- Eu não acho que esta discussão seja saudável. E sinceramente, me deixa bem pouco à vontade. – Fui sincero – Minha casa sempre esteve aberta para todos, assim como a igreja. Não é minha intenção fechá-la para determinadas pessoas. E espero que não me façam chegar a este ponto. – Olhei para as duas.
Danna suspirou:
- Se você conhece Killian desde sempre e tem tanto carinho por ele, por que fez questão que eu quebrasse a imagem do santo, sabendo da importância que ela tinha não só para a igreja, mas também para ele?
- Danna! – Embora eu só tenha pronunciado o nome dela, pareceu uma reprovação a forma como ela estava agindo, o que não estava errado de um todo.
Eu via Juliana ali, abrindo o coração e tentando passar por cima dos mal entendidos e recomeçar do zero. Por&eac
Abaixei-me e fiquei próximo dela:- Eu sei que tenta! E fico muito feliz que queira me ajudar com ela. – Peguei suas mãos geladas.- Por que quer tanto ajudá-la, Killian?- Danna me parece tão perdida, Juli. É como se eu colocasse nela a perspectiva de que Deus é capaz de trabalhar através de mim. Esta mulher precisa acreditar em algo, pois seu coração está totalmente quebrado.- E o seu coração, Killian? – ela retirou as mãos das minhas e pegou meu rosto, puxando-me para ainda mais próximo de seu corpo – Ele ainda me pertence?- Meu coração pertence a Deus, Juli. E você sabe disto.- E se Deus não se importasse que você ainda me amasse, mas continuasse a ser um padre e cumprir com seus deveres?- Juli, eu amo você... Mas não da forma como era antes. – Fui sincero &ndas
Claro que Deus não teria me ajudado, especialmente com Killian, um padre. Sim, Juliana tinha que ter entrado e atrapalhado tudo.Enquanto eu ia para casa, sentia meu coração apertado. E não, não era a primeira vez que eu me sentia triste ou incomodada com alguma coisa. Então por que justo naquela doía tanto?Killian jamais me olharia do jeito que olhava para ela. O sorriso era terno e gentil, os olhos azuis pareciam até ficar mais tranquilos e calmos. Tudo nele mudava na presença de Juliana. Era uma luta bem injusta para mim, já que ela o conhecia há muitos anos antes.Eu estava tão cansada de ser abandonada por tudo e todos. Sempre a secundária, sempre a sem importância, sempre a que menos importava em qualquer lugar.Tive vontade de ir embora... Não sei se de Machia, mas do mundo. Sair dali e voltar para a capital já não era algo que eu
- Vou no meu quarto para retirar este vestido e colocar algo mais fresco. Está muito calor. Quer conhecer minha casa?Conhecer a casa? Um convite bem estranho! Mas confirmei fazendo um sinal afirmativo com a cabeça.Atravessamos a sala e chegamos numa outra sala de jantar. Haviam alguns quadros na parede, de muito mal gosto. Embora a casa fosse ampla, era extremamente cafona. Mas aquilo não era algo que eu diria a ela, embora pensasse. Talvez eu já conseguisse conter meus pensamentos, por mais que fosse bem difícil.A cozinha era ampla também e parecia que tudo ali era adaptado para que Juliana pudesse se locomover na sua cadeira de rodas sem ter dificuldades. Até que vi a escada, que certamente dava acesso ao segundo andar.- Por onde você sobe? – Perguntei, curiosa.- Eu não subo.Olhei-a, confusa:- Não tem acesso ao segundo andar da sua própria casa?
Num ímpeto, e sem saber porque, me joguei na piscina a fim de salvá-la. Mas para minha surpresa, enquanto tentava puxá-la, ela se afastou com rapidez, sendo resgatada por outra pessoa.Quando voltei à superfície, vi Killian indo em direção à escadaria, retirando-a da piscina em seus braços.Nadei na direção deles. Killian colocou Juliana no chão, na parte que havia piso, enquanto tentava desesperadamente acordá-la, chamando por seu nome.Abaixei-me e fiquei do outro lado dela, de frente para Killian, com intuito de fazer a massagem cardíaca.- O coração está batendo! – Falei, percebendo o quanto minha voz tinha dificuldade em sair, de tanta tensão.- Juli... Por favor, Juli, reaja. – Ele sequer olhou na minha direção.Killian optou por fazer um boca a boca e tive dúvidas se realmente f
O carro de polícia parou ao meu lado e vi Lourenço fardado, exibindo um belo sorriso:- Perdida, garota da cidade?- Não... Está tudo bem. – De repente me vi cruzando os braços, tentando tapar a blusa úmida que deixava o sutiã aparente.A forma como aquele homem me olhava me deixava extremamente desconfortável. Mas naquele momento parecia que ele me despia com os olhos, o que fez com que eu sentisse um frio no estômago, causando-me uma sensação ainda mais estranha.- Quer dar uma volta comigo de carro?- Não curto carros de polícia. – Deixei claro, não parando de andar.- Venha, Danna! Não se faça de difícil.- Não quero, Lourenço! – Gritei, para deixar claro que “não”.- Eu só quero levá-la de volta para casa.- Eu não quero voltar..
As palavras de Lourenço ainda ecoavam na minha mente: “Você é a porra de uma virgem”. Eu andava sem rumo, somente caminhava, sem intenção de chegar a algum lugar. Já não tinha mais um lugar no mundo... E fazia tempo. Sempre estive perdida... Mas naquele momento acreditei que jamais me encontraria novamente.Tinha sangue no meu short e o sutiã tinha sido arrebentado, me obrigando a jogá-lo fora pelo caminho. A roupa secara no corpo, aderindo a ele.Dei voltas e voltas e o dia já começava a findar com um belo sol se pondo. Eu nunca tinha observado o quanto o cair do dia era lindo. Talvez a natureza fosse o que mais proporcionasse coisas significativas e que valiam a pena na vida.Quando me encontrei no mesmo lugar em que o Lourenço estacionara o carro, deparei-me novamente com a situação ocorrida a não sei exatamente quanto tempo atrás. Meus p
Chorar por ter sido estuprada nunca foi algo que passou pela minha cabeça. Também não pensei que a dor psicológica fosse tão mais forte do que a física. Minha boceta estava ardendo e ainda sentir Lourenço dentro de mim não era nada comparado a dor que o meu coração disseminava.Dentre meus tantos defeitos, ser covarde nunca foi um deles. Saltei de bung jump, para quedas e voei de asa delta. Agora eu saltaria corajosamente para minha libertação daquela vida de merda.A parte boa é que certamente ninguém encontraria meu corpo. Eu iria embora junto do rio, da água que a cachoeira mandava para bem longe. Uma pena que não consegui deixar uma carta de despedida, exigindo que meu pai não fingisse dor no meu funeral e que padre Killian não falasse uma palavra sequer a meu respeito. Nela certamente eu diria que Lourenço me fez mal. Mas que de cert
- Por isso eu nunca me aproximei de criaturinhas feito você... – suspirei, me abaixando e ficando na altura dela – Você é bem esquisita.- Você também – ela riu – É mulher com cabelos de homem.- Eu não tenho cabelos de homem. Isso é moderno! – Contestei.- Tem sangue! – Ela tocou meu rosto, fazendo com que eu me atirasse para trás, assustada, caindo.Fiquei no chão, exatamente como caí, enquanto observava a lua no céu e as estrelas.- Aonde você mora? – Perguntei sem olhá-la, percebendo o quanto falar com alguém aliviava um pouco minha dor corporal.- Eu moro num orfanato.Levantei-me, esquecendo a dor momentaneamente:- Do padre Killian?- Sim.- Ninguém deu a sua falta?- Eu não sei... Quero voltar.- Eu não tenho ideia para onde ir. Ta