— Você está bem?
E ele sentiu raiva ao ouvir aquela pergunta.
— O que você acha, Liam?
Acabou sendo grosso, mas não era sua intenção, e por isso suspirou.
— O que você quer? – Perguntou, mais calmo.
Liam pensou duas vezes antes de dizer o que foi fazer ali. Principalmente quando tinha percebido que o amigo não estava bem. O que não era uma grande surpresa. Isso vinha sendo rotineiro. Ele nunca chegava com um sorriso, mesmo que pequeno, nos lábios. Desde que perdeu a filha, ele vinha se estressando mais fácil. E não tinha paciência com ninguém, nem com os amigos, ainda que fizesse todo o esforço do mundo para não jogar sobre os ombros dele, uma culpa que eles não tinham. E os amigos o compreendiam. Apenas isso. Sabiam que ele estava passando por momentos difíceis e precisava de tempo. E de apoio. Sobretudo apoio, porque infelizmente, isso ele não vinha tendo em casa.
— Eu estou com seus clientes.
O moreno suspirou, bagunçando os cabelos.
— Olha, eu cuido disso se quiser.
Se fosse em outro momento, no qual estaria louco para ver a esposa grávida e com desejos em casa ele diria um por favor com um sorriso agradecido nos lábios.
— Eu preciso de um tempo, apenas.
— Eu posso fazer isso, Oliver, me deixe fazer isso. – Insistiu.
O Barbieri olhou para a “fotografia” em sua mão esquerda, sentindo um nós na garganta; sua cabeça começava a latejar, seus olhos começavam a arder e tudo que ele gostaria naquele momento era de um banho relaxante e sua cama, para não ter que se lembrar de toda reviravolta de sua vida, pensar na dor que era saber que em alguns dias seria o aniversário de “morte” de sua garotinha.
— Tudo bem. – Diz finalmente. – Eu preciso de descansar um pouco. – Bufou. – Mas nem um lugar tranquilo eu tenho para ir. – Murmurou, bagunçando os cabelos mais uma vez, com apenas uma mão.
— Na verdade, tem sim.
— Eu não posso ir para a sua casa, Liam, e nem para a do meu irmão, então...
— Não, eu sei que não consegue. – Diz, sabendo o quanto ver a filha de seu irmão e seu garotinho naquele momento não seria uma boa ideia. – O meu cunhado está em casa sozinho porque a esposa está em uma viagem de trabalho. E eu tenho certeza de que ele não se importaria de ter a sua presença na casa dele. – Percebeu que seu amigo não estava muito certo daquela ideia, e por isso continuou. – Você precisa espairecer e porque não na casa de um dos nossos amigos? Vai para lá, descansa e mais tarde...
— Vou para onde? Eu não consigo voltar para casa e ouvir mais ofensas, e ter mais discussões, Liam. – Diz de forma angustiada.
— Você disse para mim que gostaria de fazer algo para mudar sua relação com Felicity... – Se aproximou da mesa na qual estava entre ele e o amigo. – Então comece ignorando as palavras dela. Não de forma maldosa, mas apenas, respira fundo e segue para o seu quarto.
O outro balançou a cabeça.
— O que Deus estava pensando quando fez isso, hein?
— Oliver...
— O que ELE estava pensando quando tirou minha filha de mim e de Felicity?
— Tudo tem um propósito. Eu não sei qual é, você também não, ou Felicity, mas ELE sabe. Tudo que tem que fazer é lutar pelo seu casamento apesar de tudo isso. Porque você perdeu sua filha, mas ainda tem a sua esposa.
— Eu tenho? Eu realmente tenho a minha esposa?
— Vai para a casa do Théo, Oliver... – Se virou, andando até a porta. – Descanse, e faça o que eu disse quando chegar em casa.
O amigo se foi e ele se viu sozinho. Perdido. E sem ter muito o que fazer além de fazer como o amigo o instruiu, afinal, seria o melhor a se fazer. Sabia que poderia contar com todos eles. Ainda que fosse difícil "pedir ajuda". Para ele, sempre foram palabvras difíceis a sair de sua boca. Era orgulhoso. Mas quem, naquela família, não era? Bem, com exceção de sua mãe, claro. Não tinha um Barbiere que não era orgulhoso, talvez por isso ele era mais que qualquer um ali.
Suspirando, ele deixou o escritório. Não foi demorado chegar a casa de seu primo. Ele era o único que morava o mais próximo da empresa. Talvez por gostar de chegar cedo todos os dias. Ele era daqueles que não se atrasava e gostava de ser o primeiro a chegar. Bem, agora, o primeiro era Oliver. E todos sabiam bem o motivo. E agradecia aos céus por eles nunca comentarem sobre.
— Entra aí.
Oliver foi recebido bem como sempre.
— Eu pedi uma comida.
— Não tenho fome alguma. Mas valeu.
Théo se jogou no sofá quase ao mesmo tempo em que o amigo, observando-o, mas não de forma que ele pudesse perceber. Não queria deixar as coisas mais estranhas. Ele já sabia o motivo de Oliver estar ali. O cunhado ligou, explicou a situação, então já o esperava quando ele chegou.
— A Vick está fora?
— É, ela foi fazer uma viagem. Mas não vai levar mais de uma semana.
— Hum.
Théo o viu se deitar no sofá com uma das mãos abaixo da cabeça.
— Ela me deixou tarefas, acredita? Tarefas. Minha esposa acha que eu tenho quantos anos?
— Seis. É assim desde que se conhecem.
Théo teve de concordar.
— Você deveria usar um dos quartos, já que está tão cansado.
— Seu sofá está aconchegante.
Théo imaginou então que o amigo não estivesse se sentindo muito aconchegante em casa, mesmo em cima de lencóis de linho super caros e um colchão super confortável. Se colocou no lugar dele, e pensou que se fosse ele, passando por tudo aquilo, já teria desistido. Não iria suportar toda aquela situação. Tinha pavio muito curto. E não era de ficar ouvindo coisas calado. Talvez ele teria deixado aquela casa há muito tempo. Teria deixado a esposa, que parecia querer isso mesmo. Teria tentado voltar a sua vida de solteiro, sem pensar duas vezes, porque ele não era daqueles que ficava se deixando remoer uma dor que naturalmente era muito dolorosa. Poxa, era um filho. Ele não era pai, mas queria muito ser. E só não tinha acontecido ainda, porque sua esposa não estava pronta para engravidar. Apenas isso.
— Não precisa ficar preocupado comigo, pode continuar fazendo suas tarefas. Sei que a Vick deixou uma lista enorme para cada dia.
Théo ficou surpreso por escutar a voz dele, afinal, achou que ele já estava dormindo.
— Fica a vontade, cara. A casa é sua.
Não houve resposta, e por isso Théo apenas o deixou ali, descansando.
A coisa mais difícil foi chegar em casa. Havia dado algumas voltas pela cidade, tentando encontrar coragem para voltar para casa. Depois de uma conversa que teve com seu primo após despertar de um sono muito bom, diga-se de passagem, percebeu que o melhor a se fazer era tirar um tempo a mais por ali. Quando despertou a refeição estava pronta. Théo era daqueles que gostava de aconselhar as pessoas. E por isso Oliver gostava de conversar com ele. Principalmente quando tudo que ele mais precisava no momento, era de conselhos. Eles conversaram – ele mais que o primo –, jogaram videogame – ideia para que ele não ficasse pensando o tempo todo em seus problemas com a esposa –, e então, descansou mais um pouco. Já passava das 19h quando saiu da casa de Théo, agradecendo por tudo, e quando percebeu, estava dando voltas pela cidade, temendo, pela primeira vez, por algo em sua vida. Não queria estar em casa, muito menos quando sabia que sua esposa estava acordada. Ela odiava estar sozinha, mas o
Oliver saiu do banheiro apenas de toalha, encontrando sua esposa no closet deles ao seguir até lá para pegar uma roupa para dormir. Confortável, já que não se sentia confortável dentro de sua própria casa. Ou quarto. Ou cama. Ao menos a roupa deveria fazê-lo se sentir confortável, afinal. E de repente, antes que pudesse dar algum passo em direção a seu lado do closet, onde se encontravam suas roupas, ouviu um “achei”. Ficou curioso para saber o que ela finalmente havia encontrado. E se recriminou por isso. Nas mãos de Felicity havia uma caixinha na qual havia um colar lindo de ouro branco; havia mandado fazer quando soube que teriam uma menina. Engoliu em seco ao ler o nome na joia. “Lívia” — Por que está pegando isso? Seus olhos finalmente se encontraram, após encontrar sua voz novamente. — É da minha filha. — Nossa filha. – Retrucou. — Eu vou deixar junto de suas coisinhas no quarto. – Respondeu, andando para longe do marido. – Ela vai gostar de ver isso junto aos seus outros
Felicity não soube por quanto tempo ficou deitada de lado, na cama macia, com ambas as mãos abaixo da orelha e os olhos totalmente abertos. Ela não enxergava nada naquele momento, não estava naquele plano, e mesmo assim, podia sentir as lágrimas descendo por seu rosto. Ela não sabia que ainda tinha lágrimas, não quando havia chorado por dias e mais dias, incansavelmente, mas ali estavam elas enquanto pensava em sua filhinha. Tocou a barriga plana, fechando as mãos em cima dela, imaginando como seria se ela ainda estivesse ali. Provavelmente sua vida e a de seu marido não estaria desmoronando da forma como estava. Brigavam todos os dias, e ela sabia que era sua culpa. Mas ela não conseguia se controlar, nem com as palavras, nem com os sentimentos. Estava com raiva. E descontava no único que não tinha culpa. Sua mente sabia que ele não tinha culpa, mas seu coração, ele o culpava todos os dias por não estar junto dela quando escorregou em uma poça d’água no chão da cozinha enquanto lavav
Pelos príximos dias, Oliver aparecia apenas para ver como ela estava, e sempre quando ela estava dormindo. Não queria mais brigas. A observava por horas, e saia de mansinho, querendo evitar que ela percebesse sua presença de alguma forma. Não queria desistir dela. Não queria deixá-la sozinha naquela casa. Mas estava quebrado. Precisava de alguma forma se recuperar ao menos um pouco. Aquela casa, aquela situação, aquelas lembranças, faziam um mal a ele, que ele não conseguia nem sequer imaginar o quanto. Mas podia sentir. Ele não queria causar mais dor em si ou na esposa, então achou melhor dar um tempo de tudo. Théo o recebeu de braços abertos e ele era muito grato. Se não fosse por ele, estaria... em um hotel. Irritantemente sozinho. E mesmo que fosse bom estar sozinho de vez em quando, ainda assim, sentia a necessidade de ter com quem conversar. Liam quase não acreditou quando soube. E mesmo que não estivesse de acordo, não disse uma palavra, e Oliver foi grato também por isso. Não
Oliver soube que havia algo de errado no instante em que não a encontrou na cozinha, como sempre, fazendo seus bolinhos, cookies ou seja lá o que fosse que não a deixasse agitada por todo o dia. Era cedo, mas nem tão cedo, e por isso imaginou que a encontraria ali, na cozinha, cozinhando, que era o que ela fazia quando estava com a cabeça cheia. Mas não foi o que encontrou ao entrar em casa. Tudo estava escuro quando subiu as escadas, e foi isso que o fez ficar em alerta pela primeira vez. Estranhou quando não ouviu seus passos ou mesmo seus sussurros; porque ela havia passado a falar sozinha desde que tudo aconteceu. Por um momento imaginou que sua esposa estivesse dormindo, mas passava das 8h e ela ainda não havia se levantado, então era impossível. Havia tido uma noite ruim e acabou se atrasando para o trabalho, mas nem por isso deixou de passar ali para vê-la. Ainda que soubesse que a encontraria desperta. Pela primeira vez em dias. Vários dias. Quinze, para ser mais exato. Seguiu
Oliver estava naquela sala de espera, angustiado, esperando por uma notícia e que ela fosse boa. Após chegar com sua esposa em seus braços, gritando desesperado por ajuda, trouxeram uma maca e a levaram, mas aquele não era o hospital no qual trabalhava Agatha Villela, a médica na qual era a chefe dos residentes sua esposa trabalha — a mesma na qual havia sido de sua esposa em sua residência no hospital Villela —, e por isso ligou para a mulher loira, pedindo para que ela comparecesse e cuidasse de Felicity. Sabia que ela era a melhor e naquele momento ele precisava da melhor. Sentia-se um pouco culpado; talvez, se não tivesse dito todas aquelas coisas, ela não tivesse feito o que fez. Ele só pensava na angústia que foi encontrá-la com o pulso fraco, completamente desmaiada sobre a cama, com aquele vidro com poucos comprimidos dentro. Quantos ela havia tomado? Por que ela faria isso sabendo o quanto era perigoso? No que ela estava pensando... E Oliver, que andava de um lado par
E então, após dizer o nome, desligou. Seus amigos também deveriam saber, mas não conseguiria ligar para mais alguém e falar com sua própria boca, então abriu o WhatsApp, abriu o grupo no qual estavam todos os seus amigos, inclusive sua esposa, e digitou rapidamente onde estava, o que havia acontecido, contou que não sabia nada de Felicity ainda e pediu para que não comparecessem, pois seria muito tumultuado; ele não conseguiria suportar naquele momento de tensão, mesmo que soubesse que os amigos seriam gentis. Prometeu notícias e então desligou a tela, dando um longo suspiro em seguida. Tinha medo do que ouviria dos médicos, mas precisava acreditar de que ela ficaria bem – do que aconteceu a pouco, claro, afinal, ela não estava bem emocionalmente e nem sabia se ficaria se não aceitasse ajuda. Não demorou muito para que seu irmão chegasse. Ele sentou-se ao seu lado e ouviu atentamente a tudo que havia acontecido, e assim como imaginou, ouviu que não era sua culpa. Thomy estava sempre
— Eu sinto muito, ele acabou de se transformar em um staf. — Eu não quero saber dele, ou no que ele se transformou ou não, eu quero saber se posso ver minha esposa. – Diz de maneira grosseira, mas não se desculpou, estava irritado por tudo que aconteceu a pouco e preocupado com a esposa mesmo que dissessem que ela estava bem. — A Villela o acompanhará até o quarto dela. E eu estarei de plantão hoje, então caso precise de mim, é só chamar. — Obrigado. – Diz verdadeiramente, antes de olhar para seu irmão. — Vai lá. Eu vou avisar a nossa família e aos seus amigos que ela está bem. O moreno mais novo apenas balançou a cabeça antes de seguir a médica, na qual conhecia a um tempo já que ela havia sido a chefe de sua esposa na época da residência dela no hospital mais renomado daquele país. A mais velha havia pedido desculpas por sua conduta de a pouco, mas Oliver apenas balançou a cabeça; não estava preocupado com as palavras dela ou mesmo se importando, tudo que ele queria naquele mo