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6 - Uma nova oportunidade

O primeiro trimestre da gravidez estava terminando. Minha ficha havia caído oficialmente na consulta com minha obstetra. Ouvir o coração do bebê foi como uma virada de chave na minha mente. Ter outra vida dentro de mim era um peso muito grande. E mesmo sabendo que poderia ser apenas os meus hormônios mexendo com meu corpo, eu estava muito feliz e empolgada em ter um filho. Havia se tornado um hábito levar a mão à minha barriga para tentar sentir alguma coisa.

E mesmo assim eu não queria pensar tão a fundo sobre o futuro. Haviam muitas decisões e escolhas que estavam longe de chegar e eu precisava seguir um passo de cada vez. Os enjoos já estavam passando, e contanto que eu não carregasse nenhum peso e me alimentar decentemente, eu poderia continuar trabalhando. Manon estava me apoiando muito nisso. Puxando a minha orelha talvez fosse mais preciso. Ela parecia estar doida para dar uma de titia. Era bom saber que eu ia ter alguma rede de apoio. Minha mãe faleceu quando eu era adolescente. Meu pai havia se casado com outra mulher logo depois e se mudou. Não tínhamos mais tanto contato. Saber que eu tinha uma boa carreira parecia o suficiente para ele seguir com sua nova vida. 

Além de tudo isso, haviam muitas dúvidas e decisões à minha frente, mas eu não sabia o que pensar a respeito do pai do bebê. Não trocamos contato e eu nem sabia o nome dele. Poderia considerar que eu sabia onde ele morava, mas… Talvez aquela nem fosse realmente sua casa. O telefone tocou e fez com que meus devaneios se dissipassem. Não era um número salvo, então não atendi. 

Estava quase fechando meus olhos para dormir quando percebi que foi deixada uma mensagem de voz. Talvez a pessoa realmente quisesse falar comigo. E, parando para pensar, era com o código da Inglaterra… Abri logo o correio de voz e comecei a escutar ansiosa e esperançosa. Logo reconheci a voz do Matteo. 

- Ei Bianca. Queria ter tido a chance de ter me desculpado com você e de ter explicado tudo. Eu sinto muito a sua falta e espero que escute esse recado. Sei que voltou para a Itália, mas a chef Whitmore solicitou você formalmente para o banquete real que ela vai preparar no final do mês. O chefe da equipe dela cansou de adiar a aposentadoria, então ela lembrou de você. Não precisa me retornar, eu só queria mesmo te dar a notícia e pedir desculpas mais uma vez. Pode entrar em contato com a assistente da equipe. Te mandei o número por mensagem. 

Meu coração agora batia forte, mas de um jeito diferente antes de escutar o recado. Era uma oportunidade incrível, mas agora que meu restaurante estava ganhando nome, talvez não fosse uma boa hora. E tinha o bebê… Antes de continuar pensando nas várias possibilidades, ela ligou para Manon.

- Te acordei? 

- Talvez… - a voz dela estava nitidamente sonolenta - aconteceu alguma coisa?

- Nada com o bebê, não se preocupe. - eu parei um pouco para que ela pudesse acordar mais um pouco e entender o que eu iria falar - Serena Whitmore me quer na equipe dela para um banquete. 

- Sério? - agora ela estava totalmente desperta - Que incrível! Vai ser quando?

- No final do mês. Mas eu ainda não aceitei.

- Por que não? - ela parecia ofendida por eu não ter aceitado. 

- Porque é um banquete real. É em Londres.

A ligação pareceu ficar muda por vários minutos. Eram muitos fatores que giravam em torno dessa decisão e Manon percebeu isso de imediato. 

- E daí? - ela pareceu reagir - O que faz você ainda não querer ir. 

- Muitas coisas. - eu conseguia imaginar ela me encarando esperando que eu realmente tivesse uma desculpa decente - Tem o restaurante, todo o trabalho que estamos tendo. Não posso te deixar sozinha. E tem o bebê. - involuntariamente passei a mão na minha barriga - Viagens de avião podem ser arriscadas na gravidez.

- Você só vai passar uns dias. E eu vou ficar bem, você sabe disso. Você tem uma consulta essa semana, não tem? Pode conversar com sua médica. - a linha ficou silenciosa por um tempo - Ou você só não quer ir porque existe a mínima chance de encontrar o pai do bebê?

Eu suspirei fundo. Ela entendeu melhor que eu mesma que esse era o motivo principal. Por mais que as estatísticas pudessem garantir que as chances de encontrá-lo fossem mínimas, eu não conseguia imaginar um cenário em que esse encontro não pudesse acontecer. E eu me lembrava muito bem da parte da noite em que o conheci na boate. Ele parecia conhecer Matteo e era com ele que eu iria trabalhar se aceitasse a vaga. 

- Se a médica disser que você não pode ir, eu vou aceitar. - disse depois de um longo tempo sem que eu a respondesse - Agora, você deixar de ir por causa de um cara qualquer não vou te perdoar. 

- Tem razão. - Eu estava pensando demais sobre isso. Talvez fossem os hormônios começando a me deixar mais preocupada e sensível. 

Refleti muito sobre essa possibilidade. A de ter um filho. Eu sei que mudaria tudo e confesso que pensei mais no lado ruim do que no lado bom. Eu não fazia ideia de como o futuro seria, e era essa parte que me apavorava. Querendo ou não, eu ia precisar sacrificar muito do que eu conquistei, e eu tinha medo de saber o quanto. Ao mesmo tempo, um sentimento muito crescente de amor me tomava enquanto eu assumia que iria ser mãe. Isso me fez pensar muito sobre a noite com o lindo homem estranho que me deixou sozinha no dia seguinte. Não queria tomar aquela noite como um erro. E se eventualmente eu o encontrasse novamente, aceitaria como sendo o destino e diria a ele sobre a gravidez. Eu podia me virar sozinha, mas eu poderia tirar a chance do meu filho de ter um pai? Se for pra isso acontecer ou não, seria por ele ter sumido ou recusado. 

Como meus exames estavam bons e meu bebê continuava bem, fui liberada para fazer a viagem e trabalhar. Então, razoavelmente firme da minha decisão, liguei para o número da assistente que Matteo havia deixado no recado. Conversamos sobre o evento, a equipe e a chef Whitmore. Entendi que não era uma vaga garantida, eu ainda iria precisar provar minhas capacidades. Ainda assim, não me desanimei. Combinei alguns detalhes e ela me passaria mais tarde as informações de passagem e estadia. 

Quando me deitei, fiquei repassando as imagens da noite em que conheci R.A. Alguns detalhes eram mais nítidos que outros por causa do leve exagero na bebida. Eu conseguia ver ele me ajudando com Matteo, a conversa que tivemos no bar, a dança, quando ficamos juntos no seu quarto e no bilhete que havia deixado. Meu coração palpitava, mas não sabia ao certo se era de um jeito bom ou ruim. De todo modo, ficar remoendo as lembranças não iam fazer eu entender as coisas ou saber sobre o futuro. Eu só ia conseguir saber quando ele chegasse.

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