POV DANNA DAVE
Nos dias que passaram tive vontade de ver e falar com Killian. Mas não o fiz. Infelizmente... Ou “feliz (mente)” a presença dele não estava me fazendo bem e eu não estava sabendo lidar com algumas situações que vinham da nossa convivência como o ciúme e a forma como ele me tratava em prol de proteger outra pessoa.
A rejeição era algo com que eu estava acostumada e sinceramente não era aquilo que me incomodava. Mas a dor causada pelas palavras que ele proferia a mim em detrimento de favorecer Juliana. E por ironia do destino, numa das primeiras vezes que eu lidava com a sinceridade, passava por mentirosa. E era justo um padre me tratar daquela forma, não acreditando em mim?
Aliás, alguém acreditava em mim? Acreditar no sentido de crer que eu poderia ser uma pessoa a fazer algo de bom ou mesmo importante na vida. Eu sabia que sobre as coisas
- Sim. – Confessei.- Creio que esteja na hora de dar um basta nos encontros entre vocês, mesmo que sejam “coincidência”. Luane é minha amiga... E ela também foi receptiva com você e a deixou entrar na nossa relação de amizade. E amigos são leais... E não é por conta de um pacto de sangue, entende? É porque é o correto a fazer, ser leal a quem lhe é leal.- Eu entendi. E não vou mais sair com Lourenço. E isto não é só por Luane, mas também por mim.- Eu confio em você.- Confia?- Sim.Eu a abracei e nem sei ao certo o porquê. Senti seu cheiro já tão familiar e uma emoção invadiu meu coração. Poderia uma pessoa que eu conheci há tão pouco tempo já ter um lugar especial dentro de mim? Seria Vanessa, minha prima, que eu nunc
- Pelo visto você não sabe quem é a verdadeira Juliana Sturman – eu ri, não contendo o deboche – E o mais incrível é que a conhece há anos. Me pergunto se ela sempre o enganou desta forma ou só age assim comigo. Mas na verdade sei a resposta da minha própria pergunta: ela sempre foi assim. E você não foi capaz de perceber.- Isto quer dizer que você está fora da pintura da igreja?- O próprio padre José mencionou que você não estava agindo certo ao me dar a pintura como penitência. Ainda irá insistir nisto?- Pode ajudar a organizar a festa da igreja.- E o orfanato?Ele riu, balançando a cabeça, confuso:- O que tem o orfanato?- Por que não posso trabalhar lá?- Você... Não tem jeito algum com crianças. E menos ainda com limpeza, cozinha ou algo do ti
- E é fácil simplesmente fazer uma promessa a Deus e cumprir? E se você não aguentar ficar longe dela a vida inteira?- Danna, eu sou ciente dos meus deveres enquanto padre. Não tente desvendar minha mente ou coração, por favor.- Por que não quer que eu me envolva com Lourenço?- Ele tem uma má reputação.- Mas é um policial. Eu não devo confiar no policial da cidade de Machia? Não é dever dele deixar as pessoas seguras?- Lourenço não dá segurança a ninguém, acredite.- Eu... Sei.- Lembro do estado em que a encontrei naquela noite, perdida e drogada. Eu sinceramente não quero que isto torne a acontecer. Dentre os motivos que seu pai a mandou para cá, creio que um deles seja o seu envolvimento com drogas.- Talvez você não acredite em mim, mas não s
POV KILLIAN DE ALCÂNTARAAssim que vi Juliana soltei imediatamente o pulso de Danna. E não que eu estivesse fazendo algo errado, mas não me senti bem com a situação.- Estou... Interrompendo algo? – Juliana perguntou de forma hesitante.- Claro que não, Juli! – dei um passo para o lado, a fim de me afastar ainda mais de Danna - Na verdade eu estava explicando para Danna como faço o suco de laranjas... – Peguei o espremedor e passei a eu mesmo espremer as frutas, um pouco aturdido.- Foi muito bom tê-la encontrado aqui, Danna – Juliana falou enquanto movia a sua cadeira de rodas na direção da outra mulher – Fiz isto para você. – Entregou o que tinha nas mãos, que percebi ser uma forma pequena.Danna pegou desconfiada e retirou o pano de copa, avistando o bolo caseiro. Olhou para Juliana, parecendo pedir explicações.
- Eu não acho que esta discussão seja saudável. E sinceramente, me deixa bem pouco à vontade. – Fui sincero – Minha casa sempre esteve aberta para todos, assim como a igreja. Não é minha intenção fechá-la para determinadas pessoas. E espero que não me façam chegar a este ponto. – Olhei para as duas.Danna suspirou:- Se você conhece Killian desde sempre e tem tanto carinho por ele, por que fez questão que eu quebrasse a imagem do santo, sabendo da importância que ela tinha não só para a igreja, mas também para ele?- Danna! – Embora eu só tenha pronunciado o nome dela, pareceu uma reprovação a forma como ela estava agindo, o que não estava errado de um todo.Eu via Juliana ali, abrindo o coração e tentando passar por cima dos mal entendidos e recomeçar do zero. Por&eac
Abaixei-me e fiquei próximo dela:- Eu sei que tenta! E fico muito feliz que queira me ajudar com ela. – Peguei suas mãos geladas.- Por que quer tanto ajudá-la, Killian?- Danna me parece tão perdida, Juli. É como se eu colocasse nela a perspectiva de que Deus é capaz de trabalhar através de mim. Esta mulher precisa acreditar em algo, pois seu coração está totalmente quebrado.- E o seu coração, Killian? – ela retirou as mãos das minhas e pegou meu rosto, puxando-me para ainda mais próximo de seu corpo – Ele ainda me pertence?- Meu coração pertence a Deus, Juli. E você sabe disto.- E se Deus não se importasse que você ainda me amasse, mas continuasse a ser um padre e cumprir com seus deveres?- Juli, eu amo você... Mas não da forma como era antes. – Fui sincero &ndas
Claro que Deus não teria me ajudado, especialmente com Killian, um padre. Sim, Juliana tinha que ter entrado e atrapalhado tudo.Enquanto eu ia para casa, sentia meu coração apertado. E não, não era a primeira vez que eu me sentia triste ou incomodada com alguma coisa. Então por que justo naquela doía tanto?Killian jamais me olharia do jeito que olhava para ela. O sorriso era terno e gentil, os olhos azuis pareciam até ficar mais tranquilos e calmos. Tudo nele mudava na presença de Juliana. Era uma luta bem injusta para mim, já que ela o conhecia há muitos anos antes.Eu estava tão cansada de ser abandonada por tudo e todos. Sempre a secundária, sempre a sem importância, sempre a que menos importava em qualquer lugar.Tive vontade de ir embora... Não sei se de Machia, mas do mundo. Sair dali e voltar para a capital já não era algo que eu
- Vou no meu quarto para retirar este vestido e colocar algo mais fresco. Está muito calor. Quer conhecer minha casa?Conhecer a casa? Um convite bem estranho! Mas confirmei fazendo um sinal afirmativo com a cabeça.Atravessamos a sala e chegamos numa outra sala de jantar. Haviam alguns quadros na parede, de muito mal gosto. Embora a casa fosse ampla, era extremamente cafona. Mas aquilo não era algo que eu diria a ela, embora pensasse. Talvez eu já conseguisse conter meus pensamentos, por mais que fosse bem difícil.A cozinha era ampla também e parecia que tudo ali era adaptado para que Juliana pudesse se locomover na sua cadeira de rodas sem ter dificuldades. Até que vi a escada, que certamente dava acesso ao segundo andar.- Por onde você sobe? – Perguntei, curiosa.- Eu não subo.Olhei-a, confusa:- Não tem acesso ao segundo andar da sua própria casa?