O voo tinha sido tranquilo. Eu dormi praticamente todo o trajeto. Depois que fiquei grávida, conseguia dormir muito facilmente em qualquer lugar que fosse possível. Ainda estava sonolenta quando desci do avião e me dirigi para a área de desembarque. Dirigia-me à esteira de bagagens para pegar minha mala quando esbarrei em alguém que vinha em minha direção. Agora desperta, virei-me para me desculpar com um homem de boné e máscara. Ele estava de cabeça baixa e parecia estar com pressa. Não me respondeu, virou o rosto e fez com que ia seguir caminho. Por um impulso involuntário, eu o segurei e o puxei pelo braço. Então ele me olhou diretamente sem entender o que estava acontecendo.
Imediatamente eu perdi o fôlego. Era ele. A máscara atrapalhava a ver o seu rosto. Só era possível ver os olhos azuis inquisitivos com a situação. Mesmo assim eu tive a certeza de que era o pai do meu bebê. Ele não pareceu me reconhecer e puxou o braço de volta. Ele se virou e tentou seguir seu caminho ainda mais fortemente, procurando se afastar de mim. Tentei chamá-lo, mas isso pareceu fazê-lo andar ainda mais rápido. Frustrada, tentei correr para alcançá-lo mas o perdi na multidão. Talvez eu estivesse ficando louca. Mal tinha chegado e já estava esperando que o encontraria tão fácil. Eu não vim de tão longe procurá-lo. Então porque parecia estar tão ansiosa por isso?
Peguei minhas malas e fui em direção a saída. Antes que pudesse chegar ao portão, um delicioso cheiro de café com chocolate me convidou a entrar em uma cafeteria ali perto. Não tinha comido nada no avião e eu precisava comer alguma coisa. Por sorte ou azar do destino, o homem que eu havia esbarrado estava sentado em uma mesa mais afastada da mesma cafeteria. Ele mexia no celular com uma das mãos enquanto tomava café. Ele estaria sem máscara. Automaticamente me dirigi até sua mesa para que pudesse me desculpar.
Ele ergueu a cabeça quando percebeu que eu havia me aproximado. Eu realmente não havia me confundido.
- É mesmo você. Você é o R.A.
Ele pareceu confuso a princípio. Nos encaramos por um bom tempo e sua expressão mudou para uma genuína surpresa quando ele me reconheceu.
- Eu… te conheço, não é mesmo?
- Sim. - respondi com um pouco de alívio - Eu estive na cidade há alguns meses para o festival gastronômico.
- A Chef Pâtissier. - ele se lembrou - Legal te ver outra vez. - o sorriso dele ainda era tão charmoso quanto os das minhas lembranças.
- Me desculpe por antes. - um nervosismo começou a crescer e eu sorri para tentar disfarçá-lo - Eu não queria parecer uma perseguidora, mas quando achei que fosse você… - não sabia como concluir a frase.
Ele olhou em volta do lugar e parecia apreensivo, mesmo assim fez sinal para que eu me sentasse à sua frente. Muitas coisas passaram a minha mente ao mesmo tempo. Não sabia se o enjoo era um sintoma da gravidez ou da ansiedade de todo aquele acontecimento. Ele pareceu esperar por alguma reação minha e pôs o celular sobre a mesa com a tela virada para baixo. Eu sorri ainda mais quando lembrei que não sabia o nome dele.
- Então… Qual o seu nome? - ele pareceu hesitante e curioso ao mesmo tempo, talvez estivesse tentando entender o porquê da pergunta - Não nos apresentamos formalmente quando nos conhecemos.
- É verdade. - ele tinha um sorriso maroto como se tivesse lembrado de uma coisa simples que não fez - Meu nome é Ryan. Ryan Ashford.
- Eu sou Bianca Ferretti.
Eu senti meu rosto corar. Mesmo não tendo pedido por aquela oportunidade, eu ainda esperava que ela chegasse, então eu precisava dizer. Seja o universo ou o destino, o encontrei assim que eu cheguei. Então tudo iria se resolver agora. Ou ele ficaria, ou ele iria pra sempre. E ponto final.
- Você pensou em mim desde aquela noite?
- Foi por isso que correu atrás de mim aquela hora? - seu rosto tinha uma mistura de surpresa e desdém que fizeram meu estômago revirar.
- Não só por isso. - eu não consegui esconder bem minha raiva - Mas queria saber se aquela noite teve alguma consequência para você… - e a última parte eu só consegui sussurrar - Como teve para mim.
- Olha, eu sinto muito. - disse sem me levar a sério - Foi uma noite ótima e você é muito bonita, mas não estou apaixonado por você. Não posso te corresponder…
- Não é isso seu… Idiota! - eu simplesmente explodi - Não sou uma adolescente em busca de um namoradinho. - eu parecia tê-lo assustado e fiquei satisfeita. Respirei fundo e pude continuar - Eu estou grávida.
- O que? E você tem certeza que é meu?
É claro que essa pergunta iria surgir. Tive que explicar com muito constrangimento, ele acreditando ou não, que minha vida amorosa não era tudo aquilo que ele podia estar imaginando. Era um dos motivos por eu ter me aproveitado daquela oportunidade. Ele pensou por um tempo, parecendo procurar sinais de que eu estava mentindo. Ficamos um tempo em silêncio onde ele pode ter refletido sobre a nossa noite juntos e talvez lembrasse de mais detalhes do que eu. Pareceu sincero quando disse que acreditava em mim. Sua postura estava mais séria. Então ele perguntou sobre os meus planos para o futuro e o bebê.
Antes que eu pudesse responder, um grupo de três adolescentes entraram entusiasmadas pela porta da cafeteria e apontavam para a nossa mesa. Ryan se encolheu e tentou colocar desajeitadamente a máscara. Mais pessoas estavam começando a se agrupar fora do local.
- Eu sinto muito. - o olhar dele estava assustado - Eu… Eu preciso ir.
Ele se levantou e saiu apressadamente pela porta, tentando quase que inutilmente se desvencilhar das pessoas. Talvez fosse uma celebridade. Agora eu conseguia entender um pouco o porquê dele fugir assim que eu o encontrei. Talvez lidasse com isso frequentemente. Antes que eu me levantasse, já não era possível vê-lo mais. Peguei meu celular para tentar encontrá-lo nas redes sociais. Haviam alguns homens chamados Ryan Ashford, mas nenhum era ele. Então como ele podia ser tão famoso desse jeito?
Enviei uma mensagem para Manon avisando que a viagem ocorreu bem, mas escolhi não comentar sobre o encontro catastrófico. Demorou um pouco até que eu conseguisse um táxi para o hotel. Em meio ao encontro desajeitado com o Ryan, eu acabei não comendo nada. Cheguei bem a tempo de pegar o restaurante do hotel aberto para o jantar.
Mesmo a contragosto, não conseguia tirar Ryan dos meus pensamentos. Era muito frustrante saber que eu tinha medo de voltar a Londres e perder uma grande oportunidade pela possibilidade de encontrá-lo. E foi a primeira coisa que me aconteceu! Pior ainda era saber que não tirei nenhuma conclusão desse encontro. E nem uma forma de poder encontrá-lo de novo. Ao menos eu havia conseguido dizer a ele sobre a gravidez. Mesmo que não tivesse saído como eu esperava, agora estava nas mãos dele.
Ao chegar nessa conclusão, consegui afastar um pouco a ansiedade sobre isso para substituí-la pelo encontro com a chef Whitmore. Por causa do bebê eu precisei adiar a viagem o máximo possível, e o prazo estava cada vez mais apertado. Então tudo se resumia em como eu me sairia no dia seguinte. Deitei na cama pensando nos possíveis planos para as sobremesas, mas meu cansaço e sonolência não me permitiram conseguir ficar muito tempo acordada.
Não queria admitir para mim mesma que fiquei abalada com todo o acontecimento no aeroporto. Mesmo aceitando que o pior já havia passado, que era encontrá-lo e dizer sobre a gravidez, ter deixado as coisas indefinidas com o Ryan deixou tudo mais angustiante, mesmo que toda a questão precisasse depender se ele faria ou não alguma coisa. E tudo isso junto com a possibilidade de perder uma grande chance da minha carreira parecia demais para mim. Decidi tomar um banho. Precisava tentar me manter calma para que minha pressão não subisse e fizesse mal para o bebê. E por mais que eu tenha conseguido amenizar os meus pensamentos sobre isso, toda minha calma não poderia durar muito tempo. Meu celular apitou com a notificação de uma mensagem. Era Matteo. Com todo o drama, e como eu só me comuniquei com a assistente desde o recado dele, havia me esquecido completamente que eu o encontraria novamente. E que provavelmente iremos trabalhar juntos. Meu estômago revirou. Não quis arriscar e tomei logo
Eu, a chef Whitmore e os outros chefes passamos horas replanejando as novas mudanças. Da minha parte, a futura noiva fez a exigência um bolo de ameixa negra com rum envelhecido. Parecia muito alarde para uma sobremesa que não iria combinar em nada com a ocasião. Pelo breve momento em que estivera com ela, parecia ser um simples desejo em dificultar as coisas para todo mundo. Esse era o murmurinho que vinha de todos os outros colaboradores. Todos estavam correndo para atender às novas exigências. Graças ao meu pequeno sucesso no festival e toda a reputação que eu estava construindo me deu uma chance com o grande problema que havíamos que resolver para o banquete. Eu conhecia ótimas fazendas de ameixa na Itália e felizmente uma delas produzia compotas de ameixas negras com rum com uma ótima reputação a zelar. Graças a um orçamento um pouco ilimitado, esse seria meu único meio para conseguir atender às novas exigências, visto que, se não fosse desse jeito, levaria meses para que eu conse
Minha visão ainda estava turva quando acordei. Senti meu corpo recostado em uma cama. Esfreguei os olhos e comecei a ver mais detalhes. Havia um pacote de soro pendurado e ligado a um curativo na minha mão esquerda. Já conseguia entender que eu estava em um hospital. Manon estava deitada torta em uma poltrona perto de uma janela mexendo no seu celular, mas veio depressa para perto quando me ouviu acordar. - Que bom que está bem! - Manon sorria aliviada - Você me deixou muito assustada. - O que aconteceu? - eu ainda não entendia porque eu estava ali. - Você desmaiou. No meio do banquete. Ainda bem que eu estava lá! - ela apertou minha mão forte - Chamamos uma ambulância e viemos para o hospital. Sua pressão estava muito alta e por isso você desmaiou. Manon havia me explicado que o médico preferiu me manter internada por um tempo para acompanhar minha pressão. Pelo menos até os resultados dos exames. Era um risco muito grande para o bebê. Por isso, era preciso averiguar se foi um cas
Felizmente eu não precisaria passar mais um dia no hospital. Meus exames estavam bons e meu bebê parecia bem. Minha pressão ficou estável mesmo com as tensas visitas. O médico tinha feito algumas recomendações para que eu evitasse o estresse e o trabalho por alguns dias e que eu consultasse minha médica o mais rápido possível. Entretanto, recomendou também que eu não fizesse a viagem de volta por enquanto. Manon não quis aceitar muito bem ter que voltar sem mim. Mas a fiz entender que o restaurante não ia sobreviver tantos dias sem uma de nós duas. E eu prometi repetidamente mantê-la informada sobre tudo o que acontecesse, principalmente com o Ryan. Como eu tinha minhas economias, tentaria levar as coisas como um tipo de férias forçada. Eu também não ia ficar satisfeita em ir embora sem resolver tudo com o príncipe. E pensar nele com o título ainda me deixava intrigada. Por mim eu continuaria no hotel, mas Matteo me convenceu a ficar no apartamento dele. Ele estaria fora na próxima se
Eu pude ouvir o barulho da cadeira se arrastando enquanto o Ryan se levantava abruptamente da mesa de jantar. Ele logo apareceu ao meu lado, tão incrédulo quanto eu estava. Mesmo assim ele fez uma reverência e eu acabei por imitá-lo. A rainha, esguia e com uma postura ereta que transmitia confiança e autoridade, esperava na porta. Ela questionou se não seria convidada a entrar, e eu fiz um gesto convidativo. Seu rosto, marcado pelos anos de experiência, exibia linhas suaves e traços aristocráticos. Seus olhos eram do mesmo azul profundo dos de Ryan. Os cabelos loiros salpicados de prata, estavam impecavelmente ajeitados em um elegante penteado preso. Vestida com um conjunto azul sob medida, jóias extravagantes e uma fina coroa refletia sua posição. A voz da rainha era suave e melodiosa, mas não escondia seu descontentamento. Ela estava acompanhada de um homem de meia idade, com um olhar sério e vestido em um terno preto. Parecia ser como um assistente, ou segurança. Ela entrou enquan
Já havia se passado quase uma semana desde o meu encontro com a rainha. Eu ainda não tinha tido coragem de sair do apartamento. Ficava a maior parte do dia deitada, fingindo estar de repouso, quando na verdade era por estar completamente desanimada. Não era fácil processar tudo o que estava acontecendo. Parecia que minha vida estava perdendo o rumo sem que eu pudesse controlar nada. Depois do encontro com a rainha, tudo começou a parecer ainda mais complexo. Queria poder dizer que eu superaria tudo e que não ia me importar com o que fosse acontecer, mas a verdade era que tudo me preocupava, principalmente o bem estar do bebê. Ryan tentava manter contato comigo pelo telefone. Ele dizia que preferia não arriscar me expor vindo me encontrar. A princípio eu achei tudo um grande exagero, como se ele estivesse dando apenas uma desculpa. Entretanto, uma rápida pesquisa na internet sobre a família dele já era possível entender o quanto de atenção eles podiam chamar, por qualquer coisa. Ele di
O vestido tinha um ótimo caimento. Meu colo exposto no decote canoa e o evasê se estendia desde a cintura. Eu já podia ver as mudanças no meu corpo. Meus seios estavam um pouco maiores e, por vezes, doloridos. Também era possível ver uma leve protuberância no meu abdômen, que o vestido conseguia disfarçar. Mesmo assim eu me sentia bonita. Assim que eu havia colocado meus brincos, meu celular apitou com uma mensagem. Ryan havia chegado pontualmente às 19h. Quando eu mandei uma mensagem mais cedo agradecendo o presente, havia combinado os detalhes do encontro. Um encontro só pelo fato de que nos encontraríamos, certo? Mas o vestido era um presente dele, um lembrete constante de suas intenções. Eu tinha deixado de lado o pensamento de sua oferta de casamento até então. A ideia de me tornar parte da família real era, no mínimo, assustadora. De qualquer modo, precisaríamos conversar e, talvez, até conviver. Entretanto, frequentemente me parecia um bom plano fugir e desaparecer. Eu me despe
Muitos pensamentos e sentimentos estavam embaralhados na minha mente. Depois da intensa conversa com Ryan, minha mente não conseguia se acalmar. A claridade do amanhecer já entrava no meu quarto, e eu ainda não tinha conseguido dormir. Havia muitas ponderações a considerar, mas quanto mais eu pensava, mais encurralada eu me sentia. Decidi me trocar e fazer a única coisa que conseguiria me distrair naquele momento. Cozinhar sempre deixou minha mente clara e focada. O aroma dos ingredientes se misturando me dava uma sensação de controle em meio ao caos interno. O café da manhã seria um pouco mais exagerado do que o necessário.Comecei a fazer tudo o que via como possível enquanto abria os armários e a geladeira. Havia um bolo assando, pães na torradeira e panquecas e ovos mexidos prontos. Talvez eu devesse fazer uma calda de chocolate. Eu estava lavando algumas uvas e morangos quando ouvi a porta do quarto do Matteo se abrir, mas ele tinha ido direto para o banheiro. Eu estava terminand