote canoa e o evasê se estendia desde a cintura. Eu já podia ver as mudanças no meu corpo. Meus seios estavam um pouco maiores e, por vezes, doloridos. Também era possível ver uma leve protuberância no meu abdômen, que o vestido conseguia disfarçar. Mesmo assim eu me sentia bonita. Assim que eu havia colocado meus brincos, meu celular apitou com uma mensagem. Ryan havia chegado pontualmente às 19h. Quando eu mandei uma mensagem mais cedo agradecendo o presente, havia combinado os detalhes do encontro. Um encontro só pelo fato de que nos encontraríamos, certo? Mas o vestido era um presente dele, um lembrete constante de suas intenções. Eu tinha deixado de lado o pensamento de sua oferta de casamento até então. A ideia de me tornar parte da família real era, no mínimo, assustadora. De qualquer modo, precisaríamos conversar e, talvez, até conviver. Entretanto, frequentemente me parecia um bom plano fugir e desaparecer. Eu me despe
Muitos pensamentos e sentimentos estavam embaralhados na minha mente. Depois da intensa conversa com Ryan, minha mente não conseguia se acalmar. A claridade do amanhecer já entrava no meu quarto, e eu ainda não tinha conseguido dormir. Havia muitas ponderações a considerar, mas quanto mais eu pensava, mais encurralada eu me sentia. Decidi me trocar e fazer a única coisa que conseguiria me distrair naquele momento. Cozinhar sempre deixou minha mente clara e focada. O aroma dos ingredientes se misturando me dava uma sensação de controle em meio ao caos interno. O café da manhã seria um pouco mais exagerado do que o necessário.Comecei a fazer tudo o que via como possível enquanto abria os armários e a geladeira. Havia um bolo assando, pães na torradeira e panquecas e ovos mexidos prontos. Talvez eu devesse fazer uma calda de chocolate. Eu estava lavando algumas uvas e morangos quando ouvi a porta do quarto do Matteo se abrir, mas ele tinha ido direto para o banheiro. Eu estava terminand
Eu ainda não entendia como aquilo podia ter acontecido. Eu ainda estava envolvida em seus braços, mas agora Matteo dormia profundamente. A paixão e o desejo deram lugar apenas ao arrependimento e a culpa. Eu fui ingênua em esperar que tudo pudesse se resolver com a despreocupação de um passado nostálgico e novas promessas. Era muito prematuro falarmos de amor e de futuro quando eu não estava mais certa sobre meus sentimentos. Quando nos conhecemos, Matteo deixou claro que nunca iria criar raízes, mas eu o encontrei noivo há pouco tempo. Agora ele dizia que me amava e fazia promessas que eu queria e precisava ouvir. Eu queria muito acreditar, mas eu sentia profundamente que não devia. Desvencilhei-me cuidadosamente para não acordá-lo. Quando consegui sair da cama, fui direto para o banheiro. Via meu reflexo no espelho esperando não fazer parte dessa realidade. Eu estava deixando minha história ainda mais emaranhada em problemas. Eu estava arrumando a cozinha quando Matteo chegou, me ab
Eu já estava acordada muito antes do meu celular tocar com o despertador. Aproveitei o tempo para fazer uma meditação rápida, me alongar para aliviar a tensão nos músculos, e preparar um café da manhã saudável. Me sentia mais disposta e centrada depois de uma noite agitada de pensamentos. Já haviam se passado dois dias e Matteo ainda não tinha voltado para casa. Demorei um pouco, mas aceitei que isso não era um problema meu. Mesmo assim, a ausência de Matteo deixava um incômodo. Eu me perguntava se ele estava bem, se voltaria e, principalmente, se conseguiríamos resolver nossas diferenças. A culpa de tê-lo afastado se misturava com a raiva por ele não ter tentado mais. Mesmo que a princípio eu estivesse me sentindo culpada por rejeitá-lo de certo modo, ele foi quem havia decidido ir embora em vez de conversar e decidir as coisas de uma maneira mais sensata. Ou de pelo menos escutar e entender o meu lado. Ryan ficou responsável por acertar os detalhes com meu novo médico. Provavelmente