POV KILLIAN
Eu ainda estava lamentando o fato de Danna ter quebrado o meu São Francisco de Assis quando ouvi a voz de Marialva me chamando no portão de casa.
Fui atendê-la ali, não disposto a abrir a igreja, já que estava tarde e ela costumava ficar horas rezando e demorando a ir embora. Eu estava cansado. Havia sido um dia cheio de surpresas.
Assim que cheguei no portão a vi com um pote enrolado em um pano de copa.
- Lhe trouxe comida quentinha, padre. – Sorriu.
Eu cheguei a sentir o cheiro de comida boa vindo de dentro do pote. Marialva cozinhava como ninguém.
- É muita gentileza, Marialva. – Peguei o pote ainda quente quando nós dois ouvimos os sons ensurdecedores das motos.
Nos viramos para a estrada e percebemos as várias motocicletas se aproximando. Não tinha dúvidas de que era a turma de Lourenço. Haviam mulheres nas caronas e
- Por que eu? Por que não o outro prefeito?- Eu já falei com ele e não resolveu.- E por que eu preciso resolver? Tenho cara de santa, por acaso?- Eu sou de Machia. A paróquia na qual trabalho pertence à Machia. Não há como eu não achar que você, como prefeita, é quem precisa tomar conta de tudo, Nicolle. E entenda que não é nada pessoal. Estou falando com a prefeita e não com a minha amiga pessoal.Ela riu, com ironia:- Está querendo dizer que votaria em Danna Dave, Killian?- Eu... Não disse isto. – Franzi a testa, confuso.- Tenho tanta responsabilidade por aquele orfanato quanto o maldito prefeito da cidade de Belém. Aliás, quando foi que você decidiu juntar crianças órfãs por aí sem ter condições de mantê-las?- Esta é minha funç&a
POV ISLA- Por favor, Danna... Me diga o que aconteceu ontem. – Pedi, ainda à mesa, percebendo o quanto ela estava abalada.Eu e Vanessa sempre nos demos bem e praticamente nunca tivemos segredos. No entanto eu sabia que ela me escondia coisas a respeito de Danna, já que para mim era claro que estavam tendo uma forte ligação, o que eu não esperava que fosse tão imediata, embora ambas tivessem o mesmo sangue correndo nas veias. E eu deveria estar feliz por aquilo, por aquele encontro de almas entre as duas, mas não queria que Vanessa me mentisse por conta de Danna.- Eu já disse que está tudo certo. – Ela garantiu, não me convencendo.Suspirei, furiosa. Eu vi que ela foi deixada em casa por Lourenço e que ficou horas trancada no quarto com Vanessa para depois irem juntas para o banheiro. Percebi o chuveiro ligado e sabia que elas não tinham tomado banho juntas a
Minha sobrinha não era o tipo de pessoa que se deixaria abalar por Nicolle Sturman, já que não a conhecia e não sabia o poder de persuasão que ela tinha. Aliás, elas me pareciam bem iguais: fortes, decididas e dispostas a fazer tudo pelo que queriam.- Ouvi boatos de que pensa em se candidatar à Prefeitura. – O tom de voz de Nicolle foi menos arrogante.Ok, agora “eu” precisava assimilar aquilo. Como assim Danna estava dizendo que seria prefeita de Machia? Ela não havia comentado nada comigo a respeito e certamente também não com Vanessa, ou minha filha teria me contado.Mas... Se fôssemos levar em conta o velho ditado que “A fruta não cai longe do pé”, minha sobrinha podia sim ser uma pedra no sapato de Nicolle Sturman, caso tivesse herdado o poder de discurso e convencimento do pai.- Sim, passou pela minha cabeça me candidatar,
POV DANNA DAVENos dias que passaram tive vontade de ver e falar com Killian. Mas não o fiz. Infelizmente... Ou “feliz (mente)” a presença dele não estava me fazendo bem e eu não estava sabendo lidar com algumas situações que vinham da nossa convivência como o ciúme e a forma como ele me tratava em prol de proteger outra pessoa.A rejeição era algo com que eu estava acostumada e sinceramente não era aquilo que me incomodava. Mas a dor causada pelas palavras que ele proferia a mim em detrimento de favorecer Juliana. E por ironia do destino, numa das primeiras vezes que eu lidava com a sinceridade, passava por mentirosa. E era justo um padre me tratar daquela forma, não acreditando em mim?Aliás, alguém acreditava em mim? Acreditar no sentido de crer que eu poderia ser uma pessoa a fazer algo de bom ou mesmo importante na vida. Eu sabia que sobre as coisas
- Sim. – Confessei.- Creio que esteja na hora de dar um basta nos encontros entre vocês, mesmo que sejam “coincidência”. Luane é minha amiga... E ela também foi receptiva com você e a deixou entrar na nossa relação de amizade. E amigos são leais... E não é por conta de um pacto de sangue, entende? É porque é o correto a fazer, ser leal a quem lhe é leal.- Eu entendi. E não vou mais sair com Lourenço. E isto não é só por Luane, mas também por mim.- Eu confio em você.- Confia?- Sim.Eu a abracei e nem sei ao certo o porquê. Senti seu cheiro já tão familiar e uma emoção invadiu meu coração. Poderia uma pessoa que eu conheci há tão pouco tempo já ter um lugar especial dentro de mim? Seria Vanessa, minha prima, que eu nunc
- Pelo visto você não sabe quem é a verdadeira Juliana Sturman – eu ri, não contendo o deboche – E o mais incrível é que a conhece há anos. Me pergunto se ela sempre o enganou desta forma ou só age assim comigo. Mas na verdade sei a resposta da minha própria pergunta: ela sempre foi assim. E você não foi capaz de perceber.- Isto quer dizer que você está fora da pintura da igreja?- O próprio padre José mencionou que você não estava agindo certo ao me dar a pintura como penitência. Ainda irá insistir nisto?- Pode ajudar a organizar a festa da igreja.- E o orfanato?Ele riu, balançando a cabeça, confuso:- O que tem o orfanato?- Por que não posso trabalhar lá?- Você... Não tem jeito algum com crianças. E menos ainda com limpeza, cozinha ou algo do ti
- E é fácil simplesmente fazer uma promessa a Deus e cumprir? E se você não aguentar ficar longe dela a vida inteira?- Danna, eu sou ciente dos meus deveres enquanto padre. Não tente desvendar minha mente ou coração, por favor.- Por que não quer que eu me envolva com Lourenço?- Ele tem uma má reputação.- Mas é um policial. Eu não devo confiar no policial da cidade de Machia? Não é dever dele deixar as pessoas seguras?- Lourenço não dá segurança a ninguém, acredite.- Eu... Sei.- Lembro do estado em que a encontrei naquela noite, perdida e drogada. Eu sinceramente não quero que isto torne a acontecer. Dentre os motivos que seu pai a mandou para cá, creio que um deles seja o seu envolvimento com drogas.- Talvez você não acredite em mim, mas não s
POV KILLIAN DE ALCÂNTARAAssim que vi Juliana soltei imediatamente o pulso de Danna. E não que eu estivesse fazendo algo errado, mas não me senti bem com a situação.- Estou... Interrompendo algo? – Juliana perguntou de forma hesitante.- Claro que não, Juli! – dei um passo para o lado, a fim de me afastar ainda mais de Danna - Na verdade eu estava explicando para Danna como faço o suco de laranjas... – Peguei o espremedor e passei a eu mesmo espremer as frutas, um pouco aturdido.- Foi muito bom tê-la encontrado aqui, Danna – Juliana falou enquanto movia a sua cadeira de rodas na direção da outra mulher – Fiz isto para você. – Entregou o que tinha nas mãos, que percebi ser uma forma pequena.Danna pegou desconfiada e retirou o pano de copa, avistando o bolo caseiro. Olhou para Juliana, parecendo pedir explicações.