Capítulo 4

— Você está bem?

E ele sentiu raiva ao ouvir aquela pergunta.

— O que você acha, Liam? 

Acabou sendo grosso, mas não era sua intenção, e por isso suspirou.

— O que você quer? – Perguntou, mais calmo.

Liam pensou duas vezes antes de dizer o que foi fazer ali. Principalmente quando tinha percebido que o amigo não estava bem. O que não era uma grande surpresa. Isso vinha sendo rotineiro. Ele nunca chegava com um sorriso, mesmo que pequeno, nos lábios. Desde que perdeu a filha, ele vinha se estressando mais fácil. E não tinha paciência com ninguém, nem com os amigos, ainda que fizesse todo o esforço do mundo para não jogar sobre os ombros dele, uma culpa que eles não tinham. E os amigos o compreendiam. Apenas isso. Sabiam que ele estava passando por momentos difíceis e precisava de tempo. E de apoio. Sobretudo apoio, porque infelizmente, isso ele não vinha tendo em casa. 

— Eu estou com seus clientes. 

O moreno suspirou, bagunçando os cabelos.

— Olha, eu cuido disso se quiser. 

Se fosse em outro momento, no qual estaria louco para ver a esposa grávida e com desejos em casa ele diria um por favor com um sorriso agradecido nos lábios.

— Eu preciso de um tempo, apenas.

— Eu posso fazer isso, Oliver, me deixe fazer isso. – Insistiu.

O Barbieri olhou para a “fotografia” em sua mão esquerda, sentindo um nós na garganta; sua cabeça começava a latejar, seus olhos começavam a arder e tudo que ele gostaria naquele momento era de um banho relaxante e sua cama, para não ter que se lembrar de toda reviravolta de sua vida, pensar na dor que era saber que em alguns dias seria o aniversário de “morte” de sua garotinha. 

— Tudo bem. – Diz finalmente. – Eu preciso de descansar um pouco. – Bufou. – Mas nem um lugar tranquilo eu tenho para ir. – Murmurou, bagunçando os cabelos mais uma vez, com apenas uma mão.

— Na verdade, tem sim.

— Eu não posso ir para a sua casa, Liam, e nem para a do meu irmão, então... 

— Não, eu sei que não consegue. – Diz, sabendo o quanto ver a filha de seu irmão e seu garotinho naquele momento não seria uma boa ideia. – O meu cunhado está em casa sozinho porque a esposa está em uma viagem de trabalho. E eu tenho certeza de que ele não se importaria de ter a sua presença na casa dele. – Percebeu que seu amigo não estava muito certo daquela ideia, e por isso continuou. – Você precisa espairecer e porque não na casa de um dos nossos amigos? Vai para lá, descansa e mais tarde...

— Vou para onde? Eu não consigo voltar para casa e ouvir mais ofensas, e ter mais discussões, Liam. – Diz de forma angustiada. 

— Você disse para mim que gostaria de fazer algo para mudar sua relação com Felicity... – Se aproximou da mesa na qual estava entre ele e o amigo. – Então comece ignorando as palavras dela. Não de forma maldosa, mas apenas, respira fundo e segue para o seu quarto. 

O outro balançou a cabeça.

— O que Deus estava pensando quando fez isso, hein?

— Oliver...

— O que ELE estava pensando quando tirou minha filha de mim e de Felicity? 

— Tudo tem um propósito. Eu não sei qual é, você também não, ou Felicity, mas ELE sabe. Tudo que tem que fazer é lutar pelo seu casamento apesar de tudo isso. Porque você perdeu sua filha, mas ainda tem a sua esposa.

— Eu tenho? Eu realmente tenho a minha esposa? 

— Vai para a casa do Théo, Oliver... – Se virou, andando até a porta. – Descanse, e faça o que eu disse quando chegar em casa. 

O amigo se foi e ele se viu sozinho. Perdido. E sem ter muito o que fazer além de fazer como o amigo o instruiu, afinal, seria o melhor a se fazer. Sabia que poderia contar com todos eles. Ainda que fosse difícil "pedir ajuda". Para ele, sempre foram palabvras difíceis a sair de sua boca. Era orgulhoso. Mas quem, naquela família, não era? Bem, com exceção de sua mãe, claro. Não tinha um Barbiere que não era orgulhoso, talvez por isso ele era mais que qualquer um ali.

Suspirando, ele deixou o escritório. Não foi demorado chegar a casa de seu primo. Ele era o único que morava o mais próximo da empresa. Talvez por gostar de chegar cedo todos os dias. Ele era daqueles que não se atrasava e gostava de ser o primeiro a chegar. Bem, agora, o primeiro era Oliver. E todos sabiam bem o motivo. E agradecia aos céus por eles nunca comentarem sobre. 

— Entra aí.

Oliver foi recebido bem como sempre. 

— Eu pedi uma comida. 

— Não tenho fome alguma. Mas valeu.

Théo se jogou no sofá quase ao mesmo tempo em que o amigo, observando-o, mas não de forma que ele pudesse perceber. Não queria deixar as coisas mais estranhas. Ele já sabia o motivo de Oliver estar ali. O cunhado ligou, explicou a situação, então já o esperava quando ele chegou. 

A Vick está fora?

É, ela foi fazer uma viagem. Mas não vai levar mais de uma semana. 

Hum. 

Théo o viu se deitar no sofá com uma das mãos abaixo da cabeça.

Ela me deixou tarefas, acredita? Tarefas. Minha esposa acha que eu tenho quantos anos?

Seis. É assim desde que se conhecem. 

Théo teve de concordar. 

Você deveria usar um dos quartos, já que está tão cansado. 

Seu sofá está aconchegante. 

Théo imaginou então que o amigo não estivesse se sentindo muito aconchegante em casa, mesmo em cima de lencóis de linho super caros e um colchão super confortável. Se colocou no lugar dele, e pensou que se fosse ele, passando por tudo aquilo, já teria desistido. Não iria suportar toda aquela situação. Tinha pavio muito curto. E não era de ficar ouvindo coisas calado. Talvez ele teria deixado aquela casa há muito tempo. Teria deixado a esposa, que parecia querer isso mesmo. Teria tentado voltar a sua vida de solteiro, sem pensar duas vezes, porque ele não era daqueles que ficava se deixando remoer uma dor que naturalmente era muito dolorosa. Poxa, era um filho. Ele não era pai, mas queria muito ser. E só não tinha acontecido ainda, porque sua esposa não estava pronta para engravidar. Apenas isso. 

Não precisa ficar preocupado comigo, pode continuar fazendo suas tarefas. Sei que a Vick deixou uma lista enorme para cada dia. 

Théo ficou surpreso por escutar a voz dele, afinal, achou que ele já estava dormindo. 

Fica a vontade, cara. A casa é sua. 

Não houve resposta, e por isso Théo apenas o deixou ali, descansando. 

Continue lendo no Buenovela
Digitalize o código para baixar o App

Capítulos relacionados

Último capítulo

Digitalize o código para ler no App