O primeiro trimestre da gravidez estava terminando. Minha ficha havia caído oficialmente na consulta com minha obstetra. Ouvir o coração do bebê foi como uma virada de chave na minha mente. Ter outra vida dentro de mim era um peso muito grande. E mesmo sabendo que poderia ser apenas os meus hormônios mexendo com meu corpo, eu estava muito feliz e empolgada em ter um filho. Havia se tornado um hábito levar a mão à minha barriga para tentar sentir alguma coisa.
E mesmo assim eu não queria pensar tão a fundo sobre o futuro. Haviam muitas decisões e escolhas que estavam longe de chegar e eu precisava seguir um passo de cada vez. Os enjoos já estavam passando, e contanto que eu não carregasse nenhum peso e me alimentar decentemente, eu poderia continuar trabalhando. Manon estava me apoiando muito nisso. Puxando a minha orelha talvez fosse mais preciso. Ela parecia estar doida para dar uma de titia. Era bom saber que eu ia ter alguma rede de apoio. Minha mãe faleceu quando eu era adolescente. Meu pai havia se casado com outra mulher logo depois e se mudou. Não tínhamos mais tanto contato. Saber que eu tinha uma boa carreira parecia o suficiente para ele seguir com sua nova vida.
Além de tudo isso, haviam muitas dúvidas e decisões à minha frente, mas eu não sabia o que pensar a respeito do pai do bebê. Não trocamos contato e eu nem sabia o nome dele. Poderia considerar que eu sabia onde ele morava, mas… Talvez aquela nem fosse realmente sua casa. O telefone tocou e fez com que meus devaneios se dissipassem. Não era um número salvo, então não atendi.
Estava quase fechando meus olhos para dormir quando percebi que foi deixada uma mensagem de voz. Talvez a pessoa realmente quisesse falar comigo. E, parando para pensar, era com o código da Inglaterra… Abri logo o correio de voz e comecei a escutar ansiosa e esperançosa. Logo reconheci a voz do Matteo.
- Ei Bianca. Queria ter tido a chance de ter me desculpado com você e de ter explicado tudo. Eu sinto muito a sua falta e espero que escute esse recado. Sei que voltou para a Itália, mas a chef Whitmore solicitou você formalmente para o banquete real que ela vai preparar no final do mês. O chefe da equipe dela cansou de adiar a aposentadoria, então ela lembrou de você. Não precisa me retornar, eu só queria mesmo te dar a notícia e pedir desculpas mais uma vez. Pode entrar em contato com a assistente da equipe. Te mandei o número por mensagem.
Meu coração agora batia forte, mas de um jeito diferente antes de escutar o recado. Era uma oportunidade incrível, mas agora que meu restaurante estava ganhando nome, talvez não fosse uma boa hora. E tinha o bebê… Antes de continuar pensando nas várias possibilidades, ela ligou para Manon.
- Te acordei?
- Talvez… - a voz dela estava nitidamente sonolenta - aconteceu alguma coisa?
- Nada com o bebê, não se preocupe. - eu parei um pouco para que ela pudesse acordar mais um pouco e entender o que eu iria falar - Serena Whitmore me quer na equipe dela para um banquete.
- Sério? - agora ela estava totalmente desperta - Que incrível! Vai ser quando?
- No final do mês. Mas eu ainda não aceitei.
- Por que não? - ela parecia ofendida por eu não ter aceitado.
- Porque é um banquete real. É em Londres.
A ligação pareceu ficar muda por vários minutos. Eram muitos fatores que giravam em torno dessa decisão e Manon percebeu isso de imediato.
- E daí? - ela pareceu reagir - O que faz você ainda não querer ir.
- Muitas coisas. - eu conseguia imaginar ela me encarando esperando que eu realmente tivesse uma desculpa decente - Tem o restaurante, todo o trabalho que estamos tendo. Não posso te deixar sozinha. E tem o bebê. - involuntariamente passei a mão na minha barriga - Viagens de avião podem ser arriscadas na gravidez.
- Você só vai passar uns dias. E eu vou ficar bem, você sabe disso. Você tem uma consulta essa semana, não tem? Pode conversar com sua médica. - a linha ficou silenciosa por um tempo - Ou você só não quer ir porque existe a mínima chance de encontrar o pai do bebê?
Eu suspirei fundo. Ela entendeu melhor que eu mesma que esse era o motivo principal. Por mais que as estatísticas pudessem garantir que as chances de encontrá-lo fossem mínimas, eu não conseguia imaginar um cenário em que esse encontro não pudesse acontecer. E eu me lembrava muito bem da parte da noite em que o conheci na boate. Ele parecia conhecer Matteo e era com ele que eu iria trabalhar se aceitasse a vaga.
- Se a médica disser que você não pode ir, eu vou aceitar. - disse depois de um longo tempo sem que eu a respondesse - Agora, você deixar de ir por causa de um cara qualquer não vou te perdoar.
- Tem razão. - Eu estava pensando demais sobre isso. Talvez fossem os hormônios começando a me deixar mais preocupada e sensível.
Refleti muito sobre essa possibilidade. A de ter um filho. Eu sei que mudaria tudo e confesso que pensei mais no lado ruim do que no lado bom. Eu não fazia ideia de como o futuro seria, e era essa parte que me apavorava. Querendo ou não, eu ia precisar sacrificar muito do que eu conquistei, e eu tinha medo de saber o quanto. Ao mesmo tempo, um sentimento muito crescente de amor me tomava enquanto eu assumia que iria ser mãe. Isso me fez pensar muito sobre a noite com o lindo homem estranho que me deixou sozinha no dia seguinte. Não queria tomar aquela noite como um erro. E se eventualmente eu o encontrasse novamente, aceitaria como sendo o destino e diria a ele sobre a gravidez. Eu podia me virar sozinha, mas eu poderia tirar a chance do meu filho de ter um pai? Se for pra isso acontecer ou não, seria por ele ter sumido ou recusado.
Como meus exames estavam bons e meu bebê continuava bem, fui liberada para fazer a viagem e trabalhar. Então, razoavelmente firme da minha decisão, liguei para o número da assistente que Matteo havia deixado no recado. Conversamos sobre o evento, a equipe e a chef Whitmore. Entendi que não era uma vaga garantida, eu ainda iria precisar provar minhas capacidades. Ainda assim, não me desanimei. Combinei alguns detalhes e ela me passaria mais tarde as informações de passagem e estadia.
Quando me deitei, fiquei repassando as imagens da noite em que conheci R.A. Alguns detalhes eram mais nítidos que outros por causa do leve exagero na bebida. Eu conseguia ver ele me ajudando com Matteo, a conversa que tivemos no bar, a dança, quando ficamos juntos no seu quarto e no bilhete que havia deixado. Meu coração palpitava, mas não sabia ao certo se era de um jeito bom ou ruim. De todo modo, ficar remoendo as lembranças não iam fazer eu entender as coisas ou saber sobre o futuro. Eu só ia conseguir saber quando ele chegasse.
O voo tinha sido tranquilo. Eu dormi praticamente todo o trajeto. Depois que fiquei grávida, conseguia dormir muito facilmente em qualquer lugar que fosse possível. Ainda estava sonolenta quando desci do avião e me dirigi para a área de desembarque. Dirigia-me à esteira de bagagens para pegar minha mala quando esbarrei em alguém que vinha em minha direção. Agora desperta, virei-me para me desculpar com um homem de boné e máscara. Ele estava de cabeça baixa e parecia estar com pressa. Não me respondeu, virou o rosto e fez com que ia seguir caminho. Por um impulso involuntário, eu o segurei e o puxei pelo braço. Então ele me olhou diretamente sem entender o que estava acontecendo.Imediatamente eu perdi o fôlego. Era ele. A máscara atrapalhava a ver o seu rosto. Só era possível ver os olhos azuis inquisitivos com a situação. Mesmo assim eu tive a certeza de que era o pai do meu bebê. Ele não pareceu me reconhecer e puxou o braço de volta. Ele se virou e tentou seguir seu caminho ainda ma
Não queria admitir para mim mesma que fiquei abalada com todo o acontecimento no aeroporto. Mesmo aceitando que o pior já havia passado, que era encontrá-lo e dizer sobre a gravidez, ter deixado as coisas indefinidas com o Ryan deixou tudo mais angustiante, mesmo que toda a questão precisasse depender se ele faria ou não alguma coisa. E tudo isso junto com a possibilidade de perder uma grande chance da minha carreira parecia demais para mim. Decidi tomar um banho. Precisava tentar me manter calma para que minha pressão não subisse e fizesse mal para o bebê. E por mais que eu tenha conseguido amenizar os meus pensamentos sobre isso, toda minha calma não poderia durar muito tempo. Meu celular apitou com a notificação de uma mensagem. Era Matteo. Com todo o drama, e como eu só me comuniquei com a assistente desde o recado dele, havia me esquecido completamente que eu o encontraria novamente. E que provavelmente iremos trabalhar juntos. Meu estômago revirou. Não quis arriscar e tomei logo
Eu, a chef Whitmore e os outros chefes passamos horas replanejando as novas mudanças. Da minha parte, a futura noiva fez a exigência um bolo de ameixa negra com rum envelhecido. Parecia muito alarde para uma sobremesa que não iria combinar em nada com a ocasião. Pelo breve momento em que estivera com ela, parecia ser um simples desejo em dificultar as coisas para todo mundo. Esse era o murmurinho que vinha de todos os outros colaboradores. Todos estavam correndo para atender às novas exigências. Graças ao meu pequeno sucesso no festival e toda a reputação que eu estava construindo me deu uma chance com o grande problema que havíamos que resolver para o banquete. Eu conhecia ótimas fazendas de ameixa na Itália e felizmente uma delas produzia compotas de ameixas negras com rum com uma ótima reputação a zelar. Graças a um orçamento um pouco ilimitado, esse seria meu único meio para conseguir atender às novas exigências, visto que, se não fosse desse jeito, levaria meses para que eu conse
Minha visão ainda estava turva quando acordei. Senti meu corpo recostado em uma cama. Esfreguei os olhos e comecei a ver mais detalhes. Havia um pacote de soro pendurado e ligado a um curativo na minha mão esquerda. Já conseguia entender que eu estava em um hospital. Manon estava deitada torta em uma poltrona perto de uma janela mexendo no seu celular, mas veio depressa para perto quando me ouviu acordar. - Que bom que está bem! - Manon sorria aliviada - Você me deixou muito assustada. - O que aconteceu? - eu ainda não entendia porque eu estava ali. - Você desmaiou. No meio do banquete. Ainda bem que eu estava lá! - ela apertou minha mão forte - Chamamos uma ambulância e viemos para o hospital. Sua pressão estava muito alta e por isso você desmaiou. Manon havia me explicado que o médico preferiu me manter internada por um tempo para acompanhar minha pressão. Pelo menos até os resultados dos exames. Era um risco muito grande para o bebê. Por isso, era preciso averiguar se foi um cas
Felizmente eu não precisaria passar mais um dia no hospital. Meus exames estavam bons e meu bebê parecia bem. Minha pressão ficou estável mesmo com as tensas visitas. O médico tinha feito algumas recomendações para que eu evitasse o estresse e o trabalho por alguns dias e que eu consultasse minha médica o mais rápido possível. Entretanto, recomendou também que eu não fizesse a viagem de volta por enquanto. Manon não quis aceitar muito bem ter que voltar sem mim. Mas a fiz entender que o restaurante não ia sobreviver tantos dias sem uma de nós duas. E eu prometi repetidamente mantê-la informada sobre tudo o que acontecesse, principalmente com o Ryan. Como eu tinha minhas economias, tentaria levar as coisas como um tipo de férias forçada. Eu também não ia ficar satisfeita em ir embora sem resolver tudo com o príncipe. E pensar nele com o título ainda me deixava intrigada. Por mim eu continuaria no hotel, mas Matteo me convenceu a ficar no apartamento dele. Ele estaria fora na próxima se
Eu pude ouvir o barulho da cadeira se arrastando enquanto o Ryan se levantava abruptamente da mesa de jantar. Ele logo apareceu ao meu lado, tão incrédulo quanto eu estava. Mesmo assim ele fez uma reverência e eu acabei por imitá-lo. A rainha, esguia e com uma postura ereta que transmitia confiança e autoridade, esperava na porta. Ela questionou se não seria convidada a entrar, e eu fiz um gesto convidativo. Seu rosto, marcado pelos anos de experiência, exibia linhas suaves e traços aristocráticos. Seus olhos eram do mesmo azul profundo dos de Ryan. Os cabelos loiros salpicados de prata, estavam impecavelmente ajeitados em um elegante penteado preso. Vestida com um conjunto azul sob medida, jóias extravagantes e uma fina coroa refletia sua posição. A voz da rainha era suave e melodiosa, mas não escondia seu descontentamento. Ela estava acompanhada de um homem de meia idade, com um olhar sério e vestido em um terno preto. Parecia ser como um assistente, ou segurança. Ela entrou enquan
Já havia se passado quase uma semana desde o meu encontro com a rainha. Eu ainda não tinha tido coragem de sair do apartamento. Ficava a maior parte do dia deitada, fingindo estar de repouso, quando na verdade era por estar completamente desanimada. Não era fácil processar tudo o que estava acontecendo. Parecia que minha vida estava perdendo o rumo sem que eu pudesse controlar nada. Depois do encontro com a rainha, tudo começou a parecer ainda mais complexo. Queria poder dizer que eu superaria tudo e que não ia me importar com o que fosse acontecer, mas a verdade era que tudo me preocupava, principalmente o bem estar do bebê. Ryan tentava manter contato comigo pelo telefone. Ele dizia que preferia não arriscar me expor vindo me encontrar. A princípio eu achei tudo um grande exagero, como se ele estivesse dando apenas uma desculpa. Entretanto, uma rápida pesquisa na internet sobre a família dele já era possível entender o quanto de atenção eles podiam chamar, por qualquer coisa. Ele di
O vestido tinha um ótimo caimento. Meu colo exposto no decote canoa e o evasê se estendia desde a cintura. Eu já podia ver as mudanças no meu corpo. Meus seios estavam um pouco maiores e, por vezes, doloridos. Também era possível ver uma leve protuberância no meu abdômen, que o vestido conseguia disfarçar. Mesmo assim eu me sentia bonita. Assim que eu havia colocado meus brincos, meu celular apitou com uma mensagem. Ryan havia chegado pontualmente às 19h. Quando eu mandei uma mensagem mais cedo agradecendo o presente, havia combinado os detalhes do encontro. Um encontro só pelo fato de que nos encontraríamos, certo? Mas o vestido era um presente dele, um lembrete constante de suas intenções. Eu tinha deixado de lado o pensamento de sua oferta de casamento até então. A ideia de me tornar parte da família real era, no mínimo, assustadora. De qualquer modo, precisaríamos conversar e, talvez, até conviver. Entretanto, frequentemente me parecia um bom plano fugir e desaparecer. Eu me despe