- Vou no meu quarto para retirar este vestido e colocar algo mais fresco. Está muito calor. Quer conhecer minha casa?
Conhecer a casa? Um convite bem estranho! Mas confirmei fazendo um sinal afirmativo com a cabeça.
Atravessamos a sala e chegamos numa outra sala de jantar. Haviam alguns quadros na parede, de muito mal gosto. Embora a casa fosse ampla, era extremamente cafona. Mas aquilo não era algo que eu diria a ela, embora pensasse. Talvez eu já conseguisse conter meus pensamentos, por mais que fosse bem difícil.
A cozinha era ampla também e parecia que tudo ali era adaptado para que Juliana pudesse se locomover na sua cadeira de rodas sem ter dificuldades. Até que vi a escada, que certamente dava acesso ao segundo andar.
- Por onde você sobe? – Perguntei, curiosa.
- Eu não subo.
Olhei-a, confusa:
- Não tem acesso ao segundo andar da sua própria casa?
Num ímpeto, e sem saber porque, me joguei na piscina a fim de salvá-la. Mas para minha surpresa, enquanto tentava puxá-la, ela se afastou com rapidez, sendo resgatada por outra pessoa.Quando voltei à superfície, vi Killian indo em direção à escadaria, retirando-a da piscina em seus braços.Nadei na direção deles. Killian colocou Juliana no chão, na parte que havia piso, enquanto tentava desesperadamente acordá-la, chamando por seu nome.Abaixei-me e fiquei do outro lado dela, de frente para Killian, com intuito de fazer a massagem cardíaca.- O coração está batendo! – Falei, percebendo o quanto minha voz tinha dificuldade em sair, de tanta tensão.- Juli... Por favor, Juli, reaja. – Ele sequer olhou na minha direção.Killian optou por fazer um boca a boca e tive dúvidas se realmente f
O carro de polícia parou ao meu lado e vi Lourenço fardado, exibindo um belo sorriso:- Perdida, garota da cidade?- Não... Está tudo bem. – De repente me vi cruzando os braços, tentando tapar a blusa úmida que deixava o sutiã aparente.A forma como aquele homem me olhava me deixava extremamente desconfortável. Mas naquele momento parecia que ele me despia com os olhos, o que fez com que eu sentisse um frio no estômago, causando-me uma sensação ainda mais estranha.- Quer dar uma volta comigo de carro?- Não curto carros de polícia. – Deixei claro, não parando de andar.- Venha, Danna! Não se faça de difícil.- Não quero, Lourenço! – Gritei, para deixar claro que “não”.- Eu só quero levá-la de volta para casa.- Eu não quero voltar..
As palavras de Lourenço ainda ecoavam na minha mente: “Você é a porra de uma virgem”. Eu andava sem rumo, somente caminhava, sem intenção de chegar a algum lugar. Já não tinha mais um lugar no mundo... E fazia tempo. Sempre estive perdida... Mas naquele momento acreditei que jamais me encontraria novamente.Tinha sangue no meu short e o sutiã tinha sido arrebentado, me obrigando a jogá-lo fora pelo caminho. A roupa secara no corpo, aderindo a ele.Dei voltas e voltas e o dia já começava a findar com um belo sol se pondo. Eu nunca tinha observado o quanto o cair do dia era lindo. Talvez a natureza fosse o que mais proporcionasse coisas significativas e que valiam a pena na vida.Quando me encontrei no mesmo lugar em que o Lourenço estacionara o carro, deparei-me novamente com a situação ocorrida a não sei exatamente quanto tempo atrás. Meus p
Chorar por ter sido estuprada nunca foi algo que passou pela minha cabeça. Também não pensei que a dor psicológica fosse tão mais forte do que a física. Minha boceta estava ardendo e ainda sentir Lourenço dentro de mim não era nada comparado a dor que o meu coração disseminava.Dentre meus tantos defeitos, ser covarde nunca foi um deles. Saltei de bung jump, para quedas e voei de asa delta. Agora eu saltaria corajosamente para minha libertação daquela vida de merda.A parte boa é que certamente ninguém encontraria meu corpo. Eu iria embora junto do rio, da água que a cachoeira mandava para bem longe. Uma pena que não consegui deixar uma carta de despedida, exigindo que meu pai não fingisse dor no meu funeral e que padre Killian não falasse uma palavra sequer a meu respeito. Nela certamente eu diria que Lourenço me fez mal. Mas que de cert
- Por isso eu nunca me aproximei de criaturinhas feito você... – suspirei, me abaixando e ficando na altura dela – Você é bem esquisita.- Você também – ela riu – É mulher com cabelos de homem.- Eu não tenho cabelos de homem. Isso é moderno! – Contestei.- Tem sangue! – Ela tocou meu rosto, fazendo com que eu me atirasse para trás, assustada, caindo.Fiquei no chão, exatamente como caí, enquanto observava a lua no céu e as estrelas.- Aonde você mora? – Perguntei sem olhá-la, percebendo o quanto falar com alguém aliviava um pouco minha dor corporal.- Eu moro num orfanato.Levantei-me, esquecendo a dor momentaneamente:- Do padre Killian?- Sim.- Ninguém deu a sua falta?- Eu não sei... Quero voltar.- Eu não tenho ideia para onde ir. Ta
Andamos de mãos dadas até o sol nascer. E finalmente ela reconheceu o lugar onde morava: o tal orfanato que tanto se comentava na cidade.Assim que vimos o lugar, a miniatura soltou minha mão e saiu correndo, feliz. Minha intenção desde o início foi deixá-la ali, em segurança, para que o padre Killian entendesse que eu não era uma pessoa horrível como ele pensava, mas alguém que podia ter um bom coração e fazer boas ações.Mas enquanto via os cabelos longos daquela coisinha que chamavam de “criança” se soltando e encontrando o vento, fazendo da imagem algo que lembrava a pintura de minha mãe, de uma menina de vestido vermelho a correr pelo matagal sem cor, amarelado, com um lindo sol ao fundo, percebi que eu não precisava provar nada para ninguém. Tinha sido uma boa ação... Mas aquilo não me tornava uma he
Fiquei imóvel, completamente atordoada com a acusação sem sentindo. Então vi a prefeita de Machia surgindo do nada, com uma vestido branco sem mangas, de gola alta, justo, como se fosse a reencarnação de uma santa.- Você será presa! Tentou matar a minha filha! – Me acusou, com o dedo em riste na minha direção.- Eu... Não fiz nada disto! Polícia não... Não... – Dei alguns passos para trás, sentindo a cabeça doer só de pensar em Lourenço.- Minha filha irá denunciá-la assim que se recuperar. Sim, Danna Dave jogou Juliana na piscina, sabendo que minha filha não sabia nadar. Tentou matar uma mulher que precisa de uma cadeira de rodas para se locomover. Que tipo de pessoa faz uma coisa destas com uma inválida? Minha filha não pode se defender e por isto fez o que fez. – Gritou a prefeita, e
Jorge e Calum foram muito simpáticos e atenciosos. E embora não concordassem com o fato de eu não querer ir a um hospital, acabaram aceitando simplesmente me levar para casa, a fim de terem certeza de que eu chegaria bem.Me emprestaram roupas, fazendo-me livrar-me daquele short ensanguentado e da camiseta rasgada e transparente. Quando me despi percebi o estrago que eu havia feito com meu corpo sempre tão bem cuidado e o qual tinha tanto orgulho. Fiquei incerta se as marcas eram de Lourenço ou da queda. Mas independentemente de como tivessem sido adquiridas, eram doloridas demais, tanto no corpo quanto na alma.Algum dia eu me livraria daquela cena?Seria capaz de perdoar aquele homem sendo que quando pensava nele tudo que eu queria era me esconder em um buraco bem fundo e nunca mais sair, de tanto medo? Houve um dia que eu achei que era má. Até que conheci a maldade de verdade.Na história de Lourenço eu seria só mais uma, assim como Luane.Foi quando me dei em conta de que o desgr