Priscila BarcellaA casa estava um caos, e tudo o que eu queria era um instante de paz. Subi as escadas, deixando a confusão para trás, e decidi que um banho rápido era necessário antes de enfrentar o turbilhão novamente. Mas, no fundo, eu sabia o que realmente desejava: dois minutos ao lado de Nina e Liam, longe de tudo.Cheguei à porta do quarto e sorri sem perceber. Liam estava sentado no chão com Nina, completamente imerso na brincadeira com um fantoche. Ele fazia vozes engraçadas e gesticulava exageradamente, arrancando gargalhadas gostosas da minha pequena.— Olha aqui, mocinha — disse ele, com um tom brincalhão e um bico irresistível. — Meu nome ainda não está naquele papel bobo, mas não se esqueça, viu? Eu também sou seu pai.Nina respondeu com uma risada contagiante, como se entendesse tudo.— Você com certeza é um bebê arco-íris, sabia? — Liam acrescentou com um sorriso terno, deslizando o fantoche na frente dela.— Aaaá! — Nina exclamou, toda empolgada, tentando agarrar o b
Depois de conversar com a minha mãe, mandei uma mensagem no grupo convidando os amigos. Não demorou muito para que Kat viesse falar comigo no privado. – Não sei se a minha mãe vai deixar... – ela digitou, hesitante. – E nem tem como comprar presente. Respirei fundo antes de responder: – Amiga, não precisa de presente. Acho que meus pais estão usando o mesversário da Nina como desculpa para comemorar a adoção dela. – Que bom, Íris! Imagino o quanto você está feliz. Agora, pelo menos, seu tio não vai mais conseguir a sua guarda, né? A ponta de esperança nas palavras dela fez meu peito apertar. – Não é bem assim... Só a Nina foi adotada. – Tentei manter o tom firme, mas minhas mãos tremiam. – A mamãe e o Max estão adotando ela juntos. A Nina tem uma família completa agora. Pai e mãe. E ela merece isso, merece ter pais que a amam. A resposta de Kat veio rápida, quase impaciente: – Mas eles também te amam, Íris! Engoli em seco, sentindo meu coração pesar com as palavras que saíram
Priscila Barcella Eu não conseguia parar de sorrir ao ver minha casa tão cheia. Era quase irônico: eu, que sempre detestei receber visitas, agora me sentia genuinamente feliz com o movimento, as risadas e a energia que enchiam cada canto. O som das conversas, o tilintar dos copos, os passos apressados de uma sala para outra... Tudo parecia aquecer não só o ambiente, mas também algo dentro de mim que há muito tempo estava frio. Quando avistei Natália entre os convidados, mal pude acreditar. E o Liam? Ele parecia outra pessoa, tão à vontade e feliz, especialmente cercado pelos amigos. As horas voaram. Entre petiscos deliciosos e goles de bebidas que pareciam não acabar nunca, rimos, dançamos e trocamos histórias. Max, em um dos seus surtos de gênio – ou louco –, trouxe um karaokê. Foi o auge da noite. Cantei até minha voz ficar rouca, mas nada se comparou às gargalhadas que soltei com Rafaela. Quando está bêbada, ela se transforma: de séria e ponderada, vira alguém completamente espo
Priscila BarcellaDepois de passar um tempo com a Nina, deixei-a com minha sogra e fui para o trabalho. Apesar de estar de folga, a campanha de Natal da perfumaria exigia minha atenção. Algumas coisas precisavam ser ajustadas, e eu queria adiantar o máximo possível.Estava tão concentrada que quase pulei da cadeira quando a Josefa entrou na sala, equilibrando uma bandeja com comida.— Está na hora de comer, menina — disse ela com aquele tom firme, mas cheio de carinho, enquanto colocava a bandeja sobre minha mesa.— Eu ia almoçar com os outros... — comecei a explicar, mas ela me cortou com um gesto decidido.— Só se for jantar! Já são duas da tarde, Priscila. Você precisa se cuidar também, sabia?Suspirei, finalmente largando a caneta. — E a Nina?— Está dormindo feito um anjo. E os outros já almoçaram. A Belinha e a Natália ainda não chegaram.Josefa ajeitou a toalha sobre a bandeja e, depois de hesitar, disse:— Não querendo fazer fofoca, mas aquela filha do Ramon... Ah, menina, ela
Priscila Barcella O final de semana só não foi bom por causa da Ramona. No domingo, ela pediu para ir a uma festa com a Íris, e Ramon, sem pensar duas vezes, deixou. Tudo parecia sob controle até que, na hora de buscar as meninas, Íris estava lá, mas Ramona não. O pânico tomou conta. Saímos para procurá-la em todos os lugares possíveis: hospital, delegacia, bares e qualquer canto onde achávamos que ela poderia estar. Nada. Já eram três da madrugada de segunda-feira, e continuávamos sem notícias. O celular dela estava desligado, e cada minuto de silêncio parecia uma eternidade. Eu caminhava de um lado para o outro na sala, as mãos trêmulas, tentando controlar a respiração. Ramon estava encostado na parede, o olhar perdido e o rosto tomado pela tensão. Íris estava sentada no sofá, os braços cruzados como se tentasse se proteger, os olhos marejados de lágrimas que insistiam em não cair. De repente, Ramon perdeu a calma. — Como você deixa ela sair da festa sozinha?! — ele gritou, a
Priscila Barcella Assim que entramos, Liam cuidadosamente colocou Ramona no sofá. Eu corri para pegar uma toalha molhada, tentando organizar meus pensamentos que se misturavam com o pânico. Ramon apareceu logo depois, parando abruptamente ao ver a cena. — O que aconteceu? — ele perguntou, alarmado, os olhos perdidos. Minha voz saiu trêmula, mas firme. — Ramona chegou desacordada, Ramon. Cheirando a bebida e... outras coisas. — Eu não consegui dizer o que era, apesar de reconhecer bem aquele cheiro, e o medo tomou conta de mim: o que fizeram com ela? Ele ficou pálido, os olhos arregalados de choque, incapaz de acreditar. — Não pode ser... Não pode... Antes que ele terminasse, Liam se virou para ele, visivelmente irritado. — Ramon, quando você vai perceber que sua filha está gritando por ajuda? Isso não é normal! Ramon balançou a cabeça, parecendo perdido. — Eu só... Não sabia que estava tão fora de controle. — Então é melhor começar a perceber — Liam rebateu, o tom firme, qua
PRISCILA BARCELLADIAS DEPOISNatália estava se desdobrando para ajudar Ramona. Depois da briga com o marido – que insistia em ser um pai omisso ele realmente acho que seria de bom ton fingir que nada tivesse acontecido – ela manteve sua decisão: se era para cuidar dos filhos sozinha, ele que saísse de casa. Natália estava firme, mas não conseguia deixar de se preocupar com a Ramona. Ligava todos os dias, garantindo que ela e as crianças estivessem bem. Ramona, no entanto, parecia forte, determinada a seguir em frente e fazendo o tratamento certinho.Enquanto isso, a polícia ainda não tinha encontrado Felipe. Quando o pai de Fernando forneceu o endereço do cunhado – pai de Felipe – já era tarde demais. Ele havia tirado o filho do país.Minha rotina, por sua vez, estava caótica. O trabalho consumia meu tempo e energia, mas eu contava os segundos para voltar para casa e ver meus filhos. Mesmo quando levava minha bebê comigo ao trabalho, ainda sentia saudade.Hoje era sexta-feira, mas, a
Priscila Barcella Assim que fechamos a porta do quarto, deixamos as crianças sob os cuidados da dona Josefa e da minha sogra. Liam e eu praticamente corremos pelo corredor do hotel. Estávamos atrasados para a reunião com o senhor Gustavo Lucchese, dono de uma das maiores redes hoteleiras do mundo. Este contrato significava mais do que sucesso profissional; ele me colocaria à frente no mercado.Liam ajeitava a gravata enquanto caminhávamos apressados. Ele estava visivelmente nervoso, o que era compreensível, já que não estava acostumado a lidar diretamente com clientes.— Respira, Liam. Você só precisa ser você mesmo. — Toquei levemente o braço dele, tentando transmitir confiança.— Fácil pra você falar. Você nasceu pra isso, Pri. — Ele respondeu com um sorriso nervoso, mas seus olhos demonstravam que confiava em mim.Entramos na sala de reuniões e, para minha surpresa, Felipe já estava lá, sentado de forma relaxada na cadeira, com aquele sorriso sarcástico estampado no rosto.— Prisc