Chegou ao fim de seu corredor e olhou para a primeira porta do outro, do seu lado direito, e pela primeira vez andou até ela, devagar. Havia uma plaquinha decorativa na qual a amada havia comprado; um cordão cor-de-rosa, várias perolas e um laço delicado enfeitavam toda a forma oval da placa — com exceção do laço, que ficava na ponta de cima —, com estampa floral; ao redor, uma moldura artesanal delicada; no centro havia o nome “Lívia” e ao lado uma linda ursinha princesa na qual tinha um vestidinho cor-de-rosa. Oliver levou um tempo olhando para aquela plaquinha, até que finalmente pegou na maçaneta, girando-a e abrindo a porta minimamente, apenas o bastante para que ele pudesse ver o interior do quarto. Ele encontrou tudo da mesma forma que estava desde que havia sido montado com todo carinho; havia um berço em conjunto com uma cômoda rosa e branca na qual tinha duas gavetas, dois nichos — onde havia uma manta rosa-bebê dobrada perfeitamente e uma caixinha de música na mesma cor — e
Assim que chegou ao condomínio no qual seus pais moravam, não precisou se apresentar, muito menos dizer quem iria visitar; quando o viram, o reconheceram e o deixaram passar. Dirigiu até onde se encontrava a mansão Barbieri e assim que chegou, os portões de aço se abriram para os lados. Estacionou o carro em frente a porta, desceu e o travou, antes de finalmente subir os quatro degraus que o levariam a porta de madeira clara. A porta se abriu não muito depois de apertar a campainha, e então encontrou sua amada mãe a sua frente; ela sorriu assim que percebeu que era o filho mais novo e o abraçou, forte. Pela forma como ela o abraçava, Oliver sabia que ela já estava sabendo sobre o que houve. — Estamos sabendo sobre Felicity. Não era preciso ela dizer, mas o moreno não disse uma palavra. — Como está? Gostaria de não ouvir aquela pergunta, e sua mãe pareceu entender seu olhar, pois logo em seguida tocou seu rosto, mudando de assunto. — Você comeu? — Não, mas... — Então entre, que
Felicity Bianco era a senhora Barbieri há quase seis anos. Havia conhecido seu marido no primeiro ano da faculdade; ela cursava medicina e ele substituiria seu pai na empresa da família e por isso cursava direito. Ele tinha as garotas aos seus pés, mas não se relacionava com ninguém. Tinha apenas três melhores amigos, Liam Valentim, que era quase seu irmão por crescerem juntos, e Laura e Théo Figueiredo, seus primos, sobrinhos de sua mãe. Ela, ao contrário dele, era bastante popular e tinha vários amigos além dos que fez no primeiro dia de faculdade; Ana Mancini e os irmãos Penélope e Alexander Barone, nos quais cresceram junto dela desde que se conheciam por gente. Havia também a Victória Guedes, na qual a conheceu no último ano do fundamental, e não menos importante, o melhor amigo de seu agora marido, no qual conheceu também no primeiro ano da faculdade. Ela havia feito muitas amizades durante aquele novo ano de sua vida, e por isso era sempre chamada para festas e encontros, mas a
Não era a primeira e nem a última vez que tentava dormir durante mais de duas horas por noite. Se sentia cansada, estressada, sem vontade de se levantar da cama. Mas essa última parte era por reviver todos os dias o dia mais triste de sua vida. Não conseguia parar de pensar no ocorrido. Não parava de sentir a falta que seu bebê fazia a ela. Vivia com os pensamentos apenas em sua garotinha. Sim, ela teria uma menina. Uma filha. Se não tivesse acontecido aquele terrível pesadelo. Para ela, era um pesadelo. E os dias se tornavam insuportáveis cada vez mais. Principalmente quando até mesmo a presença de seu marido a irritava. Sim, o homem que um dia amou tanto, mas que não conseguia mais ter um sentimento bom por ele. Talvez por ele ignorar sua dor. A dor dele. O aborto. O quarto que eles levaram dias para montar para o bebê deles. Ele ignorava tudo, inclusive o dia em que a filha deles se foi. Ele não falava nela, não entrava no quarto dela, não sentia a morte dela. Ao menos era o que pa
Estava tão machucada por ter sofrido o aborto que não conseguia ver a dor de mais ninguém, apenas a dela. E o pior é que sabia que havia algo de errado consigo mesma e mesmo assim não conseguia enxergar. Era maior e mais forte, a dor na qual sentia toda vez que pensava em sua garotinha, o que era praticamente 24h por dia. Ninguém sabia o porquê de ficar tantas horas dentro do quartinho de sua pequena, apenas tinha suas opiniões sobre, como por exemplo, se aconchegar a dor ou mesmo no acolhimento do cômodo, mesmo que o bebê dela não tivesse tido o prazer de passar sequer um dia ali. Mas a verdade, era que sentia a filha mais perto de si de vez em quando, e conseguia falar com ela, mesmo que na maioria das vezes, chorasse como uma criança, e mais que isso, de alguma forma, conseguia vê-la. E mesmo sabendo que era loucura, ela gostava daquele sentimento que lhe trazia um pouquinho de paz, pelo menos por um instante. E era por isso que nunca havia dividido aquele segredo com ninguém, pri
Oliver se encontrava em sua sala enorme e aconchegante. Os documentos a frente indicavam que ele tinha trabalho a fazer, e mesmo assim não conseguia se concentrar; viajava mais e mais nos momentos felizes que já tivera com a esposa. Por anos, eles tiveram uma vida feliz apesar das pequenas e bobas discussões. Jamais se imaginou em um momento tão horrível com a mulher que amava. E isso o fez pensar no bebê que nasceria em alguns dias se não estivesse morto. Ele sentia raiva por ter acontecido aquele aborto, sentia raiva por não conseguir nem mesmo adentrar o quarto no qual foi feito com todo carinho para a criança dele e de Felicity, sentia raiva por não conseguir se controlar e acabar brigando com a esposa ao chegar em casa e ouvir todos os insultos que ela tinha para lhe dizer. E a última havia sido a pior. Ela havia o acusado de ter sido o culpado pela perda do bebê deles; ele não estava na cidade no dia e ela esteve por quase cinco dias, sozinha, por conta de uma conferência import
— Você está bem? E ele sentiu raiva ao ouvir aquela pergunta. — O que você acha, Liam? Acabou sendo grosso, mas não era sua intenção, e por isso suspirou. — O que você quer? – Perguntou, mais calmo. Liam pensou duas vezes antes de dizer o que foi fazer ali. Principalmente quando tinha percebido que o amigo não estava bem. O que não era uma grande surpresa. Isso vinha sendo rotineiro. Ele nunca chegava com um sorriso, mesmo que pequeno, nos lábios. Desde que perdeu a filha, ele vinha se estressando mais fácil. E não tinha paciência com ninguém, nem com os amigos, ainda que fizesse todo o esforço do mundo para não jogar sobre os ombros dele, uma culpa que eles não tinham. E os amigos o compreendiam. Apenas isso. Sabiam que ele estava passando por momentos difíceis e precisava de tempo. E de apoio. Sobretudo apoio, porque infelizmente, isso ele não vinha tendo em casa. — Eu estou com seus clientes. O moreno suspirou, bagunçando os cabelos. — Olha, eu cuido disso se quiser. Se
A coisa mais difícil foi chegar em casa. Havia dado algumas voltas pela cidade, tentando encontrar coragem para voltar para casa. Depois de uma conversa que teve com seu primo após despertar de um sono muito bom, diga-se de passagem, percebeu que o melhor a se fazer era tirar um tempo a mais por ali. Quando despertou a refeição estava pronta. Théo era daqueles que gostava de aconselhar as pessoas. E por isso Oliver gostava de conversar com ele. Principalmente quando tudo que ele mais precisava no momento, era de conselhos. Eles conversaram – ele mais que o primo –, jogaram videogame – ideia para que ele não ficasse pensando o tempo todo em seus problemas com a esposa –, e então, descansou mais um pouco. Já passava das 19h quando saiu da casa de Théo, agradecendo por tudo, e quando percebeu, estava dando voltas pela cidade, temendo, pela primeira vez, por algo em sua vida. Não queria estar em casa, muito menos quando sabia que sua esposa estava acordada. Ela odiava estar sozinha, mas o