Já haviam se passado dois meses desde o festival em Londres. E com ele, todo o drama romântico que estava incluído. Felizmente precisei trabalhar bastante nesse período, então estive ocupada o suficiente para não perceber que o tempo passara tão depressa. Ao menos isso aconteceu melhor do que eu esperava. Graças aos bons frutos gerados dessa grande oportunidade que estavam sendo colhidos. Então mesmo que eu tenha saído com o coração partido, estava sendo fácil seguir em frente. Minha participação no festival fez com que grandes críticos e outros colegas da área me procurassem, então a popularidade do meu trabalho e do meu restaurante cresceu e eu precisava focar na minha carreira mais do que nunca.
Na última semana, as lembranças ruins daquele evento nem apareciam mais, já que eu estava sempre ocupada. Contratei mais pessoas, coloquei Manon como chefe de cozinha e eu pude focar apenas na minha especialidade. Estávamos sempre combinando nossos pratos, para que as sobremesas fossem o ápice da refeição. Mesmo assim, era bom dar uma boa oportunidade para que minha amiga pudesse assumir e eventualmente se destacar. Ela teria bastante experiência no futuro, caso escolhesse seguir sem mim, algum dia. E isso poderia acontecer a qualquer momento, pois os críticos apareciam constantemente. Se continuássemos a manter a nossa reputação, poderíamos levar nosso restaurante a conquistar a segunda estrela.
Mas hoje, eu havia acordado com uma indisposição inexplicável. Tentei levantar da cama, mas deixei minha cabeça cair no travesseiro frustrada com a tentativa. Todo meu corpo parecia exausto. Era praticamente impossível levantar da cama com o meu corpo naquele estado. Mas eu não podia ser nenhum pouco relapsa com algumas coisas agora. Tudo tinha começado a fluir e crescer, então era hora de trabalhar ainda mais para manter os resultados que eu tanto sonhava. Com muito esforço, me levantei da cama e preparei um bom café da manhã. Precisava admitir para mim mesma que não estava tão focada no meu bem estar ultimamente. Bati um pouco de morango congelado com leite, piquei outras frutas e misturei com um pouco de mel e granola. Por algum motivo, eu parecia estar sentindo os gostos errados. Mesmo assim, precisava comer e me arrumar, então praticamente só engoli o amontoado de frutas. Enquanto estava no banho, tudo pareceu revirar dentro do meu estômago. Molhei todo o banheiro na tentativa de vomitar dentro do vaso sanitário. E mesmo depois de sentir que não havia mais nada para sair, meu corpo parecia querer tirar até as refeições que eu nem tinha comido ainda.
Não conseguia raciocinar direito, nem sabia quanto tempo fiquei sentada estática no chão do banheiro. Quando despertei por alguns minutos, consegui pegar o celular e ligar para Manon. Expliquei a ela a situação de como eu estava me sentindo e de que iria procurar um médico.
- Tudo bem amiga. - ela deu uma risadinha do outro lado que eu não gostei nenhum pouco. Era sempre um risco quando a cozinheira estava doente, então não era algo para ser engraçado - Quer que eu te leve? Já estava saindo de casa.
- Eu posso pegar um táxi.
- Deixa disso, em uns 15 minutos eu chego ai. Consegue se arrumar?
Eu confirmei com ela e terminei meu banho. Meu estômago ainda se revertia para qualquer coisa. Consegui vestir uma calça e uma blusa qualquer. Peguei minha carteira e celular para descer as escadas. Precisei segurar firme no corrimão para que eu não caísse. Precisei me concentrar para me manter equilibrada, pois eu só conseguia sentir meu corpo pedindo para vomitar outra vez.
Quando cheguei ao térreo, Manon estava entrando no prédio. Ela não deixou de observar que eu estava muito pálida. Ela tinha uma expressão preocupada. Provavelmente mais do que durante a ligação. Ela me ajudou a ir até o seu carro. Não conversamos durante o percurso. Ainda estava concentrada em tentar manter meu enjoo controlado.
Tive que esperar um pouco no pronto socorro, pois mesmo me sentindo péssima, na triagem meu estado não foi considerado uma emergência. Por algum motivo, o cheiro do lugar era estranhamente confortável, então eu senti uma melhora considerável. Depois de vários minutos, a recepcionista me indicou o consultório do médico. Não me lembro do seu rosto, apenas da voz que começou a fazer uma série de perguntas do meu histórico médico. Ele mediu meus batimentos e minha pressão. Pediu que eu respirasse fundo várias vezes. Quando eu terminei de contar como eu estava me sentindo, ele parecia saber imediatamente o que estava acontecendo comigo.
- A senhora teve relações sexuais nos últimos três meses? - ele perguntava sério, mas tudo que eu pensava era no absurdo que era esse questionamento. Então eu lembrei.
- Sim. - eu hesitei e de alguma forma senti que era preciso me justificar - Mas… - ele não deixou eu terminar de falar.
- A senhora já fez um teste de gravidez?
Senti o mundo todo girar à minha volta, e tudo o que não estava no meu estômago estava querendo sair novamente. Eu tentei puxar na memória como havia sido a noite com o homem desconhecido. Fazia meses desde que estive com alguém, até ficar com o homem de quem eu sabia apenas as iniciais. E depois disso estava focando apenas na carreira. Não tem como outra pessoa ser o pai do bebê. Não tinha certeza se havíamos usado proteção. Mas se tivéssemos usado, sempre pode acontecer esse tipo de acidente. E será que eu precisava me preocupar com mais alguma coisa? Alguma doença ou… sei lá! Como eu pude ser tão louca a esse ponto?
- Senhora Ferretti? - o médico me fez despertar do meu devaneio.
- Não fiz. Não tinha cogitado isso até o senhor falar. - tentei não transparecer muito meu desespero.
- Então vou pedir um exame de sangue completo, assim poderemos ter certeza e conferir como você está além disso, tudo bem?
Eu acenei com a cabeça e acompanhei uma enfermeira até a sala de exames. Ela me preparou e um médico veio fazer a coleta do meu sangue. Manon me mandou uma mensagem preocupada por conta da demora, e expliquei que o médico havia pedido para eu aguardar o resultado do exame de sangue. Disse que ela poderia ir, mas ela insistiu em me esperar. Já tinha se passado quase uma hora até que o médico me chamou novamente ao consultório.
- Seus exames estão dentro dos padrões e, como mencionei a possibilidade antes, o exame deu positivo para beta hCG. - ele deu uma pausa que pareceu uma longa eternidade, esperando que eu tivesse entendido o que aquilo significava, então ele esclareceu - Você está grávida.
Meu peito pareceu parar por muito tempo. O médico começou a fazer algumas recomendações. Me passou um remédio para ajudar no meu enjoo e algumas vitaminas. Pediu que eu procurasse a minha ginecologista. Era tudo o que eu conseguia lembrar. Agradeci a ele e saí pensando em tudo o que iria mudar dali em diante.
Manon se levantou assim que eu apareci na porta que voltava para a recepção. Ela parecia mais animada do que preocupada.
- E ai? Você está bem?
- Talvez eu fique. - eu ainda não estava acreditando em tudo o que aconteceu, mas aceitando ou não, era um fato que… - Eu estou grávida.
- Eu sabia! - disse ela sorrindo, mas eu a olhei querendo saber como - Você começou a ficar chata com cheiros, começou a sentir sonolenta antes mesmo de anoitecer e agora começou a ficar enjoada de manhã.
- Mas estamos trabalhando tanto, nunca que eu imaginaria estar grávida.
- É difícil perceber em si próprio. - ela me segurou pelo braço para irmos embora e tentou chegar mais perto para sussurrar - Agora me conta, se engraçou com quem esses dias que não me contou?
- Com ninguém.
Manon me olhou com uma expressão confusa, mas logo ela entendeu o que aquilo significava.
- Não me diga que… - ela nem terminou de falar.
- Sim. Estou grávida do R.A.
O primeiro trimestre da gravidez estava terminando. Minha ficha havia caído oficialmente na consulta com minha obstetra. Ouvir o coração do bebê foi como uma virada de chave na minha mente. Ter outra vida dentro de mim era um peso muito grande. E mesmo sabendo que poderia ser apenas os meus hormônios mexendo com meu corpo, eu estava muito feliz e empolgada em ter um filho. Havia se tornado um hábito levar a mão à minha barriga para tentar sentir alguma coisa.E mesmo assim eu não queria pensar tão a fundo sobre o futuro. Haviam muitas decisões e escolhas que estavam longe de chegar e eu precisava seguir um passo de cada vez. Os enjoos já estavam passando, e contanto que eu não carregasse nenhum peso e me alimentar decentemente, eu poderia continuar trabalhando. Manon estava me apoiando muito nisso. Puxando a minha orelha talvez fosse mais preciso. Ela parecia estar doida para dar uma de titia. Era bom saber que eu ia ter alguma rede de apoio. Minha mãe faleceu quando eu era adolescente
O voo tinha sido tranquilo. Eu dormi praticamente todo o trajeto. Depois que fiquei grávida, conseguia dormir muito facilmente em qualquer lugar que fosse possível. Ainda estava sonolenta quando desci do avião e me dirigi para a área de desembarque. Dirigia-me à esteira de bagagens para pegar minha mala quando esbarrei em alguém que vinha em minha direção. Agora desperta, virei-me para me desculpar com um homem de boné e máscara. Ele estava de cabeça baixa e parecia estar com pressa. Não me respondeu, virou o rosto e fez com que ia seguir caminho. Por um impulso involuntário, eu o segurei e o puxei pelo braço. Então ele me olhou diretamente sem entender o que estava acontecendo.Imediatamente eu perdi o fôlego. Era ele. A máscara atrapalhava a ver o seu rosto. Só era possível ver os olhos azuis inquisitivos com a situação. Mesmo assim eu tive a certeza de que era o pai do meu bebê. Ele não pareceu me reconhecer e puxou o braço de volta. Ele se virou e tentou seguir seu caminho ainda ma
Não queria admitir para mim mesma que fiquei abalada com todo o acontecimento no aeroporto. Mesmo aceitando que o pior já havia passado, que era encontrá-lo e dizer sobre a gravidez, ter deixado as coisas indefinidas com o Ryan deixou tudo mais angustiante, mesmo que toda a questão precisasse depender se ele faria ou não alguma coisa. E tudo isso junto com a possibilidade de perder uma grande chance da minha carreira parecia demais para mim. Decidi tomar um banho. Precisava tentar me manter calma para que minha pressão não subisse e fizesse mal para o bebê. E por mais que eu tenha conseguido amenizar os meus pensamentos sobre isso, toda minha calma não poderia durar muito tempo. Meu celular apitou com a notificação de uma mensagem. Era Matteo. Com todo o drama, e como eu só me comuniquei com a assistente desde o recado dele, havia me esquecido completamente que eu o encontraria novamente. E que provavelmente iremos trabalhar juntos. Meu estômago revirou. Não quis arriscar e tomei logo
Eu, a chef Whitmore e os outros chefes passamos horas replanejando as novas mudanças. Da minha parte, a futura noiva fez a exigência um bolo de ameixa negra com rum envelhecido. Parecia muito alarde para uma sobremesa que não iria combinar em nada com a ocasião. Pelo breve momento em que estivera com ela, parecia ser um simples desejo em dificultar as coisas para todo mundo. Esse era o murmurinho que vinha de todos os outros colaboradores. Todos estavam correndo para atender às novas exigências. Graças ao meu pequeno sucesso no festival e toda a reputação que eu estava construindo me deu uma chance com o grande problema que havíamos que resolver para o banquete. Eu conhecia ótimas fazendas de ameixa na Itália e felizmente uma delas produzia compotas de ameixas negras com rum com uma ótima reputação a zelar. Graças a um orçamento um pouco ilimitado, esse seria meu único meio para conseguir atender às novas exigências, visto que, se não fosse desse jeito, levaria meses para que eu conse
Minha visão ainda estava turva quando acordei. Senti meu corpo recostado em uma cama. Esfreguei os olhos e comecei a ver mais detalhes. Havia um pacote de soro pendurado e ligado a um curativo na minha mão esquerda. Já conseguia entender que eu estava em um hospital. Manon estava deitada torta em uma poltrona perto de uma janela mexendo no seu celular, mas veio depressa para perto quando me ouviu acordar. - Que bom que está bem! - Manon sorria aliviada - Você me deixou muito assustada. - O que aconteceu? - eu ainda não entendia porque eu estava ali. - Você desmaiou. No meio do banquete. Ainda bem que eu estava lá! - ela apertou minha mão forte - Chamamos uma ambulância e viemos para o hospital. Sua pressão estava muito alta e por isso você desmaiou. Manon havia me explicado que o médico preferiu me manter internada por um tempo para acompanhar minha pressão. Pelo menos até os resultados dos exames. Era um risco muito grande para o bebê. Por isso, era preciso averiguar se foi um cas
Felizmente eu não precisaria passar mais um dia no hospital. Meus exames estavam bons e meu bebê parecia bem. Minha pressão ficou estável mesmo com as tensas visitas. O médico tinha feito algumas recomendações para que eu evitasse o estresse e o trabalho por alguns dias e que eu consultasse minha médica o mais rápido possível. Entretanto, recomendou também que eu não fizesse a viagem de volta por enquanto. Manon não quis aceitar muito bem ter que voltar sem mim. Mas a fiz entender que o restaurante não ia sobreviver tantos dias sem uma de nós duas. E eu prometi repetidamente mantê-la informada sobre tudo o que acontecesse, principalmente com o Ryan. Como eu tinha minhas economias, tentaria levar as coisas como um tipo de férias forçada. Eu também não ia ficar satisfeita em ir embora sem resolver tudo com o príncipe. E pensar nele com o título ainda me deixava intrigada. Por mim eu continuaria no hotel, mas Matteo me convenceu a ficar no apartamento dele. Ele estaria fora na próxima se
Eu pude ouvir o barulho da cadeira se arrastando enquanto o Ryan se levantava abruptamente da mesa de jantar. Ele logo apareceu ao meu lado, tão incrédulo quanto eu estava. Mesmo assim ele fez uma reverência e eu acabei por imitá-lo. A rainha, esguia e com uma postura ereta que transmitia confiança e autoridade, esperava na porta. Ela questionou se não seria convidada a entrar, e eu fiz um gesto convidativo. Seu rosto, marcado pelos anos de experiência, exibia linhas suaves e traços aristocráticos. Seus olhos eram do mesmo azul profundo dos de Ryan. Os cabelos loiros salpicados de prata, estavam impecavelmente ajeitados em um elegante penteado preso. Vestida com um conjunto azul sob medida, jóias extravagantes e uma fina coroa refletia sua posição. A voz da rainha era suave e melodiosa, mas não escondia seu descontentamento. Ela estava acompanhada de um homem de meia idade, com um olhar sério e vestido em um terno preto. Parecia ser como um assistente, ou segurança. Ela entrou enquan
Já havia se passado quase uma semana desde o meu encontro com a rainha. Eu ainda não tinha tido coragem de sair do apartamento. Ficava a maior parte do dia deitada, fingindo estar de repouso, quando na verdade era por estar completamente desanimada. Não era fácil processar tudo o que estava acontecendo. Parecia que minha vida estava perdendo o rumo sem que eu pudesse controlar nada. Depois do encontro com a rainha, tudo começou a parecer ainda mais complexo. Queria poder dizer que eu superaria tudo e que não ia me importar com o que fosse acontecer, mas a verdade era que tudo me preocupava, principalmente o bem estar do bebê. Ryan tentava manter contato comigo pelo telefone. Ele dizia que preferia não arriscar me expor vindo me encontrar. A princípio eu achei tudo um grande exagero, como se ele estivesse dando apenas uma desculpa. Entretanto, uma rápida pesquisa na internet sobre a família dele já era possível entender o quanto de atenção eles podiam chamar, por qualquer coisa. Ele di