— Eu sinto muito, ele acabou de se transformar em um staf. — Eu não quero saber dele, ou no que ele se transformou ou não, eu quero saber se posso ver minha esposa. – Diz de maneira grosseira, mas não se desculpou, estava irritado por tudo que aconteceu a pouco e preocupado com a esposa mesmo que dissessem que ela estava bem. — A Villela o acompanhará até o quarto dela. E eu estarei de plantão hoje, então caso precise de mim, é só chamar. — Obrigado. – Diz verdadeiramente, antes de olhar para seu irmão. — Vai lá. Eu vou avisar a nossa família e aos seus amigos que ela está bem. O moreno mais novo apenas balançou a cabeça antes de seguir a médica, na qual conhecia a um tempo já que ela havia sido a chefe de sua esposa na época da residência dela no hospital mais renomado daquele país. A mais velha havia pedido desculpas por sua conduta de a pouco, mas Oliver apenas balançou a cabeça; não estava preocupado com as palavras dela ou mesmo se importando, tudo que ele queria naquele mo
— Sabe o que senti quando entrei no quarto e... – Sentiu o nó de antes na garganta. – E a encontrei inconsciente? Como me senti ao te chamar, várias vezes e você não abriu os olhos? Ela mordeu o lábio, sentindo o choro vir da garganta. — Eu pensei que estava morta, Felicity. — Me desculpa. – Sua voz saiu embargada, assim como a dele a pouco. — Não faça mais isso. – Praticamente implorou. – Apenas... não faça, por favor. O silêncio reinou por um tempo. — Eu não estou bem. – Confessou com os olhos lacrimejados. – Eu não sou a melhor pessoa nesse momento, e não consigo ser quem você precisa. Eu não consigo. Estou destruída, completamente. – Ela deu uma pausa dando um baixo soluço, antes de confessar o que jamais havia o feito para ninguém. – Eu sonho com a nossa filha, eu falo com ela, eu vejo ela, Oliver... Ele engoliu em seco. — E eu sei que ela não está... viva. Mas eu penso que sim, então, acredito que estou muito doente. – Confessou entre o choro. – Então, eu acho, que o
Enquanto dirigia até em casa, com o som ligado bem baixinho para ele não acabar dormindo no volante, ele pensava em tudo que houve entre ele e a esposa naqueles meses. E que seriam ainda mais difíceis quando chegasse a data no qual seria o dia que a filha deles nasceria. Não faltavam tantos dias assim, e a chegada o deixava angustiado, então ele imaginava o que sua esposa sentia por pensar no mesmo que ele. Ele gostaria de pensar que ela não se lembraria nem tão cedo, que ela teria outras coisas com o que se preocupar, mas sabia que não era verdade. Ela provavelmente se lembraria naquele mesmo dia ou no máximo no dia seguinte, isso se já não estava pensando nisso quando se virou de costas para ele há alguns minutos atrás. Engoliu em seco e seu corpo se arrepiou por imaginar a dor dela; ele estava sofrendo, muito, mas conseguia controlar isso melhor que ela. A primeira vez que havia chorado após descobrir da perda, havia sido há algumas horas atrás, antes de toda aquela confusão aconte
Chegou ao fim de seu corredor e olhou para a primeira porta do outro, do seu lado direito, e pela primeira vez andou até ela, devagar. Havia uma plaquinha decorativa na qual a amada havia comprado; um cordão cor-de-rosa, várias perolas e um laço delicado enfeitavam toda a forma oval da placa — com exceção do laço, que ficava na ponta de cima —, com estampa floral; ao redor, uma moldura artesanal delicada; no centro havia o nome “Lívia” e ao lado uma linda ursinha princesa na qual tinha um vestidinho cor-de-rosa. Oliver levou um tempo olhando para aquela plaquinha, até que finalmente pegou na maçaneta, girando-a e abrindo a porta minimamente, apenas o bastante para que ele pudesse ver o interior do quarto. Ele encontrou tudo da mesma forma que estava desde que havia sido montado com todo carinho; havia um berço em conjunto com uma cômoda rosa e branca na qual tinha duas gavetas, dois nichos — onde havia uma manta rosa-bebê dobrada perfeitamente e uma caixinha de música na mesma cor — e
Assim que chegou ao condomínio no qual seus pais moravam, não precisou se apresentar, muito menos dizer quem iria visitar; quando o viram, o reconheceram e o deixaram passar. Dirigiu até onde se encontrava a mansão Barbieri e assim que chegou, os portões de aço se abriram para os lados. Estacionou o carro em frente a porta, desceu e o travou, antes de finalmente subir os quatro degraus que o levariam a porta de madeira clara. A porta se abriu não muito depois de apertar a campainha, e então encontrou sua amada mãe a sua frente; ela sorriu assim que percebeu que era o filho mais novo e o abraçou, forte. Pela forma como ela o abraçava, Oliver sabia que ela já estava sabendo sobre o que houve. — Estamos sabendo sobre Felicity. Não era preciso ela dizer, mas o moreno não disse uma palavra. — Como está? Gostaria de não ouvir aquela pergunta, e sua mãe pareceu entender seu olhar, pois logo em seguida tocou seu rosto, mudando de assunto. — Você comeu? — Não, mas... — Então entre, que
Felicity Bianco era a senhora Barbieri há quase seis anos. Havia conhecido seu marido no primeiro ano da faculdade; ela cursava medicina e ele substituiria seu pai na empresa da família e por isso cursava direito. Ele tinha as garotas aos seus pés, mas não se relacionava com ninguém. Tinha apenas três melhores amigos, Liam Valentim, que era quase seu irmão por crescerem juntos, e Laura e Théo Figueiredo, seus primos, sobrinhos de sua mãe. Ela, ao contrário dele, era bastante popular e tinha vários amigos além dos que fez no primeiro dia de faculdade; Ana Mancini e os irmãos Penélope e Alexander Barone, nos quais cresceram junto dela desde que se conheciam por gente. Havia também a Victória Guedes, na qual a conheceu no último ano do fundamental, e não menos importante, o melhor amigo de seu agora marido, no qual conheceu também no primeiro ano da faculdade. Ela havia feito muitas amizades durante aquele novo ano de sua vida, e por isso era sempre chamada para festas e encontros, mas a
Não era a primeira e nem a última vez que tentava dormir durante mais de duas horas por noite. Se sentia cansada, estressada, sem vontade de se levantar da cama. Mas essa última parte era por reviver todos os dias o dia mais triste de sua vida. Não conseguia parar de pensar no ocorrido. Não parava de sentir a falta que seu bebê fazia a ela. Vivia com os pensamentos apenas em sua garotinha. Sim, ela teria uma menina. Uma filha. Se não tivesse acontecido aquele terrível pesadelo. Para ela, era um pesadelo. E os dias se tornavam insuportáveis cada vez mais. Principalmente quando até mesmo a presença de seu marido a irritava. Sim, o homem que um dia amou tanto, mas que não conseguia mais ter um sentimento bom por ele. Talvez por ele ignorar sua dor. A dor dele. O aborto. O quarto que eles levaram dias para montar para o bebê deles. Ele ignorava tudo, inclusive o dia em que a filha deles se foi. Ele não falava nela, não entrava no quarto dela, não sentia a morte dela. Ao menos era o que pa
Estava tão machucada por ter sofrido o aborto que não conseguia ver a dor de mais ninguém, apenas a dela. E o pior é que sabia que havia algo de errado consigo mesma e mesmo assim não conseguia enxergar. Era maior e mais forte, a dor na qual sentia toda vez que pensava em sua garotinha, o que era praticamente 24h por dia. Ninguém sabia o porquê de ficar tantas horas dentro do quartinho de sua pequena, apenas tinha suas opiniões sobre, como por exemplo, se aconchegar a dor ou mesmo no acolhimento do cômodo, mesmo que o bebê dela não tivesse tido o prazer de passar sequer um dia ali. Mas a verdade, era que sentia a filha mais perto de si de vez em quando, e conseguia falar com ela, mesmo que na maioria das vezes, chorasse como uma criança, e mais que isso, de alguma forma, conseguia vê-la. E mesmo sabendo que era loucura, ela gostava daquele sentimento que lhe trazia um pouquinho de paz, pelo menos por um instante. E era por isso que nunca havia dividido aquele segredo com ninguém, pri