Capítulo 1

Não era a primeira e nem a última vez que tentava dormir durante mais de duas horas por noite. Se sentia cansada, estressada, sem vontade de se levantar da cama. Mas essa última parte era por reviver todos os dias o dia mais triste de sua vida. Não conseguia parar de pensar no ocorrido. Não parava de sentir a falta que seu bebê fazia a ela. Vivia com os pensamentos apenas em sua garotinha. Sim, ela teria uma menina. Uma filha. Se não tivesse acontecido aquele terrível pesadelo. Para ela, era um pesadelo. E os dias se tornavam insuportáveis cada vez mais. Principalmente quando até mesmo a presença de seu marido a irritava. Sim, o homem que um dia amou tanto, mas que não conseguia mais ter um sentimento bom por ele. Talvez por ele ignorar sua dor. A dor dele. O aborto. O quarto que eles levaram dias para montar para o bebê deles. Ele ignorava tudo, inclusive o dia em que a filha deles se foi. Ele não falava nela, não entrava no quarto dela, não sentia a morte dela. Ao menos era o que parecia. Para ela, Felicity, seu marido não sofria da mesma maneira que ela. E isso a irritava. Era como se ele não se importasse, era como se ele não amasse a filha deles, não sentisse sua falta.

Ela viu quando o marido saiu para trabalhar, mais uma vez, mais cedo que de costume, mas não mais se importava. Ela estava com raiva, e sentia mais raiva ainda quando o via se focar no maldito trabalho. Faltava pouco para completar três meses de que havia perdido sua garotinha. Lívia Barbieri. E era esse o tempo que fazia que ele nem mesmo passava perto da porta do quartinho dela. O lugar no qual era o mais lindo de todos. E ela odiava vê-lo se afastar de tudo que o lembrava a filha, cada vez mais. Não soube quando começou a sentir aquela raiva, aquele sentimento corrosivo no qual a afastava de seu marido cada vez mais, mas a cada dia vinha crescendo mais e mais em seu peito. Todos os dias uma briga nova, na qual ela mesma começava. E ele respondia a altura. Os gritos de ambos com toda a certeza poderiam ser ouvido por todos os vizinhos daquele condomínio, e mesmo assim não se importava. Tudo que pensava era em esbravejar toda a amargura que sentia por ter perdido sua filhinha. Ela era um sonho. Havia planejado Lívia desde o começo. Ela havia sido concebida na casa de praia de seu marido, em sua terceira lua-de-mel. Havia sido perfeito. Passaram duas semanas naquele lugar maravilhoso, sentindo o calor do corpo um do outro por todos os dias, simplesmente porque ambos queriam muito um filho e que para isso precisavam naquele momento, estar longe de tudo e de todos para que pudessem aproveitar um ao outro. E então, quando voltaram, mais especificamente um mês depois, a notícia de que finalmente estavam esperando o filho que tanto desejaram. Foram seis meses planejando cada detalhe para sua chegada; arrumando seu quartinho, comprando roupinhas, brinquedos, recebendo presente de todos os amigos e familiares, e de repente, tudo havia evaporado por conta de um maldito acidente. E toda vez que ela se lembrava dele, se escondia no quarto infantil e ficava lá por horas, até que sentisse o calor de sua filha, mesmo que fosse apenas sua mente o projetando.

Por dias se afastou de Oliver, se escondeu em um dos quartos de hóspedes e agradeceu quando ele entendeu que ela não queria contato. Mas isso não durou tanto tempo. Ele apareceu no quarto uma, duas, três vezes, mas ela sempre o mandava ficar longe ou mesmo batia a porta na cara dele, sendo a do quarto ou a do de banho. E então começaram as brigas, as palavras grosseiras e cruéis, mais da parte dela que dele, ela tinha de admitir. A raiva a consumia, e por isso tudo era motivo para brigar com ele. Não mais dizia “seja bem-vindo de volta, meu amor”, não o beijava, não lhe sorria, não o esperava com um jantar delicioso, ou mesmo um almoço no qual era seu prato preferido, eram sempre discussões, e por isso ele começava a chegar cada vez mais tarde, e não mais aparecia para os costumeiros almoços a dois. 

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