Olhei para o relógio que marcava as três da madrugada. Mesmo assim o aeroporto estava bem movimentado. Manon estava sonolenta e emburrada. Revirando os olhos sempre que me pegava sorrindo entusiasmada. Mas eu não podia (e nem queria) me conter. Eu finalmente iria a Londres para participar de um grande festival gastronômico. E o mais surreal de tudo, é que poderia ter a chance de conhecer Serena Whitmore, uma das maiores chefs da Europa. Se não fosse pela Manon eu estaria saltitando e abraçando a todos estes desconhecidos ao meu redor. Ainda bem que minha melhor amiga está comigo.- Como consegue ficar tão despreocupada? - perguntou - É a chance dos seus sonhos. Ela tinha razão. Era a oportunidade que mudaria toda a minha carreira. Havia muita pressão sobre este evento que poderia mudar toda a minha vida.- E quem disse que eu não estou nervosa? - respondi francamente - Eu posso não conhecer a Serena, ou pior: - pausei para enfatizar a gravidade da situação - ela pode odiar minha comid
O festival iria começar em dois dias, então hoje eu já pude ter acesso a cozinha que me foi designada. Eu e Manon estávamos conferindo os ingredientes, os utensílios e os equipamentos. Eles enviaram uma lista do que estaria disponível, juntamente com um formulário de solicitação para equipamentos extras, caso julgássemos necessário. Parecia tudo em ordem e completo. Eu me formei em gastronomia quando tinha 24 anos. Consegui dois bons restaurantes para começar a trabalhar. Meu trabalho noturno era em uma enoteca, um lugar de apreciação de vinhos que serve pratos dos mais variados tipos para combinar com a bebida. Então havia muitos chefs com que aprender todo tipo de coisa. Durante o dia era num Bistrô duas estrelas que tinha um bom renome na cidade. E foi lá que eu descobri minha paixão pela pastelaria. Chef Marco era um verdadeiro artista, mas, devido à idade, ele decidiu vender o lugar, então tive que deixar o trabalho. Estudei mais alguns anos e me tornei mestre em pastelaria. Tam
Eu não voltei para o meu quarto. Eu estava tão constrangida, que não queria encarar a Manon e contar desse desastre. Eu queria não ter escutado tão bem as últimas palavras que ele disse. Queria pensar que talvez estivesse enganada. Ele está noivo! E eu ia pra cama com ele. Ele correspondeu mais cedo, não disse nada. Ele me chamou para o quarto dele, certo? Não sou eu que estou errada. Não sabia o que pensar…Mais e mais desses pensamentos de culpa e autopiedade embrulhavam minha mente e meu estômago. Comecei a questionar nosso passado, mas se continuasse, poderia enlouquecer. Chamei um táxi e pedi para que me levasse a um bar qualquer. Meu celular começou a vibrar. Era uma mensagem dele: “Onde você está? Eu posso explicar. Por favor!”.Eu o ignorei. Pensei em bloquear seu número, mas antes que eu o pudesse fazer, recebi uma mensagem da Manon preocupada, porque ele tinha ido ao nosso quarto me procurar. Maron: “Tudo bem com você? Onde foi?”Eu: “Estou indo beber, preciso espairecer. De
Para o meu alívio, os dias que se seguiram ao festival foram intensos e cheios de tarefas ininterruptas. Estava indo tudo tão bem, que iríamos precisar de ingredientes extras para o último dia, pois pediram muito mais dos confeitos que fazíamos. Infelizmente, Serena Whitmore não apareceu na minha cozinha. Não sabia se era por conta de suas atividades ou se era pela cena que havia acontecido entre mim e o Matteo. Esperava que ela pelo menos cogitasse experimentar diretamente do salão. Manon tentava me animar constantemente, dizendo o sucesso que estávamos fazendo. Meu nome como Chef poderia estar se espalhando e isso poderia trazer resultados muito positivos para minha carreira e meu restaurante, no futuro. E era tudo no que eu precisava pensar, mas não funcionava tão bem assim dentro da minha cabeça. Todas as vezes que eu fechava os olhos, a sigla R.A. vinha a minha mente, junto com os olhos sedutores daquele homem desconhecido. Eu tentava balançar a cabeça para dispersar os pensamen
Já haviam se passado dois meses desde o festival em Londres. E com ele, todo o drama romântico que estava incluído. Felizmente precisei trabalhar bastante nesse período, então estive ocupada o suficiente para não perceber que o tempo passara tão depressa. Ao menos isso aconteceu melhor do que eu esperava. Graças aos bons frutos gerados dessa grande oportunidade que estavam sendo colhidos. Então mesmo que eu tenha saído com o coração partido, estava sendo fácil seguir em frente. Minha participação no festival fez com que grandes críticos e outros colegas da área me procurassem, então a popularidade do meu trabalho e do meu restaurante cresceu e eu precisava focar na minha carreira mais do que nunca. Na última semana, as lembranças ruins daquele evento nem apareciam mais, já que eu estava sempre ocupada. Contratei mais pessoas, coloquei Manon como chefe de cozinha e eu pude focar apenas na minha especialidade. Estávamos sempre combinando nossos pratos, para que as sobremesas fossem o áp
O primeiro trimestre da gravidez estava terminando. Minha ficha havia caído oficialmente na consulta com minha obstetra. Ouvir o coração do bebê foi como uma virada de chave na minha mente. Ter outra vida dentro de mim era um peso muito grande. E mesmo sabendo que poderia ser apenas os meus hormônios mexendo com meu corpo, eu estava muito feliz e empolgada em ter um filho. Havia se tornado um hábito levar a mão à minha barriga para tentar sentir alguma coisa.E mesmo assim eu não queria pensar tão a fundo sobre o futuro. Haviam muitas decisões e escolhas que estavam longe de chegar e eu precisava seguir um passo de cada vez. Os enjoos já estavam passando, e contanto que eu não carregasse nenhum peso e me alimentar decentemente, eu poderia continuar trabalhando. Manon estava me apoiando muito nisso. Puxando a minha orelha talvez fosse mais preciso. Ela parecia estar doida para dar uma de titia. Era bom saber que eu ia ter alguma rede de apoio. Minha mãe faleceu quando eu era adolescente
O voo tinha sido tranquilo. Eu dormi praticamente todo o trajeto. Depois que fiquei grávida, conseguia dormir muito facilmente em qualquer lugar que fosse possível. Ainda estava sonolenta quando desci do avião e me dirigi para a área de desembarque. Dirigia-me à esteira de bagagens para pegar minha mala quando esbarrei em alguém que vinha em minha direção. Agora desperta, virei-me para me desculpar com um homem de boné e máscara. Ele estava de cabeça baixa e parecia estar com pressa. Não me respondeu, virou o rosto e fez com que ia seguir caminho. Por um impulso involuntário, eu o segurei e o puxei pelo braço. Então ele me olhou diretamente sem entender o que estava acontecendo.Imediatamente eu perdi o fôlego. Era ele. A máscara atrapalhava a ver o seu rosto. Só era possível ver os olhos azuis inquisitivos com a situação. Mesmo assim eu tive a certeza de que era o pai do meu bebê. Ele não pareceu me reconhecer e puxou o braço de volta. Ele se virou e tentou seguir seu caminho ainda ma
Não queria admitir para mim mesma que fiquei abalada com todo o acontecimento no aeroporto. Mesmo aceitando que o pior já havia passado, que era encontrá-lo e dizer sobre a gravidez, ter deixado as coisas indefinidas com o Ryan deixou tudo mais angustiante, mesmo que toda a questão precisasse depender se ele faria ou não alguma coisa. E tudo isso junto com a possibilidade de perder uma grande chance da minha carreira parecia demais para mim. Decidi tomar um banho. Precisava tentar me manter calma para que minha pressão não subisse e fizesse mal para o bebê. E por mais que eu tenha conseguido amenizar os meus pensamentos sobre isso, toda minha calma não poderia durar muito tempo. Meu celular apitou com a notificação de uma mensagem. Era Matteo. Com todo o drama, e como eu só me comuniquei com a assistente desde o recado dele, havia me esquecido completamente que eu o encontraria novamente. E que provavelmente iremos trabalhar juntos. Meu estômago revirou. Não quis arriscar e tomei logo