Lourenço pegou a cocaína e fez uma trilha com o pó branco entre meus seios. Nossos olhares estavam fixos um no outro quando ele inalou praticamente tudo, deixando alguns míseros resquícios em minha pele. E eu, que pensei já ter vivido de tudo na minha longa vida, acabara de servir como base de cocaína para um policial que se tornaria um delegado dentro de pouco tempo.
Fiquei a imaginar se o delegado que me interrogou quando denunciei Jax já tinha feito aquele tipo de coisa também ou se só Lourenço se diferenciava de todos do seu meio de profissão.
- Eu poderia cheirar você todinha. – Verbalizou, com a voz cheia de desejo.
- Seria um tanto quanto estranho. – Eu ri.
- Agora é a sua vez. E depois pularemos juntos, nós dois.
- Eu não estou interessada em pular, Lourenço. – Deixei claro.
- Mas está interes
Ele dizia “não”! Por que aquela conversa agora? E com tanto momento para me negar algo e vir com aquela história de “não”, por que justo naquela hora optou por ser rígido e não voltar atrás?- Já aprendi a lição, pai. – Minha voz soou fraca e me recriminei por aquilo, pois eu odiava que ele pensasse que eu pudesse não ser forte em qualquer momento que fosse.- Não, Danna. Você não voltará para a capital. Talvez eu não exija que fique em Machia por um ano, mas também não permitirei que volte em quinze dias.Engoli sem seco e fui andando a fim de me afastar das pessoas e impedir que ele ouvisse os gritos ao redor.- Ok! - assenti, não satisfeita – Então terá que me dar dinheiro.Ele riu:- Não, Danna, não me convencerá desta vez. Isla disse que
POV KILLIANEu ainda estava lamentando o fato de Danna ter quebrado o meu São Francisco de Assis quando ouvi a voz de Marialva me chamando no portão de casa.Fui atendê-la ali, não disposto a abrir a igreja, já que estava tarde e ela costumava ficar horas rezando e demorando a ir embora. Eu estava cansado. Havia sido um dia cheio de surpresas.Assim que cheguei no portão a vi com um pote enrolado em um pano de copa.- Lhe trouxe comida quentinha, padre. – Sorriu.Eu cheguei a sentir o cheiro de comida boa vindo de dentro do pote. Marialva cozinhava como ninguém.- É muita gentileza, Marialva. – Peguei o pote ainda quente quando nós dois ouvimos os sons ensurdecedores das motos.Nos viramos para a estrada e percebemos as várias motocicletas se aproximando. Não tinha dúvidas de que era a turma de Lourenço. Haviam mulheres nas caronas e
- Por que eu? Por que não o outro prefeito?- Eu já falei com ele e não resolveu.- E por que eu preciso resolver? Tenho cara de santa, por acaso?- Eu sou de Machia. A paróquia na qual trabalho pertence à Machia. Não há como eu não achar que você, como prefeita, é quem precisa tomar conta de tudo, Nicolle. E entenda que não é nada pessoal. Estou falando com a prefeita e não com a minha amiga pessoal.Ela riu, com ironia:- Está querendo dizer que votaria em Danna Dave, Killian?- Eu... Não disse isto. – Franzi a testa, confuso.- Tenho tanta responsabilidade por aquele orfanato quanto o maldito prefeito da cidade de Belém. Aliás, quando foi que você decidiu juntar crianças órfãs por aí sem ter condições de mantê-las?- Esta é minha funç&a
POV ISLA- Por favor, Danna... Me diga o que aconteceu ontem. – Pedi, ainda à mesa, percebendo o quanto ela estava abalada.Eu e Vanessa sempre nos demos bem e praticamente nunca tivemos segredos. No entanto eu sabia que ela me escondia coisas a respeito de Danna, já que para mim era claro que estavam tendo uma forte ligação, o que eu não esperava que fosse tão imediata, embora ambas tivessem o mesmo sangue correndo nas veias. E eu deveria estar feliz por aquilo, por aquele encontro de almas entre as duas, mas não queria que Vanessa me mentisse por conta de Danna.- Eu já disse que está tudo certo. – Ela garantiu, não me convencendo.Suspirei, furiosa. Eu vi que ela foi deixada em casa por Lourenço e que ficou horas trancada no quarto com Vanessa para depois irem juntas para o banheiro. Percebi o chuveiro ligado e sabia que elas não tinham tomado banho juntas a
Minha sobrinha não era o tipo de pessoa que se deixaria abalar por Nicolle Sturman, já que não a conhecia e não sabia o poder de persuasão que ela tinha. Aliás, elas me pareciam bem iguais: fortes, decididas e dispostas a fazer tudo pelo que queriam.- Ouvi boatos de que pensa em se candidatar à Prefeitura. – O tom de voz de Nicolle foi menos arrogante.Ok, agora “eu” precisava assimilar aquilo. Como assim Danna estava dizendo que seria prefeita de Machia? Ela não havia comentado nada comigo a respeito e certamente também não com Vanessa, ou minha filha teria me contado.Mas... Se fôssemos levar em conta o velho ditado que “A fruta não cai longe do pé”, minha sobrinha podia sim ser uma pedra no sapato de Nicolle Sturman, caso tivesse herdado o poder de discurso e convencimento do pai.- Sim, passou pela minha cabeça me candidatar,
POV DANNA DAVENos dias que passaram tive vontade de ver e falar com Killian. Mas não o fiz. Infelizmente... Ou “feliz (mente)” a presença dele não estava me fazendo bem e eu não estava sabendo lidar com algumas situações que vinham da nossa convivência como o ciúme e a forma como ele me tratava em prol de proteger outra pessoa.A rejeição era algo com que eu estava acostumada e sinceramente não era aquilo que me incomodava. Mas a dor causada pelas palavras que ele proferia a mim em detrimento de favorecer Juliana. E por ironia do destino, numa das primeiras vezes que eu lidava com a sinceridade, passava por mentirosa. E era justo um padre me tratar daquela forma, não acreditando em mim?Aliás, alguém acreditava em mim? Acreditar no sentido de crer que eu poderia ser uma pessoa a fazer algo de bom ou mesmo importante na vida. Eu sabia que sobre as coisas
- Sim. – Confessei.- Creio que esteja na hora de dar um basta nos encontros entre vocês, mesmo que sejam “coincidência”. Luane é minha amiga... E ela também foi receptiva com você e a deixou entrar na nossa relação de amizade. E amigos são leais... E não é por conta de um pacto de sangue, entende? É porque é o correto a fazer, ser leal a quem lhe é leal.- Eu entendi. E não vou mais sair com Lourenço. E isto não é só por Luane, mas também por mim.- Eu confio em você.- Confia?- Sim.Eu a abracei e nem sei ao certo o porquê. Senti seu cheiro já tão familiar e uma emoção invadiu meu coração. Poderia uma pessoa que eu conheci há tão pouco tempo já ter um lugar especial dentro de mim? Seria Vanessa, minha prima, que eu nunc
- Pelo visto você não sabe quem é a verdadeira Juliana Sturman – eu ri, não contendo o deboche – E o mais incrível é que a conhece há anos. Me pergunto se ela sempre o enganou desta forma ou só age assim comigo. Mas na verdade sei a resposta da minha própria pergunta: ela sempre foi assim. E você não foi capaz de perceber.- Isto quer dizer que você está fora da pintura da igreja?- O próprio padre José mencionou que você não estava agindo certo ao me dar a pintura como penitência. Ainda irá insistir nisto?- Pode ajudar a organizar a festa da igreja.- E o orfanato?Ele riu, balançando a cabeça, confuso:- O que tem o orfanato?- Por que não posso trabalhar lá?- Você... Não tem jeito algum com crianças. E menos ainda com limpeza, cozinha ou algo do ti